RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
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Celibato e castidade
É possível seguir Jesus,
evidentemente nos
limites que o nosso
estágio evolutivo atual
permite, não sendo
celibatário?
Perfeitamente, por que
não? Kardec, por
exemplo, era casado. E
muito bem-casado com
Amélie Boudet, o que não
o impediu, mas, muito
pelo contrário, o
sustentou na luta pela
codificação e divulgação
da Doutrina Espírita,
revivendo o Cristianismo
na sua pureza
doutrinária. Portanto,
ele seguiu Jesus sem ser
celibatário.
Mudemos o enfoque. É
possível seguir Jesus
não sendo casto,
considerando, da mesma
forma, os limites que
nossa evolução atual nos
enseja? Não. Não é
possível. E não é
possível porque
castidade, ao contrário
do que muitos pensam,
não se refere
simplesmente à ausência
de relacionamento
sexual, mas sim de uma
pureza interior que vai
muito além da
abstinência de sexo. Por
essa pureza interior
passa o bom emprego do
sexo, onde um não
transforma o outro no
objeto de satisfação de
seus instintos, mas onde
uma pessoa se completa e
completa a outra dentro
de um clima de
bem-querer onde só é
possível ser feliz
mergulhado na felicidade
que emana do outro, e
cujo autor somos cada um
de nós.
Jesus, muito além de
celibatário, era casto.
Sua pureza moral não
pode ser seguida com uma
simples ausência da
atividade sexual que
muitas vezes leva o
indivíduo ao
desequilíbrio emocional,
a exemplo de uma
gigantesca represa que,
quanto mais é contida,
mais corre o risco de se
romper na pedofilia, no
estupro e tantos outros
crimes que o sexo
reprimido e
desequilibrado enseja.
Chico Xavier e Divaldo
Franco, para tomarmos
exemplos dentro da
Doutrina Espírita,
optaram pelo celibato,
face aos inúmeros
compromissos que
trouxeram junto à
família espiritual de
nosso planeta. Só que
não ficaram apenas no
celibato. Viveu o
primeiro e vive o
segundo também a
castidade que a evolução
alcançada pelos dois
permite.
Albert Schweitzer era
casado e casto. E
exatamente por ser casto
foi capaz de se entregar
a tratar de leprosos no
continente africano; a
não pisar sobre uma
simples flor silvestre
por respeitar-lhe a
existência e o direito à
vida; a amar
profundamente aos
animais por entendê-los
como criaturas de Deus e
com o direito a viver,
enquanto presenciamos
motoristas insensíveis
direcionando o veículo
que dirigem, de forma
irresponsável, para cima
de uma pomba que busca o
seu alimento numa via
pública ou em direção a
um cachorro abandonado
de rua pelo simples
prazer de tirar uma
vida! Dia desses
presenciei um motorista
em alta velocidade na
área urbana gritando com
um cachorro que quase
foi atropelado
impiedosamente ao
atravessar de um lado
para o outro daquela
via, como se o animal
tivesse consciência de
que atravessava uma rua.
Poderia muito bem ter
feito o mesmo com uma
criança ou com um idoso
com dificuldades de
locomoção. Esse último
não tem a castidade para
seguir Jesus, por
enquanto.
Martin Luther King Jr.
era casado e casto para
seguir Jesus a ponto de
entregar a sua própria
vida defendendo os
direitos de nossos
irmãos de cor de pele
diferente da branca,
como se esse tecido
superficial que reveste
nosso corpo não
estivesse destinado à
morte como todos os
outros, mais dia, menos
dia! Ele teve a
castidade suficiente
para seguir Jesus.
É impossível falar sobre
celibato ou castidade
sem que o tema sexo
nos venha à mente. O que
será que a Doutrina
Espírita pode nos
orientar a respeito?
Vejamos as lições de
Emmanuel contida no
livro O Consolador,
questão 184: Não
devemos esquecer que o
amor sexual deve ser
entendido como o impulso
da vida que conduz o
homem às grandes
realizações do amor
divino, através da
progressividade de sua
espiritualização no
devotamento e nos
sacrifícios.
Haveis de observar que
Deus não extermina as
paixões dos homens, mas
fá-las evoluir,
convertendo-as pela dor
em sagrados patrimônios
da alma, competindo às
criaturas dominar o
coração, guiar os
impulsos, orientar as
tendências, na evolução
sublime dos seus
sentimentos.
Examinando-se, ainda, o
elevado coeficiente de
viciação do amor sexual,
que os homens criaram
para os seus destinos,
somos obrigados a
ponderar que, se muitos
contraem débitos
penosos, entre os
excessos da fortuna, da
inteligência e do poder,
outros o fazem pelo
sexo, abusando de um dos
mais sagrados pontos de
referência de sua vida.
Depreende-se, pois, que,
ao invés da educação
sexual pela satisfação
dos instintos, é
imprescindível que os
homens eduquem sua alma
para a compreensão
sagrada do sexo.
Quando tivermos
conseguido essa
compreensão sagrada, o
celibato será uma
condição absolutamente
dispensável em todo
aquele que decidir
seguir Jesus, pois que
terá se iniciado no
estado da castidade
indispensável para
segui-Lo.