Foi após repletar-nos a alma
de lindos casos que Chico
nos levou ao interior de sua
singela casinha, a
participar da sessão em que
recebemos mensagens tocantes
de nossa irmãzinha Wanda,
outra de Emmanuel,
respondendo-nos a questões,
uma poesia sentida e bela de
Casimiro Cunha, que nos
arrancou lágrimas, e um
soneto de Augusto dos Anjos,
em que se mostra pela
primeira vez, com seu régio
presente, mais sentimental,
falando do amor, que ele já
sabe sentir, votivo aos
pequenos e humildes,
sofredores e paupérrimos.
Foi uma sessão de 4 horas,
que nos emocionou bastante e
na qual ganhamos graças que
jamais prevíramos, em nossa
vida.
Graças a Deus! Terminada a
sessão, o Chico, sempre
amável, acompanhou-nos até o
hotel, prometendo levar-nos
na manhã seguinte ao seu
Posto de serviço, a fim de
gozarmos, como gozamos, um
belo passeio matinal.
Dormimos e acordamos bem
cedo, demandamos em seguida
a Fazenda do Ministério da
Agricultura, onde Chico
trabalhava e era
estimadíssimo. É ali, no
seio de uma natureza
festiva, de um sol sempre
vivo e caricioso, sob um
dossel de nuvens garças,
afagado por brisa leve e
benfazeja, sentindo a música
dolente dos pássaros livres
e felizes, brincando à nossa
frente, como a nos saudarem,
que o Chico demonstra sua
admiração pela natureza e
onde melhor o conhecemos.
Atendendo ao apelo de um
poeta, e visto que também o
é, “ama até as pedras e os
montes pensativos”, vendo em
tudo poesia e oração, arte,
lições num grande livro
aberto; trata as árvores
como irmãs, com graça e
doçura; compreende como
poucos a alma do “GRANDE
TODO” e, qual Pitágoras
redivivo, tudo sente;
humaniza as sombras, penetra
o âmago das coisas, ouve a
voz do silêncio. Para ele as
águas falam e ele as
entende; a cachoeira
barulhenta e a quietude
profunda dos rios têm
semelhança com certas
criaturas. Um raio de luz,
uma carícia, um inseto que
voeja, lhe chamam a atenção,
fazem-no pensar e lhe
arrancam sorrisos dos lábios
e fulgurações dos olhos
vivos, ternos e mansos. Em
tudo vê poesia e vida,
verdade e luz, beleza e
amor, e, acima de tudo, a
presença de Deus! Que
sensibilidade apuradíssima!
Que coração grandioso lhe
bate dentro do peito, capaz
dos maiores gestos de
bondade, de renúncia, de
gratidão, de piedade e de
humildade!
Já na hora da despedida é
que Chico nos revelou qual o
desejo maior que afagou em
toda a sua vida de
encarnado, e que
recentemente lhe foi
satisfeito: ter um quarto
seu com uma janela toda de
vidro para poder ver o céu,
de noite, cheio de estrelas,
sentir os mundos imensos que
estão rolando pelo infinito
como lenços a nos acenar, a
nos chamar e pedir que
lutemos para os merecer.
Quer ver o céu ainda para
ver os espíritos que vêm e
vão... Foi Flammarion quem
disse que precisamos olhar
menos para a Terra e mais
para o céu, porque o
silêncio do céu é mais
eloquente que todas as vozes
humanas. O aspecto de sua
abóbada celeste nos enche de
admiração e falamos de Deus,
mas de um Deus verdadeiro.
Por que o Deus dos espíritos
não é o Deus dos exércitos
de Felipe II; não derrama
sangue, não fala de guerras,
não anda a vencer batalhas,
não conduz às infâmias da
inquisição, não faz queimar
vivos, como heréticos,
irmãos outros que tenham
religiões diferentes da
nossa; não aprova a matança
de “S. Bartolomeu”, não
sustenta o erro; não condena
“Copérnico” e “Galileu”,
porque esse Deus que o Céu
nos mostra é a Suprema
Justiça, a Suprema Verdade,
o amor mesmo, e paira,
impecável e sereno, na Sua
Luz e no Seu poder!
As criaturas que olham para
o céu, que gostam do céu,
que falam com o céu, são
criaturas diferentes, estão
de passagem por aqui, em
missões; e, sentindo
saudades da pátria
verdadeira, distante,
procuram minorar essa
saudade olhando o infinito,
traduzindo-lhe a mensagem
silenciosa e linda, que
Irmãos Maiores lhes enviam.
Chico Xavier é, assim, uma
criatura do Céu!
Do livro Lindos
casos de Chico Xavier, de Ramiro
Gama.
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