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Um minuto com Chico Xavier

Ano 10 - N° 494 - 4 de Dezembro de 2016

REGINA STELLA SPAGNUOLO
rstella10@yahoo.com.br
Botucatu, SP (Brasil)
 


Chico precisava trabalhar. E trabalhava muito para cumprir o combinado com Emmanuel. Em 1941, colocou no papel uma de suas obras preferidas, Paulo e
Estêvão, ditada por seu guia. Durante oito meses, ele se trancou no porão da casa do patrão Rômulo Joviano, na Fazenda Modelo, após o expediente. Todas as noites, das 17h15 à 1h, desfilaram, diante de seus olhos, numa tela imaginária, cenas de 2 mil anos atrás, sequências da vida dos apóstolos de Cristo, imagens de Roma antiga.

O trabalho era pesado. Chico preenchia as páginas em branco com textos assinados por seu guia, passava a limpo os originais, datilografava tudo na máquina emprestada pelo patrão e apagava o que tinha escrito a lápis para reaproveitar o papel. O salário continuava curto.

A mulher de Rômulo, Wanda Joviano, mandava uma empregada lhe servir um lanche e escalava um funcionário para deixar o rapaz em casa de charrete. Havia apenas uma condição: ele deveria estar de volta, pontualmente, às 7h30 no dia seguinte. Enquanto escrevia Paulo e Estêvão, Chico teve um companheiro constante e compenetrado: um sapo enorme. No início, o rapaz olhou desconfiado para o bicho. Emmanuel acalmou o protegido. O animal também era filho de Deus, uma forma de transição. Chico se acostumou com o espectador, embora o achasse estranho.

Todas as tardes, o bicho o esperava na entrada do porão, acompanhava-o até a mesa e ficava quieto num canto. Quando o escritor saía, ele saía junto e sumia no mato. No dia seguinte, estava lá, a postos, pronto para outra. Chico teve crises de choro durante os oito meses de trabalho. Quando pingou o ponto final na obra, viu um Espírito desmontar uma espécie de painel, que transformava aquele cômodo numa cabine isolada do mundo. Começou a sentir saudades dos personagens do livro, saudades da viagem no tempo, gratidão a Emmanuel. Precisava agradecer.

Correu os olhos pelo quarto subterrâneo e deparou com o sapo. Tudo resolvido. Encarou o animal e garantiu: - Irmão sapo, a graça divina há também de brilhar para você.

Daquele dia em diante o bicho sumiu. A Roma antiga também, mas outras imagens nítidas entraram em cartaz no cinema particular do ex-matuto de Pedro Leopoldo. Algumas sequências eram assustadoras. Assombrações o ameaçavam de morte, espíritos encapuzados invadiam seu quarto, visitas com pés caprinos chegavam à beira da cama dele. Nem sempre seu guia estava por perto.

Numa das "tardes de folga" de Emmanuel, Chico escrevia um relatório na Fazenda Modelo quando, de repente, seu rosto ficou branco, quase transparente, e se contraiu. O datilógrafo deixou escapar um gemido enquanto lançava a mão sobre o ombro. Parecia infartado. O colega de repartição correu em busca de ajuda e, quando voltou, com um veterinário a tiracolo, encontrou a vítima já recuperada. Quis saber o que houve e escutou uma história mirabolante. Há dias, dois espíritos ameaçavam matar o autor de Paulo e Estêvão. Naquela tarde, eles apareceram de supetão. Um deles sacou um revólver e, sem dizer uma só palavra, apertou o gatilho. Ao ouvir o estampido, Chico saltou para o lado, mas não foi ágil o suficiente para impedir que a bala atingisse seu ombro de raspão. Ninguém viu nem ouviu nada e Chico ficou oito dias seguidos com o ombro dolorido. De vez em quando, o espírita surpreendia os amigos mais íntimos com revelações espantosas.
 

Do livro As Vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita