ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP
(Brasil)
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Roque Jacintho
Jornalista, contabilista
e radialista, ministrou
aulas de latim e
português, escreveu
diversas obras voltadas
às áreas de
contabilidade, economia,
fiscal e jurídica. Em
poucas linhas compactas,
uma breve descrição
biográfica desse notável
escritor espírita.
Roque Jacintho nasceu em
Sorocaba-SP, em 1928.
Casou com Maria Dirce,
uma filha, dois netos,
um bisneto. Publicou
mais de 130 títulos de
obras espíritas, sendo
várias para o público
infantil, inclusive “O
lobo mau reencarnado” –
primeiro livro espírita
infantil do mundo –, que
teve traduções para
diversos idiomas,
inclusive o esperanto.
Militante espírita desde
os 11 anos de idade, seu
primeiro poema foi sobre
reencarnação. Tendo
residido em diversas
cidades do estado de São
Paulo, incentivou os
espíritas para
atividades no campo da
assistência social,
evangelização infantil e
do Evangelho no Lar.
Várias de suas obras
foram vertidas para
outros idiomas, e fundou
grupos espíritas em
Jundiaí, São Paulo e
Diadema, cidade onde
ocorreu sua
desencarnação em 2004.
Relembrar esse
importante vulto da
literatura espírita é
decorrência de um de
seus livros, no caso o
romance Rastros de
Dor, originariamente
lançado pela editora LUZ
NO LAR, do Núcleo de
Estudos Espíritas Amor e
Esperança, da capital
paulista.
O texto romanceado,
dividido em três partes,
é daqueles que não se
consegue parar de ler,
tal o envolvimento da
história com o leitor,
face às ocorrências
objetivas de seus
personagens, os ensinos
daí decorrentes e a
percepção clara do
funcionamento das Leis
Divinas, ao lado da
constatação de nossas
ainda presentes
imperfeições morais. Com
enredo no século XVI, na
Espanha e século XX no
Brasil, separados por um
período no mundo
espiritual, seus
personagens vivem os
desdobramentos
lamentáveis da
Inquisição gerando
efeitos no presente, com
aflições e oportunidades
de refazimento. Em meio
aos dramas vivenciados,
a emoção se faz presente
pelo que o amor é capaz
de fazer, inclusive
envolvendo a presença de
um médium consciente nas
tarefas do bem, que
sofre perseguição e
morte, mas é aquele que
trabalha pela
recuperação moral de
seus próprios algozes.
Li o livro em seis horas
contínuas. Além da
história envolvente e
muito marcante, quatro
trechos me chamaram a
atenção, razão da
presente abordagem:
a)
No capítulo 11 da
primeira parte, quando o
médium foi preso e
arrastado aos cárceres,
por ordem da Inquisição,
o personagem Domingues –
diante das lamentações
dos beneficiados de sua
mediunidade de cura –
afirmou: “Lembre-se de
Jesus! Não brade contra
a injustiça humana, a
fim de que você não caia
em desesperação”;
b)
Já no capítulo 22, da
segunda parte, quando o
mesmo médium – agora em
Espírito, pois já
habitava o plano
espiritual – vai
resgatar seu próprio
algoz que lhe
sentenciara a morte em
ser queimado vivo,
dirige-se àquele que
mantinha o infeliz
sacerdote prisioneiro
por vingança e diz:
“Assim como acontecerá
com cada um de nós, ele
terá a oportunidade de
esquecer esta vida. Os
maiores devedores sempre
devem ser reconduzidos
ao crivo da vida nova,
para que resgatem e se
redimam de todos os seus
enganos!”;
c)
E quase ao final do
livro, no capítulo 35,
da última parte, num
diálogo, uma mãe ouviu
de sua benfeitora: “Os
falidos também tiveram
mães, e, muitas dessas
mães, na
espiritualidade, buscam
abrigos seguros aos
corações que sempre
amaram e os querem
vê-los redimidos.”;
d)
E finalmente (deixamos
para o final,
propositalmente), no
capítulo 23, quando
agitados Espíritos
programam invasão para
perturbar os encarnados
com motivação de
vingança, um dos líderes
proclama: “Basta
fazê-los descer a nosso
nível mental, que o
nosso desequilíbrio se
transferirá a eles e,
assim, nós os faremos
escravos de nossos
desejos e de nosso
clamor de vingança!”.
Cada trecho transcrito
acima tem seu contexto
na história, óbvio,
todavia, note o leitor o
universo que se abre na
reflexão de cada um dos
trechos. Desde a
resignação diante das
injustiças que vive o
planeta com suas
contradições morais à
bênção do esquecimento
na reencarnação como
recurso educativo, a
presença da misericórdia
em favor da humanidade
até a advertência da
técnica utilizada pelos
Espíritos obsessores, os
trechos sugerem ampliar
os raciocínios para
observar o que se passa
com o momento histórico
da humanidade e redobrar
a vigilância em nosso
comportamento moral,
individual e coletivo.
A obra é um primor.
Agradável de ler,
motivadora ao estudo e
reflexão e, em especial,
tocante. Em 288 páginas
todo o vigor intelectual
do conhecido escritor.
Estava esgotada e agora
o IDE-Araras o reeditou
em parceria com a LUZ NO
LAR. Um momento feliz
para a literatura
espírita, no resgate
dessas valorosas obras
que não podem ficar
esquecidas.