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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 463 - 1° de Maio de 2016

MILTON MEDRAN MOREIRA
medran@via-rs.net
Porto Alegre, RS (Brasil)

 


O grande desafio do Espiritismo


A fatura que eu tinha para pagar vencera no dia 25. Mas 25 havia caído no sábado. Na segunda-feira, 27, dirigi-me ao terminal bancário. Coloquei o código de barras sob as luzinhas da máquina para a leitura, e a telinha acusou: título vencido, dirija-se ao caixa do banco para fazer o pagamento.

Não era possível! Digitei novamente minha senha. Entrei, de novo, na área de pagamento de títulos e, em vez de colocar 25, no espaço da data de vencimento, como havia feito antes, escrevi 27. Pronto! Agora foi possível o pagamento.

Foi necessário usar um pequeno e inteligente estratagema para enganar o computador e fazê-lo permitir que eu pagasse a conta. Tudo porque alguém, encarregado da programação da máquina eletrônica, se esquecera de informar ao sistema que 25 não era dia útil e, logo, os títulos vencidos naquela data teriam seu pagamento prorrogado para a segunda-feira.

O episódio do cotidiano me levou a pensar: fala-se tanto em inteligência artificial; que as máquinas vão dominar o mundo e delas nos tornaremos dependentes ou até vítimas. Bobagem! Por mais fantásticas que sejam essas máquinas, elas nunca pensarão e sempre dependerão de nós, que, inteligentemente, as programamos e as utilizamos.

É certo que, sabendo explorá-las convenientemente, o ser humano, com o auxílio dessas fabulosas ferramentas, vai abrindo caminhos fantásticos, inimagináveis há bem pouco tempo. Dias desses, vi na televisão que algumas empresas japonesas já não usam recepcionistas humanas. Simpáticos robozinhos, com aparência e voz feminina, dão todas as informações solicitadas por quem chega à recepção. Todas? Bem, só aquelas que a experiência e a observação humana, de muitos anos, conseguiram detectar como sendo as buscadas pela clientela e que foram implantadas na memória das máquinas. Novas demandas exigirão novas informações a serem adicionadas no “cérebro” dos robozinhos recepcionistas. Quem as adicionará que não o ser humano?

O Livro dos Espíritos, obra que acaba de completar 159, na questão 23, define o espírito como “princípio inteligente do universo”. Na primeira quadra deste Século 21, a ciência segue presa ao dogma de que a inteligência é produto do cérebro humano. Nasce dessa concepção a utopia de se construir a inteligência artificial, aquela que, dizem, há de ser produzida por cérebros também artificiais. Nesse cenário, o grande desafio dos espiritualistas continua sendo aquele corajosamente enfrentado por Allan Kardec, no Século 19: a proposição de um novo paradigma do conhecimento que tenha por realidade fundamental o Espírito imortal.

Toda a problemática espírita está contida no desafio acima. Falhando nesse objetivo, que não é só do Espiritismo e que somente poderá ser alcançado mediante a interlocução com incipientes, mas respeitáveis, segmentos com disposição e coragem de fugir do paradigma materialista, a grande proposta de Kardec terá falhado. Poderá subsistir apenas como uma religião. Uma boa religião, capaz de dar consolo, mas inapta a provocar transformações. E é delas que o homem e o mundo estão, de fato, carentes.

 

Milton R. Medran Moreira – Procurador de Justiça, escritor, jornalista. Membro do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita