JOSÉ
PASSINI
jose.passini@gmail.com
Juiz de
Fora, MG
(Brasil)
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Salvação
ou
evolução?
“É assim
que tudo
serve,
que tudo
se
encadeia
na
Natureza,
desde o
átomo
primitivo
até o
arcanjo,
que
também
começou
por ser
átomo.”
1
Todos
nós,
Espíritos
imortais,
ao
sermos
criados,
partimos
de um
mesmo
ponto,
recebendo
como
herança
a
capacidade
de
progredir,
em
medida
absolutamente
igual,
em
consonância
com a
indefectível
justiça
de Deus.
Ao longo
dos
milênios
sucessivos,
através
do
esforço
evolutivo
individual,
vamos
revelando
a luz
divina
que
trazemos
dentro
de nós,
conforme
se
depreende
da
recomendação
de
Jesus:
“Assim
resplandeça
a vossa
luz
diante
dos
homens
(...)”.
2
Jesus
não
teria
feito
essa
recomendação
se não
soubesse
da
existência
dessa
herança
divina
imanente
em todos
os
seres,
cantada
com o
nome de
amor
pelo
poeta:
“O amor
em nós,
certo
existe
desde o
nosso
alvorecer,
remontando
a
priscas
eras, no
esboço
do nosso
ser.
Em
estado
de
latência,
no
dealbar
da
existência,
Deus
concede
de
antemão,
a sua
herança
bendita,
que a
alma
busca
contrita
nas asas
da
evolução”.3
A
exteriorização
mais ou
menos
intensa
dessa
herança
divina
que
trazemos
é que
nos
torna
diferentes
uns dos
outros.
Só
dentro
de uma
perspectiva
evolutiva
é que
podemos
ver um
silvícola
feroz e
um
Francisco
de Assis
como
filhos
de um
mesmo
Deus
justo,
pois o
que
diferencia
esses
dois
Espíritos
não é a
sua
natureza,
a sua
origem,
mas,
apenas,
evolução.
As
diferenças
individuais
se
originam
no
homem,
não em
Deus.
A
evolução
do
Espírito
se
efetiva
através
de
inúmeras
vidas
sucessivas,
que lhe
oferecem
oportunidades
variadas
de
incorporar
em si as
experiências
que o
meio lhe
propicia,
num
processo
que se
pode
chamar
de
desenvolvimento
da
inteligência
e das
virtudes
que lhe
são
imanentes.
Essa
visão da
evolução
do
Espírito
é muito
clara no
Espiritismo.
Em
outras
religiões
reencarnacionistas,
a
reencarnação
é vista
apenas
como
oportunidade
de os
Espíritos
faltosos
retornarem
à Terra
a fim de
reparar
seus
erros ou
de
concluir
aquilo
que
deixaram
inacabado.
Admitem,
também,
a
reencarnação
de
Espíritos
mais
adiantados,
que
retornam
ao mundo
físico
em
missão,
para
ensinar
o
caminho
do Bem.
Essas
religiões
não têm
a
perspectiva
evolutiva.
O
Espiritismo
não nega
essas
duas
situações,
indo,
todavia,
mais
além,
ensinando
que não
se
reencarna
só em
missão
ou
resgate,
mas que
a
reencarnação
é
absolutamente
necessária,
indistintamente,
a todos
os
Espíritos,
por ser
inerente
ao
processo
evolutivo.
Portanto,
a
reparação
de
faltas
anteriormente
cometidas
não é
vista
como
punição,
mas como
elemento
essencial
da
escalada
evolutiva
rumo à
perfeição,
a que
todos
estamos
sujeitos.
Igualmente,
no
desempenho
de
missão
sacrificial,
o
Espírito
Superior
que a
leva a
efeito
não está
fora do
processo
evolutivo,
porque
também
ele está
progredindo,
embora
nada
deva à
Terra,
tendo o
seu
retorno
sido
motivado
apenas
pelo
amor.
No
Espiritismo,
a
reencarnação
ocupa
lugar de
destaque,
constituindo-se
num dos
pilares
básicos
de toda
sua
estrutura
doutrinária,
contrapondo-se
frontalmente
à tese
salvacionista,
ensinada
por
outros
setores
do
Cristianismo.
Em
verdade,
a
respeito
de
salvação,
o
Espiritismo
vai
muito
além de
outras
religiões,
pois ao
nos
ensinar
que não
existem
penas
eternas,
leva-nos
a
concluir
que
todos
estamos
salvos,
porque
somos
cidadãos
do
Universo,
filhos
amados
de Deus,
habitantes
da “Casa
do Pai”,
conforme
ensinou
Jesus.
Em
verdade,
o Mestre
nunca
apresentou
soluções
mágicas
de
salvação
gratuita,
com base
apenas
na fé.
Pelo
contrário,
suas
lições
sempre
foram no
sentido
de
acordar
a
criatura
para a
necessidade
de
assumir
sua
vida,
tomando
em suas
mãos as
rédeas
do seu
próprio
destino:
“(...)
renuncie-se
a si
mesmo,
tome
sobre si
a sua
cruz, e
siga-me”.
4
São
muitas
as
recomendações
do
Mestre
no
sentido
de a
criatura
despertar
para a
necessidade
de
progredir:
“Eu,
porém,
vos
digo:
Amai a
vossos
inimigos,
bendizei
os que
vos
maldizem,
fazei o
bem aos
que vos
odeiam,
e orai
pelos
que vos
maltratam
e vos
perseguem”
5
e, mais
adiante,
continua
a
recomendação:
“Sede,
pois,
vós
outros,
perfeitos,
como
perfeito
é o
vosso
Pai
celestial”.
6
E por
ser uma
doutrina
eminentemente
evolucionista
e não
salvacionista
é que o
Espiritismo
prioriza
a oração
consciente,
o
estudo,
a
reflexão,
obediente
à
recomendação
do
Espírito
da
Verdade:
“Espíritas!
amai-vos,
este o
primeiro
ensinamento;
instruí-vos,
este o
segundo”.
7
Assim,
se bem
atentarmos
para a
amplitude
e
profundidade
dos
ensinamentos
de
Jesus,
veremos
que, em
última
análise,
seus
ensinamentos
se
constituem
numa
ampla
proposta
de
aperfeiçoamento
do
Espírito,
num
chamamento
ao
esforço
individual,
que não
pode ser
desenvolvido
numa só
vida.
Por
isso,
quem
medita
sobre os
ensinamentos
e
exemplos
de Jesus
encara o
Evangelho
não como
um livro
sagrado
que deva
ser lido
de mãos
cruzadas
sobre o
peito em
atitude
de
reverência,
mas o vê
como um
manual
de
evolução
do
Espírito,
que
traça um
roteiro
de luz,
a ser
seguido
ao longo
de
milênios
sucessivos.
Referências:
1 – O
Livro
dos
Espíritos,
item
540.
2 –
Mateus,
cap. 5,
vers.
16.
3 – José
Soares
Cardoso
(Acordes
Espirituais).
4 –
Mateus,
cap. 16,
vers.
24.
5 –
Mateus,
cap. 5,
vers.
44.
6 –
Mateus,
cap. 5,
vers.
48.
7 – O
Evangelho
segundo
o
Espiritismo,
cap. 6,
item 5.