O papa Bento XVI esteve no
Brasil nos dias 9 a 13 de maio
para cumprimento de dois
compromissos oficiais: a
consagração pública da
canonização de Frei Galvão, o
primeiro santo nascido no Brasil,
e a abertura da V Conferência
Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe.
Em
seus pronunciamentos durante sua
estada no Brasil, o papa tocou
em temas particularmente
importantes para a Igreja,
ressaltando posições
tradicionais do Catolicismo.
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Defendeu,
então, a santidade da vida desde
a concepção até seu fim natural
– o que reafirmou a oposição
da Igreja ao aborto e à eutanásia
–, pregou a castidade, a
fidelidade e a importância do
matrimônio e também falou da
necessidade de a Igreja ajudar a
formar os políticos.
Selecionadas
pela BBC Brasil - http://www.bbcbrasil.com/
-, eis algumas das frases mais
marcantes do pontífice, desde que
chegou ao Brasil, no dia 9 de
maio, até o dia 13, quando
retornou a Roma:
Na
missa de domingo em Aparecida
(13/5)
"A
missão de Cristo realizou-se no
amor. Ele acendeu no mundo o fogo
da caridade de Deus. É o amor que
dá a vida: por isso, a Igreja é
convidada a difundir no mundo a
caridade de Cristo (...) A Igreja
se sente discípula e missionária
desse amor: missionária somente
enquanto discípula, isto é capaz
de deixar-se sempre atrair, com
renovado enlevo, por Deus que nos
amou e nos ama por primeiro. A
Igreja não faz proselitismo. Ela
cresce muito mais por 'atração':
como Cristo 'atrai todos a si' com
a força de seu amor, que culminou
no sacrifício da Cruz (...)"
"Este
é o rico tesouro do continente
latino-americano; este é seu
patrimônio mais valioso: a fé em
Deus Amor, que revelou seu rosto
em Jesus Cristo (...) Não é uma
ideologia política, nem um
movimento social, como tampouco um
sistema econômico; é a fé em
Deus Amor, encarnado, morto e
ressuscitado em Jesus Cristo, o
autêntico fundamento desta
esperança que produziu frutos tão
magníficos desde a primeira
evangelização até hoje."
Na
visita à Fazenda Esperança
(12/5)
"É
preciso edificar, construir a
esperança, tecendo a tela de uma
sociedade que, no estender-se dos
fios da vida, perde o próprio
sentimento de esperança."
"Justamente
aqui na Fazenda da Esperança,
onde estão tantas pessoas,
principalmente jovens, que
procuram superar o problema das
drogas (…) testemunha-se o
Evangelho de Cristo, no meio de
uma sociedade consumista afastada
de Deus."
"O
Brasil possui uma estatística,
das mais relevantes, no que diz
respeito à dependência química
de drogas e entorpecentes. E a América
Latina não fica atrás. Por isso,
digo aos que comercializam a droga
que pensem no mal que estão
provocando a uma multidão de
jovens e de adultos de todos os
segmentos da sociedade: Deus
vai-lhes exigir satisfações."
No
encontro com bispos na Catedral da
Sé (11/5)
"As
pessoas mais vulneráveis ao
proselitismo agressivo das seitas,
que é motivo de justa preocupação,
e incapazes de resistir às
investidas do agnosticismo, do
relativismo e do laicismo são
geralmente os batizados, não
suficientemente evangelizados,
facilmente influenciáveis, porque
possuem uma fé fragilizada e, por
vezes, confusa, vacilante e ingênua,
embora conservem uma religiosidade
inata."
"É
verdade que os tempos de hoje são
difíceis para a Igreja e muitos
dos seus filhos estão
atribulados. A vida social está
atravessando momento de confusão
desnorteadora. Ataca-se
impunemente a santidade do matrimônio
e da família (...)"
"Deve-se,
por isso, trabalhar
incansavelmente para a formação
dos políticos, dos brasileiros
que têm algum poder decisório,
grande ou pequeno e, em geral, de
todos os membros da sociedade
(…) Ocorre formar nas classes
políticas e empresariais um autêntico
espírito de veracidade e
honestidade. Quem assume uma
liderança na sociedade deve
procurar prever as conseqüências
sociais, diretas e indiretas, a
curto e a longo prazo, das próprias
decisões, agindo segundo critérios
de maximização do bem comum, ao
invés de procurar ganâncias
pessoais."
Na
canonização de Frei Galvão
(11/5)
"Declaramos
e definimos como santo o beato Antônio
de Sant'Anna Galvão. E o
inscrevemos na lista dos santos. E
estabelecemos que em toda a Igreja
ele seja devotamente honrado entre
os santos."
"Devemos
dizer não aos meios de comunicação
social que ridicularizam a
instituição do casamento e a
virgindade antes do
casamento."
No
encontro com jovens no Estádio do
Pacaembu (10/5)
"Não
poderá haver verdadeira
felicidade nos lares se, ao mesmo
tempo, não houver fidelidade
entre os esposos. O matrimônio
(…) é um grande dom que Deus
fez à humanidade. Respeitai-o.
Venerai-o."
"Deus
vos chama a respeitar-vos também
no namoro e no noivado, pois a
vida conjugal que, por disposição
divina, está destinada aos
casados é somente fonte de
felicidade e de paz na medida em
que souberdes fazer da castidade,
dentro e fora do matrimônio, um
baluarte de vossas esperanças
futuras."
Discurso
de chegada (9/5)
"Estou
certo de que em Aparecida, durante
a Conferência Geral do Episcopado
(Latino-Americano e do Caribe),
será reforçada tal identidade,
ao promover o respeito pela vida,
desde a sua concepção até o seu
natural declínio, como exigência
própria da natureza humana."
Breve
comentário sobre as palavras do
papa
É
evidente que, à luz da Doutrina
Espírita, há vários pontos no
discurso do papa que os espíritas
não podem aceitar. A insistência
em dizer que esta existência é
única, como afirmou aos jovens no
encontro do Pacaembu, e a idéia
de que é a fé fragilizada e
vacilante que faz o católico
procurar outras religiões são,
obviamente, equívocos que um
teólogo do nível de Bento XVI
não poderia cometer.
O
Espiritismo também não faz
proselitismo. Kardec defendeu tal
postura com ênfase, deixando
claro que a Doutrina ensinada
pelos Espíritos não veio para
tirar ninguém de religião
nenhuma, mas sim para aqueles que
não têm religião ou, tendo-a,
consideram-na insatisfatória.
Esse é, certamente, o motivo por
que alguém decide largar o
conforto das catedrais e a
proteção da religião
majoritária para ir abrigar-se no
seio de uma religião que não tem
o poder supostamente concedido à
Igreja de salvar os pecadores.
No
mais, nada há a opor no discurso
do papa quando enfatiza a
importância do amor em nossa
vida, quando chama a atenção
daqueles que traficam com as
drogas, quando defende a
importância do matrimônio e da
família e quando, por fim,
combate com vigor as tentativas de
liberalização do aborto e da
eutanásia.
Na
síntese feita pela BBC do Brasil,
estranhamos a omissão de uma
parte do discurso do papa dirigido
aos jovens quando Bento XVI lhes
falou sobre o sentido da vida,
lembrando-lhes que todos nós
devemos tornar relevante, com
atitudes e ações, nossa passagem
pelo mundo. Conselho elogiável,
que poderia ter sido reforçado se
o papa dissesse à juventude ali
reunida que a finalidade da
existência humana é, não apenas
o aprimoramento moral e
intelectual da pessoa humana, mas
sua participação decisiva na
obra da Criação, algo que está,
inegavelmente, faltando neste
país que se declara
majoritariamente cristão e, no
entanto, se revela o campeão das
desigualdades econômicas e
sociais.
As
desigualdades econômicas e
sociais, sabemos todos nós, são
obra dos homens; nada têm a ver
com o Criador. E, sendo assim,
compete aos homens eliminá-las
por meio de ações afirmativas e
de leis mais justas, o que
exigirá sem dúvida, não apenas
a fé, mas a conversão do
indivíduo em um cristão de
verdade. |