JÁDER SAMPAIO
jadersampaio@uai.com.br
Belo Horizonte,
Minas Gerais
(Brasil)
Uma comunicação
espontânea
Maio de 2003. Quinze
anos se passaram da
desencarnação de José
Mário Sampaio (1).
O Conselho Regional de
Psicologia de MG havia
me convidado para
participar de uma mesa
redonda no Seminário
“Intervenção do
Psicólogo na Saúde do
Trabalhador”. A comissão
organizadora passou por
alguns apuros. Eles
planejaram um evento
para cerca de 300
pessoas, mas os colegas
se interessaram e nas
vésperas já havia 600
inscrições. O maior
auditório do hotel foi
conseguido às pressas e
os profissionais que
deixaram para a última
hora tiveram que voltar
para casa.
Alguns colegas espíritas
estavam no público, mas,
via de regra, os
participantes não me
conheciam ou conheciam
apenas minhas
credenciais. Talvez
alguém tenha lido alguma
de minhas publicações em
Psicologia do Trabalho,
alguns haviam sido meus
alunos na graduação ou
pós-graduação, mas não
trato de assuntos
espíritas em sala de
aula.
Após ter chegado e
conversado brevemente
com o outro membro da
mesa, acertei a forma de
projeção da apresentação
com um funcionário do
hotel e assentei-me. Por
alguns momentos, durante
a confecção do material
e agora antes da
atividade, recordei-me
fortemente de meu pai.
Quando ele desencarnou,
eu ainda estava nos
primeiros períodos do
curso de Psicologia,
após ter abandonado a
graduação em Engenharia
Elétrica da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Papai não interferiu na
escolha dos cursos.
Quando desejei fazer
engenharia, ele não
achava que aquele seria
meu futuro. Uma vez, na
intimidade, chegou a
dizer que escolhesse o
curso que eu quisesse,
sem me preocupar com a
remuneração do mercado
de trabalho, porque eu
sempre poderia me tornar
professor na minha área
de interesse. Fiquei
pensando como é que ele
havia acertado a minha
incomum trajetória
profissional. Quem sabe
ele não havia me
influenciado muito mais
do que eu penso.
Ainda na espera de ser
chamado para compor a
mesa, por alguns
minutos, pensei na
satisfação que ele teria
em ver o filho formado,
apresentando o resultado
de seus trabalhos para a
sua comunidade
profissional.
Foram apenas alguns
instantes, e logo já
estava à mesa, com um
debate cordial, mas
acirrado, que sucedeu as
apresentações.
O público encaminhava
perguntas escritas em
papel, que respondíamos
na limitação do tempo
reservado pela
organização.
Terminada a mesa, fui
conversar com alguns
conhecidos presentes e,
em meio à conversa, o
mensageiro do hotel me
trouxe, discreto, um
papel dobrado. “A pessoa
que escreveu não quer
ser identificada.” -
comentou.
Se não quer ser
identificada, pensei,
depois eu vejo do que se
trata. Guardei no bolso
e esqueci-me do papel,
até chegar em casa.
Trocando de roupa, vi o
bilhete e desdobrei-o,
curioso.
“Jáder, é um prazer
conhecê-lo. Não me
dirijo a você para fazer
um questionamento, e
sim, lhe enviando um
grande abraço de um
espírito totalmente
iluminado que está ao
seu lado, trazendo não
só o abraço mas também
se dizendo muito
orgulhoso de seu
trabalho. Ele se sente
muito feliz em saber do
quanto você tem
caminhado.”
“Não sei se você
acredita ou não em tudo
isso... mediunidade,
Espiritismo, sei lá o
que é isso, porém cumpro
meu dever com amor em te
transmitir tal recado.”
“O nome dele é José
Mário, foi médico e hoje
no plano espiritual ele
se dedica muito ao
trabalho em busca de
evoluir cada vez mais!”
“Um abraço também meu.
(preciso me manter no
anonimato)”
Fiquei surpreso,
realmente. Seria uma
brincadeira? Passados
quatro anos, continuo
sem conhecer o autor do
bilhete. Que tipo de
brincadeira é esta em
que ninguém se diverte?
Seria farsa? Em um
público seleto, tratando
de um assunto técnico, e
no anonimato, que
interesse teria um
psicólogo ou um
funcionário de hotel em
mantê-la?
Os céticos diriam
tratar-se de telepatia,
mas que telepatia é esta
em que o sensitivo capta
o que não pensei, a
profissão de papai, que
por sinal está errada
(papai era dentista), o
que curiosamente remete
a uma conversa que
tínhamos em casa: o que
faria um dentista após a
desencarnação? Papai
falava em tom de
brincadeira,
inicialmente, mas depois
concluía, sério: - O
conhecimento médico que
temos deve ser útil no
plano espiritual. No
mais, o orgulho de pai,
a satisfação com o
progresso, faziam parte
do que pensava. O tema
da dedicação ao
trabalho, que aparece na
mensagem, dá seqüência
aos seus anseios,
segundo a mediunidade de
Raul Teixeira e o
conhecimento que eu
tinha de sua
personalidade enquanto
encarnado. Este também
não pode ter sido objeto
de telepatia, a menos
que os telepatas
vasculhem os neurônios
em busca de memórias do
sistema pré-consciente,
o que vai tornando a
hipótese cada vez mais
metafísica.
Curiosa a mediunidade,
esta capacidade de
médiuns diferentes
perceberem o mesmo
espírito com graus de
profundidade distintos,
mas com consistência de
conteúdos.
Agradeço à corajosa e
tímida médium (a letra
parece ser feminina, se
é que caligrafia tem
sexo...) que espero
poder sair um dia do
anonimato após ler este
pequeno depoimento. A
propósito, e apenas para
ela, acredito, sim, em
mediunidade e
Espiritismo.
(1)
Para quem estiver lendo
este texto sem conhecer
os demais, José Mário
Sampaio é meu pai,
espírita atuante em Belo
Horizonte, desencarnado
em setembro de 1987.