MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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O vento insiste em
dandar
“Dandô, ô, dandei, olha
o vento que brinca de
dandar. Ele vem pra
levar as andorinhas ou
quem sabe a canção pra
uma janela. Saciar o ipê
que se formou, e roubar
suas flores amarelas.”
Com esses belos versos
inicia-se a canção
popular chamada “Circo
das Ilusões”, de autoria
de João Bá e Klecius
Albuquerque, gravada no
LP “Segredos Vegetais”,
de Dércio Marques
(1988), além de outras
versões, e que compõe
repertório de programas
da chamada música raiz,
que tiram o Brasil da
gaveta, como diz o
emérito compositor
Rolando Boldrin.
Nesses versos
motivadores do presente
texto, vemos o autor
criar um verbo que
reflete o insondável
movimento do vento, o “dandar”.
Um andar bailarino, que
se adapta e chega aos
seus objetivos
contornando obstáculos,
espalhando-se pelos
cantos da cidade,
mostrando que o vento
sopra onde ele quer,
vindo sabe-se lá de onde
e indo para rumos
desconhecidos.
Aliás, Jesus já havia
falado sobre isso, no
seu singelo diálogo com
Nicodemos acerca das
vidas sucessivas.
Esclarece o Mestre
Nazareno: “Não te
admires que eu te haja
dito ser preciso que
nasças de novo. O vento
sopra para onde quer e
ouves a sua voz, mas não
sabes de onde ele vem,
nem para onde vai; o
mesmo se dá com todo
aquele que é nascido do
espírito”. Descrição
acertada do homem no
planeta Terra,
encarnado, errante e
rumo ao crescimento.
Não seguimos,
espiritualmente falando,
a esmo, sem rumo.
Seguimos, como o vento,
movido por forças
poderosíssimas, internas
e externas. Não sabemos
de onde viemos, nem para
onde vamos, mas seguimos
pela vida, bailando como
o vento, indo para onde
queremos, brincando de “dandar”,
levando canções para a
beira das janelas, em um
jogo que por vezes foge
à nossa lógica limitada,
mas que segue uma lógica
maior.
Quantas vezes vemos a
nossa vida e não
entendemos seu sentido,
o que quer de nós a
divindade. Mas,
lembremo-nos do vento,
“dandando” por aí,
construindo nos moinhos
e nas velas das
embarcações, destruindo
nas tempestades e
furacões e pensemos que
a nossa vontade é que
guia esse “dandar”,
entre prédios e árvores,
entre valores e pessoas,
e que precisamos
sintonizar este “dandar”
com a vontade divina, às
vezes nos deixando
impulsionar pela força
que move os ventos, às
vezes decidindo nosso
caminho de forma
diretiva, pelas esquinas
das reencarnações.
Assim, “dandamos”, como
pequenas brisas, como
fortes vendavais,
sincronizados ou em
choque, animados pelo
invisível espírito que
em nós é uma usina
poderosa, a nos
abastecer pelos caminhos
da vida. Não existe
vento que não se mova!
Não existe Espírito que
não evolua! Mesmo os que
comentem as maiores
atrocidades, avançam
pelo aprendizado. A cada
encarnação, tudo muda,
pai vira filho, inimigo
vira amigo, seguindo e
se ajeitando, como o
vento que percorre as
ruas empoeiradas e
revira o lixo em
pequenos redemoinhos ou
quando, pelo trabalho
dos séculos na erosão,
desbasta a mais dura
rocha.
Ainda que não entendamos
bem os mecanismos da
nossa vida, como dito
por Jesus em sua
metáfora do vento, sem
saber bem nossa história
reencarnatória e os
planos da presente,
seguimos como uma força
livre, sem amarras, na
busca da evolução, como
deve ser o vento. A
oportunidade da
encarnação nos dá a
vontade como mecanismo
principal de reescrita
de um novo amanhã,
parafraseando as
palavras de Chico
Xavier, mas continuamos
subordinados aos ditames
da Lei.
Voar como o vento, livre
para trilhar novos
caminhos, mas envolto em
leis, correntes e forças
que nos guiam para um
sentido maior,
construído por nós em
pequenas escolhas,
típicas de nossa
maturidade, que se fazem
na magia de “dandar”
diante de cada desafio,
girando e rodopiando, na
qual a encarnação espera
de nós apenas força e
determinação, recheados
de muito amor.