ROGÉRIO MIGUEZ
rogmig55@gmail.com
São José dos Campos, SP
(Brasil)
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A questão é de conceito
e
não de preconceito
A conduta religiosa
primitiva surgiu
naturalmente no seio da
humanidade, como uma
forma salutar e segura
de se ligar o homem a
Deus. A centelha divina
cumpriu o seu papel de
fazer florescer no
íntimo dos Espíritos
esta busca instintiva e
incessante pelo próprio
Criador. A História até
o momento não registrou
qualquer civilização ou
cultura que não tivesse
apresentado uma vertente
de prática nesta
direção.
Na medida do
desenvolvimento e do
aperfeiçoamento do
homem, ganhando
experiências e
conhecimentos, tornando
a vida mais elaborada e
complexa, este foi
também modificando
aquelas práticas
rudimentares naturais e
quase intuitivas, por
rotinas mais
sofisticadas, criando
aqui e ali procedimentos
formais para promover
esta reaproximação com
Deus.
Uns ingênuos, outros
maldosos, alguns mesmo
sinceros, com o passar
do tempo, criaram
estruturas elaboradas
para aprisionar o homem
em sua crença, fazendo-o
crer ser a sofisticação
e a complexidade das
práticas formas de
melhor agradar a Deus,
superando a simples
postura de adoração
natural tão benéfica,
exercitada em passado
longínquo.
Quando Jesus reencarna
na Terra, certamente Ele
encarnou muitas vezes em
outros mundos, talvez
até outras vezes no
nosso próprio mundo,
como sugere Carlos
Torres Pastorino1,
de modo simples, direto
e de forma cristalina,
fez recuperar aquele
sentimento nato em todos
nós da existência do
Deus Amor, ensinando e
exemplificando sobre a
impossibilidade da
divindade se deixar
influenciar por práticas
religiosas esdrúxulas e
complicadas, orientando
também não ser possível
a supremacia da forma
sobre o fundo.
Entretanto, a
humanidade, avançando
ainda, foi criando mais
e mais formalismos
religiosos, esquecendo
pouco a pouco a
singeleza do Mestre,
cultuando o Deus Ouro e
a Deusa Prata, até o
momento de apresentar o
conceito, segundo
alguns, da existência de
um intermediário vivo na
Terra entre os homens e
Deus, se renovando
ciclicamente, para guiar
as Suas criaturas,
talvez o ápice do
afastamento da lei
natural de adoração.
O século XIX se
apresentou radiante e
esperançoso, antes
daquele tão aguardado e
temido como o do fim dos
tempos, o século XX,
este profetizado como
último, evidentemente
não o foi, senão aqui
não estaríamos, e Deus
permite agora se
apresente, de modo a nos
prepararmos melhor em
entendimento e prática,
outra proposta de
religação entre criatura
e Criador, contudo, para
ficar conosco
eternamente, sem um
autor, sem
personificação, um
conjunto de ideias
abrangente sem possuir
um “dono”: A Doutrina
dos Espíritos.
E o Espiritismo se
materializa como uma
proposta pura, sem
máculas, sem
formalismos, sem dogmas,
sem subterfúgios, sem
privilegiados, em uma
clara tentativa de
recuperar mais uma vez,
agora de forma
definitiva, aquela
religiosidade primitiva
única a agradar a Deus,
da qual nos afastamos
deliberadamente e
paulatinamente
sobremaneira.
Entretanto, apesar desta
nova dádiva de Deus, é
constante a intromissão
daqueles desejosos do
antigo domínio sobre as
mentes pelo maravilhoso,
insistindo em sugerir
rotinas estranhas e sem
qualquer fundamento, em
uma tentativa clara de
conquistar pelas
aparências e não pelos
sentimentos a humanidade
tão carente de
simplicidade, cansada de
tanta pompa e desvios de
toda a ordem nos Templos
dos tempos modernos.
Religiosos de diversas
correntes: uns ingênuos,
outros maldosos, alguns
mesmo sinceros,
obstinam-se em propor
novidades a esta última
revelação de Deus,
repetindo a antiga e
surrada tentativa de
recuperar os formalismos
que tanto nos agradaram
e deslumbraram no
passado, mas hoje,
muitos de nós já os
superamos plenamente,
qual seja a necessidade
de se deixar fascinar
pelo exterior em
detrimento do interior.
Ao proporem as suas
práticas ultrapassadas,
sementes falsas, mas de
brilho cativante,
encontram adeptos no
Espiritismo já avisados
e prevenidos desta
semeadura deturpada, não
se alinhando de modo
algum com suas novas
ideias, muito pelo
contrário, estes
modernos quixotes da
Doutrina, com galhardia
e nobreza, resistem às
intromissões
indesejadas, até quanto
podem, às vezes com
sucesso, outras vezes em
vão, em face à
insistência dos loquazes
e por que não dizer dos
eloquentes proponentes
obtendo muitas vezes
êxito ao convencer os
desavisados e neófitos
na Doutrina.
Tudo indica ser comum
este conflito entre
aqueles desejosos de
permanecer adeptos a uma
proposta religiosa
simples, ausente de:
hierarquia, vestimentas
especiais, práticas
complexas, dogmas,
cantos particulares,
formalismos de toda
ordem, locais
apropriados,
terminologias e
palavreado específicos e
já plenamente superados,
incensos, velas, e
aqueles ainda
prisioneiros do
maravilhoso e de
propostas geralmente sem
qualquer fundamento,
atrelados que se
encontram aos
formalismos e vestuários
especialíssimos, com
seus símbolos e
artefatos mágicos, como
se qualquer destes, em
qualquer época, pudesse
ter agregado um ponto,
por menor que seja, na
escala evolutiva do
praticante, ou fazê-lo
melhor entender as leis
da vida promovendo a sua
melhora íntima.
Infelizmente, os avessos
à simplicidade são
atrevidos e insinuantes,
e se entende
perfeitamente, pois,
baldos de conhecimento e
fundamentos em suas
propostas, só pela
imposição podem fazer
aceitar as suas práticas
extemporâneas,
acreditando mesmo muitas
vezes poder validar pelo
medo as suas ideias.
Ledo engano, a
consciência do adepto
jamais será alcançada, e
sem este poder, nunca
concretizarão os seus
objetivos, alguns
torpes, outros apenas
levianos, sendo estes
últimos tão prejudiciais
quanto os primeiros.
Nestas horas de embate
argumentativo, sempre
salutar e recomendado,
entre uns e outros, é
comum os defensores da
Doutrina dos Espíritos
sejam taxados de
fanáticos, puristas,
arcaicos, ortodoxos, e
finalmente
preconceituosos,
em uma tentativa vã de
colocá-los em posição
frágil, pois a sociedade
moderna busca, e o mesmo
faz a Doutrina dos
Espíritos há bom tempo,
varrer do horizonte
todas as condutas e
propostas preconcebidas.
Acredita-se assim agirem
os “puristas” por
despeito, ou por
possuírem entendimento
obtuso, temerosos que
seriam do moderno, sendo
ainda inaptos a perceber
o quanto a Doutrina está
defasada do homem
hodierno, afirmam.
Todo espírita deveria
conhecer uma literatura
básica intitulada: O
Espiritismo e as
Doutrina Espiritualistas2,
esclarecendo com muita
propriedade e com
extrema lógica quais são
as diferenças existentes
entre a Doutrina
espírita e o: Umbandismo;
Crenças Orientais;
Igrejas Reformadas; e
mesmo o pensamento
católico, entre outros.
Em uma abordagem direta,
lúcida e sem outras
intenções, com o fim de
apenas demonstrar a
distinção entre as
propostas, discorrendo
honestamente sobre as
Religiões, especificando
simplesmente o que é, e
o que não é Espiritismo.
Escrito pelo nobre
Deolindo Amorim, é um
marco, indispensável a
todo aquele desejoso de
sinceramente entender os
aspectos das propostas
religiosas do momento e
do passado. Meditemos
profundamente sobre as
lições deste livro, de
modo a não mais acatar
nenhuma ideia absurda
contrária àquelas
apresentadas pela
Doutrina.
Ser fiel à Doutrina dos
Espíritos é como ser
fiel a qualquer
movimento religioso,
pois conhecemos a
impossibilidade de
sermos salvos apenas
pela Religião, mas sim
pelas obras redundantes
da prática dos
princípios desta ou
daquela crença, assim,
não há, no momento,
nenhuma necessidade de
se fazer qualquer
sincretismo religioso
com o Espiritismo, visto
estar perfeitamente
estruturado em seus
aspectos filosóficos,
científicos e
religiosos, em fase
ainda de entendimento e
aplicação pelas massas,
dispensando, de momento,
pretensas intromissões
para fazê-lo melhor do
que já é.
Deste modo, se os
conceitos espíritas são
suficientes para nos
levar à
melhora
espiritual, não há por
que tentarem introduzir
supostas avançadas
técnicas de desobsessão,
por exemplo, nem novos
conceitos morais, pois a
moral espírita é a moral
cristã, não existindo
até o momento nenhum
avanço moral com
possibilidade de superar
os exemplos deixados
pelo Cristo.
Oremos, e muito, mas
vigiemos também, com
atenção, pois aí estão
aqueles mesmos Espíritos
encarnados e
desencarnados, de outras
eras, sempre prontos a
servir seus particulares
deuses, sem qualquer
pudor, tentando se
imiscuir na Doutrina tal
qual erva daninha.
Ensinam os precisos e
preciosos
conceitos da
Doutrina, e o fazem de
forma magistral e
absoluta, a vigilância
contra o
preconceito,
lição fundamental para
conduzir a vida em
harmonia e respeito a
todos, independente do
credo, idade, orientação
sexual e raça, se ainda
for possível sustentar
este último diante das
modernas pesquisas
antropológicas e
genéticas. Todavia,
respeito não é
conivência, e não
devemos aceitar, sob
pena de respondermos à
justiça maior, com
severidade, esta
desatenção, descambando
para a leniência em
muitos casos. Quando a
sugestão ou a proposta
surgir de macular a
Doutrina, não nos
calemos diante daqueles
que, insinuantes, nada
mais desejam além de
obter poder e destaque
no âmago do povo. Ao
surgirem levantando
bandeiras com dizeres
sobre a extemporaneidade
do Espiritismo, digamos
não, e não os aceitemos!
Referências:
1
PASTORINO, Carlos T.
Sabedoria do Evangelho.
Rio de Janeiro: Revista
Mensal Sabedoria, 1964.
v. 5. Cego de nascença,
pág. 80.
2
AMORIM, Deolindo. O
Espiritismo e as
doutrinas
espiritualistas. 4.
ed. Rio de Janeiro: CELD
Editora, 1989.