GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
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Partida de
Espíritos amados
Meu Pai
(Cora
Coralina –
In Memoriam)
Meu pai se
foi com sua toga
de Juiz.
Nem sei quem lha
vestiu.
Eu era tão
pequena,
malnascida.
Ninguém me
predizia - vida.
Nada lhe dei nas
mãos.
Nem um beijo,
uma oração, um
triste ai.
Eu era tão
pequena!...
E fiquei sempre
pequenina na
grande
falta que me fez
meu pai.”
(Meu Livro de
Cordel, p. 16.)
A expressão
‘perda de
pessoas amadas’
é inadequada
para se referir
à morte dos
corpos daqueles
que amamos.
Eles são
Espíritos
imortais! Não
amamos seus
corpos, mas os
Espíritos que
eles são!
Sobrevivem à
morte desses
mesmos corpos e
continuam a nos
amar.
Vivemos e
viveremos essas
experiências em
múltiplas
reencarnações.
Sabemos que a
dor de alguém
caro ao nosso
coração só é
amenizada com o
passar do tempo.
Lembrem-se, por
exemplo, de
outros seres
amados que já
retornaram à
Pátria
Espiritual e
vejam que essas
dores
transformaram-se
em doces e
diuturnas
lembranças... O
que demonstra
que jamais se
ausentaram
efetivamente de
nossas vidas. Ao
passarem por
nós, deixaram
marcas
inapagáveis.
Resta-nos, pois,
provar a todos
eles que
continuamos a
amá-los,
seguindo
exemplos e
virtudes que nos
legaram na
convivência de
tantos anos...
‘De que
maneira as dores
inconsoláveis
dos que ficaram
na Terra afetam
os Espíritos
desencarnados
que as
provocam?’
“O Espírito é
sensível à
lembrança e às
saudades
daqueles que
amou na Terra,
mas uma dor
incessante e
fora de
propósito o
afeta
penosamente,
porque ele vê,
nessa dor
excessiva, falta
de fé no futuro
e de confiança
em Deus e, por
conseguinte, um
obstáculo ao
progresso e
talvez ao
reencontro com
os que ficaram.”
1
Comentários de
Emmanuel, sob o
título ‘Ante os
que partiram’, à
questão acima:
“Nenhum
sofrimento, na
Terra, será
talvez
comparável ao
daquele coração
que se debruça
sobre outro
coração regelado
e querido que o
ataúde
transporta para
o grande
silêncio.
(...) Digam
aqueles que já
estreitaram de
encontro ao
peito um
filhinho
transfigurado em
anjo da agonia;
um esposo que se
despede,
procurando
debalde mover os
lábios mudos;
uma companheira
cujas mãos
consagradas à
ternura pendem
extintas; um
amigo que tomba
desfalecente
para não mais se
erguer, ou um
semblante
materno
acostumado a
abençoar, e que
nada mais
consegue
exprimir senão a
dor da extrema
separação,
através da
última lágrima.
Falem aqueles
que, um dia, se
inclinaram,
esmagados de
solidão, à
frente de um
túmulo; (...)
Todavia, quando
semelhante
provação te bata
à porta, reprime
o desespero e
dilui a corrente
da mágoa na
fonte viva da
oração, porque
os chamados
mortos são
apenas ausentes
e as gotas de
teu pranto lhes
fustigam a alma
como chuva de
fel.
(...)
Tranquiliza,
desse modo, os
companheiros que
demandam o Além,
suportando
corajosamente a
despedida
temporária, e
honra-lhes a
memória,
abraçando com
nobreza os
deveres que te
legaram.
(...) E,
vencendo para
sempre o terror
da morte, não
nos será lícito
esquecer que
Jesus, o nosso
Divino Mestre e
Herói do Túmulo
Vazio, nasceu em
noite escura,
viveu entre os
infortúnios da
Terra e expirou
na cruz, em
tarde
pardacenta,
sobre o monte
empedrado, mas
ressuscitou aos
cânticos da
manhã, no fulgor
de um jardim”.
2
Bela lenda
oriental
ensina-nos a
exercitar a
aceitação do
fato doloroso:
“Jovem mãe,
inconformada com
a morte do
pequeno
filhinho,
buscava alguém
que lhe desse
medicamento que
o curasse.
Aqueles que
procurava,
percebendo o
irremediável,
embora
condoídos,
alegavam
desconhecer o
remédio
miraculoso. Mas
um monge, pleno
de compaixão,
disse a ela que
ele mesmo não
possuía esse
recurso, mas que
procurasse o
iluminado Buda,
indicando a ela
como
encontrá-lo.
Prontamente ela
se dirige ao
local onde se
achava o Buda e
lhe apresenta
seu problema.
Este lhe
responde:
– É fácil. Basta
que me traga um
pouco de semente
de mostarda...
Ela se dirige,
às pressas, em
direção à porta,
mas o Buda a
adverte: – A
doação deve vir
de uma família
onde nunca
morreu um pai,
um irmão, um
filho, um
servo...
Ela não pensou
na dificuldade e
saiu a procurar
quem a
socorresse.
Em toda porta em
que batia, todos
se prontificavam
a oferecer-lhe
quanta semente
de mostarda
necessitasse;
mas quando
falava da grave
condição, todos
recordavam os
mortos amados.
Esses
depoimentos a
confortaram e a
levaram a
aceitar a morte
do pequeno
filho.
Sepultou-o à
margem da
estrada e voltou
ao iluminado
Buda. Ao vê-la,
ele indaga-lhe:
– Trouxeste a
semente de
mostarda? – ao
que ela
responde:
– Não, mas
encontrei a cura
para o meu mal.
Sepultei minha
dor no meio da
floresta e aqui
estou pronta
para segui-lo”.
Voltou, pois, à
procura de novas
lições.
Os que se vão
desta vida
precisam menos
de lágrimas que
de preces e boas
ações feitas em
memória deles.
Que Jesus a
todos nos
abençoe e
conforte!
Referências:
1.
KARDEC, Allan.
O Livro dos
Espíritos.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra.
2. ed. – 1ª
reimpressão Rio
de Janeiro: FEB,
2011. Livro 4,
cap. 1, Q. 936,
p. 511.
2.
XAVIER, F.
Cândido.
Religião dos
Espíritos.
Pelo Espírito
Emmanuel. 3. ed.
Rio de Janeiro:
FEB, 1974. p.
153 a 155.