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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda

Ano 10 - N° 503 - 12 de Fevereiro de 2017

THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)
 

 

Sexo e Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda

(Parte 24)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro Sexo e Obsessão, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada originalmente em 2002.

Questões preliminares 

A. A renúncia ao que é secundário – o mundo físico – ante o que é primordial – o mundo espiritual – é realmente importante para a criatura humana?

Sim. Foi exatamente essa a ideia que a autoridade eclesiástica disse em seu sermão, momentos antes de tratar do caso que envolvia o padre Mauro, seu pupilo e amigo. Segundo o Bispo, devemos na vida eleger primeiro as opções que conduzem ao reino dos Céus, porque de sabor eterno, enquanto que as outras, mesmo quando aparentemente importantes, não merecem mais do que a consideração relativa que lhes cabe.  Aqueles que sabem escolher, sempre logram receber além do que foi buscado, recebendo, por acréscimo de misericórdia, muito mais, tudo quanto lhes é acrescentado. (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) 

B. Que providências o Bispo anunciou com relação ao padre Mauro? 

Como já vimos, o padre Mauro houvera-o buscado, macerado por sincero arrependimento, tentando reparar, através da confissão, o crime que, não fosse a intervenção providencial da diretora da escola, poderia haver praticado. Ele reconhecia sua culpa, e não sabia explicar por que fora vítima de tão penoso processo de loucura. Visivelmente perturbado, viera buscar-lhe o auxílio e suplicar pelos meios próprios para a reparação de tão degradante tentação. Em face disso, o eclesiástico decidiu que Mauro seria inicialmente encaminhado a uma clínica psiquiátrica, mantida pela Igreja para casos de tal natureza, e após o tratamento, que o Bispo considerava indispensável, Mauro receberia a punição canônica, conforme a gravidade do delito prevista no Direito, com vistas assim a que o mal não mais se repetisse. (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) 

C. As providências tomadas pelo Bispo não constituiriam um risco para o futuro da própria instituição? 

Sim, mas ele preferiu correr esse risco, confiante no sincero esforço do paciente e no tratamento a que se permitira submeter. Ele próprio buscaria a melhor clínica para o seu pupilo e dar-lhe-ia assistência pessoal, a fim de que o enfermo não enveredasse pela loucura ou viesse a cometer o hediondo crime do suicídio, tal a gravidade da situação em que se encontrava. Eram, na visão de Manoel Philomeno de Miranda, reflexões bem urdidas, porque, se não fosse a ajuda divina, Mauro ter-se-ia suicidado às vésperas, ou mesmo antes, conforme fora a isso induzido pelos seus inimigos espirituais. Embora a excepcional gravidade do ato execrável do jovem padre, o Bispo optou por não evidenciar o mal, nem dar-lhe notoriedade, que em nada auxiliaria a sociedade, e possivelmente mais a perturbaria.  (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.)

Texto para leitura 

118. Importante a renúncia ao secundário – O trecho lido tratava de comentários do Mestre em decorrência do Sermão das Bem-aventuranças, essa fonte inexaurível da qual a criatura pode retirar o pão nutriente da coragem para o enfrentamento das vicissitudes, mantendo-se otimista e feliz. Depois de reflexionar por breve momento, o eclesiástico ergueu a voz expressiva e exortou os ouvintes à mudança de comportamento, em relação a Deus, a si mesmos e à convivência com o seu próximo. Procurou estabelecer paralelos entre o que se pode, mas não é lícito realizar, e aquilo que se deve, porém não é oportuno fazer. Essa tomada de consciência leva o indivíduo relutante entre os valores do mundo e os de Deus a eleger primeiro aqueles que conduzem ao reino dos Céus, porque de sabor eterno, enquanto que os outros, mesmo quando aparentemente importantes, têm o valor que lhes é atribuído, não merecendo mais do que a consideração relativa de que se revestem. Procurou evidenciar a necessidade da renúncia ao secundário - o mundo físico - ante o primordial - o mundo espiritual -, assim optando pelas questões superiores do Espírito imortal na sua busca de plenitude. Concluiu, informando que aqueles que sabem escolher, sempre logram receber além do que foi buscado, recebendo, por acréscimo de misericórdia, muito mais, tudo quanto lhes é acrescentado. Concluído o sermão ante a emoção de alguns sinceros ouvintes, que procuraram introjetar os ensinamentos, ao tempo em que se harmonizavam interiormente, o Bispo deu prosseguimento ao ato litúrgico, logo encerrando-o e recolhendo-se, em seguida, à sacristia. (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) 

119. A conversa da diretora da escola com o Bispo – Terminadas as saudações de alguns fiéis, à medida que a Igreja se esvaziava e à movimentação sucedia a tranquilidade, o casal assinalado para a entrevista aguardava o momento oportuno, sem ocultar a ansiedade e a angústia de que se via possuído. Foi o senhor Bispo quem tomou a iniciativa de convidar os esposos a que se acercassem da imensa mesa que se encontrava no centro da sala, propondo-os sentar-se e logo dando início à conversação anelada. Não havia ninguém mais, além deles. Foi o esposo de D. Eutímia, o Sr. Renato, quem deu início à narrativa, explicando que a consorte, depois de muito abalada com o acontecimento que relataria logo mais, confidenciou-lhe o ocorrido, convencionando-se que ninguém melhor do que a autoridade eclesiástica para orientar o comportamento desejável naquele momento grave e diante do acontecimento de alta relevância. Bom ouvinte, acostumado às confissões auriculares, o Bispo tinha o cenho carregado, demonstrando preocupação compreensível enquanto preservava a atenção alerta. A senhora, algo constrangida, narrou ao prelado o fato sem exagero nem omissão, e o consequente choque de que se sentiu acometida, havendo expulsado o sacerdote das dependências escolares. Não negava a surpresa que a acometera, ante o ato que considerava aberrante e criminoso, considerando-se ainda a gravidade de ser praticado por um religioso que pervertia uma criança. Elucidou, igualmente, que não presenciara qualquer cena de sexo explícito, mas implícito, em face das circunstâncias e caracteres com que se apresentava o padre envolvido pelos desejos lúbricos em relação ao infante, havendo agradecido a Deus poder haver interrompido o que seria um ato ominoso.(Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) 

120. Providências anunciadas pelo Bispo – Após um momento de silêncio, a dama aludiu ao sonho de que fora objeto, acreditando tratar-se de uma resposta divina às suas orações, após o qual se sentira muito calma e confiante no futuro, apoiando-se na certeza de que agira corretamente, ao salvar a criança das garras do explorador impiedoso. O sacerdote concordou plenamente com ela. Sem ocultar o seu sofrimento, disse-lhe que o padre Mauro houvera-o buscado, macerado por sincero arrependimento, tentando reparar, através da confissão, o crime que, não fosse a intervenção providencial da diretora, poderia haver praticado... Ele reconhecia a culpa, e não sabia explicar por que fora vítima de tão penoso processo de loucura. Visivelmente perturbado, viera buscar-lhe o auxílio, que lhe seria concedido, e suplicar pelos meios próprios para a reparação de tão degradante tentação. Com muito tato psicológico, evitou comentar as aberrações confessadas pelo seu discípulo, não divulgando desnecessariamente o mal, que sempre redunda em nefastas consequências quando ocorre ampliação dos comentários em torno dele. Aludiu às providências que seriam tomadas, inicialmente encaminhando o jovem a uma clínica psiquiátrica, mantida pela Igreja para casos de tal natureza que, embora não fossem frequentes, aconteciam, em razão da fragilidade moral das estruturas humanas nas suas personalidades doentias ou atormentadas. Após o tratamento, que considerava indispensável, o sacerdote receberia a punição canônica, conforme a gravidade do delito prevista no Direito, e o mal não mais se repetiria. “Para evitar-se desnecessário escândalo - propôs com cautela - evitaremos comentar o infeliz incidente e explicaremos que, por motivo de saúde, o padre Mauro está viajando a tratamento fora da cidade, assim interrompendo as suas aulas de catecismo e as outras que ministra na Escola.” (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) 

121. A dificuldade que os homens têm com relação ao sexo – Após a fala do Bispo fez-se um silêncio pesado, no qual todos demonstravam sofrimento e angústia. O eclesiástico, compreensivelmente comovido, agradeceu ao casal pela sua excelente cooperação, confirmou as providências que já estavam em andamento, e abençoou-os, dispensando-os, a fim de que pudessem retornar ao lar em clima de paz. De sua parte, desejava evitar que fosse percebido o seu constrangimento e decepção, pois que o jovem sacerdote era-lhe muito estimado e, de alguma forma, credor da sua confiança até o momento em que narrara o drama que o acometia. Reconhecia que o sexo constituía um terrível aguilhão cravado na alma de todos os seres, especialmente os humanos, nem sempre fácil de ser arrancado, senão através da oração, de sacrifícios e renúncias, abnegação e fé na Divina Providência. Ele mesmo tivera que vencer inúmeras etapas do processo de superação dos impulsos, de modo a manter-se em paz, aquietando as ansiedades do corpo e do coração. Através do amor ao seu rebanho, dos serviços religiosos a que se afervorara, conseguiu, com a bênção do tempo e os exercícios espirituais, tranquilizar-se, não tombando em perturbação nem em algum crime decorrente do seu uso. D. Eutímia e o esposo saíram reconfortados, especialmente por haverem tomado as melhores atitudes que o caso requeria, e por saberem das medidas preventivas e outras ocorrências da mesma natureza, também punitivas em relação ao infrator, sem negar-lhe a oportunidade da regeneração. Eram comportamentos sábios, aqueles que estavam em curso, já que não se pode destruir o infrator a pretexto de aniquilar o delito, nem inutilizar o criminoso, antes, porém, auxiliá-lo a libertar-se do crime e redimir-se perante a sociedade. (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) 

122. O porquê das medidas tomadas pelo Bispo – Embora a excepcional gravidade do ato execrável do jovem padre, o Bispo optou por não evidenciar o mal, nem dar-lhe notoriedade, que em nada auxiliaria a sociedade, e possivelmente mais a perturbaria. Foi delineado assim um programa operacional específico, e ele pôs-se a agir, sem comunicar a outras autoridades eclesiásticas ou ao poder civil, para os corretivos necessários, conforme estabelecidos pelo Código Penal, com a intenção de proporcionar ao infeliz equivocado a reabilitação, mediante a qual poderia auxiliar ainda a sociedade no futuro. Naturalmente, receou que o drama tomasse novo curso no porvir, o que não é raro de acontecer. No entanto, preferiu correr o risco, confiante no sincero esforço do paciente e no tratamento a que se permitira submeter. Ele próprio buscaria a melhor clínica para o seu sacerdote e dar-lhe-ia assistência pessoal, a fim de que o enfermo não enveredasse pela loucura ou viesse a cometer o hediondo crime do suicídio, tal a gravidade da situação em que se encontrava. Eram reflexões bem urdidas, porque, não fosse a ajuda divina, e Mauro ter-se-ia suicidado às vésperas, ou mesmo antes, conforme fora a isso induzido pelos seus inimigos espirituais... Ficariam para o dia seguinte as providências que deveriam ter o seu curso normal. (Sexo e Obsessão, capítulo 13: Decisões felizes.) (Continua no próximo número.)



 


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