Uma confreira
do Centro Espírita Nosso Lar, de
Londrina (PR), me pergunta: O que
existe de errado na obra "Os
Quatro Evangelhos", de J. B.
Roustaing?
Há na obra de
Roustaing três grandes problemas,
que a tornam incompatível com a
Doutrina Espírita, ou seja, com
as obras de Kardec, de Delanne, de
André Luiz e de Emmanuel.
Excetuando esses problemas, o
livro tem coisas interessantes e a
edição da FEB é primorosa. Em
nenhum outro livro a FEB teve o
capricho que teve com essa obra.
Os três problemas
fundamentais são:
(1) A tese de
que a "encarnação"
não é obrigatória, nem mesmo
necessária, e só se dá em caso
de queda do Espírito. A
evolução da criatura humana,
quando ela chega à fase da
humanidade, ocorreria em cidades
espirituais, como a cidade
"Nosso Lar". Se o
Espírito apresentar nessa
condição algum defeito a ser
corrigido (vaidade, inveja etc.),
ele aí sim terá de
"encarnar". A
reencarnação seria uma
conseqüência dessa primeira
encarnação. A Doutrina Espírita
diz-nos, porém, que a
encarnação é necessária ao
duplo progresso do Espírito e do
mundo corporal em que ele se
encarna. Sem a passagem pela
encarnação, o Espírito ficaria
estagnado, não haveria progresso,
nem dele nem dos planetas.
(2) Ao
encarnar, o Espírito enfrentará,
segundo Roustaing, um "mundo
primitivo", encarnando-se aí
na condição de criptógamo
carnudo. Um exemplo de criptógamo
carnudo são as nossas
"lesmas". Roustaing
está dizendo, portanto, que uma
alma humana se encarnará numa
forma animal que nem chegou ao
nível dos vertebrados, o que
está aquém da própria
metempsicose, porque, afinal de
contas, nascer como tigre (um
animal vertebrado) é mais digno
do que nascer como lesma (um
animal invertebrado). Além do
ensino da metempsicose, Roustaing
está admitindo a retrogradação
da alma, que chegou à fase
hominal e então regride à fase
animal. A Doutrina Espírita
repele a metempsicose, assunto
tratado em diversos momentos de
sua obra por Allan Kardec.
(3) Jesus, segundo a obra
publicada por Roustaing, não
encarnou, não possuiu um corpo
carnal. Jesus teria sido um "agênere",
um Espírito materializado. Assim
se explicariam seu desaparecimento
dos 12 aos 30 anos, período do
qual ninguém fala, e o sumiço do
corpo material nos dias
seguintes à crucificação.
Kardec ensina-nos coisa
inteiramente diferente, como o
leitor pode ver no livro A
Gênese, publicado em 1868,
quase dois anos depois da
publicação da obra
roustainguista.
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