Em julho de
1968, a revista francesa Planete
registrou importante conferência
sobre ESP realizada em Moscou em
fevereiro daquele ano. Muitos dos
mais notáveis cientistas da URSS
ocupados em pesquisas sobre o
paranormal estavam lá.
"Explosiva!", foi o
comentário de Planete.
"A ciência soviética parece
haver tomado a frente nas
pesquisas sobre a
parapsicologia!" Nessa
reunião, importantes cientistas
russos revelaram trabalhos
amplíssimos, atualíssimos, sobre
telepatia, que então se faziam em
muitos centros.
Infelizmente,
essa conferência foi truncada por
manobras, aparentemente do
neo-estalinismo russo, e as duas
pesquisadoras que escreveram o
livro não puderam assistir no
momento a parte mais importante,
que era um filme sobre as
habilidades psíquicas da maior
paranormal russa, Nelya Mikhailova.
Isso,
infelizmente não apareceu no
noticiário ocidental. Porém, com
a boa-vontade da Embaixada
Tchecoslovaca e o empréstimo de
um projetor de 35 mm em uma de
suas salas foi possível a
exibição.
Os projetores
zuniram e, finalmente, pudemos ver
o famoso filme de Mikhailova sobre
o PK.
Vimos na tela
uma mulher de quarenta e um anos,
ainda jovem, cheia de corpo,
atraente, de rosto franco e olhos
escuros e expressivos. Dir-se-ia
quase que ela poderia ser parente
do cosmonauta Yuri Gagarin, com os
seus traços tipicamente eslavos
– pômulos salientes e nariz
arrebitado. Trazia os cabelos
escuros penteados para trás,
formando um coque, uma blusa de
rendas sem mangas e uma saia
simples.
A Sra.
Mikhailova estava sentada a uma
mesa grande, redonda e branca,
diante de uma janela de cortinas
de rendas. Disseram os russos que
ela já fora examinada por um
médico, que a submeteu à ação
dos raios-X para certificar-se de
que não havia objetos nem ímãs
escondidos em sua pessoa, nem
fragmentos de shrapnel
alojados em seu corpo em
conseqüência dos ferimentos
recebidos na guerra. Mas não
encontraram coisa alguma.
Os cinco homens
da turma de cinegrafistas, mais os
cientistas e repórteres se
aproximaram. Naumov colocou diante
de Nelya uma bússola adaptada a
uma pulseira, um cigarro em
posição vertical, uma tampa de
caneta, um cilindrozinho de metal
semelhante a um saleiro, e uma
caixa de fósforos em que se via
representada uma espaçonave lunar
– versão figurativa do espaço
externo em confronto com o espaço
"interno". Os objetos,
brilhantes, contrastavam com a
mesa clara, como uma natureza
morta de Dali à beira do
sobrenatural.
Os olhos
escuros de Mikhailova
concentraram-se na bússola – o
objeto mais fácil para iniciar o
aquecimento preliminar. O PK é
mais fácil com objetos que rolam,
dizem os pesquisadores ocidentais.
Com relógios e bússolas não há
fricção estática. Mikhailova
leva, às vezes, de duas a quatro
horas para revelar os seus poderes
sobrenaturais, disse Naumov em seu
comentário, enquanto assistia ao
filme mudo. Nelya manteve os
longos dedos paralelos à mesa,
uns quinze centímetros acima da
bússola e entrou a agitar as
mãos num movimento circular. O
esforço lhe acentuou as covinhas
do rosto. Passaram-se vinte
minutos. O seu pulso, acelerado,
batia 250 vezes por minuto. Ela
virava a cabeça de um lado para
outro, os olhos fitos na agulha da
bússola. As mãos se moviam como
se estivesse dirigindo uma
orquestra invisível. E, logo,
como se os átomos da agulha da
bússola estivessem sintonizados
com ela, a agulha estremeceu.
Lentamente, começou a girar em
sentido contrário ao dos
ponteiros do relógio, girando
como o ponteiro grande. Depois,
toda a bússola, com o invólucro
de plástico, a correia de couro e
tudo o mais, principiou a
rodopiar.
À medida que
toda a bússola andava a roda,
como um carrossel, as linhas
debaixo dos olhos de Mikhailova se
escureceram e as rugas da testa se
aprofundaram, com a intensidade do
esforço. Ela caiu para trás,
exausta.
– A
quantidade de poder que ela possui
também depende das condições
atmosféricas – observou Naumov.
– O seu poder de PK diminui
quando o tempo se enfarrusca.
No filme,
Naumov espalhou o conteúdo de uma
caixa inteira de fósforos sobre a
mesa, a uns trinta centímetros,
mais ou menos, de distância de
Nelya. E depôs um cilindrozinho
de metal não magnético e uma
caixa de fósforos perto deles.
– Ela é
seletiva – explicou Naumov. –
É capaz de mover um ou dois
objetos do grupo.
Mikhailova
tornou a descrever círculos com
as mãos acima dos objetos. O
esforço fazia-a estremecer.
Debaixo do seu olhar todo o grupo
de fósforos se moveu, como numa
corrida de toras num rápido rio
de energia. Ali perto, o cilindro
metálico também se mexeu. Ainda
misturados como se estivessem
formando uma jangada, os fósforos
chegaram até a borda da mesa e,
um por um, caíram ao chão.
Naumov pôs outro punhado de
fósforos e uma caixa de metal
não magnético dentro de um
grande cubo de plexiglass.
O cubo destinava-se a eliminar a
possibilidade de correntes de ar,
fios ou arames. As mãos de
Mikhailova afastaram-se alguns
centímetros do cubo de plexiglass
e os objetos começaram a saltar
de um lado para outro no interior
do recipiente plástico. Fosse
qual fosse aquela energia, o certo
é que ela penetrava com
facilidade o plexiglass.
Mikhailova
estava esgotada. Já perdera um
quilo e meio naquela meia hora.
Dir-se-ia que estivesse
convertendo em energia a
substância do próprio corpo.
Muitos médiuns ocidentais também
acusaram essa perda de peso
durante as experiências de PK.
Como é que
Mikhailova consegue viver com
fatos como esses ocorrendo
constantemente à sua volta?
– Até há
poucos anos eu não sabia que era
capaz de mover as coisas à
distância – disse ela. –
Fiquei muito perturbada e nervosa
nesse dia. Eu caminhava na
direção de um guarda-louça no
meu apartamento quando, de
repente, um jarro que estava no
guarda-louça chegou até a borda
da prateleira, caiu e quebrou-se.
"Depois
disso, todos os tipos de mudança
começaram a acontecer no meu
apartamento", conta ela.
Objetos pareciam
"atraídos" na sua
direção, como se o inanimado se
houvesse animado. Dir-se-ia que
ela tivesse um trasgo em casa.
Habitualmente, dizem os
cientistas, as atividades de
trasgos são causadas por um jovem
da família – quase sempre na
época da puberdade. Os objetos
parecem mover-se por conta
própria – portas e janelas se
abrem e fecham, luzes se acendem e
apagam sozinhas, as leis da
gravidade dão a impressão de
haver-se invertido.
Mas, à
diferença da maioria das pessoas
atormentadas por um trasgo, Nelya
compreendeu, de chofre, que a
"força" vinha dela.
Descobriu que podia controlá-la.
Podia fazer que as coisas
acontecessem pelo simples fato de
querê-lo. Podia concentrar e
focalizar à vontade essa energia
extraordinária. Em casa, com a
família, carregando o neto no
colo, fez um brinquedo distante
aproximar-se. Enquanto uma amiga a
manicurava, ela fez que um
vidrinho de esmalte se movesse sem
tocá-lo com as mãos, em que o
esmalte ainda não secara. O
cachorro da família também via,
pasmado, os objetos perto da sua
dona começarem a girar. O marido,
fascinado, fez um filme amador com
base nos seus estranhos poderes de
PK.
"Acho que
herdei essa capacidade
telecinética de minha mãe",
diz Mikhailova. "E também a
transmiti a meu filho."