ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Uma visita
peculiar
O ambiente
úmido, escuro e
lodoso,
distribuía-se
pelo que se pode
chamar de
verdadeiras
cavernas
subterrâneas. Há
mais de 20 anos
ele se
encontrava ali,
isolado,
dominado e
escravizado por
seus infelizes
algozes. Fome e
frio, desamparo,
sede e sujeira
se acumulavam no
corpo e o
próprio local,
fétido e
abandonado,
embora vigiado
por guardas
truculentos,
assustaria quem
se aproximasse.
Os ferimentos no
ventre deixavam
os órgãos quase
a caírem, fruto
do precipitado
gesto de
auto-extermínio
que, somados ao
remorso, aos
gestos ilícitos
do passado, à
consciência
culpada, faziam
dele um réprobo
inconsolável e
desfalecido pelo
sofrimento. Ao
mesmo tempo em
que tentava
segurar os
órgãos à mostra,
a caírem do
ferimento
aberto, a
consciência
culpada o
fustigava sem
tréguas. Já
perdera a noção
de tempo e lugar
e ainda sofria o
assédio de seus
próprios
verdugos, a
recordarem suas
desditas,
clamando por
vingança, e a
torturá-lo sem
piedade.
Mas não estava
esquecido. O
velho amigo, que
antes tudo
fizera para
ampará-lo,
voltava agora a
visitá-lo com um
grupo de
socorro. Com
estratégia bem
elaborada,
conseguiram
driblar os
guardas e
adentraram no
deplorável
lugar. Chamou-o
pelo nome,
recordou os
velhos laços de
amizade,
procurou
consolá-lo e
somente após um
bom tempo
conseguiu
trazê-lo à
realidade em que
se encontrava.
Usando de
compaixão e
carinho,
afagou-lhe os
cabelos,
falou-lhe com
doçura e
conseguiu
arrancar-lhe
daquele estado
de verdadeira
demência.
Sugeriu-lhe
recordar-se do
Amigo Maior que
o esperava, ao
mesmo tempo em
que o buscava
para recuperá-lo
e integrá-lo às
equipes que
trabalham pelo
equilíbrio e
felicidade da
condição humana.
Todavia,
advertiu que,
embora como
amigo presente
lhe transmitisse
toda a força que
lhe seria
possível, ele
mesmo teria que
fazer brotar de
si mesmo a
vontade de
recuperar-se e
levantar-se da
própria desdita
para libertar-se
de sofrimento
tão longo...
A sinceridade e
carinho do
visitante
conseguiram que
ele se
levantasse e
pedisse, com
intensa
veracidade,
perdão aos céus
por tantos
equívocos,
manifestando o
desejo de
recuperar-se. A
resposta foi
imediata: a
caverna
iluminou-se e às
lágrimas do
próprio pedinte
misturaram-se
pequeninas gotas
que verteram do
alto e que ao
contato com o
corpo
dilacerado,
limpavam-no e
fechavam a
ferida antes
aberta.
Assim ocorreu o
resgate daquele
sofrido cidadão
que, antes, com
o poder nas
mãos,
extrapolara os
limites da
decência e da
dignidade,
corrompendo,
roubando,
matando,
explorando, até
cair na
precipitação da
autodestruição.
Agora era
recuperado pelo
amigo Zacarias,
a quem Jesus
pessoalmente
incumbiu de
acompanhar,
amparar e
recuperar das
trevas da
ignorância a que
se precipitara
por opção
pessoal.
Esta é a saga de
Pilatos, o
governador que
lavou as mãos,
quando poderia
decidir em
amparo daquele
que é
considerado o
guia e modelo da
humanidade.
Não é castigo o
que viveu
Pilatos, mas
apenas a
conseqüência de
sua própria
insanidade. Sua
própria
consciência o
condenou, seja
pelas
atrocidades
cometidas em
vida, seja pelo
equívoco da
omissão quando
poderia agir...
Mas como ninguém
está esquecido
pelo Amor, lá
estava o amigo
Zacarias,
encarregado pelo
próprio Cristo
para
recuperá-lo.
As páginas
comoventes dessa
descrição que
não
conseguiremos
reproduzir com
fidelidade no
pequeno espaço
de um artigo
está no
belíssimo livro
A Força da
Bondade, que
recomendo com
muita ênfase ao
leitor. Com
autoria de André
Luiz Ruiz e
Lucius, é obra
que muito ensina
e comove.
Principalmente
por demonstrar a
grandeza de
pequenos gestos
na força que a
bondade possui.
Não deixe de
ler. A editora é
o IDE.