Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro Obras Póstumas, publicado depois da desencarnação de Allan Kardec, mas composto com textos de sua autoria. O presente estudo baseia-se na tradução feita pelo Dr. Guillon Ribeiro, publicada pela editora da Federação Espírita Brasileira.
Questões para debate
206. A constituição do Espiritismo que consta desta obra é a mesma inserida por Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868?
207. Como se divide o texto que trata da constituição do Espiritismo?
208. Qual foi o motivo que levou o Codificador a ser tão minucioso em assuntos que fogem, propriamente falando, ao aspecto doutrinário do Espiritismo?
209. De todos os itens que compõem o texto em foco, há algum que se destaca por sua perenidade?
Respostas às questões propostas
206. A constituição do Espiritismo que consta desta obra é a mesma inserida por Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868?
Em parte sim, mas nesta obra foram incorporados ao texto os comentários que não constaram da Revista, os quais foram redigidos por Kardec pouco antes do seu falecimento e foram, provavelmente, os últimos manuscritos do Codificador. (Obras Póstumas – Segunda Parte – Constituição do Espiritismo.)
207. Como se divide o texto que trata da constituição do Espiritismo?
O texto, tal como aparece nesta obra, divide-se em dez tópicos:
I. Considerações preliminares
II. Dos Cismas
III. O Chefe do Espiritismo
IV. Comissão Central
V. Instituições Acessórias e Complementares da Comissão Central
VI. Extensão da Ação da Comissão Central
VII. Os Estatutos Constitutivos
VIII. Do Programa das Crenças
IX. Caminhos e Meios
X. Allan Kardec e a Nova Constituição. (Obras Póstumas – Segunda Parte – Constituição do Espiritismo.)
208. Qual foi o motivo que levou o Codificador a ser tão minucioso em assuntos que fogem, propriamente falando, ao aspecto doutrinário do Espiritismo?
Seus motivos estão expressos nas considerações preliminares, em que ele diz que o Espiritismo teve, como todas as coisas, seu período de criação, e até que todas as questões principais e acessórias que a ele se ligam tenham sido resolvidas, ele não pôde dar senão resultados incompletos. Pôde-se entrever-lhe o objetivo, pressentir-lhe as consequências, mas somente de maneira vaga. Da incerteza sobre os pontos ainda não determinados deveriam forçosamente nascer divergências sobre a maneira de considerá-los. A unificação não poderia ser senão obra do tempo; e ela se fez à medida que os princípios foram elucidados. Contudo, quando a Doutrina tiver abarcado todas as partes que ela comporta, formará um todo harmonioso, e só então é que se poderá julgar o que é verdadeiramente o Espiritismo.
Segundo Kardec, a Doutrina é imperecível, porque ela repousa sobre as leis da Natureza e, melhor que qualquer outra, responde às legítimas aspirações do homem; entretanto, sua difusão e sua instalação definitiva podem ser avançadas ou retardadas pelas circunstâncias, das quais algumas estão subordinadas à marcha geral das coisas, mas outras são inerentes à própria Doutrina, à sua constituição e à sua organização. Enquanto o Espiritismo não foi senão uma opinião filosófica, não poderia ter, entre os adeptos, senão a simpatia natural produzida pela comunidade das ideias, mas nenhum laço sério poderia existir entre eles por falta de um programa nitidamente definido. Tal é, evidentemente, a principal causa da pouca coesão e da pouca estabilidade dos grupos e sociedades que se formaram.
Dito isto, asseverou o Codificador do Espiritismo: “Teríamos feito uma coisa incompleta e deixado grande embaraço para o futuro, se não tivéssemos previsto as dificuldades que podem surgir. Foi tendo em vista evitar isso que elaboramos um plano de organização, para o qual aproveitamos a experiência do passado, a fim de evitar os escolhos contra os quais tropeçaram a maioria das doutrinas que apareceram no mundo”. (Obras Póstumas – Segunda Parte – Constituição do Espiritismo.)
209. De todos os itens que compõem o texto em foco, há algum que se destaca por sua perenidade?
Sim. No tópico que trata dos cismas, Kardec reafirma o caráter essencialmente progressivo da Doutrina Espírita. O princípio progressivo – diz ele – será a salvaguarda de sua perpetuidade, e sua unidade será mantida precisamente porque ela não repousa sobre o princípio da imobilidade, visto que a imobilidade, em lugar de ser uma força, se torna uma causa de fraqueza e de ruína, para quem não segue o movimento geral. Contudo, . seguindo em tudo o movimento progressivo, é necessário fazê-lo com prudência e guardar-se de dar-se, temerariamente, aos sonhos das utopias e dos sistemas; é preciso fazê-lo a tempo, nem muito cedo e nem muito tarde, e com conhecimento de causa.
Exclusivamente apoiada sobre as leis da Natureza, a Doutrina não pode variar mais do que essas leis, mas, se uma nova lei for descoberta, deve a ela ligar-se e não deve fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Desse modo, assimilando todas as ideias reconhecidas justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, a Doutrina não será jamais ultrapassada, e aí está uma das principais garantias da sua perpetuidade. (Obras Póstumas – Segunda Parte – Constituição do Espiritismo.)