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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 491 - 13 de Novembro de 2016

MARCEL BATAGLIA
marcelbataglia@gmail.com
Balneário Camboriú, SC (Brasil)

 


Quando chegar a hora


“Felizes são aqueles que levam consigo uma parte das dores do mundo. Durante a longa caminhada, eles saberão mais coisas sobre a felicidade do que aqueles que a evitam.”

Qualquer ser vivo passa por duas grandes fases na vida, nascimento e morte física. Entre estes dois períodos, cada espécie possui os marcos de sua trajetória terrena, onde tudo ocorre no seu devido tempo. Um camundongo, por exemplo, em média não vive mais do que quatro anos; um gorila por sua vez pode ultrapassar os 40 anos de idade. Já o ser humano pode chegar até 120 anos, e cientificamente a vida humana é distribuída em quatro fases: infância, adolescência, adulta e velhice. 

A infância é o período que vai desde o nascimento até aproximadamente o 11º ano de vida de uma pessoa. É um período de grande desenvolvimento físico, marcado pelo gradual crescimento da altura e do peso da criança – especialmente nos primeiros três anos de vida e durante a puberdade. Mais do que isto, é um período onde o ser humano desenvolve-se psicologicamente, envolvendo graduais mudanças no seu comportamento e na aquisição das bases de sua personalidade. Neste estágio, o bebê é totalmente dependente de terceiros (geralmente dos pais) para quaisquer coisas, como locomoção, alimentação ou higiene. Neste período, o bebê aprende a sentar-se, a gatinhar, a andar, enfim, é o estágio da vida em que a criança cresce muito rapidamente. Este período é caracterizado pelo egocentrismo, pois o bebê não compreende que faz parte de uma sociedade, e o mundo para ele gira em torno de si mesmo.

Apesar de termos tido as mesmas experiências da inocência infantil, da ignorância de tantas coisas, ao nos tornarmos adultos, é como se esquecêssemos do que fizemos, do que éramos. Quando foi que deixamos de ser crianças? Quando foi que assumimos o papel de adulto no palco da vida, e muitas vezes zangado com o mundo? Quando foi que deixamos de apreciar algumas coisas simples, mas que nos davam imenso prazer?

A dor nos faz mais leves, quando extraído dela o sumo da sabedoria. De que adianta sofrermos e continuarmos os mesmos? De nada adianta sofrer e continuar com o mesmo pensamento, com os mesmos vícios. A dor sempre ensina, porém ela vai retirando, a golpes de cinzel, o que no bloco de mármore da vida não é beleza e não é escultura. O sofrimento quase sempre é compreendido apenas com o passar do tempo e quando a visão madura de nós mesmos sobrepõe-se ao imediatismo persistente na alma.

Todos os dias a vida nos brinda com suas surpresas. A natureza nos oferece o sol, o vento, o perfume das flores, tanto quanto a chuva, o frio e a neve.

Kardec, em O Livro dos Espíritos, diz que a civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males.

À medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral. De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais liberdade; em que exista mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque esses prejuízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo.

Nenhum de nós terá dons ou virtudes ofertadas como presentes injustificáveis da bondade divina. O que Deus nos oferece é a oportunidade de desenvolver dons e virtudes que ainda adormecem em nossa alma, esperando o esforço de cada um de nós. A vida é, pois, a oportunidade de desenvolver virtudes morais e dons intelectuais e é por isso que ela nos oferece embates, dores, dificuldades que serão sempre as oportunidades de progresso. Pense em quantos de nós, após um progresso doloroso e difícil em determinado momento da vida, saímos dele mais fortalecidos e maduros.

Se não nos apressarmos e deixar o tempo correr, quando chegar a hora e nos dermos conta, será tarde. Talvez não haja mais tempo para nos desculpar. Quem sabe, não haverá outra chance de apreciar o que há de mais belo no mundo, a vida.

A água que hoje passa debaixo da ponte, não será a mesma amanhã. A chuva de verão, contrastando com o sol, talvez não faça brilhar as mesmas cores do arco-íris que aparecerá no dia seguinte. É de esperar, sim, que deixemos nossas mazelas de lado e plantemos amor, compaixão e compreensão, para que, ao chegar o “ponto exato”, possamos colher a paz, o carinho, a paciência e o doce fruto da sabedoria, porque será com ela que manteremos nosso foco no progresso moral, intelectual e principalmente espiritual.

Por isso, como diz a redação do Momento Espírita em um de seus textos, Deus escolheu com esmerado cuidado a melhor família para nosso aprendizado, a melhor cidade para nosso progresso e as melhores condições da vida para as lições de que precisamos. Ele apenas espera que possamos, cada um de nós, bem aproveitar essas oportunidades que a vida nos oferece.




 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita