Indubitavelmente,
a Lei de ação e reação é a
grande escritora dos capítulos
que compõem os livros dos
destinos dos seres.
O que Newton,
sabiamente, descobrira e escrevera
sobre a ciência, ao que se
percebe, igualmente, é válido
para a harmonia universal, não
só dos astros e das forças ditas
físicas, mas, também, das
intricadas tramas das vidas do
Espírito.
E, ao que se
depreende, outrossim, os antigos,
antes dele, sabiam disso.
O grande sexto
rei da primeira dinastia
babilônica, Hamurabi, em seu
famoso "Código de Hamurabi",
um dos mais antigos conjuntos de
leis do qual se tem notícia,
colocava como sendo o seu
princípio geral a reciprocidade
que deveria existir entre o delito
e a pena aplicada. 1
Tal conduta seria conhecida como
lei de Talião, a qual seria mais
difundida pelo seu enunciado
filosófico: "olho por olho,
dente por dente".
As leis
ensinadas pelos Hebreus na Torah,
de certo modo, assemelham-se,
apesar de não por completo, com
estas babilônicas. Moisés, desse
modo, ao lado dos Dez Mandamentos,
espelhos fiéis das palavras de
Deus aos homens, colocara,
sabiamente, também, no contexto
das leis sociais de seu povo ainda
muito endurecido aspectos
semelhantes ao de Hamurabi, os
quais, embora tomassem o gérmen
da lei universal, não
correspondiam, em totalidade, com
a vontade de Deus.
A Lei de
Talião, nesse sentido, traz, em
sua essência, a semente da lei de
ação e reação criada por Deus.
Eis por que não foi por acaso que
Jesus, corroborando com outras
palavras esses ensinamentos,
dissera: "quem com a espada
fere, com a espada será
ferido" 2; e, de
igual maneira, enunciara: "se
a vossa mão ou o vosso pé vos é
objeto de escândalo, cortai-os e
lançai-os longe de vós". 3
O Mestre maior,
no entanto, viera retirar o
espírito de todas as coisas.
Desse modo, conseguia, judeu que O
era, saber as leis ensinadas pela
Torah, porém, iluminado pelo
amadurecimento do seu Eu, ia
além. Assim, extraía a essência
dessas leis, revestindo-as com
roupagens mais sublimes, renovador
que fora, pois que deixava de lado
as restrições da letra.
Relembrando,
pois, os ensinamentos do
Deuteronômio (amor a Deus) 4
e do Levítico (amor ao próximo) 5
, unindo-os, colocou neles uma
abordagem inusitada, nunca dantes
feita no orbe. Dessa forma, ao
ensinar a Lei de amor, como sendo
o ponto culminante de toda
sabedoria e de todo sentimento,
viera dar uma nova visão à
humanidade. Inclusive, neste
aspecto.
Ao primeiro
momento, por certo, com um olhar
menos detido, as recomendações
de Jesus de amarmos o inimigo, de
perdoarmos sempre, de retribuirmos
o mal com o bem e de darmos a
outra a face parecem chocar-se com
a lei do olho por olho. E, de
fato, chocam-se. No entanto,
somente com os excessos contidos
nela, não com o seu princípio
geral e fundamental que é o do
retorno.
Isso porque os
erros ainda são comuns e, mesmo,
inevitáveis na atual conjuntura
evolutiva terrestre de seres muito
imperfeitos. Mas à Lei feita por
Deus é que compete o chamamento
do pagamento e não às mãos dos
homens. Não fora por acaso, dessa
maneira, que Jesus dissera:
"ai do homem por quem o
escândalo venha" 6,
ou mesmo, segundo algumas
traduções: "ai do mundo por
causa dos incitamentos ao pecado;
é inevitável que venham esses
incitamentos, mas ai do homem por
quem eles vierem" 7;
ensinando, nesses termos, a Pedro,
quando este indevidamente pensara,
possivelmente influenciado pela
cultura da época, fazer justiça
com a própria espada:
"Pedro, embainha tua
espada". 8
A lição da
espada ensinada por Jesus a Pedro,
portanto, mantém e corrobora
aquilo que havia de legítimo, do
ponto de vista divino, na lei de
Talião, que era o princípio da
lei de ação e reação. Contudo,
ela vai além. Ao ensinar a lei de
amor com a retribuição sempre
benéfica que conduz, amplia
aquela, retirando os excessos que
nela havia, mostrando, assim, que
não compete aos homens, tão
imperfeitos, ser o instrumento da
justiça divina. Para estes cabe a
função de amar e de perdoar, já
que Deus não necessita de
vingadores, mas de pacificadores.
- "É a
vontade de Deus" – dizem
alguns para tudo.
Deus, contudo,
não castiga, nem recompensa
ninguém.
Fez, ao
contrário, leis iniludíveis e
eternas.
Muitos fatos,
nesse ínterim, não seriam
reações conseqüentes de ações
do ser?
- "A mim,
compete a tarefa de fazer valer a
justiça de Deus" – pensam
algumas mentes pequenas.
Deus, no
entanto, a força incausada,
imensurável e infinita em suas
potencialidades, precisaria de
seres tão causais, mensuráveis e
finitos para fazer valer os seus
desígnios?
Eis por quê...
O amor, mais
uma vez, é o divino complemento
da espada.
É ele o escudo
que protege e que não fere!
A mola que
suaviza o impacto...
E a pedra que desfaz o gume.