Sexo e Obsessão
Manoel Philomeno
de Miranda
(Parte 24)
Damos sequência
ao estudo metódico
e sequencial do
livro Sexo e Obsessão,
obra de
autoria de
Manoel Philomeno
de Miranda,
psicografada por
Divaldo P.
Franco
e publicada originalmente em 2002.
Questões
preliminares
A. A renúncia ao
que é secundário
– o mundo físico
– ante o que é
primordial – o
mundo espiritual
– é realmente
importante para
a criatura
humana?
Sim. Foi exatamente essa a ideia que a
autoridade eclesiástica disse em seu sermão,
momentos antes de tratar do caso que
envolvia o padre Mauro, seu pupilo e amigo.
Segundo o Bispo, devemos na vida eleger
primeiro as opções que conduzem ao reino dos
Céus, porque de sabor eterno, enquanto que
as outras, mesmo quando aparentemente
importantes, não merecem mais do que a
consideração relativa que lhes cabe.
Aqueles que sabem escolher, sempre logram
receber além do que foi buscado, recebendo,
por acréscimo de misericórdia, muito mais,
tudo quanto lhes é acrescentado. (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)
B. Que providências o Bispo anunciou com
relação ao padre Mauro?
Como já vimos, o padre Mauro houvera-o
buscado, macerado por sincero
arrependimento, tentando reparar, através da
confissão, o crime que, não fosse a
intervenção providencial da diretora da
escola, poderia haver praticado. Ele
reconhecia sua culpa, e não sabia explicar
por que fora vítima de tão penoso processo
de loucura. Visivelmente perturbado, viera
buscar-lhe o auxílio e suplicar pelos meios
próprios para a reparação de tão degradante
tentação. Em face disso, o eclesiástico
decidiu que Mauro seria inicialmente
encaminhado a uma clínica psiquiátrica,
mantida pela Igreja para casos de tal
natureza, e após o tratamento, que o Bispo
considerava indispensável, Mauro receberia a
punição canônica, conforme a gravidade do
delito prevista no Direito, com vistas assim
a que o mal não mais se repetisse. (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)
C. As providências tomadas pelo Bispo não
constituiriam um risco para o futuro da
própria instituição?
Sim, mas ele preferiu correr esse risco,
confiante no sincero esforço do paciente e
no tratamento a que se permitira submeter.
Ele próprio buscaria a melhor clínica para o
seu pupilo e dar-lhe-ia assistência pessoal,
a fim de que o enfermo não enveredasse pela
loucura ou viesse a cometer o hediondo crime
do suicídio, tal a gravidade da situação em
que se encontrava. Eram, na visão de Manoel
Philomeno de Miranda, reflexões bem urdidas,
porque, se não fosse a ajuda divina, Mauro
ter-se-ia suicidado às vésperas, ou mesmo
antes, conforme fora a isso induzido pelos
seus inimigos espirituais. Embora a
excepcional gravidade do ato execrável do
jovem padre, o Bispo optou por não
evidenciar o mal, nem dar-lhe notoriedade,
que em nada auxiliaria a sociedade, e
possivelmente mais a perturbaria. (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)
Texto para leitura
118. Importante
a renúncia ao secundário –
O trecho lido tratava de comentários do
Mestre em decorrência do Sermão das
Bem-aventuranças, essa fonte inexaurível da
qual a criatura pode retirar o pão nutriente
da coragem para o enfrentamento das
vicissitudes, mantendo-se otimista e feliz.
Depois de reflexionar por breve momento, o
eclesiástico ergueu a voz expressiva e
exortou os ouvintes à mudança de
comportamento, em relação a Deus, a si
mesmos e à convivência com o seu próximo.
Procurou estabelecer paralelos entre o que
se pode, mas não é lícito realizar, e aquilo
que se deve, porém não é oportuno fazer.
Essa tomada de consciência leva o indivíduo
relutante entre os valores do mundo e os de
Deus a eleger primeiro aqueles que conduzem
ao reino dos Céus, porque de sabor eterno,
enquanto que os outros, mesmo quando
aparentemente importantes, têm o valor que
lhes é atribuído, não merecendo mais do que
a consideração relativa de que se revestem.
Procurou evidenciar a necessidade da
renúncia ao secundário - o mundo físico -
ante o primordial - o mundo espiritual -,
assim optando pelas questões superiores do
Espírito imortal na sua busca de plenitude.
Concluiu, informando que aqueles que sabem
escolher, sempre logram receber além do que
foi buscado, recebendo, por acréscimo de
misericórdia, muito mais, tudo quanto lhes é
acrescentado. Concluído o sermão ante a
emoção de alguns sinceros ouvintes, que
procuraram introjetar os ensinamentos, ao
tempo em que se harmonizavam interiormente,
o Bispo deu prosseguimento ao ato litúrgico,
logo encerrando-o e recolhendo-se, em
seguida, à sacristia. (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)
119. A
conversa da diretora da escola com o Bispo –
Terminadas as saudações de alguns fiéis, à
medida que a Igreja se esvaziava e à
movimentação sucedia a tranquilidade, o
casal assinalado para a entrevista aguardava
o momento oportuno, sem ocultar a ansiedade
e a angústia de que se via possuído. Foi o
senhor Bispo quem tomou a iniciativa de
convidar os esposos a que se acercassem da
imensa mesa que se encontrava no centro da
sala, propondo-os sentar-se e logo dando
início à conversação anelada. Não havia
ninguém mais, além deles. Foi o esposo de D.
Eutímia, o Sr. Renato, quem deu início à
narrativa, explicando que a consorte, depois
de muito abalada com o acontecimento que
relataria logo mais, confidenciou-lhe o
ocorrido, convencionando-se que ninguém
melhor do que a autoridade eclesiástica para
orientar o comportamento desejável naquele
momento grave e diante do acontecimento de
alta relevância. Bom ouvinte, acostumado às
confissões auriculares, o Bispo tinha o
cenho carregado, demonstrando preocupação
compreensível enquanto preservava a atenção
alerta. A senhora, algo constrangida, narrou
ao prelado o fato sem exagero nem omissão, e
o consequente choque de que se sentiu
acometida, havendo expulsado o sacerdote das
dependências escolares. Não negava a
surpresa que a acometera, ante o ato que
considerava aberrante e criminoso,
considerando-se ainda a gravidade de ser
praticado por um religioso que pervertia uma
criança. Elucidou, igualmente, que não
presenciara qualquer cena de sexo explícito,
mas implícito, em face das circunstâncias e
caracteres com que se apresentava o padre
envolvido pelos desejos lúbricos em relação
ao infante, havendo agradecido a Deus poder
haver interrompido o que seria um ato
ominoso.(Sexo e Obsessão, capítulo 13:
Decisões felizes.)
120. Providências
anunciadas pelo Bispo –
Após um momento de silêncio, a dama aludiu
ao sonho de que fora objeto, acreditando
tratar-se de uma resposta divina às suas
orações, após o qual se sentira muito calma
e confiante no futuro, apoiando-se na
certeza de que agira corretamente, ao salvar
a criança das garras do explorador
impiedoso. O sacerdote concordou plenamente
com ela. Sem ocultar o seu sofrimento,
disse-lhe que o padre Mauro houvera-o
buscado, macerado por sincero
arrependimento, tentando reparar, através da
confissão, o crime que, não fosse a
intervenção providencial da diretora,
poderia haver praticado... Ele reconhecia a
culpa, e não sabia explicar por que fora
vítima de tão penoso processo de loucura.
Visivelmente perturbado, viera buscar-lhe o
auxílio, que lhe seria concedido, e suplicar
pelos meios próprios para a reparação de tão
degradante tentação. Com muito tato
psicológico, evitou comentar as aberrações
confessadas pelo seu discípulo, não
divulgando desnecessariamente o mal, que
sempre redunda em nefastas consequências
quando ocorre ampliação dos comentários em
torno dele. Aludiu às providências que
seriam tomadas, inicialmente encaminhando o
jovem a uma clínica psiquiátrica, mantida
pela Igreja para casos de tal natureza que,
embora não fossem frequentes, aconteciam, em
razão da fragilidade moral das estruturas
humanas nas suas personalidades doentias ou
atormentadas. Após o tratamento, que
considerava indispensável, o sacerdote
receberia a punição canônica, conforme a
gravidade do delito prevista no Direito, e o
mal não mais se repetiria. “Para evitar-se
desnecessário escândalo - propôs com cautela
- evitaremos comentar o infeliz incidente e
explicaremos que, por motivo de saúde, o
padre Mauro está viajando a tratamento fora
da cidade, assim interrompendo as suas aulas
de catecismo e as outras que ministra na
Escola.” (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)
121. A
dificuldade que os homens têm com relação ao
sexo –
Após a fala do Bispo fez-se um silêncio
pesado, no qual todos demonstravam
sofrimento e angústia. O eclesiástico,
compreensivelmente comovido, agradeceu ao
casal pela sua excelente cooperação,
confirmou as providências que já estavam em
andamento, e abençoou-os, dispensando-os, a
fim de que pudessem retornar ao lar em clima
de paz. De sua parte, desejava evitar que
fosse percebido o seu constrangimento e
decepção, pois que o jovem sacerdote era-lhe
muito estimado e, de alguma forma, credor da
sua confiança até o momento em que narrara o
drama que o acometia. Reconhecia que o sexo
constituía um terrível aguilhão cravado na
alma de todos os seres, especialmente os
humanos, nem sempre fácil de ser arrancado,
senão através da oração, de sacrifícios e
renúncias, abnegação e fé na Divina
Providência. Ele mesmo tivera que vencer
inúmeras etapas do processo de superação dos
impulsos, de modo a manter-se em paz,
aquietando as ansiedades do corpo e do
coração. Através do amor ao seu rebanho, dos
serviços religiosos a que se afervorara,
conseguiu, com a bênção do tempo e os
exercícios espirituais, tranquilizar-se, não
tombando em perturbação nem em algum crime
decorrente do seu uso. D. Eutímia e o esposo
saíram reconfortados, especialmente por
haverem tomado as melhores atitudes que o
caso requeria, e por saberem das medidas
preventivas e outras ocorrências da mesma
natureza, também punitivas em relação ao
infrator, sem negar-lhe a oportunidade da
regeneração. Eram comportamentos sábios,
aqueles que estavam em curso, já que não se
pode destruir o infrator a pretexto de
aniquilar o delito, nem inutilizar o
criminoso, antes, porém, auxiliá-lo a
libertar-se do crime e redimir-se perante a
sociedade. (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)
122. O
porquê das medidas tomadas pelo Bispo –
Embora a excepcional gravidade do ato
execrável do jovem padre, o Bispo optou por
não evidenciar o mal, nem dar-lhe
notoriedade, que em nada auxiliaria a
sociedade, e possivelmente mais a
perturbaria. Foi delineado assim um programa
operacional específico, e ele pôs-se a agir,
sem comunicar a outras autoridades
eclesiásticas ou ao poder civil, para os
corretivos necessários, conforme
estabelecidos pelo Código Penal, com a
intenção de proporcionar ao infeliz
equivocado a reabilitação, mediante a qual
poderia auxiliar ainda a sociedade no
futuro. Naturalmente, receou que o drama
tomasse novo curso no porvir, o que não é
raro de acontecer. No entanto, preferiu
correr o risco, confiante no sincero esforço
do paciente e no tratamento a que se
permitira submeter. Ele próprio buscaria a
melhor clínica para o seu sacerdote e
dar-lhe-ia assistência pessoal, a fim de que
o enfermo não enveredasse pela loucura ou
viesse a cometer o hediondo crime do
suicídio, tal a gravidade da situação em que
se encontrava. Eram reflexões bem urdidas,
porque, não fosse a ajuda divina, e Mauro
ter-se-ia suicidado às vésperas, ou mesmo
antes, conforme fora a isso induzido pelos
seus inimigos espirituais... Ficariam para o
dia seguinte as providências que deveriam
ter o seu curso normal. (Sexo
e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) (Continua
no próximo número.)