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Entrevista |
Ano 1 - N° 49 -
30 de Março de
2008
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João Dalledone:
"Às vezes
valorizamos o
que não merece
atenção"
“Um verdadeiro
Consolador, que
traz a verdade
que liberta sem
imposição, mas
nos restituindo
a liberdade de
escolha e
pensamento com
responsabilidade”.
É assim que João
Vicente
Dalledone
(foto),
carinhosamente
conhecido como
Joca, define o
Espiritismo.
Nascido em
Curitiba (PR),
João Dalledone
deixou o Brasil
há 17 anos para
realizar o sonho
de estudar e
trabalhar com
música na Europa
e é hoje o
presidente da
British Union of
Spiritist
Societies – Buss
(União das
Sociedades
Espíritas
Britânicas),
instituição que
desenvolve um
importante
trabalho na
unificação dos
grupos e na
divulgação da
Doutrina
Espírita no
Reino Unido.
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Nesta entrevista
à revista O
Consolador,
ele expõe seu
ponto de vista
sobre questões
já discutidas
neste periódico
e que, no
entanto, sempre
fizeram e
continuarão a
fazer parte de
calorosas
discussões no
meio espírita. |
O Consolador –
Onde você mora
atualmente?
– Moro em
Londres.
O Consolador –
Quando e por que
se mudou para a
capital da
Inglaterra?
–
Mudei-me para
estudar e
trabalhar com
música em
Londres, em
1991.
O Consolador –
Qual é sua
formação
escolar?
– Sou bacharel
em música (BMus)
pela City
University em
Londres e pós-
graduado em
educação (PGCE)
pela Greenwich
University.
O Consolador –
Que cargos já
exerceu no
movimento
espírita?
–
Presidente e
co-fundador do
Solidarity
Spiritist Group
e atual
presidente da
BUSS (União das
Sociedades
Espíritas
Britânicas).
O Consolador –
Quando você teve
o primeiro
contato com o
Espiritismo?
– Meu avô fundou
um centro
espírita em
Curitiba, que
minha mãe
freqüentava. Foi
através dela que
tive meu
primeiro contato,
mas só em
Londres é que
realmente me
dediquei ao
Espiritismo.
O Consolador
–
Houve algum fato
ou circunstância
especial que
haja propiciado
esse contato?
– A minha adesão
definitiva foi
facilitada por
trabalhar
profissionalmente
num grupo
musical do qual
um dos
integrantes (Kleber
Celadon) dirigia
um centro
espírita em
Londres. Através
desse contato
comecei a
freqüentar e a
me interessar
intensamente
pelo estudo da
doutrina. A
partir daí tudo
correu muito
rápido e
naturalmente.
O Consolador –
Sua família
aceitou bem o
fato?
– Minha mãe,
obviamente,
sendo
simpatizante do
Espiritismo,
apoiou-me. Meu
pai, embora
católico, nunca
se opôs. Minha
esposa tornou-se
espírita junto
comigo.
O Consolador –
Dos três
aspectos do
Espiritismo -
ciência,
filosofia,
religião - qual
o que mais o
atrai?
– Embora as
leituras de
cunho científico
me atraiam
bastante, estou
ciente de que o
aspecto
filosófico e
suas
conseqüências
morais/éticas
são mais
importantes, por
incitarem à
nossa
transformação.
O Consolador –
Que autores
espíritas mais
lhe agradam?
– André Luiz,
por sua
habilidade em
complementar e
ilustrar com
exemplos os
princípios
doutrinários
encontrados na
codificação
kardequiana, e
Emmanuel, pela
grandiosidade e
profundidade da
sua série de
romances do
início do
Cristianismo (Há
2000 Anos, 50
Anos Depois, Ave
Cristo, Paulo e
Estêvão e
Renúncia).
O Consolador –
Que livros
espíritas você
considera
indispensáveis
ao confrade
iniciante?
– Sem dúvida, a
codificação é
indispensável,
porque traz a
base do que
realmente é o
Espiritismo.
Depois disso, é
uma questão de
afinidade, como
disse acima
sobre a obra de
André Luiz e
Emmanuel. Muitos
livros espíritas
já estão
traduzidos para
o inglês também.
O Consolador –
Se fosse passar
alguns anos num
lugar remoto,
com acesso
restrito à
atividade
espírita, que
livros
pertinentes à
doutrina você
levaria?
– Todos que
pudesse levar.
O Consolador –
As divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para você
o Espiritismo é
uma religião?
– Depende do
que entendemos
como religião e
daí é que vêm as
divergências.
Não é uma
religião no
sentido de um
grupo
exclusivista.
Por exemplo,
pode-se ser
espírita e
pertencer a
outra
denominacao
religiosa, como
católico, judeu
ou protestante,
sem problema
algum. Mas é
religião no
sentido que nos
aproxima do
Criador, da
nossa essência
espiritual e da
necessidade do
aprimoramento
ético-moral. Em
países como o
Reino Unido, em
que a palavra
religião traz
conotação muito
negativa pela
carga traumática
dos abusos
religiosos do
passado, pode-se
usar as palavras
ético-moral ou
espiritual, que
significam a
mesma coisa.
O Consolador –
Outro assunto
que suscita
debates
acalorados no
Brasil diz
respeito à obra
de J. B.
Roustaing. Qual
a sua apreciação
dessa obra?
– Em assuntos
que trazem
divergências sem
nenhum proveito
para o
fortalecimento
da doutrina e do
movimento
espírita prefiro
não opinar.
Temos que
apreciar as
riquezas
doutrinárias,
que são quase
infinitas, e
ignorar as
divergências
inúteis que são
tão ínfimas. Às
vezes
valorizamos o
que não merece
atenção.
O Consolador –
O terceiro
assunto em que a
prática espírita
apresenta
divergências
está relacionado
com os chamados
passes
padronizados,
propostos na
obra de Edgard
Armond, embora a
maioria dos
espíritas
brasileiros seja
favorável à
imposição de
mãos. Qual a sua
opinião e como o
passe é
ministrado no
Reino Unido?
– No Reino Unido
prevalece a
simples
imposição de
mãos, que me
parece mais
simples e mais
coerente, um
gesto instituído
por Jesus. Dessa
forma o passista
pode concentrar-se
no que realmente
é fundamental:
sua atitude
íntima de
respeito, doação
e amor
incondicional.
O Consolador –
Como vê a
discussão em
torno do aborto?
– Dentro da
doutrina
espírita temos
que preservar a
liberdade de
pensar e agir de
cada um. Devemos
sim manifestar
nossa opinião
seriamente
baseada na
conseqüência dos
princípios
doutrinários em
nossa vida, sem
violentar o
direito do outro
de discordar e
agir conforme
lhe convenha.
Assim agindo,
não estaremos
sendo coniventes
nem tampouco
impondo nosso
ponto de vista.
O Consolador –
Você tem tido
contato com o
movimento
espírita
brasileiro?
–
Tento concentrar
minha energia no
movimento
espírita do país
onde resido,
embora tenha um
certo contato
com o Brasil. Às
vezes nos
preocupamos
demais com o
movimento
espírita do
Brasil e
negligenciamos a
sociedade onde
estamos
inseridos.
O Consolador –
Quando e como se
iniciou o
movimento
espírita na
Inglaterra?
– Este ano
completam-se 25
anos de
Espiritismo em
nosso país,
iniciado pela
fundação do AKSG
pela senhora
Janet Duncan.
Existem no
momento 12
grupos no Reino
Unido, 9 deles
em Londres, 1 em
Brighton, 1 em
Sheffield e 1 em
Edimburgo, na
Escócia. A BUSS
(British Union
of Spiritist
Societies) é o
órgão federativo
e faz a
divulgação a
nível nacional,
com seminários,
workshops e
congressos,
destacando-se,
nesse
particular, o
último Congresso
sobre Medicina e
Espiritualidade,
realizado em
junho/julho do
ano passado, com
a participação
de vários
médicos e
pesquisadores
brasileiros,
britânicos e
alemão.
Logicamente,
além disso, a
BUSS cumpre o
papel de
unificador do
movimento
espírita
britânico.
O Consolador –
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência,
que parece
aumentar no
Brasil no mundo,
e como nós,
espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
– Toda ação no
bem traz
benefícios à
sociedade. A
base da moral do
adulto inicia-se
na educação na
família.
Evangelizemo-nos
primeiro e nosso
exemplo será
seguido. É
lógico que toda
iniciativa que
melhore a
educação das
famílias, como o
Evangelho no Lar,
a evangelização
das crianças, o
trabalho social
voltado a todos
os necessitado
etc., é
necessária, mas
não podemos
adiar a nossa
própria
renovação. As
obras virão em
conseqüência
disso.
O Consolador –
A preparação do
advento do mundo
de regeneração
em nosso planeta
já deu, como
sabemos, seus
primeiros passos.
Daqui a quantos
anos você
acredita que a
Terra deixará de
ser um mundo de
expiação e
provas, passando
plenamente à
condição de
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra amor
estará escrita
em todas as
frontes e uma
equidade
perfeita
regulará as
relações sociais?
– Muito difícil
dizer. Vai
depender do
nosso próprio
esforço de auto-renovação
e do esforço das
gerações futuras.
Acho que a
mudança será
gradativa, sem
haver uma linha
demarcatória
entre um nível e
outro.
O Consolador –
Em face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
mundo?
–
Vivência dos
princípios
espíritas,
humildade,
convicção de que
o trabalho não é
nosso, que somos
apenas
instrumentos,
que somos
perfeitamente
substituíveis e
que estamos
temporariamente
assumindo esse
papel para dar
nosso ínfimo
contributo para
resultados que
se concretizarão
a longo prazo.
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