Sexo e Obsessão
Manoel
Philomeno de Miranda
(Parte 9)
Damos sequência ao
estudo metódico e sequencial do livro
Sexo e Obsessão, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada
por Divaldo P. Franco
e publicada originalmente em 2002.
Questões preliminares
A. A regressão de memória permitiu que se
esclarecessem os motivos dos transtornos
obsessivos e da conduta do sacerdote?
Sim. Mauro foi levado, na regressão, a uma
anterior existência que ele teve no início
do século XIX, em Paris, quando Napoleão se
encontrava no poder. Ele se chamava então
Madame X, que comandava as orgias que se
realizavam na Mansão M., onde as festas de
exaustão dos sentidos, a embriaguez pelo
álcool, pelo absinto, pela luxúria
esfuziante e depravada eram fato
corriqueiro. À medida que a regressão de
memória se acentuou, o rosto de Mauro se
modificou e assumiu outras características,
agora femininas e vulgares. (Sexo e
Obsessão, capítulo 5: Conflito obsessivo.)
B. Os personagens do drama atual de Mauro
foram identificados com o auxílio da
regressão?
Sim. Ele tinha sido, como dissemos, Madame
X. Seu genitor na atual existência, que dele
abusou sexualmente, fora naquela
oportunidade pai de uma criança de oito anos
tomada à força por ordem de Madame X, para
servir nos propósitos do lupanar que ela
dirigia. E o algoz do padre, que tanto
sofrimento lhe impunha na atual existência,
era exatamente aquela criança, que sofreu os
maiores abusos e aberrações e, por esse
motivo, prometeu vingar-se. Embora a
vingança seja um equívoco, motivos não lhe
faltavam para assim agir. (Sexo e
Obsessão, capítulo 5: Conflito obsessivo.)
C. Após a regressão, que recomendação o
benfeitor espiritual fez ao sacerdote, com
vistas à sua regeneração e consequente
término da trama obsessiva?
Eis o que benfeitor espiritual disse ao
padre Mauro: “Voltarás ao corpo físico
mantendo vagas lembranças destas
ocorrências, que estarão presentes em tua
memória atual, a fim de ajudar-te a
enfrentar as consequências da conduta atroz
a que te relegaste. Nunca, porém, te
esqueças de Jesus. Abraças uma doutrina
religiosa que consagrou santos e heróis,
mártires e benfeitores da Humanidade, na
qual também tiveram lugar homens e mulheres
temerários, que respondem por crimes contra
a criatura e a sociedade, mas que te poderá
conduzir à paz, se souberes aceitar as
injunções que desencadeaste contra ti mesmo
e que logo mais te chamarão ao acerto de
contas”. (Sexo e Obsessão, capítulo 5:
Conflito obsessivo.)
Texto para leitura
42. A regressão de memória ajuda a
elucidar o caso – O corpo de Mauro
se encontrava em sono profundo, enquanto, em
espírito, era também adormecido, a fim de
que a sua memória liberasse algumas
lembranças anestesiadas pelos neurônios
cerebrais e seus neuropeptídeos. Com a voz
muito calma, em cadência harmônica, o
Instrutor impunha o repouso profundo ao
paciente: “Recorda, agora recorda o início
do século XIX; volve à Paris napoleônica,
retorna à Mansão de M., às orgias comandadas
por Madame X... Observa o bosque em torno da
casa palaciana e acompanha as festas de
exaustão dos sentidos, a embriaguez pelo
álcool, pelo absinto, pela luxúria
esfuziante e depravada... Madame X comanda o
espetáculo, em razão dos seus vínculos
obscenos e extravagantes com o palácio das
Tulherias, a mansão de Malmaison e alguns
dos seus famosos políticos e parasitas
sociais...”. Dito isso, o Mentor sugeriu ao
grupo socorrista que se concentrasse no
centro da memória do paciente e acompanhasse
o desenrolar dos fatos. À medida que ele ia
enunciando o lugar e seus acontecimentos, o
rosto de Mauro se modificava, assumindo
outras características, agora femininas e
vulgares. Vagarosamente plasmavam-se nos
delicados tecidos perispirituais as formas e
a aparência anteriores, quando,
utilizando-se de verbetes e versos
fesceninos, o paciente sob hipnose volveu ao
lupanar onde vivia e comandava a orgia
desenfreada. Entre as ordens que seus lábios
expediam, assinalava-se a hedionda imposição
da necessidade de crianças para os banquetes
da loucura desenfreada, de psicopatas e de
histéricas para os histriões e viciados que,
à semelhança de animais no cio, se atiravam
uns sobre os outros locupletando-se em
aberrações de muitos gêneros sob o comando
compassivo da proprietária, igualmente
debochada. (Sexo e Obsessão, capítulo 5:
Conflito obsessivo.)
43. Esclarecida a identidade do
genitor do padre – Num daqueles
momentos, um lacaio apresentou-lhe uma
criança de oito anos que fora tomada quase à
força do pai devotado e trabalhador, que
residia na periferia da cidade, e que se
encontrava à porta, desejando falar-lhe,
suplicar-lhe a libertação da presa valiosa.
A infeliz mulher mandou-o entrar, e, sem
delongas nem pudor, propôs ao genitor
aturdido a compra do seu filho, atirando-lhe
um saco de moedas de ouro que, recusadas,
conduziram-no a um quase delírio de ódio,
ameaçando-a com palavras chulas de vingança
pelo descalabro de roubar-lhe o filho.
Expulso, sem piedade, e sem ter a quem
queixar-se, o desditoso, em pranto e
alucinado, desapareceu na noite, ruminando o
desforço ante a tragédia que se abatera
sobre o seu lar. “Reconheces, Mauro -
interrogou o Mentor - esse homem que
vitimaste com a tua crueldade e desabrida
falta de moral? Reencarnou-se como teu
genitor, e não te havendo perdoado, sem
mesmo saber a procedência dos sentimentos
ambíguos que mantinha em relação a ti,
tornou-se o teu algoz infantil, o cruel
explorador das tuas forças e pureza.
Desditoso, sim, continua, porque ninguém tem
o direito de fazer justiça com a própria
indignidade, pois que as Leis Soberanas da
Vida sempre buscam o calceta e o alcançam,
levando-o à reparação. O ódio, porém, semeia
venenos que são absorvidos, intoxicando
aqueles que o conservam.” Houve um silêncio
de perplexidade. Mauro (a antiga Madame X)
comoveu-se, e estertorou. Anacleto, porém,
prosseguiu: “Conservas uma herança infeliz
daqueles dias passados em desrespeito à
Vida. A misericórdia do Pai Criador
trouxe-te de volta ao corpo, a fim de
reparares, encarcerado em corpo diferente, e
para que não resvalasses pela borda de novos
crimes, porém como filho daquele a quem
infelicitaste, para experimentares o licor
amargo da recuperação moral. Isso,
entretanto, não justifica o desbordamento
das paixões a que te vens atirando,
afogando-te no trágico pantanal de lascívia
e perversão”. (Sexo e Obsessão, capítulo
5: Conflito obsessivo.)
44. Raízes da vingança perpetrada pelo
algoz desencarnado – O paciente
sofria ante as cenas que ressumavam do
inconsciente, e que Manoel Philomeno
conseguia acompanhar na sucessão de suas
tragédias. Repentinamente, viu-se um
poderoso membro do Império napoleônico
acercar-se da grandiosa mansão com o seu
séquito e manter entrevista com Madame X.
“Necessitava - expunha, diabólico, logo que
foi recebido - de carne moça, muito jovem,
sem experiência, a fim de ser-lhe o
iniciador...” Madame, besuntada de tintas
escarlates na face envilecida, não teve
dificuldade em atender à hórrida
solicitação, mandando trazer-lhe a criança
recém-chegada ao bordel de luxo, após o que
entregou-a ao psicopata que, cansado de
batalhas cruéis e de excessos de perversão,
aspirava por prazeres novos ainda não
desfrutados à exaustão. O menino, apavorado,
conduzido à força, foi entregue ao militar
desnaturado, que o levou com a sua corte
igualmente insensata... A voz do Benfeitor
fez-se ouvir, interrogativa: “Sabes quem é
este ser? Consegues identificá-lo hoje?
Dir-te-ei que o mesmo, ao largo dos anos,
adaptou-se à situação, mantendo terrível
ódio contra ti. Na idade adulta, tornando-se
corrompido ao máximo, nunca esqueceu a cena
em que o pai desesperado recusou a oferta de
ouro pela sua inocência e a tua perversidade
empurrou-o para o lixo e o apodrecimento
moral a que foi relegado. A morte, que a
todos recolhe, tomou-vos a todos, e a Vida
voltou a reunir-vos no momento próprio, a
fim de que recupereis os tesouros atirados
fora e as oportunidades perdidas. Sabes de
quem se trata? O sacerdote, incapaz de
responder com segurança na aflição que o
dominava, facultou que o Mentor concluísse:
“É o algoz que ora te arrebata e te conduz
ao abismo sórdido da cidade do deboche onde
reside com outros comensais dos prazeres
exorbitantes e exaustivos do sexo
pervertido. Manténs com ele identificação
vibratória que lhe faculta o domínio das
tuas forças mentais, saturando-te de fluidos
venenosos e desordenados desejos de prazeres
não saciáveis”. (Sexo e Obsessão,
capítulo 5: Conflito obsessivo.)
45. O despertar de Mauro após a
regressão – Após uma curta pausa, o
Mentor voltou a propor com energia e
bondade: “Agora, desperta, volta à
consciência lúcida atual. Volta... acorda...
confia e tranquiliza-te...” O Espírito
estremeceu, desapareceram-lhe as marcas da
reencarnação anterior e ele abriu os olhos,
angustiado, inseguro, temeroso. “Tem bom
ânimo, meu irmão” – acalmou-o o nobre
Anacleto. “Estás agora entre amigos e
companheiros do caminho, que te desejamos o
bem, a felicidade, o despertar para a vida,
a fim de que esse tormento e esse capítulo
hediondo da tua existência cedam lugar a
novas experiências iluminativas,
libertadoras. Voltarás ao corpo físico
mantendo vagas lembranças destas
ocorrências, que estarão presentes em tua
memória atual, a fim de ajudar-te a
enfrentar as consequências da conduta atroz
a que te relegaste. Nunca, porém, te
esqueças de Jesus. Abraças uma doutrina
religiosa que consagrou santos e heróis,
mártires e benfeitores da Humanidade, na
qual também tiveram lugar homens e mulheres
temerários, que respondem por crimes contra
a criatura e a sociedade, mas que te poderá
conduzir à paz, se souberes aceitar as
injunções que desencadeaste contra ti mesmo
e que logo mais te chamarão ao acerto de
contas.” A genitora do padre Mauro abraçou-o
com especial ternura, despedindo-se e
acalmando-o com palavras tecidas em fios de
esperança e fé em Deus, auxiliando-o a
reintegrar-se ao corpo, que ressonava um
pouco agitado, pelos reflexos dos
acontecimentos revividos na esfera
espiritual. Mauro despertou sentindo-se
muito cansado e confuso. Levantou-se, banhou
o rosto em água fria, absorveu o ar da manhã
em festa, aproximando-se do meio-dia, e
volveu à meditação, sucumbindo sob os
camartelos dos receios que o dominavam.
(Sexo e Obsessão, capítulo 5: Conflito
obsessivo.)
46. A diretora do Educandário e suas
dúvidas – No Educandário, trêmula e
perplexa, a diretora conduziu a criança, que
de nada se apercebera, à sua sala,
derreando-se na cadeira, enquanto tentava
coordenar as ideias. Era a primeira vez que
se deparava com algo tão estarrecedor e
debatia-se em rude confusão mental, por não
saber qual a atitude correta a tomar. Jamais
poderia ocorrer-lhe um pensamento de que o
jovem sacerdote fora capaz de algo tão
inditoso e cruel. Nesse estado de espírito,
vinculada à religião dominante, apesar do
choque sofrido, buscou sabiamente o concurso
da oração silenciosa, a fim de ser
inspirada, enquanto o menino aguardava
instruções. Aproveitando a natural
concentração da senhora, o benfeitor
espiritual Dilermando envolveu-a com fluidos
refazentes e calmantes, asserenando-a e
inspirando-a a comportamento de equilíbrio,
já que um escândalo em nada auxiliaria a
Escola, à quase vítima, aos demais alunos e
aos seus familiares. A Mídia insensata, que
se compraz em escabrosidades, logo se
envolveria, tornando o fato isolado uma
tragédia generalizada, criando situações
muito embaraçosas para todos. Assim, quando
as ideias se lhe aclararam, ela solicitou a
uma auxiliar conduzir o menino à sua sala,
diluindo a gravidade da ocorrência que não
deveria tomar dimensões maiores do que as
reais. Nada obstante, o conflito
permaneceu-lhe na mente, considerando a alta
responsabilidade que lhe pesava sobre os
ombros. Durante as horas que se passaram,
interrogava-se, interiormente: "Ter-se-ia
equivocado ou chegado a uma conclusão por
demais apressada? E, se realmente, o gesto
de carícia do sacerdote não passasse de uma
atitude de enternecimento sem máculas nem
intenções mórbidas?" (Sexo e Obsessão,
capítulo 6: Socorros espirituais.)
(Continua no próximo número.)