MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Obreiros da Vida Eterna
André Luiz
(7a
Parte)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Obreiros da Vida Eterna,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e publicada em 1946 pela
editora da Federação
Espírita Brasileira, a
qual integra a série
iniciada com o livro
Nosso Lar.
Questões preliminares
A. Aludindo à parábola
lida, que focaliza o
caso do rico e do
mendigo Lázaro, padre
Hipólito comentou-a de
forma inteiramente nova.
Que considerações fez
ele sobre o tema?
R.: Antes de comentar a
parábola referida,
Hipólito perguntou: – "Qual
de nós não terá sido, na
Crosta do Mundo, aquele
rico, vestido de púrpura
e linho finíssimo', do
ensinamento do Mestre?"
E comentou o conhecido
texto narrado por Jesus,
fazendo-o de um modo
inteiramente diferente
dos comentários usuais
sobre o tema. Todos os
que ali estavam –
lembrou Hipólito – já
tiveram, em derredor,
mendigos de afeto e
socorro espiritual a
mostrar-lhes, em vão, as
chagas de suas
necessidades.
Chamavam-se eles
familiares, parentes,
companheiros de luta,
irmãos remotos de
humanidade... Eram
filhos famintos de
orientação, pais
necessitados de carinho,
viandantes do caminho
evolutivo sequiosos de
auxílio, que,
improficuamente, se
aproximavam implorando
reconforto e alegria. "Em
geral", lembrou
Hipólito,
"lembrávamo-nos sempre
tarde de suas feridas
interiores, indiferentes
ao menosprezo da
oportunidade sublime que
nos fora concedida para
ministrar-lhes o bem".
Envaidecidos das
próprias conquistas,
encarcerados em
clamorosa apatia, os
agora infelizes
amontoavam expressões de
bem-estar, crendo-se
superiores a todas as
criaturas integrantes do
quadro da passagem
terrena. Prisioneiros
das próprias criações
inferiores, a morte
precipitou-os no
despenhadeiro
purgatorial, semelhante
ao tenebroso inferno da
teologia mitológica. E,
assim, envelhecida e
rota a veste rica de
oportunidade, todos se
tornaram mais pobres que
o último dos miseráveis
que lhes batiam
confiantes à porta do
coração e para os quais
poderiam ter sido
beneméritos doadores da
felicidade. Viajores do
mundo, os que ali
padeciam fugiam, quando
encarnados, de todos os
companheiros
necessitados e
estimavam, acima de
tudo, o bom tempo, as
ilhas encantadas de
prazer, a camaradagem
dos mais fortes, para
depois atingirem a outra
margem, humilhados e
pesarosos, em terríveis
necessidades do
espírito, incapazes de
prosseguir a caminho dos
continentes divinos da
redenção... (Obreiros
da Vida Eterna, cap. 8,
pp. 118 a 122.)
B. Por que, estando bem
perto dos socorristas,
os sofredores não se
aproximavam para
juntar-se ao grupo?
R.: O motivo disso é que
entre a multidão
compacta e o grupo de
benfeitores espirituais
havia um profundo fosso
e, onde surgiam
possibilidades de
transposição mais fácil,
reuniam-se pequenos
grupos de entidades com
sinistra expressão
fisionômica, que
exerciam severa
vigilância sobre os
infelizes, impedindo-os
de se aproximarem dos
socorristas. (Obra
citada, cap. 8, pp. 122
a 129.)
C. Em meio à procissão
de pedintes, havia
também espíritas?
R.: Sim. Pelo teor das
súplicas, via-se que ali
estavam reunidos adeptos
de variados credos
religiosos, e os
espiritistas não
faltavam no triste
concerto. Uma senhora,
de porte respeitável,
cabelos revoltos e
fundas chagas no rosto,
suplicou, chorosa: – "Espíritos
do Bem, auxiliai-me! Eu
conheci Bezerra de
Menezes na Terra,
aceitei o Espiritismo.
No entanto, ai de mim!
Minha crença não chegou
a ser fé renovadora.
Dedicava-me à
consolação, mas fugia à
responsabilidade! A
morte atirou-me aqui,
onde tenho sofrido
bastante as
conseqüências do meu
relaxamento espiritual!
Socorrei-me, por Jesus!"
(Obra citada, cap. 8,
pp. 129 a 131.)
D. As faixas luminosas
lançadas pelos
socorristas produziram
algum resultado?
R.: Não, porque houve,
diante dessa
providência, uma odiosa
represália dos verdugos
desencarnados que fez
com que esses esforços
se tornassem inúteis.
(Obra citada, cap. 8,
pp. 131 e 132.)
Texto
para leitura
46. Um discurso
firme e sincero
- Os adversários
gratuitos não se
limitaram ao vozerio
perturbador. Bolas de
substância negra
começaram a cair, ao
lado do grupo
socorrista, partindo de
vários pontos do abismo
de dor. Zenóbia
determinou então que
fossem estendidas as
redes de defesa,
isolando o grupo da
multidão de infelizes.
Redes luminosas
desdobraram-se à frente
dos benfeitores
espirituais: eram
constituídas de material
possuidor de elevada
potência magnética,
porque as bolas e setas
atiradas ao grupo
detinham-se ali,
paralisadas por
misteriosa força. Padre
Hipólito pôde então
iniciar seus
comentários: - "Irmãos,
que vos prepareis para a
recepção da Luz Divina,
é o nosso desejo
fraternal!" Na
pregação aos infelizes,
Hipólito lembrou que se
reuniam ali várias
centenas de
infortunados, em
precárias condições
espirituais, que se
entregavam, muita vez,
ao desalento, à rebeldia
e ao desespero.
Perturbados e
desditosos, não sabiam
senão fabricar
pensamentos de angústia
destruidora, alegando
que as Forças Divinas os
haviam esquecido no vale
fundo das trevas e
transformando-se, assim,
em perigosos gênios da
sombra e do mal. Cruéis
perversões interiores
modificavam-lhes o
aspecto fisionômico. "Não
vos assemelhais às
criaturas humanas que
fostes, repletas de dons
divinos, e, sim, a
imagens vivas das
regiões infernais,
infundindo compaixão aos
bons, receio e pavor aos
mais tímidos",
disse-lhes o
palestrante, que
acentuou que todos ali
se encontravam perdidos
em dolorosos desertos da
ignorância, não por
falta de amor da
Providência Celeste, mas
pela própria
imprevidência no descaso
com que receberam na
Terra as oportunidades
de ascensão espiritual.
O padre falava firme,
sem adoçar as
considerações relativas
à responsabilidade
individual dos infelizes
que o ouviam. As
palavras injuriosas
desapareceram, pouco a
pouco. A franqueza de
Hipólito triunfara. "Dominam-vos
a inveja e o despeito, a
maldade e o sarcasmo",
acrescentou o
palestrante, que lembrou
que quase todos ali
presentes recebiam o
concurso amoroso dos
benfeitores espirituais
com indiferença,
reagindo impenitentes e
julgando que eles, os
socorristas, eram
criaturas privilegiadas
dos Céus. Ao contrário
disso – lembrou Hipólito
–, os benfeitores
trabalham, lutam, choram
e sofrem: apenas diverge
a sua posição em face da
vida, visto que já
iniciaram o luminoso
aprendizado do
reconhecimento a Deus,
compreendendo a extensão
dos próprios débitos e
pondo-se a caminho do
futuro redentor, através
da retificação dos
caminhos. (Cap. 8, pp.
118 a 120)
47. Interpretando
a parábola de Lázaro e o
rico - Aludindo
diretamente à parábola
que fora lida, Hipólito
perguntou: – "Qual de
nós não terá sido, na
Crosta do Mundo, aquele
rico, vestido de púrpura
e linho finíssimo', do
ensinamento do Mestre?"
E comentou a conhecida
parábola narrada por
Jesus, fazendo-o de um
modo inteiramente
diferente dos
comentários usuais sobre
o tema. Todos os que ali
estavam – lembrou
Hipólito – já tiveram,
em derredor, mendigos de
afeto e socorro
espiritual a
mostrar-lhes, em vão, as
chagas de suas
necessidades.
Chamavam-se eles
familiares, parentes,
companheiros de luta,
irmãos remotos de
humanidade... Eram
filhos famintos de
orientação, pais
necessitados de carinho,
viandantes do caminho
evolutivo sequiosos de
auxílio, que,
improficuamente, se
aproximavam implorando
reconforto e alegria. "Em
geral", lembrou
Hipólito,
"lembrávamo-nos sempre
tarde de suas feridas
interiores, indiferentes
ao menosprezo da
oportunidade sublime que
nos fora concedida para
ministrar-lhes o bem".
Envaidecidos das
próprias conquistas,
encarcerados em
clamorosa apatia, os
agora infelizes
amontoavam expressões de
bem-estar, crendo-se
superiores a todas as
criaturas integrantes do
quadro da passagem
terrena. Prisioneiros
das próprias criações
inferiores, a morte
precipitou-os no
despenhadeiro
purgatorial, semelhante
ao tenebroso inferno da
teologia mitológica. E,
assim, envelhecida e
rota a veste rica de
oportunidade, todos se
tornaram mais pobres que
o último dos miseráveis
que lhes batiam
confiantes à porta do
coração e para os quais
poderiam ter sido
beneméritos doadores da
felicidade. Viajores do
mundo, os que ali
padeciam fugiam, quando
encarnados, de todos os
companheiros
necessitados e
estimavam, acima de
tudo, o bom tempo, as
ilhas encantadas de
prazer, a camaradagem
dos mais fortes, para
depois atingirem a outra
margem, humilhados e
pesarosos, em terríveis
necessidades do
espírito, incapazes de
prosseguir a caminho dos
continentes divinos da
redenção... E o
palestrante, de forma
incisiva, asseverou: "Sejamos
razoáveis, meus irmãos,
reconhecendo que esse
inferno é construção
mental em nós mesmos. O
estacionamento, após
esforço destrutivo,
estabelece clima
propício aos fantasmas
de toda sorte, fantasmas
que torturam a mente que
os gerou, levando-a a
pesadelos cruéis".
(Cap. 8, pp. 120 a 122)
48. A
procissão dos infelizes
- Padre Hipólito
mostrou, ainda, em sua
palestra, que o remorso
de nossas misérias
íntimas, a negação
voluntária da
Providência, o ódio e a
malquerença é que geram
os poços abismais de
sofrimentos torturantes,
as penitenciárias
sombrias e os desertos
calcinantes que afligem
os infelizes na vida
post-mortem, ao passo
que muitas de nossas
vítimas de outro tempo
escalaram, muitas vezes,
altas posições no campo
da espiritualidade
maior, estando em
condições hoje de
interceder por seus
verdugos, ou
indiferentes, do
passado. Mencionou em
seguida a função da dor,
advertindo, porém, que
não basta rogá-la, para
refrescar o coração
dorido e dilacerado. É
preciso, antes de tudo,
regenerar o vaso
receptivo da alma
enferma, alijando a
poeira venenosa da
Terra, para que
permaneça puro e
reconfortante o rocio do
Céu! É imprescindível o
sofrimento de função
purificadora. Os
desvarios mentais, a que
nos entregamos na
Crosta, são energias que
se manifestam, depois,
com a intensidade das
forças libertas, e daí a
intraduzível angústia da
fome, da sede, da
aflição e da enfermidade
que muitos dos infelizes
no Além sentem, pela
carência de conformação
com as leis de Deus. O
silêncio no ambiente era
geral, indicando que
padre Hipólito era
ouvido com respeitosa
atenção pelos sofredores
ali congregados. E ele
aproveitou para
esclarecer: –"Nenhum
de nós outros, os que
apelamos para a vossa
renovação, encontrou até
agora a residência dos
anjos. Somos
companheiros em cujo
coração palpita, plena,
a Humanidade, com os
seus defeitos e
aspirações.
Compreendemos, contudo,
vosso tormento
consumidor e trazemos a
todos o convite de
renúncia aos impulsos
egoísticos,
concitando-vos, ainda,
ao reconhecimento devido
ao Senhor e à penitência
pelos nossos erros
voluntários e criminosos
do passado". Feita
uma pausa natural na
pregação, André Luiz
pôde observar com maior
atenção o quadro
exterior. Longas filas
de sofredores acorriam
de todos os recantos,
fitando o grupo
socorrista, à claridade
das tochas, a distância
de 30 metros,
aproximadamente.
Estendiam-se em vasta
procissão os infelizes e
os tristes, parecendo
guardar todas as
características das
enfermidades físicas
trazidas da Crosta, no
campo impressivo do
corpo espiritual.
Viam-se necessitados de
todos os tipos:
aleijões, feridas,
misérias exibiam-se ali.
Muitos estavam
ajoelhados, pensando
talvez que os
socorristas fossem
emissários de Deus em
visita ao purgatório. E,
em sua face angustiada,
eram indescritíveis os
padecimentos. (Cap. 8,
pp. 122 a 124)
49. O fosso
- As entidades
sofredoras semelhavam-se
a prisioneiros
suspirando pela
liberdade. Por que não
corriam ao encontro dos
socorristas? Essa era a
indagação que André se
fazia, mas logo ele pôde
compreender: entre a
multidão compacta e o
grupo de benfeitores
espirituais havia um
profundo fosso e, onde
surgiam possibilidades
de transposição mais
fácil, reuniam-se
pequenos grupos de
entidades com sinistra
expressão fisionômica,
que exerciam severa
vigilância sobre os
infelizes. Como se
prolongara a pausa do
pregador, uma entidade
de aspecto horrível
gritou, em meio de
gestos odiosos: – "Não
pedimos exércitos de
salvação! Fujam daqui!"
Seguiram-se outras
expressões de desagrado
e impropérios das
entidades malignas: –
"Não desejamos redimir
coisa alguma! Nada
devemos! – Morram os
pregoeiros da virtude
falsificada! – Perdem
tempo! Estão
redondamente enganados!
Também temos programa e
sabemos querer!"
Padre Hipólito retomou a
palavra chamando-os à
correção da atitude em
face do Criador e da
vida. "Calai a
vaidade ferida e o
orgulho humilhado que
vos ditam observações
ingratas e criminosas!
Detende-vos no santuário
da consciência e não
exigireis visões e
revelações que não
conseguiríeis suportar",
acrescentou o
palestrante. As
entidades endurecidas e
perversas mostraram-se,
contudo, frias e
insensíveis, e
fizeram-se ouvir outras
vozes, em sinistro coro:
– Basta! basta! –
Fora! fora! (Cap. 8,
pp. 124 a 127)
50. Nenhuma
criança havia entre os
infelizes -
Apesar das demonstrações
agressivas dos Espíritos
perturbadores, notava-se
que a dissertação de
Hipólito fizera à
multidão de infelizes
enorme bem. Muitos deles
vertiam pranto copioso.
Outros revelavam no
semblante angustiado o
pavor que os
companheiros
empedernidos no mal lhes
causavam. Curiosamente,
não havia ali uma só
criança; apenas adultos,
jovens e velhos de todos
os aspectos. André não
entendia, porém, por que
o padre Hipólito não
respondia à altura as
agressões verbais
recebidas dos sicários
da sombra, que
denunciavam refinada
cultura intelectual e
vigorosa inteligência.
Jerônimo, percebendo o
perigoso estado d' alma
de André, falou-lhe,
discreto: – "André,
extingue a vibração da
cólera injusta. Ninguém
auxilia por intermédio
da irritação pessoal.
Não assumas papel de
crítico. Permanecemos
aqui, na qualidade de
irmãos mais velhos no
conhecimento divino,
tentando socorro aos
mais jovens, menos
felizes que nós.
Revistamo-nos de calma e
paciência. Responder a
insultos descabidos é
perder valioso tempo, na
obra de
confraternização, ante o
Eterno Pai".
Jerônimo pediu-lhe ainda
modificasse a emissão
mental, para que não lhe
faltasse a cooperação
construtiva, e guardasse
a voz, não para
condenar, mas para
informar e edificar
cristãmente. Aquelas
advertências fizeram com
que se reajustasse o
campo emotivo de André,
que compreendeu que os
adversários do bem
necessitavam, antes de
tudo, de amparo e
compaixão, por não
haverem recebido ainda,
como acontecera aos
benfeitores, a bênção da
fé viva, da conformação
aos desígnios da Lei
Eterna e do
reconhecimento das
próprias necessidades
interiores, por
incapacidade espiritual.
Doía vê-los oprimindo
míseras entidades que se
ajoelhavam, suplicando
ajuda e libertação;
entretanto, razões
ponderáveis existiriam,
justificando a ligação
entre algozes e vítimas.
(Cap. 8, pp. 127 a 129)
51. Espiritistas
no meio dos infortunados
- Dentre os pedintes,
pobre velhinha,
estendendo seus braços
esqueléticos na direção
do grupo socorrista,
suplicou que a
retirassem do
purgatório. Ela
reconhecia seus erros,
mas agora, arrependida,
implorava proteção e
prometia resgatar suas
dívidas e procurar todos
aqueles a quem ofendera
durante a vida
terrestre, a fim de
humilhar-se e pedir-lhes
perdão... De mãos
postas, fitando os
benfeitores
angustiosamente, a
entidade rogava: –
"Não me desampareis! Não
me desampareis!..."
Essa rogativa mudou de
alguma sorte o quadro, e
vários companheiros de
infortúnio passaram a
clamar por socorro aos
mensageiros da Casa
Transitória. Pelo teor
das súplicas, via-se que
ali estavam reunidos
adeptos de variados
credos religiosos, e os
espiritistas não
faltavam no triste
concerto. Uma senhora,
de porte respeitável,
cabelos revoltos e
fundas chagas no rosto,
suplicou, chorosa: – "Espíritos
do Bem, auxiliai-me! Eu
conheci Bezerra de
Menezes na Terra,
aceitei o Espiritismo.
No entanto, ai de mim!
Minha crença não chegou
a ser fé renovadora.
Dedicava-me à
consolação, mas fugia à
responsabilidade! A
morte atirou-me aqui,
onde tenho sofrido
bastante as
conseqüências do meu
relaxamento espiritual!
Socorrei-me, por Jesus!"
De todos os recantos
soavam os apelos. Quando
os rogos cresceram,
partindo de tantas
bocas, os verdugos
empunharam látegos
sinistros, espalhando
vergastadas, quase que
indiscriminadamente... A
maioria dos pobres que
se mantinham genuflexos
debandou, em passos
apressados quanto lhes
era possível,
regressando aos ângulos
sombrios do vale fundo.
Alguns, porém,
suportavam os golpes,
heroicamente,
prosseguindo de joelhos
e contemplando os
socorristas, ansiosos.
Foi aí que certo
perseguidor, indicando o
grupo de benfeitores,
vociferou, com sarcasmo:
– "Estão vendo? São
benfeitores de gravata!
Não se atiram à luta em
favor de ninguém!
Ensinam com lábios, mas,
no fundo, são
mensageiros do inferno,
insensíveis e duros,
como estátuas de pedra.
Nenhum deles ousa
atravessar a barreira
para prestar-vos
assistência e
socorro!..." (Cap.
8, pp. 129 a 131)
52. As faixas de
socorro -
Zenóbia, temendo a
reação do grupo em face
do desafio dos Espíritos
malévolos, recomendou a
todos que se
conservassem em calma
para o trabalho
eficiente. "Ninguém
se conserva neste abismo
de dor, sem razão de ser",
acrescentou a diretora
da Casa Transitória. E,
convicta da necessidade
de argumentação mais
firme para demover os
companheiros de serviço,
lembrou a experiência do
Gólgota. Que seria do
Cristianismo se Jesus
abandonasse a cruz, a
meio caminho, para
entrar em pugilato com a
multidão? Eles ali
estavam em tarefa
consoladora e educativa.
O serviço de punição dos
culpados viria de mais
alto. Em seguida, a
diretora entrou em
combinação com os
auxiliares que havia
trazido, desenrolando
extenso material
socorrista. Vários
grupos de infelizes
tentaram vencer o
obstáculo, mas os
verdugos golpeavam-nos
cruelmente,
empenhando-se em luta
para precipitá-los ao
fundo do fosso
tenebroso, do qual
fugiam as vítimas,
tomadas de visível
terror. Zenóbia
determinou então que
fossem lançadas faixas
luminosas de salvação ao
outro lado, no propósito
de retirar-se o número
possível de sofredores;
contudo a ordem
seguiu-se de odiosa
represália. Os gênios
diabólicos fizeram-se
mais duros. Acorreram
míseras almas, aos
magotes, buscando
agarrar-se às
extremidades
resplandecentes,
descidas na margem
oposta, como bordos de
acolhedora ponte de luz;
mas os golpes e pancadas
multiplicaram-se e
entidades perversas, em
grande número, continham
os prisioneiros,
impedindo-lhes o
salvamento, com
manifesta intensificação
de maldade. Como os
esforços foram inúteis,
Zenóbia determinou fosse
recolhido o material
utilizado para os
trabalhos de salvação. E
às rogativas chorosas
das vítimas casavam-se
agora as frases
injuriosas dos verdugos,
confrangendo o coração
da equipe de socorro.
(Cap. 8, pp. 131 e 132)
(Continua no próximo
número.)