EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Avance, mas com
esperança!
As crises do
mundo não são
somente
externas, como
ecos da dimensão
geopolítica, mas
internas, como
sintomas dos
conflitos da
alma. Desse
modo, mais do
que nunca, somos
obrigados a
despertar para
nos conhecer e
assumir
responsabilidades
para não
vivermos
alienados e
falsos em
relação a nós e
em relação à
esfera
socioambiental.
Como sustentava
Thomas Merton:
“O que podemos
ganhar navegando
até a lua, se
não somos
capazes de
transpor o
abismo que nos
separa de nós
mesmos? Essa é a
mais importante
de todas as
viagens de
descoberta e,
sem ela, todas
as outras não
são só inúteis
como ainda
desastrosas”.
(1)
A vida pode
deixar de ser um
campo fértil de
oportunidades
caso não
descubramos as
potencialidades
existentes em
nós ou
desprezemos
aquilo que em
nós urge ser
modificado –
egoísmo, inveja
e tantos outros
sentimentos
doentes e
manifestações
grosseiras que
amortecem a
vontade,
instrumento
hábil para
corrigir as más
inclinações e as
ações causadoras
de desarmonias
plurais e que
tornam a
existência
pesada ou
desperdiçada.
Iniciar o
percurso do
autoconhecimento
é tarefa
fundamental.
Obriga à
reflexão e
requer o
abandono de
diversos hábitos
egóicos,
calcados em
referenciais
infantilizados,
tal como o
seguinte motivo
condutor: “não
consigo viver
sem que o outro
esteja a minha
disposição”.
Ora, a tarefa de
conhecer-se
reclama,
simultaneamente,
o assumir do
cuidado consigo
mesmo, que
implica
responsabilidade
pela própria
existência.
Contudo, penso
que o averiguar
da própria
sombra (vícios,
bloqueios e
feridas
anímicas)
contida em nós é
exigente de
alguns
requisitos:
humildade,
paciência,
seriedade.
Sem dúvida, o
melhor
facilitador para
mediar o contato
com nossa
“região sombria”
é a paciência,
que nos ensina a
nos aproximarmos
dela sem medo,
pois é preciso
mapeá-la e
aceitá-la para,
então,
transformá-la.
Entre
terapeutas,
principalmente
junguianos, é
sabido que
aquilo que não
for assumido não
poderá ser salvo
(tal como a
metáfora da
transformação do
chumbo em ouro).
Já a humildade
nos faz
compreender que
o erro
necessariamente
participa da
estrada
evolutiva, uma
vez que somos
seres a caminho
e seria uma
interpretação
inapropriada
crer na
perfeição
‘instantânea’
após anos (para
não dizer vidas)
no cultivo de
práticas
contrárias às
leis divinas,
assistidas pelo
hálito do amor,
justiça e
caridade. Além
disso, somente
conhecimento não
basta, pois são
nossas obras que
nos revelam e
dão a verdadeira
cartografia de
nossa realidade
íntima.
Por sua vez, a
seriedade não
pode ser
misturada à
culpa...
Seriedade supõe
motivação
constante,
empenho, firmeza
de propósito. Já
a culpa, resíduo
de uma
interpretação
religiosa
equivocada,
corrói a
confiança na
possibilidade
evolutiva, nega
o acesso à via
para o
autoperdão,
ativa os estados
de pessimismo,
desânimo e
autodesprezo,
que nada serve
ao avanço do
indivíduo. Dessa
maneira, a favor
de nossa saúde
espiritual,
mental e
emocional,
devemos
compreender que
o oxigênio do
autoconhecimento,
que sinaliza os
meios para o
processo da
reeducação, são
as fecundas
esperanças.
Necessária é a
luta para a
renovação. Nesse
encalço, básica
é a tarefa da
aplicação do
conhecimento
espírita que bem
auxiliam o
entendimento da
dimensão íntima.
Com isso,
solidificar-se-ão,
em nosso
cotidiano, os
referentes que
nos auxiliarão
na transformação
da velha postura
de apontar
falhas,
disseminar
críticas ou
adulações, no
lugar da
modificação das
próprias
atitudes, que
pressupõe
auto-estima e
respeito pelo
próximo.
James Hollis uma
vez indagou:
“Onde é que você
está empacado em
sua jornada pela
vida?”
Esta é uma
pergunta
imperativa para
uma existência
fecunda e
responsável. E
caso ela não
seja trabalhada
com humildade,
paciência e
seriedade, a
vida se tornará
pesada e nos
aliaremos aos
padecimentos,
míopes ao nosso
chamado
evolutivo. Ora,
não podemos
esquecer que
diante de nós há
um horizonte
interminável, em
ressonância ao
postulado da
imortalidade, e
a vida é
positiva e para
frente. Logo,
para nosso bem,
precisamos nos
conhecer para
nos educar,
expandir nossa
aptidão amorosa
e, dessa forma,
viver-conviver
mais
serenamente,
pois mais
autênticos.
Bibliografia:
(1)MERTON,
Thomas.
Thomas Merton:
Spiritual Master.
(Org.) Laurence
Cunningham. NJ:
Paulist Press,
1992, p. 431.