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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 49 - 30 de Março de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 
 

Pratique a vida!
 

− Qual é a lição que você me ensinaria para depois de tudo? – perguntou o menino de cabelos vermelhos.

O pássaro, atento, pensou bastante.

− Peça a seu Deus, você deve honrar um, para lhe ensinar quando for o momento de deixar ir. 

É caráter próprio daquele que tem fé confiar em um futuro melhor e aceitar a pluralidade das existências como postulado favorável à conquista da felicidade. E avesso à dúvida, aquele que tem fé na imortalidade crê que o Espírito não pode morrer, pois evoluir é indispensável à condição humana. 

“Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte – a da consciência denegrida no mal, torturada de remorso ou paralítica nos despenhadeiros que marginas a estrada da insensatez e do crime”. (1) 

Atados à afirmativa de Emmanuel, para melhor viver, precisamos entender os dois tipos de morte: a do corpo, vestimenta material do Espírito, inexorável, e a da consciência, que faz o coração endurecer e, em conseqüência, retardar o passo na jornada. 

No que toca à segunda morte – a da consciência, o importante aqui é não se confinar no bloqueio, não se fiar no nó que impede a manifestação e o fluxo da energia do conhecimento, uma vez que a ignorância, tal como ensinara Sócrates, é a fonte dos males e dos sofrimentos, ou seja, a falta de instrução conduz o indivíduo ao desespero, enfado, ódio, tudo aquilo que obscurece a luz e o que, por derivação, o manterá cativo na inconsciência, à medida que, ao mesmo tempo, faz acelerar a rigidez do coração... 

Praticar a vida, ao contrário da “morte”, implica viver com o coração aberto, que é exigente de disciplina e atenção. Nesse propósito, creio que devamos estimular o exercício diário do desenvolvimento dos cinco corações, citados por Thom Cavalli (2), que não são disjuntivos, mas sim complementares: 

  • Um coração gentil e obediente tem coragem de dizer “Sim”.
  • Um coração contrito diz “Sinto muito”, admite os próprios erros e reflete sobre eles.
  • Um coração modesto dá crédito aos outros por qualquer realização.
  • Um coração voluntário diz “Eu faço” sem pensar em benefícios.
  • Um coração agradecido diz “Muito obrigado”.

Se é o medo que nos confunde e nos motiva a adoção de sistemas de defesa incoerentes, como a arrogância ou o controle, e que nos prejudica no lugar de nos auxiliar, precisamos nos munir de coragem para deixar de nos identificar somente com o território do corpo (plano material e suscetível à decrepitude) para aprender a viver orientado pela dimensão espiritual, que nos aprofunda a vivência da esperança, da espontaneidade, da autovalorização, pois fortalece a ampliação da consciência que pede o pensar por nós mesmos e o assumir responsabilidades, embora isso seja assustador. Ainda, para viver com clareza não é exigido a negação do medo, mas sim o seu enfrentamento – ir adiante e buscar-se nas relações consigo mesmo (para melhorar-se) e com os outros.   

Jean-Yves Leloup explica que o ser humano muitas vezes é mantido nas garras da morte (permanência na dimensão escura) pela ignorância da verdadeira vida. Com isso, sinto que o essencial é ter como meta não se encerrar em sentimentos de culpa, mas insistir no autoperdão, no abandono dos traumatismos do passado (cultivar o “deixar-ir”) e, desse modo, caminhar e confiar na Luz, pois disse Jesus: “Eu sou a luz do mundo”. Antes de tudo, portanto, trata-se, simplesmente, de despertar para essa luz e nela se instruir, pois assim o pó (corpo) tornar-se vivo (Espírito). 

Bibliografia:

(1) EMMANUEL/XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. 28 ed. RJ: FEB, 2006, p. 99.

(2) CAVALLI, Thom F. Psicologia alquímica. Tradução de Carlos Salum, Ana Lucia Franco. São Paulo: Cultrix, 2005, p. 292.
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita