Engano invalidar
a experiência do
matrimônio sob a
ótica estreita,
atualmente muito
em voga, de "não
se estar casado
com a sua
pretendida alma
gêmea".
O matrimônio,
neste nosso
plano
transitório de
experiências e
aprendizado
corpóreo, sempre
implica
associação
importante com o
semelhante – não
importando,
aqui, sua maior
ou menor duração
– onde repousam,
em potencial,
elevadas
promessas de
progresso
espiritual e
iluminação dos
envolvidos.
Alega-se que os
tempos modernos
mudaram o perfil
dos antigos
padrões de
convivência, em
decorrência do
que não mais se
justificam os
casamentos
duradouros, onde
a parte
feminina,
preferencialmente,
muito tolerava,
à falta de
alternativas de
rumos outros
para além da
vida no lar. Seu
ofício era,
efetivamente, o
da mulher
preparada para
as minúcias
domésticas: o
trato com os
filhos, os zelos
para com o
marido e a
infinidade de
nuances
existentes na
rotina da
família. Hoje,
argumentam,
ambos
participando do
sustento
financeiro desta
mesma família,
rivalizando na
construção
material dentro
das paredes de
um mesmo lar,
não mais se
aceita a
opressão e o
autoritarismo
partidos de uma
única parte. A
mulher, com
efeito, a partir
de suas
conquistas no
leque sem fim
das escolhas
profissionais,
amadureceu num
sentido inédito.
Natural que os
limites da sua
tolerância para
com este mesmo
sistema
patriarcal
arcaico, e de
dentro deste seu
novo perfil
ativo, não devam
ser idênticos ao
daquela antiga
mulher resignada
das gerações
anteriores,
naquele padrão
de união
matrimonial que,
sem muito
sacrifício,
atingia as bodas
de ouro, quando
não as de
diamante.
Entretanto,
resguardado o
respeito para
com as razões
justas que
fundamentam as
iniciativas e a
conduta de cada
tempo terreno,
com suas
características
próprias de
aprendizado,
forçoso é
reconhecer que
esta
idiossincrasia
anterior muito
ensinou, a ambas
as partes, em
termos de
tolerância. O
que antes
sobejava em
amadurecimento
no convívio
geralmente árduo
entre dois seres
que, em muitos
casos, aprendiam
a duras penas o
valor da estima,
a despeito de
todos os
percalços, após
cinqüenta ou
sessenta anos de
reveses
divididos, lutas
e sofrimentos
experimentados
em comum, falta
hoje na
tendência à
impaciência
inquieta do
nosso século,
para com as
fraquezas
próprias de todo
ser humano,
havidas em
qualquer época.
O que nos
engrandece em
Espírito, sob a
ótica das muitas
vidas
sucessivas, é
justamente esta
visão de cima,
adquirida a
pulso das
convivências
repetidas e
reformuladas com
muitos dos
mesmos
personagens com
os quais
altercamos, em
numerosas
vivências
materiais.
Aqui, aprende-se
que aquele irmão
irascível de
outrora, em vida
decorrida há
alguns séculos,
que tantas
lágrimas nos
custou com sua
impulsividade,
pode ser
excelente pai
amoroso em
reencarnação
posterior, na
hora de
defender, ao
preço do próprio
sacrifício, o
bem-estar da
prole numerosa.
Lá, acolhe-se em
contexto novo a
esposa difícil
de outros
tempos, numa
renovação mútua
de paciência e
de entendimento
para com a visão
e os
esmorecimentos
de ânimo do
outro, em nova
tentativa de
harmonização de
sentimentos e de
atitudes. O
filho ingrato de
alguma vida
longínqua volta,
inteirado de
seus graves
enganos; e
agora, como pai
dedicado daquela
mãe outrora
tripudiada,
experimenta, em
toda a extensão,
os zelos
angustiados de
todos estes que,
como anjos
tutelares,
acompanham os
passos de seus
rebentos, desde
os primeiros
albores de suas
jornadas no solo
terreno. Ainda,
noutro lugar,
amigos em
espírito
combinam grandes
realizações em
favor da vida de
uma família em
comum,
reencarnando em
mesma época,
como primos ou
como irmãos.
É uma visão
estendida, sob o
prisma das vidas
sucessivas, da
conscientização
que deveria
existir, de
maneira mais
lúcida possível,
no íntimo de
todos os que se
imbuem na missão
delicada da
construção de um
lar, onde serão
recebidos, de
resto, almas na
condição de
filhos, de cuja
origem no tempo
não guardamos
noção exata no
minuto material
que corre; mas
cujo padrão de
empatia e de
convivência
diária, com o
decorrer dos
anos, indicia o
tipo de trabalho
a ser realizado
em comum, com as
respectivas
lições de amor e
de abnegação a
serem
assimiladas e
desenvolvidas na
experiência
diária.
A existência das
almas gêmeas e
irmãs é
indubitável; mas
também é fora de
questão que o
mundo conturbado
onde ora
habitamos requer
de nossa parte o
reconhecimento
maduro das
nossas
prioridades,
relativas aos
nossos deveres a
cumprir, e
lições a tomar
em favorecimento
próprio e
daqueles que nos
cercam. No mundo
material, as
leis de sintonia
que se
manifestam em
seus efeitos
inequívocos, no
terreno das
empatias
indiscutíveis,
cedem lugar, em
praticidade e
premência, ao
trabalho em prol
do amor
universal da
hora que passa à
necessidade
urgente de
harmonização
entre as
diferenças, ao
mesmo tempo em
que funcionam
como instrumento
de exercício da
capacidade de
cada um em
reconhecer o que
lhe compete mais
de perto, no
esforço de
comunhão afetiva
com estes com
que a vida nos
presenteou na
esfera familiar.
Isto não implica
desprezar o
conhecimento da
riqueza da vida
nas várias
dimensões da
existência onde,
certamente, nos
aguardarão
lugares e
momentos certos,
onde nos será
dado viver em
realização plena
com aquele ser
que nos é
especial, em
semelhança
espiritual e em
correspondência
amorosa
"perfeita".
Mas isso só nos
virá no momento
aprazado, (e,
quem sabe se
talvez em
oportunidade
vindoura na vida
corpórea, em
contexto
oportuno) quando
afinal reluzir,
sem manchas, em
nosso íntimo,
amor lúcido e
abundante o
suficiente, que
ultrapasse todos
os limites das
preferências e
exclusividades
infantis,
irradiando-se
com
espontaneidade,
e em processo
infindo de
simbiose
radiante, para
com toda a vida
e todos os seres
que nos
circundam e
enxameiam a
exuberante
riqueza do
universo.