Não obstante ser
um dos mais
dedicados
apóstolos de
Jesus, e quase
não ser
mencionado nas
Escrituras
Neotestamentárias,
Bartolomeu
acompanhou desde
os primeiros
tempos as
pregações à
margem do
Tiberíades, e
incompreensivelmente
padecia de uma
tendência para a
depressão.
Pudera! Em sua
vida tudo
parecia dar
errado!... Havia
ficado órfão de
sua mãe há
pouco... Ela que
era o anjo bom
de sua vida, e
ele a
“perdera”...
De sua família
consanguínea
restaram-lhe os
intratáveis
irmãos e o pai
severo e
insensível, de
personalidade
tosca, rude...
Maltratavam-no
por nonadas e
não lhe tinham o
menor respeito.
E a relação
degenerou-se
ainda mais
quando ele
começou a seguir
aquele
Carpinteiro
nazareno
(segundo eles)
meio louco que
andava por
aquelas bandas
com ares de
revolucionário...
Àquele tempo (e
hoje também)
eram inúmeros os
falsos messias
que apareciam
pelas bandas de
Cafarnaum,
Dalmanuta e
adjacências com
suas utopias...
O mais recente
qualificativo
que lhe
pespegaram era
“traidor das
tradições de seu
povo”, uma
vez que se
bandeara para o
lado daquele
estranho
Carpinteiro em
detrimento da
Antiga Lei
Moisaica a que
se acomodavam...
Mas suas
vicissitudes não
se encerravam
aí!... Tinha
sérios problemas
com seus
auxiliares da
pesca.
Bartolomeu
dedicava-se à
pesca na
cidadezinha de
Dalmanuta. Seus
problemas com os
mercadores da
praça aos quais
vendia seus
peixes também
não eram
pequenos.
Normalmente
regateavam com o
preço dos peixes
que com tantos
riscos pescava
durante as
noites
indormidas...
Certa feita, em
uma feliz
oportunidade,
ficou sozinho
com Jesus e
aproveitou para
abrir seu
coração
apertado. Então,
queixou-se a
Jesus sobre suas
amargas
tristezas e
frustrações...
Após ouvi-lo com
ternura e
atenção, Jesus
lhe disse: “ora,
Bartolomeu, o
Evangelho é a
Boa Nova de
alegria. Uma boa
notícia deve ser
dada com
alegria. Deixe
que meus
ensinamentos
floresçam em seu
coração e
espalhe esse
tesouro de
bênçãos como
perfume
benfazejo aos
que estejam à
sua volta. Eu
não ocultei a
Verdade,
Bartolomeu! Eu
disse: “no
mundo tereis
aflições”,
mas sempre
estarei por
perto,
fortalecendo e
guiando meus
discípulos
sinceros e
queridos. Se
hoje a borrasca
cai forte e
inclemente,
amanhã voltará o
Astro Rei a
brilhar em seu
caminho! Meu Pai
nos dá a
Eternidade para
a conquista
definitiva da
felicidade sem
mescla e da paz
imarcescível...
Estes momentos
tormentosos
presto passarão,
mas minhas
palavras não
passarão! Então,
acenda as
claridades da
alma e caminhe
sem
tergiversações!
Meu pai não nos
deixará órfãos e
eu também não os
deixarei
órfãos... Lá no
futuro haverá o
grande
reencontro do
Pastor com o
rebanho
unificado, mas o
hoje exige
sacrifícios,
renúncias,
compreensão,
benevolência
para com todos,
indulgência para
com os erros
alheios e perdão
incondicional
das ofensas.
Assim,
“perdas” de
entes queridos,
negócios
fracassados ou
espinhosos,
parentes
difíceis,
criaturas
deseducadas,
vicissitudes mil
são as pedras
com as quais
tropeçamos no
roteiro
evolutivo, mas
tudo são
convites para a
sementeira do
amor não amado.
Eu estou
deixando a todos
a minha paz, mas
em nada parecida
com a paz do
mundo e o
convite
continuará pelos
séculos
vindouros:
trabalhemos na
sementeira do
amor, do
conhecimento, da
luz do Mais
Alto. Persevere,
filho querido, e
você receberá a
coroa da vida.
As novas aragens
espantaram,
enfim, as nuvens
borrascosas da
vida de
Bartolomeu, que
foi fiel até o
fim no trágico
martírio do
testemunho. (Foi
esfolado vivo.)
Pela abendiçoada
mediunidade de
Chico Xavier,
informa o Irmão
X
que “Bartolomeu
logrou converter
todos os
desalentos num
cântico de
alegria, ao
sopro
regenerador dos
ensinamentos do
Cristo. A partir
da grande
mudança que se
operou em sua
intimidade,
todos o
observaram com
admiração,
exceto Jesus,
que conhecia com
júbilo a nova
atitude mental
de Seu
discípulo.
No sábado
seguinte, o
Mestre demandou
as margens do
lago, cercado de
Seus numerosos
seguidores. Ali,
aglomeravam-se
homens e
mulheres do
povo, judeus e
funcionários de
Ânticas, a par
de grande número
de soldados
romanos.
Jesus começou a
pregar a Boa
Nova e, a certa
altura, contou,
conforme a
narrativa de
Mateus, que –
‘o reino dos
céus é
semelhante a um
tesouro que,
oculto num
campo, foi
achado e
escondido por um
homem que,
movido de gozo,
vendeu tudo o
que possuía e
comprou aquele
campo’.
Nesse instante,
o olhar do
Mestre pousou
sobre
Bartolomeu, que
O contemplava,
embevecido; a
luz branda de
seus olhos
generosos
penetrou fundo
no íntimo do
Apóstolo, pela
ternura que
evidenciava, e o
pescador humilde
compreendeu a
delicada alusão
do ensinamento,
experimentando a
alma leve e
satisfeita,
depois de haver
alijado todas as
vaidades de que
ainda se não
desfizera, para
adquirir o
tesouro divino,
no campo
infinito da
vida.
Enviando a Jesus
um olhar de amor
e
reconhecimento,
Bartolomeu
limpou uma
lágrima. Era a
primeira vez que
chorava de
alegria. O
pescador de
Dalmanuta
aderira, para
sempre, aos
eternos júbilos
do Evangelho do
reino”. Não mais
tristezas e
tampouco
depressões...
Segundo a nobre
Mentora Joanna
de Ângelis
“(...) muitos
indivíduos
desassisados
vivem a remoer
mentalmente os
acontecimentos
afligentes, a
comentá-los com
tanta frequência
que dão a
impressão de
haver sido a sua
caminhada uma
via-crúcis sem
trégua.
Detêm-se em
relatórios
amargos dos
momentos
difíceis, como
se fossem anjos
perseguidos em
sua imácula
pureza, num
atestado de
rebeldia e
ingratidão para
com o Pai
Soberano que os
favoreceu com
preciosos
recursos capazes
de anular
aqueles pequenos
incidentes,
aliás,
necessários ao
processo de
autoidentificação
e de vinculação
de segurança com
a vida.
São tantas as
concessões de
paz e de saúde,
de inteligência
e de arte, de
pensamento e de
trabalho, de
convivência
agradável com as
demais pessoas,
que praticamente
desaparecem as
ocorrências que
foram penosas
enquanto duraram,
deixando
benefícios
incalculáveis.
Esse
posicionamento
raia, às vezes,
à condição
patológica de
masoquismo, em
face do prazer
mórbido de
privilegiá-lo em
detrimento das
ocorrências
felizes e
favorecedoras de
alegria.
Esse, sem
dúvida, é um
comportamento
injustificável
quando se trata
de um cristão em
particular ou de
um espírita em
especial, por
conhecerem ambos
as razões morais
que desencadeiam
tais
acontecimentos.
Uma atitude
lúcida deve
oferecer ao
indivíduo o
sentimento de
gratidão pela
ocorrência do
sofrimento,
chegando até
mesmo a amá-lo,
em razão dos
benefícios que
proporciona.
A admirável
senhora Helen
Keller, embora
cega, surda e
muda, viveu em
constante
alegria,
tornando-se uma
semeadora de
esperança e de
bom humor para
milhões de
outros seres
atormentados nas
suas expiações
retificadoras,
havendo dedicado
a existência a
encorajar o
próximo por meio
de memoráveis
discursos e
livros formosos.
Louis Braille,
igualmente
padecendo de
cegueira,
transformou os
seus limites em
bênção para os
companheiros
invidentes,
criando o
alfabeto para o
tato, de
resultados
surpreendentes,
e que hoje lhe
guarda o nome.
Beethoven, em
surdez total,
utilizou-se do
silêncio
profundo para
compor as
últimas
sinfonias da sua
existência e,
particularmente,
a 9a,
A coral,
considerada como
um verdadeiro
coroamento da
sua obra.
O Aleijadinho,
apesar da
injunção
perversa da
hanseníase,
transformou
pedras em
estátuas
deslumbrantes,
esculpindo com
maestria e
tornando-se um
artista
incomum...
Apesar da
tuberculose que
o consumia,
Louis Pasteur
prosseguiu nas
suas
investigações em
torno dos
micróbios,
oferecendo
incalculáveis
benefícios à
saúde da
humanidade.
Ninguém
atravessa os
caminhos humanos
isento dos
sofrimentos.
Seres humanos
valorosos que
foram enviados à
Terra com
limitações e
impedimentos
quase
superlativos
demonstraram a
grandeza de que
eram portadores,
transformando a
existência em um
hino de alegria,
tornando-se
missionários do
Amor e da
Ciência, da
Tecnologia, da
Arte, da Fé
religiosa,
estimulando o
progresso e
trabalhando em
seu benefício.
Possuidor de mil
recursos
preciosos, o
indivíduo não
tem por que
queixar-se das
dificuldades que
o promovem,
quando
enfrentadas com
sabedoria e
superadas,
dando-lhe
dignidade e
elevação moral.
As provações
devem ser
abençoadas por
aqueles que as
experimentam,
porque nada
acontece que não
tenha razões
ponderosas para
a sua
ocorrência, e,
naquilo que se
refere ao
sofrimento, é
claro que tem
ele o papel de
educador
rigoroso, porém,
gentil,
indispensável ao
crescimento
espiritual dos
seres humanos.
Reflexiona
(quando nas tuas
dores) as
ocorrências da
vida de Jesus, e
compreenderás
que Ele, sem
culpa, lição
viva de amor e
de abnegação,
experimentou
agressões e
escárnio,
apedrejamento e
coroa de
espinhos,
calúnias e
perseguições,
culminando na
cruz da desonra,
sem qualquer
reclamação...”
Segundo a nobre
psiquiatra
suíça, Drª.
Elizabeth Kübler
Ross,
escreveu o
seguinte em seu
último livro:
“(...) todas as
penúrias que
sofremos na
vida, todas as
tribulações e
pesadelos, todas
as coisas que
poderíamos
considerar
castigos de Deus
são, na
realidade,
presentes. São
oportunidades
para crescer,
que é a única
finalidade da
vida”.
É impressionante
que ela tenha
chegado a estas
conclusões sem
nunca ter tomado
conhecimento dos
livros básicos
do Espiritismo.
Completa Joanna
de Ângelis:
“(...)
O
ser
autodescoberto
já não pode
adiar a sua
contribuição em
favor do meio
social onde
vive, passando a
agir de maneira
infatigável. As
suas ações se
tornam fator
preponderante
para o progresso
de todos os
demais seres,
que agora se lhe
tornam irmãos,
companheiros da
mesma jornada”.
Isabel de França
lega-nos
belíssima e
oportuna página
onde aborda com
peregrina
clareza o modo
pelo qual
devemos encarar
os atos e
equívocos de
nossos irmãos
rebelados. Diz
ela:
“(...) deveis
amar os
desgraçados como
criaturas que
são, de Deus, às
quais o perdão e
a misericórdia
serão
concedidos, se
arrependerem,
como também a
vós, pelas
faltas que
cometeis contra
Sua Lei.
Considerai que
sois mais
repreensíveis,
mais culpados do
que aqueles a
quem negardes
perdão e
comiseração,
pois, a mais das
vezes, eles não
conhecem Deus
como O
conheceis, e
muito menos lhes
será pedido do
que a vós”.
Superemos,
portanto, as
aflições do
caminho, as
provações, os
percalços, não
olvidando que,
quando a noite
te faz mais
escura, é o
justo momento do
começo das
claridades.
- KARDEC,
Allan. O
Evangelho
seg. o
Espiritismo.
129. ed.
Rio [de
Janeiro]:
FEB, 2009,
cap. XI,
item 14.