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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 463 - 1° de Maio de 2016

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)

 

 

 

Partida de Espíritos amados
 


Meu Pai

(Cora Coralina – In Memoriam)


Meu pai se foi com sua toga de Juiz.

Nem sei quem lha vestiu.

Eu era tão pequena,

malnascida.

Ninguém me predizia - vida.

 

Nada lhe dei nas mãos.

Nem um beijo,
uma oração, um triste ai.
Eu era tão pequena!...
E fiquei sempre pequenina na grande
falta que me fez meu pai.”


(Meu Livro de Cordel, p. 16.)
 


A expressão ‘perda de pessoas amadas’ é inadequada para se referir à morte dos corpos daqueles que amamos.

Eles são Espíritos imortais! Não amamos seus corpos, mas os Espíritos que eles são!

Sobrevivem à morte desses mesmos corpos e continuam a nos amar.

Vivemos e viveremos essas experiências em múltiplas reencarnações.

Sabemos que a dor de alguém caro ao nosso coração só é amenizada com o passar do tempo.

Lembrem-se, por exemplo, de outros seres amados que já retornaram à Pátria Espiritual e vejam que essas dores transformaram-se em doces e diuturnas lembranças... O que demonstra que jamais se ausentaram efetivamente de nossas vidas. Ao passarem por nós, deixaram marcas inapagáveis.

Resta-nos, pois, provar a todos eles que continuamos a amá-los, seguindo exemplos e virtudes que nos legaram na convivência de tantos anos... 

De que maneira as dores inconsoláveis dos que ficaram na Terra afetam os Espíritos desencarnados que as provocam?’

“O Espírito é sensível à lembrança e às saudades daqueles que amou na Terra, mas uma dor incessante e fora de propósito o afeta penosamente, porque ele vê, nessa dor excessiva, falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e talvez ao reencontro com os que ficaram.” 1 

Comentários de Emmanuel, sob o título ‘Ante os que partiram’, à questão acima: 

“Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.

(...) Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima.


Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; (...)

Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como chuva de fel.

(...) Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

(...) E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim”. 2    

Bela lenda oriental ensina-nos a exercitar a aceitação do fato doloroso: 

“Jovem mãe, inconformada com a morte do pequeno filhinho, buscava alguém que lhe desse medicamento que o curasse.

Aqueles que procurava, percebendo o irremediável, embora condoídos, alegavam desconhecer o remédio miraculoso. Mas um monge, pleno de compaixão, disse a ela que ele mesmo não possuía esse recurso, mas que procurasse o iluminado Buda, indicando a ela como encontrá-lo. 

Prontamente ela se dirige ao local onde se achava o Buda e lhe apresenta seu problema. Este lhe responde:

– É fácil. Basta que me traga um pouco de semente de mostarda...

Ela se dirige, às pressas, em direção à porta, mas o Buda a adverte: – A doação deve vir de uma família onde nunca morreu um pai, um irmão, um filho, um servo... 

Ela não pensou na dificuldade e saiu a procurar quem a socorresse.

Em toda porta em que batia, todos se prontificavam a oferecer-lhe quanta semente de mostarda necessitasse; mas quando falava da grave condição, todos recordavam os mortos amados.

Esses depoimentos a confortaram e a levaram a aceitar a morte do pequeno filho. Sepultou-o à margem da estrada e voltou ao iluminado Buda. Ao vê-la, ele indaga-lhe: 

– Trouxeste a semente de mostarda? – ao que ela responde:

– Não, mas encontrei a cura para o meu mal. Sepultei minha dor no meio da floresta e aqui estou pronta para segui-lo”. 

Voltou, pois, à procura de novas lições.

Os que se vão desta vida precisam menos de lágrimas que de preces e boas ações feitas em memória deles. Que Jesus a todos nos abençoe e conforte!            


Referências:


1.
           KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. – 1ª reimpressão Rio de Janeiro: FEB, 2011. Livro 4, cap. 1, Q. 936, p. 511.


2.
           XAVIER, F. Cândido. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974. p. 153 a 155.



 


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