MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Amar sem apego
Amar é bom...
Fundamental como
potencialidade humana e
fonte de felicidade.
Amar é a Lei, dito por
Jesus no “amai-vos uns
aos outros” e reforçado
por Kardec no “Fora da
caridade...” O amor é a
força que alimenta o
universo, que nos faz
mais, que nos permite
acreditar no melhor.
Mas é preciso saber
amar. Independente das
formas de amor, aquela
mais individualizada do
amor romântico, ou
aquela mais
universalizante, mais
fraternal do chamado
ágape, o amor, em
todos os momentos da
vida, da infância à
melhor idade, necessita
se precaver de um outro
fator de deterioração: o
apego.
Parece contraditório que
o amor, pautado na
união, na vontade de se
estar junto e se querer
o bem, possa ser
desvirtuado pela questão
do excesso de
aproximação. O apego
transita pela
dependência, descambando
para o ciúme e para a
dominação, fazendo do
amor, às vezes, uma
fixação descolada da
realidade. Contamina o
amor por torná-lo algo
escravizante, o que
rompe a visão
emancipatória deste
sentimento.
Muitos crimes que
estampam páginas
policiais derivam de um
amor dominado pelo
apego. Muita dor e
sofrimento se faz em
nome desse amor.
O amor verdadeiro é
saudável, produtivo,
traz o bem, em todos os
sentidos. É libertador!
Quem ama não mata! O
amor nos faz não
precisar dos outros de
forma inconteste, mas
sim nos sentirmos fortes
justamente por amarmos.
O amor nos faz humanos e
ainda nos permite ver a
essência humana em cada
Espírito encarnado, nos
ligando por uma tênue
energia de
interdependência, que é
algo muito maior que a
dependência.
Não digo que seja fácil
amar com desapego. É um
desafio... A morte, o
afastamento compulsório,
a doença... São provas
que nos levam a
experimentar em que
medida nosso amor está
apartado do apego. Não
reputo como simples ser
desapegado, amando, mas
percebo ser um objetivo
a trilhar, para que
possamos nos libertar
das amarras,
transcendendo as
questões transitórias da
posse.
Como amar uma pessoa sem
amar o mundo? Como amar
o mundo sem ter amado
uma pessoa? Amar é um
estado íntimo que
modifica a nossa visão
da existência, nos
motiva a sacrifícios,
nos fazendo avançar no
sentido espiritual.
Distantes estamos, nesse
planetinha de provas e
expiações, de saber o
real sentido dessa
palavra, mas certamente
sua essência não se liga
ao apego, ao medo da
perda e do abandono.
Como dizia Paulo de
Tarso na Primeira
Epístola aos Coríntios:
“O
Amor é paciente, é
benigno; o Amor não é
invejoso, não trata com
leviandade, não se
ensoberbece, não se
porta com indecência,
não busca os seus
interesses, não se
irrita, não suspeita
mal, não folga com a
injustiça, mas folga com
a verdade. Tudo
tolera, tudo crê, tudo
espera e tudo suporta. O
Amor nunca falha”.
Palavras que devemos
trazer no coração quando
abandonados, livre ou
compulsoriamente, pelo
amor das nossas vidas,
mas que devemos lembrar,
também, quando
experimentamos a
plenitude do amar,
recordando a natureza
real desse sentimento.
Apegados ao objeto do
amor, não permitimos que
ele cresça, que ele se
torne ele mesmo. Mas, ao
mesmo tempo, o
afastamento, a distância
não faz bem ao amor.
Tênue equilíbrio entre
se estar junto e se
permitir que o outro
cresça me parece ser um
dos fundamentos do amor
sem apego. Um exercício
constante, construído no
cotidiano, de quem não
se furta a essa
maravilhosa experiência
que é amar.
Concluímos com a fala do
psicanalista Erich
Fromm, Espírito sensato,
que ao escrever sua obra
magistral, “A arte de
amar”, indica que o
amor infantil segue o
princípio: “Amo porque
sou amado” e o amor
amadurecido se pauta
pelo: “Sou amado porque
amo”. Da mesma forma, o
amor imaturo diz:
“Amo-te porque necessito
de ti” e o amor maduro
pensa: “Necessito de ti
porque te amo”. Um amor
maduro, que sobrevive às
intempéries, busca, na
medida do possível, se
desapegar, sem estar
longe. Pois sabe que o
amor está ali, fora e
dentro do seu coração.