A lenda da rosa
Maria Dolores
Dizem que quando a Terra
começava
A ser habitação de
forças vivas,
Nas telas primitivas,
Tudo passara a ser
agitação de festa;
As cidades nasciam
Em singelas aldeias na
floresta...
A beleza imperava,
O verde resplendia,
Toda a vegetação se
espalhava e crescia,
Dando refúgio e proteção
Aos animais,
Do mais fraco ao mais
forte...
O progresso ganhava as
marcas de alto porte.
No campo, as plantas
todas
Respiravam felizes,
Da folhagem no vento à
calma das raízes;
Era um mundo de belos
resplendores,
Adornado de flores,
Com uma estranha
exceção.
Tão somente, o
espinheiro
Era triste e sozinho,
Uma espécie de monstro
no caminho,
De que ninguém se
aproximava,
Todo feito de pontas
agressivas,
Recordando punhais de
traiçoeiro corte,
Que anunciavam dor e
feridas de morte.
De tanto padecer
desprezo e solidão,
Um dia o espinheiral
Fitou o Azul Imenso e
disse em oração:
- Senhor, que fiz de mal
Para ser espancado e
escarnecido?
Todos me evitam
cautelosamente
Como se eu não devesse
haver nascido...
Compadece-te, oh! Pai,
da penúria que trago,
Terei culpa das garras
que me deste?
Acendes astros mil para
a noite celeste,
Vestes a madrugada em
mantilhas vermelhas,
Dás lã para as ovelhas,
Inteligência aos cães,
cântico às neves,
Estendeste no chão a
bondade das fontes
Que deslizam suaves
Na força universal com
que desdobras,
A amplitude sem-fim dos
horizontes,
Em cujo místico
esplendor
Falas de majestade, paz
e amor...
Não me abandones, Pai,
às pedras dos caminhos,
Se posso, não desejo
Oferecer somente
espinhos...
Quero servir-te à obra,
aspiro a ser perfume,
Inspiração e cor,
harmonia e beleza,
Para falar de ti nas
leis da Natureza.
Dizem que Deus ouviu a
inesperada prece
E notando a humildade e
a contrição do
espinheiral,
Mandou que, à noite, o
orvalho lhe trouxesse
Um prodígio imortal.
Na seguinte manhã, logo
após a alvorada,
Por entre exalações
maravilhosas,
O homem descobriu, de
alma encantada,
Que Deus para mostrar-se
o Pai e o Companheiro,
Atendendo a oração
pusera no espinheiro
A primeira das rosas.
Do livro Maria
Dolores, obra
mediúnica psicografada
pelo médium Francisco
Cândido Xavier.