Paulo Batistuta Novaes:
“Nossa meta foi
construirmos um manual
prático”
O médico que organizou o
livro Capelania
Hospitalar Espírita,
publicado pela
Associação
Médico-Espírita do
Estado do Espírito Santo
fala sobre o conteúdo e
o objetivo da obra
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A surpreendente evolução
ocorrida nas últimas
décadas trouxe a
necessidade de discutir
aspectos da legislação,
das regras hospitalares,
dos avanços das ciências
médicas frente à nobre
missão de visitar
enfermos. Como levar
conforto espiritual,
compartilhar amor,
estimular paciência,
perseverança e fé num
ambiente tão complexo
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como os
hospitais,
aproveitando ao
máximo a
oportunidade?
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Além dos aspectos
eminentemente
burocráticos da
visitação, o livro
Capelania Hospitalar
Espírita procura
apresentar o olhar
médico, psicológico e
espírita do adoecimento,
oportunizando uma melhor
compreensão dos
fenômenos saúde, doença
e cura.
Escrito numa linguagem
direta e descomplicada
por 35 colaboradores de
várias cidades
brasileiras, traz
experiências práticas
para otimizar o trabalho
de Capelania Hospitalar.
Enfoca ainda situações
particulares, como as
que evolvem pessoas
apenadas, portadoras de
necessidades especiais
ou com ideação suicida,
dentre outras, além de
abordar aspectos do
luto.
Inspirado nos
ensinamentos do mestre
Jesus, foi estruturado
conforme a literatura
espírita. A obra,
editada pela Associação
Médico-Espírita do
Estado do Espírito
Santo, nasce do desejo
de unir mente, coração e
mãos a serviço dos
enfermos, difundindo o
paradigma
médico-espírita de amor
em ação. Preenchendo uma
lacuna na literatura
brasileira, contempla
aqueles que desejam
iniciar-se nessa tarefa,
bem como permite
reciclar os que já se
dedicam a esse mister.
Segue uma rápida
conversa com o Dr. Paulo
Batistuta Novaes
(foto),
ginecologista e membro
da Associação
Médico-Espírita do
Estado do Espírito
Santo, organizador do
livro em foco.
Como surgiu a ideia de
escrever um livro sobre
capelania hospitalar
espírita?
Desde que iniciamos os
trabalhos de capelania
na Associação
Médico-Espírita do
Estado do Espírito Santo
em 2013, ministramos um
curso preparatório de 6
horas para os
trabalhadores. Já
oferecemos este curso
para cerca de 500
pessoas. Como material
de apoio pedagógico, os
coordenadores
organizaram uma apostila
com os temas das aulas.
Essa apostila era
baseada nas experiências
profissionais de cada
instrutor e de textos
espíritas. Acontece que
ao pesquisarmos na
literatura espírita
trabalhos sobre esse
tema verificamos que
havia uma escassez de
textos e que os artigos
existentes eram, em
geral, bastante antigos.
Além dos textos da
codificação kardequiana,
há alguns textos de
André Luiz e de
Emmanuel, dos anos 1950
a 1970. Não encontramos
nada específico sobre os
hospitais
contemporâneos, tampouco
a experiência de
profissionais da área da
saúde. Da constatação
dessa lacuna na
literatura espírita é
que nasceu o desejo de
fazermos o livro, tendo
em vista o
grande incentivo que a
AME Brasil
vem devotando à capelania.
Então, aprovamos o
projeto do livro na
AMEEES, ampliamos nossa
apostila da AMEEES,
convidamos os autores
capixabas e os demais
colegas pelo Brasil
afora e o livro nasceu.
Quais os principais
pontos abordados na
obra?
Dividimos o livro em
quatro partes. Na parte
I são discutidos
aspectos doutrinários e
teóricos do Espiritismo,
assim como o tema
caridade na perspectiva
de Jesus e o método por
Ele empregado na
abordagem dos enfermos.
Também explora
características do
trabalhador que se
propõe a essa tarefa,
bem como um perfil do
enfermo assistido. Na
parte II são
apresentados aspectos
práticos da visitação.
Seu objetivo
é demonstrar o modus
operandi desse
trabalho, o passo a
passo desde a elaboração
de um projeto até as
reuniões de supervisão e
de avaliação. Assim,
aborda a preparação do
trabalhador para a
visita, o acesso ao
enfermo, a visita
propriamente dita, a
atuação junto aos
familiares e à equipe
hospitalar, a supervisão
do trabalho e questões
de biossegurança.
Discorre também sobre
voluntariado de modo
geral, suas normas e a
legislação pertinente em
vigor no Brasil. Na
parte III é apresentada
a experiência
desenvolvida na Região
Metropolitana de Vitória
(ES) pela Associação
Médico-Espírita do
Estado do Espírito Santo
- AMEEES. Assim, seu
projeto é esmiuçado,
detalhando como foi
conseguido o acesso aos
hospitais e como se
realizou a formação de
trabalhadores. Além
disso, alguns casos
interessantes são
relatados. Esta parte
ainda está enriquecida
com relatos de
experiências desenvolvidas
em outros estados, nos
municípios de São Paulo,
Piracicaba e
Cascavel. Por fim, na
parte IV apresentamos
estudos específicos,
incluindo aí
particularidades
próprias de grandes
categorias de doenças ou
tipos humanos em
diferentes situações de
vida, destacando algumas
enfermidades com suas
respectivas alterações
físicas, emocionais e
espirituais e seu
impacto no comportamento
dos enfermos, de seus
familiares e do ambiente
em que se encontram.
Nesta parte do livro
pretende-se esclarecer
aos visitadores aspectos
mais específicos sobre
terminalidade e cuidados
paliativos; internação
em UTI e em isolamento;
a criança hospitalizada;
pessoas com câncer; o
paciente apenado
internado no hospital; o
idoso; o sujeito com
ideação ou iniciativa
suicida; os pacientes
com doenças
cardiológicas,
neurológicas,
psiquiátricas e
portadores de
necessidades especiais.
Além dessas matérias, a
morte também mereceu um
capítulo, já que é uma
ocorrência frequente nos
hospitais e pode
surpreender o visitador
fraterno. Um assunto
eminentemente espírita
encerra esta parte:
manifestação mediúnica
durante a visita.
A visão exposta no livro
também leva em
consideração o apoio aos
familiares dos pacientes
e da equipe de
profissionais de saúde
que os atende?
Sim, esses assuntos
estão contemplados em
capítulos específicos.
Além disto, a própria
equipe de visitadores
merece ser cuidada e por
isto também há um
capítulo focado em ações
para fortalecer e
amparar o grupo de
voluntários.
É possível mapear a
realização desse serviço
nos hospitais? Quem
estiver interessado em
introduzir a capelania
em um hospital, como
deve proceder?
Nossa meta foi
construirmos um manual
prático que oriente
todos os passos para
realização do trabalho
de Capelania Espírita,
desde a organização de
um grupo até o
entendimento de
situações especiais.
Enfatizamos que o
objetivo da obra é levar
aos voluntários, que em
geral são leigos em
ciências da saúde,
subsídios para prestarem
o melhor atendimento
possível. Não
pretendemos apresentar
um tratado médico ou
mesmo um resumo das
doenças, mas sim
informações objetivas
para orientar iniciantes
e até mesmo reciclar
trabalhadores já
experientes nessa seara.
Portanto, primamos por
um texto claro, sem
rodeios e desprovido de
uma terminologia médica
difícil e inacessível ao
leigo. Por outro lado,
preocupamo-nos em
apresentar informações
técnicas atualizadas no
melhor status da
arte
médica. Consideramos
ainda que o voluntário
precisa, como premissa
para essa missão, de
amar, simplesmente amar.
Nesse sentido um livro
sobre o assunto poderia
soar como excessivo. Mas
também entendemos que a
compreensão de alguns
conteúdos médicos e
doutrinários facilitará
ao voluntário inserir-se
nessa obra em nosso
tempo, contextualizando
sua prática,
permitindo-lhe avançar
em algumas situações.
Daí a justificativa para
este compêndio. Não
pretendemos esgotar o
assunto, mas apenas
sensibilizar
companheiros para essa
tarefa e provocar uma
discussão que tem muito
a crescer.
Nota da autora:
O livro Capelania
Hospitalar
Espírita pode ser
adquirido na loja
virtual da AME Brasil em
http://lojaamasil.commercesuite.com.br/capelania-hospitalar-espirita-teoria-e-pratica-pr-112-377783.htm