A Revue Spirite
de 1859
(4a Parte)
Allan Kardec
Damos continuidade ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1859. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 10
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Qual é a posição
espírita acerca da
religião e suas bases
fundamentais?
O Espiritismo não as
nega, ou seja, não nega
a Deus, a alma, o
livre-arbítrio, as penas
e recompensas futuras.
Longe disso, ele prova
por meio de fatos, não
somente pelo raciocínio,
a realidade das bases
fundamentais da
religião. (Revue
Spirite, p. 150.)
B. Como deve agir o
pesquisador espírita?
Deve agir como age o
naturalista que se
propõe a estudar os
costumes de um animal.
Obviamente, ele não
ordena ao animal que
faça isto ou aquilo,
porque sabe que não será
obedecido. Então, espia,
espera e observa
atentamente. Assim se
deve proceder com os
Espíritos, que gostam
dos observadores
assíduos e
conscienciosos. Os
ingredientes da pesquisa
espírita são, assim, o
estudo e a observação,
porque o simples
bom-senso nos mostra
que, tal como age o
naturalista em relação
aos animais, com mais
forte razão devemos agir
com os Espíritos, que
são inteligências muito
mais independentes.
(Obra citada, pp. 168 e
169.)
C. Que é que o Espírito
de Goethe disse sobre o
Werther, uma de
suas obras mais famosas?
O famoso escritor disse
que lamentava o final do
Werther, porque
fez e causou muitas
desgraças, de que ele se
sentia responsável e
pela qual, embora
estivesse arrependido,
ainda sofria. (Obra
citada, p. 177.)
D. Os Espíritos dos
brancos podem reencarnar
como negros?
São Luís diz que sim e
explica que quando, por
exemplo, um senhor
maltratou um escravo,
pode pedir como expiação
viver num corpo de pele
negra, a fim de sofrer
por sua vez aquilo que
fez outros sofrerem e,
por esse meio,
adiantar-se e obter o
perdão de Deus. (Obra
citada, p. 180.)
Texto para leitura
79. O Espiritismo está
baseado na existência de
um mundo invisível,
formado de seres
incorpóreos e que não
são outra coisa senão as
almas dos que viveram na
Terra e em outros
globos. Assim, pois, o
Espiritismo pertence à
Natureza e seu
verdadeiro caráter é o
de uma ciência. (P. 148)
80. O Espiritismo não
nega a Deus, a alma, o
livre arbítrio, as penas
e recompensas futuras.
Longe disso, ele prova,
não pelo raciocínio, mas
pelos fatos, essas bases
fundamentais da
religião, cujo inimigo
mais perigoso é o
materialismo. (P. 150)
81. Don Fernando
Guerrero, escrevendo de
Lima (Peru), conta que
um dia resolveu relatar
algumas passagens d' O
Livro dos Espíritos a
uma tribo de aborígines
que habitam a encosta
oriental dos Andes: os
indígenas compreenderam
perfeitamente o que lhes
foi lido e fizeram até
observações muito
judiciosas sobre o
conteúdo da obra. A
idéia de reviver na
Terra lhes pareceu, por
exemplo, absolutamente
natural. (P. 151)
82. Kardec diz que
somos, malgrado nosso,
os agentes da vontade
dos Espíritos para
aquilo que se passa no
mundo, tanto no
interesse geral, quanto
no individual. (P. 153)
83. Há pessoas que não
temem a morte, mas têm
medo do escuro; não
receiam os ladrões, mas
não vão sozinhas, à
noite, ao cemitério. É
que os Espíritos estão
junto delas e seu
contacto produz-lhes uma
impressão que resulta
num medo inexplicável.
(P. 153)
84. A Revue noticia a
curiosa descoberta feita
pelo Sr. Jobert, de
Lamballe, sobre a
contração muscular
rítmica do pequeno
peroneal lateral
direito, que parecia, na
época, desmentir o
fenômeno das batidas.
(P. 155)
85. O fato difundiu-se
por toda a parte, mas,
evidentemente, se podia
explicar os sons da
tiptologia, era
insuficiente para
explicar o erguimento da
mesa sem nenhum
contacto, a sua
movimentação pela sala,
sua queda e as batidas
com os pés, fatos então
bastante conhecidos e
comprovados. (P. 161)
86. A Revue informa que,
antes de Jobert, em
1854, o Dr. Rayer,
célebre clínico,
apresentou ao Instituto
um alemão cuja
habilidade, na sua
opinião, dava a chave de
todos os "knokings"
e "rappings". (P.
164)
87. Falando sobre a
opinião dos cientistas a
respeito do Espiritismo,
Kardec afirma que
ninguém é juiz em causa
própria, que os sábios
não são infalíveis e
que, assim, seu
julgamento não é a
última instância. (P.
165)
88. Se quisermos
construir uma casa,
consultaremos um
astrônomo? Se estivermos
doentes, chamaremos um
arquiteto? As ciências
vulgares repousam sobre
as propriedades da
matéria, que podemos
manejar à vontade; a
ciência espírita tem
como agentes
inteligências que
possuem independência,
livre arbítrio, e não se
submetem aos nossos
caprichos. (P. 165)
89. Não cabe aos
Espíritos descer até
nós; nós é que devemos
subir até eles, o que
conseguiremos pelo
estudo e pela
observação. Os Espíritos
gostam dos observadores
assíduos e
conscienciosos. (P. 168)
90. Aos olhos do
observador atento e
ativo multiplicam-se os
fenômenos. Que faz o
naturalista que deseja
estudar os costumes de
um animal? Acaso lhe
ordena que faça isto ou
aquilo, a fim de
observá-lo? Não, pois
sabe que não será
obedecido. Ele espia,
espera e observa de
passagem. (P. 169)
91. O simples bom-senso
nos mostra que, com mais
forte razão, assim deve
ser com os Espíritos,
que são inteligências
muito mais independentes
que a dos animais. (P.
169)
92. Kardec evoca
Alexandre Humboldt,
falecido em maio de
1859, e diz que em
pessoas, como Humboldt,
que morrem de morte
natural e pela extinção
gradual das forças
vitais, o Espírito se
reconhece mais
prontamente do que
naqueles cuja vida é
bruscamente interrompida
por um acidente. (P.
170)
93. Humboldt diz que o
futuro do Espiritismo
será grandioso, mas o
caminho, penoso.
Certamente ele será
aceito, um dia, nos
meios científicos, mas
isso não é
indispensável.
"Ocupai-vos, antes, de
firmar seus primeiros
preceitos no coração dos
infelizes que enchem
vosso mundo: é o bálsamo
que acalma os desesperos
e dá esperança",
assevera Humboldt. (P.
173)
94. Tudo é transição na
Natureza -- diz Humboldt
--, por isso mesmo nada
é semelhante, apesar de
que tudo se liga. As
plantas não pensam e,
assim, não têm vontade.
As ostras que se abrem,
como todos os zoófitos,
não pensam; possuem
apenas um instinto
natural. (P. 174)
95. Goethe, evocado por
Kardec, explica que sua
intuição a respeito da
influência dos maus
Espíritos sobre o homem
derivava de uma
lembrança. Ele tinha
recordação quase exata
de um mundo onde via
exercer-se a influência
dos Espíritos sobre os
seres materiais. (P.
176)
96. Goethe diz que, na
Terra, recordava-se de
uma existência
precedente e lamenta o
final do Werther,
uma de suas obras mais
famosas, porque fez e
causou muitas desgraças,
de que ele se sentia
responsável e pela qual,
embora estivesse
arrependido, ainda
sofria. (P. 177)
97. Kardec evoca Pai
César, um homem de cor
negra que nasceu na
África e foi levado para
Louisiana com cerca de
15 anos, onde faleceu em
fevereiro de 1859, aos
138 anos de idade. O
Espírito se diz mais
feliz agora porque seu
Espírito não é mais
negro, quer dizer, ele
se livrara das
humilhações a que estava
sujeita a raça negra.
(P. 179)
98. Respondendo a
Kardec, São Luís diz que
a raça negra
desaparecerá da Terra,
porquanto ela foi feita
para uma latitude
diferente. (P. 179)
99. Os brancos se
reencarnam em corpos
negros? São Luís diz que
sim. Quando, por
exemplo, um senhor
maltratou um escravo,
pode pedir como expiação
viver num corpo de
negro, a fim de sofrer
por sua vez aquilo que
fez sofrer e, por esse
meio, adiantar-se e
obter o perdão de Deus.
(P. 180)
100. Kardec relata o
caso da aparição do
Major Georges Sydenham
ao Capitão V. Dyke,
publicado em 1682 em
Londres. Ficara
combinado entre ambos
que quem morresse
primeiro viria visitar o
outro; e isso aconteceu.
(P. 185)
(Continua
no próximo número.)