As várias mortes
em uma vida
"Não
há
mal que por bem
não
venha." (Ditado
espanhol.)
O que
é
vida, sob o
ponto de vista
terreno?
Vida
é
tudo aquilo que
acontece entre o
nascer e o
morrer do corpo
físico:
eventos físicos,
sociais, psíquicos
ou espirituais
que ocorrem ao
longo de uma
existência
na Terra.
Tudo o que nos
acontece de bom,
ruim ou neutro
tem, como
objetivo
principal, nossa
evolução.
(Recordando que
muitas vezes
aquilo que
julgamos como
mau
é,
em verdade, algo
bom e
vice-versa).
Diz a Lei que
devemos nascer,
morrer, renascer
ainda e
progredir
sempre.
Portanto, não
existe a
possibilidade de
retrocedermos na
caminhada,
tampouco de
desistirmos no
caminho. Não
conseguimos nos
destruir, não
existe a
possibilidade da
inexistência.
Sobreviveremos a
tudo. O que
temos
é
o direito de
decidir se
sofreremos mais
ou menos durante
este rico e
maravilhoso
percurso.
E, dentro deste
processo chamado
vida, vamos
presenciando um
desfilar de
mortes, em todas
as fases
vividas.
Finalizações
de etapas, de
ciclos, perdas
de entes
queridos, mudanças
de cidades, de
amizades, de
trabalho,
alterações no
corpo, na
situação social,
nos planos, na
forma de ver o
mundo, nos
sonhos. Muitas
mortes, muitas
dores e
lamentos.
A Lei da
Impermanência,
mostrando-nos o
inevitável,
porque necessário.
Porém,
quando
conseguimos
reconhecer que
os fechamentos
não
são
para nos
destruir, mas
para nos
fortalecer,
automaticamente
o sofrimento
acaba, dando
lugar
à
aceitação e à
gratidão.
Deixamos de lado
as reclamações,
as revoltas, os
muxoxos e nos
focamos no que
deve ser
realizado por
aqui.
Eis a maturidade
que devemos
buscar.
RENASCER PARA
CRESCER EM
ESPÍRITO
Quando decidimos
pela
reencarnação,
morre
temporariamente
para nós
a realidade
suprema e
absoluta: nossa
vivência
espiritual.
Somos Espíritos,
portanto nossa
dimensão
natural é
a do mundo dos
Espíritos.
É
lá
que podemos ser
o nosso eu real,
desprovido de máscaras
ou necessidades
materiais.
Conseguimos
nossa relativa
liberdade,
muitas vezes com
magnifica
ampliação
de consciência,
podendo focar
nossa atenção em
fatos e
situações
realmente
relevantes, além
de nos
dedicarmos a
assuntos de
maior
necessidade.
Por certo não
deve ser fácil
decidir pela
reencarnação,
embora seja esta
decisão
inevitável,
quando
precisamos
aprender
determinadas
experiências
relacionais e
planetárias.
Mas a verdade
é
que o medo do
fracasso pode
surgir no cenário,
causando grande
angústia ao Ser
reencarnante.
Vemos, ainda, o
luto com relação
àquilo
que deixaremos
para trás
- o que chamamos
de luto
antecipatório.
No livro Nosso
Lar, do Espírito
André
Luiz,
psicografia de
Francisco Cândido
Xavier, no capítulo
47, o médico
carioca nos
conta que Dona
Laura, uma
grande
trabalhadora
daquela cidade
espiritual, na véspera
de retornar ao
Plano Físico,
encontrava-se
ansiosa, séria,
acabrunhada.
Sentia enorme
receio de
retornar, tendo
em vista as
possibilidades
porvindouras.
Não que ela
fosse viver um
plano de enormes
problemas, mas
sabia das
dificuldades que
enfrentamos na
Terra, do quanto
precisamos
batalhar para
alcançarmos
a paz necessária
para atravessar
as dificuldades
que a vida se
nos apresenta.
Foi quando
Ministro Genésio,
um dos
convidados para
a festa de
despedida dela,
em tom firme,
falou ao seu
coração
preocupado:
"... precisamos
confiar na Proteção
Divina e em nós
mesmos. O
manancial da
Providência
é inesgotável.
É preciso
quebrar os
óculos
escuros que nos
apresentam a
paisagem física
como exílio
amargurado. Não
pense em
possibilidades
de fracasso;
mentalize, sim,
as
probabilidades
de
êxito”.
Podemos destacar
aqui sobre a
necessidade de
mentalizar, de
focar o positivo
da experiência.
Do quanto
precisamos
confiar na dinâmica
da Vida, na
proteção e
direcionamento
positivo que ela
proporciona,
sempre. Quando
nossas crenças
mais profundas
ditam o
fracasso, impossível
o sucesso. É
preciso
desenvolver uma
visão real,
consistente e
coerente com a
realidade da
Vida, que traz o
bem sempre,
mesmo que sob o
disfarce de algo
mau.
Após
longo diálogo,
Dona Laura
encheu-se de
coragem e força
e tornou a se
alegrar diante
das
oportunidades
que surgiriam em
sua empreitada
na Terra.
O luto foi
elaborado.
Aceitou a
necessidade de
sua reencarnação
com tranquilidade
e boa energia.
SER CRIANÇA PARA
ABSORVER
Assim como ela,
quando
renascemos
precisamos,
inevitavelmente,
obedecer a Leis
Naturais,
relativas ao
desenvolvimento
físico
e psicológico,
oriundo do mundo
material. O
corpo infantil
vai crescendo e,
com ele, os
processos
mentais vão
ficando cada vez
mais complexos,
muita vez
carregados de
imputs nem
sempre
positivos.
A perda relativa
da memória
espiritual nos
permite estar
mais livres para
as novas
aprendizagens.
Interferimos
menos,
questionamos
menos,
aprendemos mais.
Por outro lado,
este momento
é
de extrema
delicadeza e
vulnerabilidade.
Se os adultos
não se atentam
para a
psicologia
infantil, se não
observam as
necessidades de
aprendizagem
positiva de uma
criança,
para além
das questões
intelectuais,
acabam por
contaminar o Espírito
reencarnante com
estímulos
deletérios,
capazes de
comprometer toda
a caminhada do
Ser.
Com frequência
pergunto
às
pessoas se elas
acreditam ser
mais importante
ter um filho ou
dirigir um
carro. Pergunta
esta que certa
vez fizeram para
mim e que me
encheu de
estranheza. Então
me dizem:
“Claro
que
é
mais importante
ter e educar um
filho!”.
Diante da óbvia
resposta, torno
a fazer nova
pergunta:
“Então,
por que será
que para guiar
um carro nos
preparamos
tanto, com
leituras, aulas
e testes,
enquanto que,
para ter um
filho, a maior
parte das
pessoas somente
realiza sexo?”
Leituras sobre a
psicologia
infantil, sobre
formas de
educar, sobre as
variadas
pedagogias
disponíveis
são de suma
importância!
Encontros,
trocas e
pesquisas, também!
Eu, como Psicóloga,
ficaria
imensamente
feliz se um
jovem casal me
procurasse para
discutir
questões
relacionadas a
estes temas,
antes do
nascimento do
primeiro filho.
Esta seria uma
medida
inteligente.
Mais que isso -
uma ação
verdadeiramente
amorosa,
comprometida,
responsável.
E, ainda dentro
da temática
“morte",
Ser criança
é
também
ver morrer na
alma, aos
poucos, a leveza
interior. Com o
passar dos anos,
os pequenos vão
tendo contato
com dificuldades
e desafios e
aprendendo que
os adultos nem
sempre são
confiáveis
e corretos.
Aprende com a
mentira; existe
mesmo no meio
infantil que
para ser amado
é
preciso bem mais
que apenas ser
um filho, mas
que
é
preciso
corresponder a
muitas
expectativas,
nem sempre possíveis
para ela.
ADOLESCÊNCIA: A
PERDA DA INFÂNCIA
E O MEDO DO
MUNDO ADULTO
Os anos vão
passando e, se
ainda
encarnados,
vamos
vivenciando
mudanças
significativas.
Das naturais,
relativas ao físico,
a perda do corpo
infantil gera
angústias no
adolescente. O
tamanho, as
formas, tudo
gera estranheza.
Muitas vezes ele
nem consegue se
dar conta do
espaço
que ocupa no
ambiente,
resvalando nos móveis
e cantos,
machucando-se.
Outra perda
significativa
diz respeito à
sua ligação com
os pais. Aqueles
que pareciam ser
os super-heróis
perfeitos e
verdadeiros
passam a ser
questionados.
Discussões podem
ocorrer; o jovem
busca sua própria
identidade, que
deve ser
diferente da dos
pais. Existe
grande conflito
interno, com
questionamentos
variados, que
vão desde questões
de cotidiano até
filosóficos.
O adolescente
vive um luto dos
pais idealizados
que devem ser
substituídos
por figuras mais
reais, falíveis.
E isso gera angústias.
Outro luto
vivido pelo
adolescente
é
o relacionado
à própria
identidade. Ele
não sabe quem
é
ao certo. Memórias
de tendências
desenvolvidas em
outras vidas, até
então
retidas no banco
do inconsciente,
passam a tomar
espaço
no psiquismo, o
que por vezes
causa conflitos
naqueles com
quem convive,
assim como nele
próprio.
Junto a tudo
isso, dependendo
de suas vivências,
do clima de seu
lar, das frases
que escuta e dos
atos que percebe
à sua volta,
este adolescente
pode sentir
grande receio de
adentrar no
mundo adulto,
por lhe parecer
opressor,
injusto e caótico
demais.
Filhos que veem
seus pais
brigando com
frequência ou
com conflitos no
campo
profissional
tendem a
apresentar
dificuldades nos
relacionamentos
e nas escolhas
necessárias.
Além
disso, podem
tentar
“segurar"
a vida,
infantilizando
ou evitando
responsabilidades
por longos períodos.
Vale dizer que,
em todos os
casos, o diálogo
franco, a escuta
amorosa e a
orientação
segura devem
permear as
relações entre
pais e filhos,
para que estas
crises, comuns
nesta fase,
sejam superadas
com certa
tranquilidade.
O MUNDO ADULTO,
SUAS CRISES E
SUPERAÇÕES
Viktor Frankl,
famoso
psiquiatra
vienense,
criador da
Logoterapia, e
sobrevivente de
um campo de
concentração,
dizia que
"quando a
circunstância
é
boa, devemos
desfrutá-la;
quando não
é favorável,
devemos
transformá-la,
e, quando não
pode ser
transformada,
devemos
transformar a nós
mesmos”.
Complemento a
ideia dizendo
que, se isso não
ocorrer, podemos
adoecer.
Todo aquele que
se nega a
aceitar o que
não pode ser
modificado,
enrijece diante
da vida,
estaciona no
caos, se
enclausura na
negação,
deixando de
observar múltiplas
bênçãos
que bailam bem
ao lado,
convidando-o
para a fartura
da existência.
São
os mimados da
Terra, que
pensam ter
reencarnado
apenas para
usufruir, se
divertir e
descansar.
Ledo engano!
A Vida nos
mostra (quando
nos dispomos a
observá-la) que
em todo lugar
existe trabalho,
esforço
e cooperação.
Desde os menores
seres até
os mais
desenvolvidos,
todos precisamos
uns dos outros,
num rico entrelaçar
de existências,
formando uma
rede sagrada a
que também
podemos chamar
de Deus, já
que
é
Ele o Criador de
tudo o que
existe.
Jesus, quando
questionado
sobre o porquê
de trabalhar aos
sábados,
desrespeitando a
Lei Judaica que
prega o descanso
no shabat (dia
de sábado),
responde de
forma clara e
objetiva:
“Meu
Pai trabalha até
hoje e eu também!”.
E podemos chamar
de trabalho tudo
aquilo que
realizamos
dentro e fora de
nós
com o firme propósito
de nos
melhorarmos,
assim como ao
mundo.
Justamente por
este motivo que
chamamos de
“trabalho
de luto”
o processo de
elaboração no
qual o enlutado
precisa cumprir
determinadas
metas, esforçando-se
para aceitar a
morte, a
finalização de
algo,
trabalhando a
dor advinda da
perda de forma
madura,
ajustando-se ao
ambiente,
transferindo o
amor dedicado até
então
para outras
experiências,
pessoas ou
causas. É assim
que vemos
pessoas que
perderam seus
parentes mais
significativos
conseguindo
superar a dor
mais intensa
dedicando seu
tempo e doando
amor a outras
pessoas ou abraçando
nobres causas
sociais ou mesmo
ambientais.
Porque o amor
é
a fonte primeva
de nossa saúde,
paz e
felicidade.
Afinal, somos
filhos do amor.
Ele
é nossa matéria-prima,
podemos assim
dizer.
Por todo lado
podemos perceber
que situações,
coisas e seres
começam,
se mantêm
e depois acabam,
dando lugar a
novas experiências
e formas de
vida.
E assim também
se dá
conosco, claro!
Na fase adulta já
é esperado que
consigamos
trabalhar o
desapego com
mais maturidade.
Aliás,
tendo em vista
que tudo
é impermanente,
deveríamos
nos educar para
a morte, para os
fechamentos
desde pequenos,
sendo orientados
pelos adultos a
respeito. Isso
facilitaria
muito, nos
protegendo de
problemas
emocionais e físicos
nas fases
posteriores.
Infelizmente,
por enquanto, em
nossa sociedade
existe uma
ditadura da
felicidade que
nega a realidade
do fim.
E quando ele
teima em
aparecer, nos
desesperamos,
sem aceitar o
inevitável.
VELHICE, A PERDA
DA IDENTIDADE
PROFISSIONAL E A
PRÓPRIA MORTE A
SER TRABALHADA
E, seguindo
pelas trilhas da
existência,
quando atingimos
a
última
fase desta
encarnação,
se bem
aproveitamos as
experiências
vividas, já
estamos aptos a
trabalhar
algumas outras
perdas, ainda
necessárias.
Uma delas diz
respeito à nossa
identidade
profissional.
Deixamos de ser
engenheiros,
professores e
comerciantes
para recebermos
o título
de aposentados.
E, em nossa
sociedade, isso
tem um peso
elevado, capaz
de fazer sofrer
diversas pessoas
que construíram
a própria
existência
principalmente
sob as bases da
profissão
escolhida.
Além
disso, os idosos
passam a ser
vistos como um
fardo a ser
carregado, um
peso para os
familiares
desatentos e egoístas,
que se esquecem
rapidamente de
todos os benefícios
recebidos.
De forma mais
ampla, no nível
social, deixam
de ter voz,
passam
desapercebidos,
apesar das múltiplas
contribuições
que possam ter
realizado, ao
longo dos anos.
E, já
tendo passado
por inúmeras
perdas
significativas,
eis que será
preciso
trabalhar a própria
desencarnação, o
seu desapego
total com as
coisas deste
mundo.
Aqueles que
conseguem
encontrar o
sentido de suas
existências,
utilizando os
talentos
concedidos de
forma
útil, responsável
e amorosa,
conseguem
trabalhar este
desafio de forma
mais tranquila.
São
aqueles que se
despedem
serenamente
deste mundo,
contentes pelo
que aqui
realizaram,
certos de que
cumpriram suas
missões de
alguma maneira,
deixando boas
marcas por onde
caminharam.
*
As várias
mortes em uma
vida são
necessárias.
Sem elas, não
há
crescimento, não
existem novas
aprendizagens.
São estas mortes
que nos
impulsionam ao
novo, com suas
ricas
oportunidades.
Sábios
aqueles que
compreendem,
aceitam, confiam
e são
gratos
às
finalizações.
São
os herdeiros da
paz. Pois que
vivem a vida,
mesmo diante da
morte, em
harmonia
íntima,
com o mundo e
com Deus.
Por fim, devemos
lutar pela morte
suprema, a mais
relevante de
todas: a do
homem velho que
ainda habita em
nós,
com seus vícios
e complicações,
dando lugar ao
novo homem,
virtuoso,
consciente,
plenamente
feliz.