RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
O
problema é
Doutrina
Operamos por
vários anos uma
lista na
Internet visando
divulgar a
Doutrina
Espírita e
trocar idéias
sobre a
Reencarnação e
assuntos
correlatos com
seguidores de
outros credos e
sistemas de
crenças
espalhados pelo
mundo.
Aprendemos muito
com essa
atividade, pois
se, em um meio
onde todos
seguem os mesmos
ensinamentos e
partilham da
mesma cultura,
as diferenças de
interpretação
podem ocorrer,
muito mais se dá
em outro onde as
pessoas seguem
ensinamentos
distintos e
pertencem a
culturas das
mais diversas
espalhadas pelo
planeta.
O assunto que
escolhemos para
título deste
trabalho foi o
tema de uma
discussão que
ocorreu faz um
bom tempo na
lista que
operávamos. Um
membro da lista
tinha colocado
suas dúvidas
sobre o que
ocorria com ele
e, como sempre
fazíamos,
tínhamos
respondido com o
cuidado de dizer
que nossa
resposta estava
em conformidade
com nosso
sistema de
crenças, a
Doutrina
Espírita. Um
outro membro,
também espírita
e que mora nos
EUA, respondera
logo depois de
nós à mensagem
inicial, dando
uma
interpretação um
pouco diferente
da que havíamos
dado. Então,
comentamos o que
havia dito o
irmão,
identificando-o
como sendo, como
nós, um seguidor
da Doutrina
Espírita. Foi o
que bastou para
que uma colega
recém-admitida
na lista
afirmasse, logo
a seguir, que
havia descoberto
o problema (com
a interpretação
do nosso amigo
espírita).
O problema,
segundo ela
afirmava, era
“Doutrina”.
Conforme dizia –
e continuou
dizendo após
muitas
tentativas
nossas de
prestar-lhe
esclarecimentos
sobre o
Espiritismo –,
doutrinas fecham
as portas das
pessoas para o
conhecimento,
pois são
conjuntos de
regras
inquestionáveis
que têm que ser
obedecidas
cegamente por
quem a elas
queira seguir.
Ela dizia ter
conhecido várias
doutrinas e nos
assegurava falar
por experiência
própria.
Incapazes de pôr
em dúvida o que
ela dizia
baseada em sua
experiência,
ficamos apenas
mostrando o
quanto o
Espiritismo não
era como ela
pensava,
convidando-a a
ler a
Codificação,
etc. Tudo em
vão.
Quem nos salvou,
encerrando a
discussão, foi
nossa boa amiga
Annie, a mesma
Ann L. Goldman
que revisou
algumas versões
em inglês de
nossos modestos
artigos na
Revista
Internacional de
Espiritismo,
quando teve a
feliz idéia de
consultar o
dicionário
Merrian-Webster
e constatar que
estávamos diante
de um problema
de semântica.
Enquanto nós
entendíamos – e
entendemos - que
Doutrina é
apenas um
conjunto de
ensinamentos
sobre uma área
do conhecimento
que, por mais
completo que
seja, é sujeito
à evolução, a
colega entendia
que Doutrina é
um conjunto de
princípios
(dogmas) sobre
um ramo do
conhecimento ou
sobre um sistema
de crenças. Em
nossa visão, uma
Doutrina é uma
lente através da
qual podemos ver
o mundo, podendo
movê-la, se
desejarmos olhar
para esta ou
aquela direção,
e não uma
viseira que nos
impede de olhar
para o lado e só
nos deixa ver o
que um condutor
nos permite.
Trouxemos este
assunto à
apreciação dos
amáveis leitores
porque achamos
que ele tem algo
importante a nos
ensinar com
respeito ao
estudo da nossa
Doutrina.
*
Falemos da
questão das
construções nas
dimensões
espirituais, às
quais nos
familiarizamos
inicialmente
através de André
Luiz e,
posteriormente,
pelo que
disseram
diversos outros
autores
espirituais. Ora
– poderíamos
perguntar –, se
existem cidades
e veículos nas
dimensões
espirituais, por
que não se fala
nada disso na
Codificação?
Tudo o que se
sabe, lendo o
Pentateuco
Espírita, é que,
quando
desencarnamos,
ficamos na
erraticidade.
Logo, será toda
essa história de
construções no
plano espiritual
pura fantasia?
Qualquer um que
faça uma leitura
superficial da
obra doutrinária
chegará a essa
conclusão. Mas,
como entendemos
nossa Doutrina
não como um
conjunto fechado
de princípios,
mas um conjunto
aberto de
ensinamentos em
contínua
evolução,
preferimos
partir do
pressuposto de
que André Luiz e
os outros
falaram a
verdade e,
assim, nos
propomos a
estudar mais a
fundo a
Codificação para
ver se ela nos
traz alguma
informação que
passa
despercebida a
uma primeira
leitura.
Examinando o
item 3, do Cap.
XIV de A
Gênese,
quando o
Codificador
discorre sobre a
natureza e as
propriedades dos
fluidos,
encontraremos
claros sinais de
que Kardec tinha
da erraticidade
um entendimento
muito mais
complexo do que
a princípio o
nome por ele
escolhido parece
indicar.
Leiamos, pois,
com muita
atenção, o que
ele diz:
“No estado de
eterização, o
fluido cósmico
não é uniforme;
sem deixar de
ser etéreo,
sofre
modificações tão
variadas em
gênero e mais
numerosas talvez
do que no estado
de matéria
tangível. Essas
modificações
constituem
fluidos
distintos que,
embora
procedentes do
mesmo princípio,
são dotados de
propriedades
especiais e dão
lugar aos
fenômenos
peculiares ao
mundo
invisível.
Dentro da
relatividade de
tudo, esses
fluidos têm para
os Espíritos,
que também são
fluídicos, uma
aparência tão
material quanto
à dos objetos
tangíveis para
os encarnados e
são, para eles,
o que são para
nós as
substâncias do
mundo terrestre.
Eles os elaboram
e combinam para
produzirem
determinados
efeitos, como
fazem os homens
com os seus
materiais, ainda
que por
processos
diferentes.
Lá, porém, como
neste mundo,
somente aos
Espíritos mais
esclarecidos é
dado compreender
o papel que
desempenham os
elementos
constitutivos do
mundo onde eles
se acham. Os
ignorantes do
mundo invisível
são tão
incapazes de
explicar a si
mesmos os
fenômenos a que
assistem, e para
os quais muitas
vezes concorrem
maquinalmente,
como os
ignorantes da
Terra o são para
explicar os
efeitos da luz
ou da
eletricidade,
para dizer de
que modo é que
vêem e escutam”.
Como poderemos
ver, após
analisarmos
atentamente o
que diz Kardec,
veremos que o
que André Luiz e
outros tantos
Espíritos
relataram sobre
construções,
jardins,
veículos, armas
etc., nas
dimensões
espirituais,
está em total
sintonia com o
que nos ensina a
Codificação.
A erraticidade
para Kardec não
era um lugar
vazio onde os
Espíritos
ficavam errando,
isto é, vagando
sem destino para
um ou outro
lado, já que
tudo ali era
igual. Não, a
erraticidade
para Kardec era
tão rica de
detalhes quanto
os Espíritos que
nela estivessem
a fizessem,
conscientes ou
não de que eram
eles que assim
estavam fazendo.
E mais, para o
Codificador, os
Espíritos
evoluídos
compreendiam
como eram
obtidos os
efeitos da
manipulação dos
fluidos, ao
passo que os
mais atrasados,
não.
Há que se levar
em conta, sem
dúvida, que, ao
falar conosco de
formas, objetos
e seres
existentes no
plano
espiritual, os
Espíritos são
forçados muitas
vezes a usar o
mesmo nome
daquilo que
existe em nosso
plano, de modo a
nos facilitar a
visualização, e
não por ser o
que lá existe
rigorosamente
igual ao que
conhecemos aqui.
No entanto, após
um atento estudo
da Codificação e
uma leitura
isenta das obras
posteriormente
escritas, não
pode restar
dúvida de que
não há conflito
entre a primeira
e as demais.
Como pudemos
ver, uma postura
dogmática
adotada após um
estudo
superficial pode
gerar
desnecessárias
discussões em
nosso meio. Mas,
poderíamos
perguntar, e se
o que um
Espírito –
encarnado ou não
– disser não
estiver de
acordo com o que
diz a
Codificação?
Devemos, a nosso
ver, seguir o
exemplo do
Mestre de Lyon.
Allan Kardec foi
um missionário,
um sábio
singular que
veio ao mundo
para resgatar
ensinamentos
esquecidos ou
dispersos em
muitas
tradições,
colocar ordem em
tudo, esclarecer
o que estava
obscuro e, com
ajuda e sob a
inspiração de
uma plêiade de
Espíritos de
escol sob a
regência de
Jesus, deixar um
maravilhoso
manual de vida
para que nós
pudéssemos, em o
utilizando,
trilhar com
segurança os
caminhos da
evolução nos
passos deixados
pelo nosso amado
Mestre. Com
missão de tal
envergadura,
Kardec só podia
ser um livre
pensador no
sentido mais
puro da palavra.
Fosse ele um
dogmático,
jamais teria
investigado as
mesas falantes,
jamais teria
rompido com
idéias
consolidadas,
jamais teria
enfrentado a
ortodoxia
vigente e, por
isso, certamente
não teria sido o
escolhido para
tão nobre
missão.
Se quisermos
seguir o exemplo
e as
recomendações de
Kardec,
portanto, temos
que ser abertos
aos novos
conhecimentos,
estudar sempre
as novas
conquistas de
todas as áreas
da ciência, sem
nunca deixar de
submeter, no
entanto, tudo o
que estudarmos à
razão e ao
bom-senso antes
de incorporá-lo
ao nosso
entendimento.
Entendermos que
toda a verdade
está explícita
na Codificação
ou que tudo o
que não estiver
abordado nela de
modo sistemático
deva ser
ignorado é
tornar dogmática
nossa Doutrina.
Kardec jamais a
engessou e, se
vivo estivesse,
estaria hoje
falando do que
há de mais
moderno em todas
as áreas da
ciência e
submetendo tudo
aos seus
rigorosos
critérios de
análise para
posterior
publicação em
sua Revue
Spirite.
Bibliografia:
KARDEC, Allan.
A Gênese, os
Milagres e as
Predições
segundo o
Espiritismo.
36.ed. Rio de
Janeiro: FEB,
1994.
Id. O Livro
dos Espíritos.
74 ed., Rio de
Janeiro: FEB,
1995.
Id. O Livro
dos Médiuns.
62 ed., Rio de
Janeiro: FEB,
1996.
Id. O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
112 ed., Rio de
Janeiro: FEB,
1996.
Id. O Céu e o
Inferno. 40
ed., Rio de
Janeiro: FEB,
1995.