JOSÉ LUCAS
jcmlucas@gmail.com
Óbidos, Portugal
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Espiritismo pago?
Estamos num mundo
material em que vivemos
na matéria, com a
matéria, da matéria, mas
não objetivamos viver
para a matéria. É uma
questão de bom senso, e
também doutrinária, já
que, como espíritas,
sabemos que a vida não
se esgota na realidade
física. O que tem isto a
ver com o título
“Espiritismo pago”?
Quem é espírita sabe que
as atividades espíritas
de divulgação
doutrinária são
gratuitas, palestras,
passe espírita (fluidoterapia),
desobsessão,
atendimento, educação
espírita infantil, apoio
social a carenciados
etc.
Quem é espírita também
sabe que os livros
espíritas custam
dinheiro e, portanto,
têm de ser vendidos, o
que é óbvio.
Já não é tão óbvio o
lucro que algum centro
espírita possa ter na
venda desses livros, se
dificultar a compra dos
mesmos por pessoas menos
endinheiradas.
O mesmo se passa com os
jornais espíritas.
Uma questão mais
polêmica começa, por
exemplo, nos congressos
espíritas, cujos
ingressos começam a
criar uma elitização
dentro do Espiritismo:
uns podem pagar e vão, e
outros não podem pagar e
não vão.
Seria desejável que os
eventos fossem a um
preço mínimo, de modo a
que todos pudessem ter
acesso, cortando as
despesas dos eventos ao
mínimo possível, havendo
sobriedade nas ofertas
aos participantes,
criando inclusive
condições de acesso a
pessoas que não possam
pagar.
Há tempos, fomos
convidados para, no
âmbito de uma
organização à qual
pertencemos, efetuarmos
um programa de televisão
para uma conhecida
televisão por internet,
que vai passar a ter
canais pagos.
Alertamos os
responsáveis pelo
departamento de
divulgação dessa
entidade estrangeira
para o fato de que o
conhecimento espírita
via internet não pode,
moralmente falando,
ser pago, pois só os
endinheirados teriam
acesso ao conhecimento,
e os pobres não,
repetindo, mais uma vez,
os erros que os
católicos cometeram com
o cristianismo
primitivo. A resposta
foi que, se o canal não
fosse pago, não
suportariam as despesas
e teriam de fechar esse
canal (entre outros que
são de livre acesso).
Retorquimos que se não
se consegue pagar, é
melhor não fazer nada do
que fazer asneira.
Pagar conhecimento
espírita é atraiçoar o
trabalho enorme de Allan
Kardec, e a essência de
todo o ensinamento dos
bons Espíritos.
O
Espiritismo não pode ser
um comércio para os
centros espíritas, nem
um modo de ganhar a vida
No Brasil, começam agora
a aparecer plataformas
espíritas com conteúdos
pagos.
Mesmo que com preços
simbólicos, tal situação
não se nos afigura
enquadrada dentro da
doutrina espírita, pois
que tal contribui para a
sectarização e
discriminação no acesso
à informação.
Numa altura em que o
acesso livre à
informação é uma
realidade cada vez
maior, em que inclusive
já se consegue fazer um
curso superior, em
ensino a distância,
gratuito, oferecer
conteúdos doutrinários
pagos é, no mínimo, um
retrocesso evolutivo,
depreciando o caminho da
evolução, bem como
perdendo oportunidade de
avançar moralmente,
dando o exemplo.
Na nossa opinião, não
são os espíritas que
devem seguir os exemplos
de uma sociedade de
mercado (o Espiritismo
não está à venda, dá-se,
pratica-se), mas sim
deveria ser a sociedade
consumista a seguir os
bons exemplos dos
espíritas, se estes
fossem o bom exemplo.
Num assunto tão
melindroso como este,
muitas ideias
diferenciadas
aparecerão, comparando
serviços pagos com os
livros, jornais, o que
não é comparável.
No entanto, aqui fica um
ponto de reflexão para
todos nós, espíritas,
para que reflitamos o
que estamos a fazer com
a doutrina espírita.
O nosso papel é
esclarecer e consolar,
estudar, vivenciar e
divulgar a doutrina dos
Espíritos, mas não a
qualquer preço, e muito
menos vivendo à custa do
Espiritismo.
Os fins não podem
justificar os meios e,
com o devido respeito
por quem pensa de
maneira diferente, uma
coisa é certa: a cada um
de acordo com as suas
obras, conforme nos
refere o Evangelho de
Jesus de Nazaré.