A. Como
explicar os
fatos
pertinentes
ao Caso 8,
segundo o
qual o
comunicante
se
encontrava
lúcido e
perfeitamente
acordado no
momento em
que a
comunicação
foi
transmitida?
O Caso
8,
relatado na revista Luce
e Ombra pelo
Dr. Achille
Uffreducci,
professor na
Universidade
de Roma,
foge,
evidentemente,
à tese
espírita de
que o
Espírito de
um vivo pode
apresentar-se
sem ser
evocado, mas
é necessário
que durante
o processo
ele esteja,
habitualmente,
dormindo ou
cochilando.
No episódio
relatado, o
comunicante
(Dr. Antônio
Palica)
estava no
teatro e os
dois amigos
que se
encontravam
com ele
afirmaram
que, durante
todo o
tempo, ele
não dormiu
nem
cochilou. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
B. Além de
não se
enquadrar no
padrão
considerado
normal nesse
tipo de
comunicação,
que outra
circunstância
estranha foi
apontada
pelo
professor
no episódio
acima
mencionado?
Ele
estranhou o
caráter
leviano e
jovial da
personalidade
mediúnica
que dizia
ser o Dr.
Antônio
Palica,
mostrando-se,
no entanto,
em flagrante
contradição
com a
seriedade do
caráter e a
correção dos
modos do Dr.
Palica, isso
sem contar
que, no
momento em
que se
verificou a
comunicação,
o suposto
agente se
encontrava
no teatro,
absorto na
representação
a que
assistia. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
C. Pode a
comunicação
a que nos
referimos,
embora
verídica,
ter sido
dada por um
Espírito
mistificador?
Sim. Uma vez
reconhecido
que a
personalidade
comunicante
não era o
que afirmava
ser, então
só restam
duas
hipóteses
para
explicação
dos fatos.
Por uma
dessas
hipóteses,
que foi
acolhida
pelo
professor
que os
relatou,
tratar-se-ia
de uma
“inteligência
oculta”,
mascarada de
Antônio
Palica, que
se divertia
à custa dos
experimentadores. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
Texto para
leitura
106. Caso
8 – Este
caso foi
extraído da
revista Luce
e Ombra (1910,
pág. 85). O
Dr. A. U.
Anastadi
(pseudônimo
do Dr.
Achille
Uffreducci,
professor na
Universidade
de Roma)
narra nele a
seguinte
experiência
pessoal:
O Dr.
Antônio
Palica era
diretor do
Hospital São
João. As
relações
entre nós
dois foram
sempre
ótimas,
porém
giravam mais
em torno de
nossa
profissão
comum do que
nos
sentimentos
profundos de
uma estreita
amizade.
Nunca, entre
nós, saíra
palavra
alguma sobre
mediunidade
nem
fenômenos
semelhantes
e nunca eu
soube de sua
opinião a
respeito.
Cinco dias
antes de
acontecer o
fato que vou
narrar, eu
tinha ido ao
Hospital São
João para
ver uma
doente, e
naquela
ocasião
saudara, com
grande
prazer, o
velho colega
Palica.
Agora, um
olhar para o
outro lado.
Entre o Dr.
M.,
cirurgião
num hospital
de Roma, e
eu não havia
relações de
qualquer
natureza.
Éramos
simples
conhecidos e
nos
limitávamos
a saudações
com
movimento da
cabeça em
ocasionais
encontros de
rua. Ambos
receitávamos
na mesma
Farmácia
Scolba
(Praça S.
Carlo al
Corso),
porém quase
nunca nos
encontrávamos
lá.
Conservemos
em mente
estas notas
preliminares
para delas
nos
servirmos em
tempo
oportuno, e
vamos ao
fato em
questão.
Certa noite
de inverno,
fria e
chuvosa,
voltei para
casa um
tanto
indisposto
devido ao
mau tempo.
Tirei as
roupas
molhadas e,
vendo que o
fogo ainda
estava
aceso, para
espantar o
frio
coloquei
sobre os
ombros uma
manta já
gasta que vi
em cima de
uma cadeira,
manta da
qual já se
havia tirado
o pano para
renovar,
enquanto a
pele, de
ótima
qualidade,
estava muito
bem
conservada.
Depois do
jantar, eu e
minha esposa
colocamos as
mãos sobre
uma mesinha,
como
costumávamos
fazer de vez
em quando.
Não eram
raros os
fenômenos, e
recebíamos
mensagens
curiosas e
algumas
vezes
importantes,
conquanto
nenhum de
nós tivesse
consciência
de possuir
dons
mediúnicos.
Naquela
noite
recebemos a
seguinte
comunicação
tiptológica,
que
transcrevo
com o máximo
escrúpulo,
palavra por
palavra:
– Lamento
que tenhas
posto esta
manta
indecente
(disse a
entidade).
– Pouco me
importa
(respondi).
Não te
incomodes
com isto.
Queira
dizer-me
antes quem
és, e o que
desejas de
mim.
– Sou
Antônio
Palica.
– Antônio
Palica, o
médico?
– Sim,
precisamente
ele, em
carne e
osso.
Dirigindo-me
à minha
mulher,
digo:
– Pobre
Palica.
Sinto que
tenha
falecido.
Era um bom
médico e
pessoa
distinta.
– Sim, pobre
homem –
disse minha
esposa –,
embora o
conhecesse
pouco, mas
já devia ser
bem idoso.
– Mas, o que
estás
dizendo aí?
Vê que não
estou morto!
– Como? Não
estás morto?
– Não, pelo
contrário,
nunca estive
tão bem e
tão forte
como agora.
– Está bem –
disse eu
irado –,
bravos!
Amanhã de
manhã eu
voltarei ao
hospital São
João para
ver aquela
doente e te
apertarei a
mão. Adeus!
– No
Hospital São
João não me
encontrarás
– respondeu
rápido.
– Então não
me enganei
ao supor que
morreste,
por estares
aqui
presente,
comunicando-te
pela
mesinha.
– Não. Estás
enganado.
Estou tão
morto como
tu, vivo,
supervivo,
mas no São
João não me
encontrarás.
– Por quê? A
que horas
sairás
então?
– Não
sairei, mas
não me
encontrarás
lá.
– Não te
encontrarei,
como dizes,
está bem,
mas se não
saíres,
estarás
sempre no
Hospital.
– Não, não
estarei. Não
estarei lá.
– Então
sairás esta
noite.
– Não, não e
não. Não
terei saído
anteontem,
nem ontem,
nem hoje,
nem esta
noite, nem
amanhã,
nem...
– Nem por
toda a
eternidade.
– disse eu
enfadado –
Está bem,
vai-te
embora. Fica
entendido
que, se não
saíres,
estarás
mesmo no
Hospital São
João.
– Não
sairei, mas
não estarei
lá.
Nesse
momento
bufei de
raiva.
– Ora, vamos
– continuou
ele –, não
estarei lá,
não me
encontrarás
e não
irás lá,
mas amanhã o
Dr. M.
revelar-te-á
o mistério.
A esta
afirmativa,
que me
parecia o
cúmulo da
insensatez,
perdi
completamente
a paciência
e exclamei:
Que
aborrecimento!
Que nos vem
fazer agora
aqui o Dr.
M., que só
conheço de
vista?
Queres
divertir-nos
com a tua
brincadeira.
Boa noite e
bom
descanso.
Minha esposa
e eu,
convencidos
de estarmos
sendo
enganados
por algum
espírito
zombeteiro,
que queria
divertir-se
à nossa
custa, nos
levantamos e
naquela
noite não se
tratou mais
do caso.
Na manhã
seguinte, por
circunstâncias
imprevistas,
não pude ir
ao Hospital
São João,
como
pretendia, e
não fui de
manhã à
Farmácia
Scolba, como
costumava,
mas somente
às 10:30.
Estava para
sair quando
entrou o Dr.
M. Mal pôs
este o pé na
porta,
dirigiu-se
ao Sr.
Scolba, em
tom agitado,
e lhe disse:
– Hoje pior
do que
ontem, meu
caro
Orestes. Não
aguento
mais. Vou
agora mesmo
à Diretoria
Geral para
pedir a
minha
transferência.
– Que te
aconteceu? –
perguntou
com
interesse um
colega
presente.
– Aconteceu
é que não
aguento mais
aquele
energúmeno
que é o
Palica.
Parece que
tomou conta
de mim. Há
quatro dias
que não me
dá um
momento de
folga. Todo
o tempo que
passo no
Hospital,
anda à roda
de mim, e
“Caro
Professor –
diz-me ele –
por favor,
mude isto,
troque
aquilo,
escolha
outra hora
para aquilo,
será melhor
que escolha
outra sala
para...” Em
resumo,
palavra de
honra, não
posso mais!
– O senhor
ainda está
no Hospital
São João? –
perguntei ao
Dr. M.
– Não. –
respondeu-me
ele – Há
perto de um
ano que
estou no
Santo
Antônio.
– E o que
tem o Palica
com o
Hospital
Santo
Antônio, se
ele é
diretor do
São João?
– O Palica
não é mais
diretor do
São João. –
respondeu-me
o Dr. M. –
Foi
transferido
para o Santo
Antônio e,
por falta de
sorte minha,
há quatro
dias que
tomou posse
do novo
cargo.
Comecei
então a
pensar na
sessãozinha
da noite,
com o seu
disparatado
enredo, isto
é:
1º) A
aparente
comunicação
de um vivo.
2º) A
apresentação
do Dr.
Palica com
humorismo,
quando, ao
contrário,
ele é
amável,
sério e
cortês.
3º) A
minha
ignorância
quanto à
mudança de
residência
do Palica,
coisa que
nem por
sombra eu
poderia
imaginar.
Pelo
contrário,
eu estava
mais que
persuadido
de que
continuava
no São João,
onde o havia
cumprimentado
cinco dias
antes e nada
indicava uma
transferência
que ele
mesmo estava
longe de
supor.
4º) A
indicação da
maneira com
que me seria
esclarecida
a coisa,
isto é, por
meio de um
terceiro que
eu conhecia
apenas de
vista e no
qual não
pensava nem
muito nem
pouco, e que
minha esposa
não
conhecia,
nem mesmo de
nome.
5º) a
premonição
verificada
minuciosamente:
a) pela
indicação do
dia
(amanhã); b)
as horas (da
manhã); c) a
pessoa (Dr.
M.) e d) a
transferência
levada ao
meu
conhecimento.
Na manhã
seguinte não
deixei de ir
ao Hospital
Santo
Antônio,
onde
encontrei o
Palica em
grande
atividade
nas
modificações
que reputava
indispensáveis
no serviço
hospitalar.
Explicou-me
logo,
enfaticamente,
o porquê da
repentina
mudança de
residência
em que nunca
havia
pensado.
Arquitetei
um discurso
para cair
justamente
onde eu
queria, mas
não consegui
surpreender
nele uma
palavra
sequer sobre
o assunto.
Soube apenas
que, na
noite da
estranha
comunicação,
o Dr. Palica
tinha ido ao
teatro,
detalhe que
não deixei
de
verificar.
Não houve
nenhuma
evocação.
Ensina a
doutrina
espírita que
o espírito
de um vivo,
em seus
momentos de
liberdade,
pode se
apresentar
sem ser
evocado,
movido
somente pela
simpatia,
mas em tal
caso o corpo
habitualmente
dorme ou
cochila. Em
nosso caso,
o Dr. Palica
estava no
teatro, e os
dois amigos
que se
encontravam
com ele
afirmam que,
durante todo
o tempo, ele
não dormiu
nem
cochilou.
Desnecessário
é gastar
palavras
para provar
que o
fenômeno não
era de
origem
subconsciente
ou
automática.
Por outro
lado, o
Palica não
se achava
absolutamente
em estado de
inconsciência
completa,
nem de
semiconsciência,
mas sim em
estado de
perfeita
vigília, com
a atenção
atraída e
distraída em
coisas em
tudo
diferentes
do que me
dizia
respeito;
portanto,
faltavam
completamente
todas as
condições
exigidas
para que se
verificassem
comunicações
mediúnicas
de vivos,
isto é, sono
fisiológico,
hipnótico,
magnético,
desmaio,
coma ou
outro estado
mórbido
semelhante.
Logo, a
causa não
podia ser
encontrada
na
personalidade
de quem
aparecia
como
presente à
mesa da
sessão e,
contudo, o
fenômeno
devia ser de
origem
extrínseca.
Precisamos,
por
conseguinte,
contentar-nos
com o guia
de Allan
Kardec, que
afirmou (e
com razão
até o
momento) que
a única
hipótese
explicativa
plausível é
a de alguma
inteligência
oculta que
se tenha
mascarado
(em nosso
caso) de
Antônio
Palica para
divertir-se
à nossa
custa.
Nenhum outro
dos
argumentos
habituais
pode
decifrar a
confusão.
Pondo-se em
movimento
“cerebrações”
de toda
sorte,
“desdobramentos”,
“psiquismos
superiores”,
“polígonos”,
“elétrons
vorticosos”
ou
“vorticons
electrosos”
(troços
demais para
ser
verdade),
afastamo-nos
completamente
do terreno
científico e
elevamo-nos,
com toda a
pressão, às
disparatadas
regiões das
“Mil e uma
Noites
Subliminais”.
a) Dr. A. U.
Anastadi. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
107. As
considerações
que o
incidente
exposto
sugere ao
Dr. Anastadi
parecem
racionais e
incontestáveis,
desde o
caráter
leviano e
jovial da
personalidade
mediúnica
que dizia
ser o Dr.
Palica,
mostrando-se
em flagrante
contradição
com a
seriedade do
caráter e a
correção dos
modos deste,
e isto sem
contar que,
no momento
em que se
verificou o
incidente, o
suposto
agente se
encontrava
no teatro,
absorto na
representação
em curso. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
108. E uma
vez
reconhecido
que a
personalidade
comunicante
não era o
que afirmava
ser, então
só restam
duas
hipóteses
para
explicação
dos fatos.
Por uma
dessas
hipóteses, a
que é
acolhida
pelo
relator,
tratar-se-ia
de uma
“inteligência
oculta”,
mascarada de
Antônio
Palica, que
se divertia
à custa dos
experimentadores. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
109. Na
outra
hipótese,
tratar-se-ia,
ao
contrário,
de uma
personificação
subconsciente
e nada mais.
A propósito,
porém, desta
última
hipótese,
não se pode
deixar de
refletir que
as
personalidades
subconscientes,
sejam elas
de ordem
hipnótica ou
sonambúlica,
chegam a
imitar, mais
ou menos
bem, as
características
que
distinguem
bem a
personalidade
representada,
mas estão
muito longe
de fornecer
informações
verdadeiras,
ignoradas
pelo médium
e todos os
presentes, e
muito menos
ainda, de
predizer
incidentes
futuros,
como no caso
do episódio
em pauta. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
110.
Segue-se daí
que a
segunda
interpretação
dos atos é
muito menos
justificável
do que a
primeira,
conquanto
também a
primeira
apresente
aspectos bem
misteriosos
para cuja
elucidação
nos
estenderíamos
em longa
discussão
estranha ao
nosso tema e
que,
portanto,
omitiremos. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
111. Do
nosso ponto
de vista, o
ensino
teórico a
extrair
cumulativamente
do caso
exposto e do
que o
precede,
consiste
nisso: que
um e outro
não podem
ser
explicados
estendendo a
hipótese das
comunicações
entre vivos
também aos
casos em que
o agente se
acha em
estado de
vigília e
sem pensar
no
percipiente. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B)
112. Ora,
refletindo
que, numa
coleção de
154 casos
recolhidos,
os episódios
citados são
os únicos
que
aparentemente
se levantam
a favor de
uma tal
extensão da
hipótese em
exame, daí
decorre que
se deve
considerar
arbitrária e
errônea
qualquer
solução em
tal sentido,
devido à
perplexidade
teórica
suscitada
pelos casos
análogos aos
citados.
Importante
conclusão
que não se
deve
esquecer. (2ª
Categoria:
Mensagens
mediúnicas
entre vivos
e à
distância.
Subgrupo B) (Continua
no próximo
número.)