RITA
CÔRE
garciacore@hotmail.com
Laje
do Muriaé, Rio de Janeiro (Brasil)
Por
que se sofre
No
Sermão do Monte, disse Jesus,
conforme está em Mateus, cap. V,
versículo 5:
"Bem-aventurados os que
choram, porque serão
consolados." Os intérpretes
do Evangelho costumam explicar que
o consolo prometido por Jesus aos
aflitos da Terra só pode se
realizar na vida futura. Ora, sem
a certeza da continuidade da vida,
essa assertiva seria um
contra-senso, uma ilusão.
Costuma-se
acrescentar: aquele que sofre é
mais amado por Deus. Mas e os que
não sofreram tanto? Não são
amados por Deus? Por que uns
sofrem mais e outros sofrem menos?
As religiões não
reencarnacionistas não respondem
a essa questão. E permanece na
memória coletiva uma idéia falsa
do mérito do sofrimento, que leva
a uma atitude conformista: "’É
a vontade de Deus! Deus quis
assim! Deus é que sabe."
Será que Deus quer que soframos?
Se
entendemos Deus como causa
primária da vida, se vislumbramos
na organização cósmica, na
natureza, e em nosso próprio ser
os efeitos e sinais de uma
Inteligência Suprema –
entendemos também que a
perfeição e a justiça são
inerentes à Sua essência. Logo,
Deus não teria criado a dor, que
é estado de aflição, de
imperfeição. Quando tudo está
perfeito não há dor, não há
aflição.
A
justificativa que as religiões
tradicionais têm dado para a dor,
considerando-a condição para que
o homem seja recompensado além da
morte, passa a idéia de um Deus
sádico e cruel.
Por
outro lado, se a explicação de
felicidade na vida futura para
quem sofre, responde em parte à
pergunta para que se sofre,
continua outra questão no ar: Por
quê? Teria Deus os seus
escolhidos? Pessoas marcadas para
sofrer e se santificar? Nesse caso
seria parcial e, conseqüentemente,
não seria perfeito. Muitas
crianças não têm nem tempo para
sofrer, morrem antes. Além do
mais , a dor é um sinal de
imperfeição. Quer seja física,
quer seja moral ou espiritual. A
doença é imperfeição do corpo.
Algo não funciona bem. Do ponto
de vista subjetivo, moral, também
é assim. Quando as coisas não
vão bem para o nosso lado, a vida
se torna mais difícil e às vezes
até dolorosa. Nesse caso,
voltamos a perguntar: se Deus é
perfeito, de onde vem essa
imperfeição? É adquirida na
infância por injunções
externas? E a genética? Sofrem os
filhos por imperfeições dos
pais? Por que nem todos os filhos
sofrem os efeitos de tais
imperfeições? Somos joguetes da
dança dos genes?
Todas
essas questões são
desdobramentos da pergunta por
que se sofre, a busca de uma
causa que nos sugere outra
pergunta: de onde vem a dor
?
Se
perguntamos de onde vem, as
idéias começam a se encaixar.
Há um passado, anterior à dor
que se sente no presente e da qual
seremos consolados no futuro. Para
nossa visão limitada de seres
encarnados, eis aí, pelo menos,
uma linha de tempo;
passado-presente-futuro. É
possível elaborar um raciocínio.
E essa proposta racional e lógica
de encarar a existência vamos
encontrar na Doutrina Espírita,
nas suas explicações sobre a Lei
de Causa e Efeito. Enfim, no
processo evolutivo da
reencarnação.
As
aflições podem ter sua causa em
vidas anteriores e são
conseqüência natural de nosso
afastamento das leis cósmicas.
Mas ficam outras perguntas: todas
as aflições são decorrentes de
erros cometidos em outras vidas?
Por que nos esquecemos dessas
existências anteriores? Como se
realiza esse processo evolutivo?
Por que os que choram são bem-
aventurados? Essa esperança vale
para qualquer tipo de sofrimento?
Não
tenha medo de pensar, de
questionar. Coragem, leia Kardec.
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