E o Brasil... é
mesmo a Pátria
do Evangelho?
Um dia desses
fui a uma casa
espírita
assistir à
reunião pública.
Um homem de
modos elegantes
e postura
professoral
assumiu a
tribuna e
iniciou seu
discurso com a
pergunta título
deste artigo.
Acomodei-me
melhor e agucei
os ouvidos e os
sentidos para
ouvir o que
tinha a nos
dizer. Ao meu
lado muitos
irmãos e irmãs.
Acredito que
grande parte
deles e delas
ali estavam de
passagem,
tentando um
contato
“promissor” com
a doutrina
espírita, como
quem busca aqui
e acolá um
nicho, um
enredo, um lugar
para ficar. Já
sou antigo no
Espiritismo. Já
nasci cultuando
os fundamentos
dessa doutrina
iluminada por
mentes
conscientes que
a postularam. Ao
meu lado,
contudo, estava
um senhor de tez
morena e olhar
circunspecto.
Parecia vir de
longe, das
estradas
empoeiradas da
vida e, de
repente, uma
porta se abriu:
a porta de um
centro espírita!
O homem da
tribuna iniciou
seu discurso em
tom de sábio.
Falaria sobre o
Brasil.
“Brasil... Ah!
Brasil...” Foi
assim que deu as
primeiras notas
da sua melodia
composta por
acordes de uma
nota só. E
derramou sobre
nós uma série de
incongruências e
até chamou
Humberto de
Campos e Chico
Xavier de
visionários e
distantes da
realidade
nacional. “O
Brasil é um
pobre peregrino
dentre nações
gigantescas e
ricas!” – disse
o anunciador de
tristezas,
apagador de
lampiões. Ah!
que vontade de
sair dali e
entrar em uma
biblioteca e ler
Humberto de
Campos através
do nosso querido
Chico Xavier.
Quem de nós está
em condições de
avaliar tais
obras?
O homem ao meu
lado mexeu-se de
um lado para o
outro e
sussurrou-me:
“Mas eu amo
minha pátria.
Ela é rica em
reservas!” E foi
aí que me fiz
porta-voz do
livro Brasil
Coração do Mundo
e Pátria do
Evangelho e
lhe disse: “As
reservas
brasileiras não
se circunscrevem
ao mundo de aço
do progresso
material, mas se
estendem
infinitamente ao
mundo do ouro
dos corações,
onde o país
escreverá a sua
epopeia de
realizações
morais, em favor
do mundo”. O
homem me olhou e
eu concluí:
“Escreverá do
verbo: vai
escrever e para
tal se prepara.
O Brasil é
menino de
quinhentos e
poucos anos e
querem que ele
seja adulto,
senhor das suas
ações, enquanto
ainda se prepara
para ela”.
Um dia, ouvindo
outro orador,
apóstolo deste
país, anotei sua
fala:
“Analisemos:
trezentos e
vinte e dois
anos de colônia,
sessenta e sete
de monarquia e
cento e vinte e
sete de
república com
ditaduras e
impeachment. Foi
e está sendo um
caminho árduo.
Sabendo-se ainda
que o período
colonial foi o
de intensa
exploração das
nossas jazidas.
E ainda querem
uma nação
amadurecida?
Ora, viajemos
pelo país e
encontraremos
progressos sobre
progressos,
realizados de
formas muitas
vezes hercúleas
e à custa de
suor e lágrimas.
As cátedras nem
sempre oferecem
o comboio que
sai para ver e
sentir o lado de
fora das teorias
basais”. E
aquele orador do
momento, sem
dúvida, era um
teórico.
O homem ao lado
me cutucou e
pediu: “Fale
mais”. Então
continuei,
repetindo
Humberto de
Campos: “Qual o
lugar da Terra
que não é santo?
Em todas as
partes do mundo
por mais
recônditas que
sejam, pairam as
bênçãos de Deus,
convertida na
luz e no pão de
todas as
criaturas”. – O
que me diz,
senhor? –
perguntou-me meu
companheiro de
jornada. Apenas
repeti palavras
de Jesus quando
esteve no plano
físico por volta
de 1375 e
buscava nicho
para o Seu
Evangelho –
falei-lhe.
Fechei meus
olhos e
relembrei o
texto do livro
que fala sobre o
Brasil e
psicografado por
Humberto de
Campos: – “Helil
– perguntou
Jesus –, onde
fica, nestas
terras novas, o
recanto
planetário, do
qual se enxerga,
no infinito, o
símbolo da
redenção
humana?” – “Este
lugar de doces
encantos,
Mestre, de onde
se veem, no
mundo, as
homenagens dos
céus aos vossos
martírios na
Terra, fica mais
para o Sul.” E
eles estavam no
continente
Americano!
Agora chegamos
ao ponto-chave e
que infelizmente
aquele pregador
se omitiu em sua
eloquente
conversa. Vejam
a descrição de
Humberto de
Campos: “Mãos
erguidas para o
alto, como se
invocasse a
bênção do seu
Pai para todos
os elementos
daquele solo
extraordinário e
opulento,
exclama então
Jesus: – Para
essa terra
maravilhosa e
bendita será
transplantada a
árvore do meu
Evangelho de
piedade e amor.
No seu solo
dadivoso e
fertilíssimo,
todos os Povos
da Terra
aprenderão a lei
da fraternidade
universal. Sob
estes céus serão
entoados os
hosanas mais
ternos à
misericórdia do
Pai Celestial”.
Noutro dia, num
grupo de
estudos, lemos
em conjunto esta
citação. As
lágrimas de
todos nós se
fizeram
abundantes. – É
o Mestre
dizendo! – falou
uma senhora
presente. – Sim,
foi Jesus quem
disse e o que os
homens estão
dizendo no hoje,
principalmente
certos espíritas
distanciados da
Gerência Divina
de Jesus? Que o
Brasil vai
perder esta
distinção por
causa dos seus
habitantes. Mas
quem determina
reencarnações é
o mundo
espiritual.
Ninguém renasceu
aqui vindo numa
nave espacial ou
de paraquedas.
Foram
reencarnações
planejadas para
que aqui
aportassem e
realizassem o
bem em si,
ajudando a
pátria. Mas ela
não depende
apenas dos
homens. Há um
projeto divino,
há uma
programação.
– “Ismael, manda
o meu coração
que doravante
sejas o zelador
dos patrimônios
imortais que
constituem a
Terra do
Cruzeiro.
Recebe-a nos
teus braços de
trabalhador
devotado da
minha seara,
como a recebi no
coração,
obedecendo a
sagradas
inspirações do
Nosso Pai.” É, o
grande pregador
se esqueceu de
dizer que temos
um mentor
espiritual que
recebeu de Jesus
a determinação
acima e ainda a
bandeira branca
com as
insígnias: Deus,
Cristo e
Caridade.
Caridade esta
que não fazemos
com a pátria
quando a
julgamos incapaz
de produzir bons
elementos que a
conduzam. E há
os que dela se
ausentam sob o
pretexto de
buscar maiores
ganhos e
benefícios
externos. Mas,
em qual lugar do
mundo de hoje há
que não esteja
vivendo a grande
deflagração
motivada pela
mudança do ciclo
planetário?
O indivíduo
brasileiro foi
forjado pela
interação de
europeus,
africanos e
ameríndios.
Foram as
interações
singulares e
multifacetadas
entre esses
indivíduos que
guiaram nossa
história e deram
à nossa
população seu
caráter
heterogêneo e
diversificado –
dizem nossos
sociólogos. E lá
vem o poeta
anônimo e diz:
“Esta gente,
cujo rosto às
vezes luminoso e
outras vezes
tosco, ora me
lembra
escravos ora me
lembra reis”.
Estamos fazendo
coro com a
poesia? Ou somos
martelos e
bigornas a
macerar enquanto
deveríamos
forjar? De mim
digo que o
indivíduo
brasileiro é
aquele que pisa
num solo fértil,
que olha para um
céu que tem o
Cruzeiro do Sul,
que olha para
trás e vê que
sua história
começou há pouco
mais de 500
anos, que inda
não se
constituiu como
um ser político,
capaz de exercer
com propriedade
seu direito na
escolha de
processos
administrativos
ideais. É um
indivíduo quase
sempre
passional,
herdeiro de uma
cultura
colonialista que
lhe forjou
caracteres de
submissão e que
agora tenta se
libertar, mas,
ainda sem um
roteiro seguro.
É em síntese um
indivíduo pronto
a se constituir
como elemento
principal no
contexto social,
entendendo que,
através dele,
tudo se modifica
para o bem ou
para o mal.
Inicia assim seu
processo de
libertação
dentro de uma
pátria que ainda
não sente que é
sua.
Este é a meu ver
o grande
problema do
brasileiro.
Ainda não se
apropriou deste
bem tamanho que
é o Brasil e
busca nele
apenas recursos
para sua
sobrevivência. E
o discursador
espírita daquela
noite
continuava, e
disse: “Com
certeza Jesus se
decepcionou
conosco! A
pátria do Seu
Evangelho vai
para a
Polinésia!” Sem
nenhuma alusão
aos habitantes
de lá, mas o
Evangelho
necessita de
terra extensa e
não de ilhas
onde comumente
se falam
dialetos. A
mensagem do
Evangelho é una
e não pode ser
fragmentada.
Mais à frente
ele disse: “E os
nossos
governantes? E a
nossa política
de apropriação
infinita,
acumulando
destroços sobre
destroços da
imoralidade e da
corrupção?”
Amigo leitor,
foi aí que
busquei nos
refolhos da
memória algo
sério e
conclusivo que
li de Humberto
de Campos em seu
livro Brasil,
Coração do Mundo
Pátria do
Evangelho: “A
região do
Cruzeiro, onde
se realizará a
epopeia do meu
Evangelho,
estará, antes de
tudo,
ligada
eternamente ao
meu coração. As
injunções
políticas terão
nela atividades
secundárias,
porque, acima de
todas as coisas,
em seu solo
santificado e
exuberante
estará o sinal
da fraternidade
universal,
unindo todos os
Espíritos.
Sobre a sua
volumosa
extensão pairará
constantemente o
signo da minha
assistência
compassiva e a
mão prestigiosa
e potentíssima
de Deus pousará
sobre a terra de
minha cruz, com
infinita
misericórdia. As
potências
imperialistas da
Terra esbarrarão
sempre nas suas
claridades
divinas e nas
suas ciclópicas
realizações.
Antes de o
estar ao dos
homens, é ao meu
coração que ela
se encontra
ligada para
sempre”.
Para
sempre... Vamos
repetir mil
vezes esta
colocação do
Mestre Divino,
Governador e
Determinador das
ações neste
planeta.
Esqueceu-se o
homem da tribuna
de dizer que o
tempo transforma
a história. Este
momento frágil
de imaturidade
política pelo
qual estamos
passando vai ser
pulverizado e
exterminado como
fumaça nos ares
desta pátria que
abriga as
promessas sãs e
constantemente
vitalizadas de
Jesus. Pena que
muitos não
conseguem ver
assim e pregam e
pregam e dormem
e comem em solo
brasileiro
aguardando a
morte. O Brasil
segue adiante.
Hoje somamos
cerca de
quatorze mil
centros
espíritas
realizando
palestras,
estudos,
terapias e
aconselhamentos
fraternos
diariamente.
Isto conta,
minha gente, e
conta como
recursos de
Jesus para os
brasileiros.
Outras religiões
ou centros
terapêuticos e
holísticos
também trabalham
todos os dias e
por que focarmos
tão somente nos
problemas?
Amadureçamos
social e
politicamente
para sermos
construtores do
futuro de luz
deste país. E
ele o será para
todos nós, por
nós e apesar de
nós. A
construção deste
desiderato é
individual e
coletivo. Todas
as nossas ações
devem ser
direcionadas
para o bem
próprio e geral.
Será mesmo que
posso apontar o
dedo?
Parafraseando
uma amiga e de
oratória fértil,
numa de suas
belíssimas
palestras, ela
fez com a mão
direita o sinal
daquele que
denuncia e
disse: “São três
dedos apontados
para quem acusa
um indeciso, o
polegar e
somente o
indicador
apontado para o
acusado”. Todos
se mexeram em
suas cadeiras,
se olharam e até
sorriram. Quem
acusa o outro ou
as
circunstâncias,
está se
autoacusando ou
indeciso do que
fazer. Então,
façamos parte do
Exército de
Jesus e
construamos aqui
a Pátria do
Evangelho ao
invés de
infantilmente
tentar destruir
esta vontade
divina.
E o pregador da
escatologia
nacional
terminou sua
fala dizendo:
“Tomara que da
próxima vez eu
renasça na
verdadeira
pátria do
evangelho,
porque daqui
quero distância.
Estão todos
distanciados de
Jesus”. O homem
desceu da
tribuna e o
homem que estava
assentado ao meu
lado
aproximou-se
dele e disse:
“Perdão, mas
hoje o senhor
não me ajudou em
nada. Tomara que
da próxima
vez...”.