Educação &
instrução
A
educação é a
grande meta do
Espiritismo
“Bom é corrigir;
melhor, porém, é
educar.”
Demétrio N.
Ribeiro
(Espírito)
Existe uma
diferença básica
entre educar e instruir. Senão
vejamos:
etimologicamente
falando, “educar” (do
lat. educare)
possui a raiz
“duc” de dúctil,
que forma a
palavra: “conduto”, que
conduz... Antes
da raiz temos o
prefixo “E” que
podemos entender
como: “lançar
para fora”, assim
como o
entendemos nas
palavras Ejetar,
Emitir,
Ejacular,
Evacuar etc....
Portanto, a
correta tradução
da palavra educar é:
conduzir para
fora; extrair de
dentro. “Instruir” (do
lat. instruere)
possui a raiz “struere”: anexar,
empilhar,
juntar. Antes da
raiz temos o
prefixo “in” que
significa: “dentro”. Instruir, portanto,
significa
literalmente: “empilhar
dentro”.
É importante
estabelecer a
nítida diferença
entre educar e instruir para
que não se tome
um termo pelo
outro, e não
venhamos a
negligenciar a
educação das
criaturas
colocadas sob a
nossa
responsabilidade,
pensando que as
estamos educando
quando as
encaminhamos
para as escolas
a fim de que se
instruam.
Consciente
disso, Emmanuel,
o nobre Mentor
de Chico Xavier,
sem rebuços,
afirma: “(...)
a melhor escola
ainda é o lar,
onde a criatura
deve receber as
bases do
sentimento e do
caráter... Os
estabelecimentos
de ensino,
propriamente do
mundo, podem
instruir, mas só
o instituto da
família pode
educar. É por
essa razão que a
universidade
poderá fazer o
cidadão, mas
somente o lar
pode edificar o
homem”.
Dessa
compreensão
surge a frase de
Joanna de
Ângelis: “a
educação será o
recurso vigoroso
que oferece os
valiosos bens,
por enquanto
adormecidos no
íntimo das
criaturas”.
Segundo Léon
Denis, “(...)
como a educação
da Alma é o
objetivo da
vida, importa em
resumir seus
preceitos em
palavras:
aumentar tudo
quanto for
intelectual e
elevado. Lutar,
combater, sofrer
pelo bem dos
homens e dos
mundos. Iniciar
seus semelhantes
nos esplendores
do verdadeiro e
do belo. Amar a
Verdade e a
justiça,
praticar para
com todos a
Caridade, a
benevolência –
tal o segredo da
felicidade
presente e
futura, tal o
dever, tal a fé
que Jesus legou
à humanidade”.
Vamos, a seguir,
mergulhar no
abissal oceano
das letras
espíritas sob a
condução do
notável e
singular
beletrista
Deolindo Amorim,
quando ele fala
da:
CONCEPÇÃO
ESPÍRITA DE
EDUCAÇÃO
Nesta época, em
que tanto se
fala em metas,
que é a palavra
da moda, e temos
meta política,
meta
administrativa e
assim por
diante, não será
despropósito
dizer que a
educação é a
grande meta do
Espiritismo.
Mas é preciso
ver, desde logo,
que a Doutrina
Espírita tem um
conceito de
educação muito
mais extenso e
profundo, na
realidade, do
que o conceito
corrente. Como
ponto de
partida, devemos
distinguir
instrução e
educação, o que,
aliás, muita
gente sabe
distinguir muito
bem. Instrução é
informativa, é
instrumento
indispensável ao
processo
educativo, mas a
instrução por si
só não educa,
não transforma o
homem. Em muitos
casos, como se
sabe, a
instrução é
apenas
acumuladora,
servindo tão
somente para
fornecer
elementos
capazes de
enriquecer a
vida
intelectual, mas
não desce ao
cerne da
personalidade,
não penetra no
EU profundo. A
instrução bem
conduzida,
evidentemente,
abre
perspectivas e
caminhos ao
Espírito, mas é
indispensável
aproveitar todos
os recursos e
dinamizá-los no
homem. Aí,
pois, já não é
apenas a
instrução, mas a
educação. É
a educação,
consequentemente,
que dirige a
instrução para
fins úteis e
elevados.
Feita essa
distinção, que é
trivial, devemos
considerar a
desigualdade que
existe também
entre os
próprios
conceitos de
educação. Dentro
de certos
padrões antigos,
o que se chamava
educação era
simplesmente
boas maneiras,
etiqueta social
e nada mais. A
educação era
paramento formal
ou exterior, não
tinha
profundidade,
portanto. Ser
educado era
apenas
comportar-se de
acordo com o
figurino e as
regrinhas de
salão. Tudo isso
passou, não há
dúvida. Quase
ninguém, hoje em
dia, pensa em
educação em
termos de
convenções e
normas de
sociabilidade.
Mas é verdade
que apesar disso
o conceito de
educação ainda
não é pacífico.
E é justamente
neste ponto que
cabe à Doutrina
Espírita uma
participação
muito mais
importante do
que parece.
Há uma
tendência, que
se robusteceu
muito com a II
Guerra Mundial,
para fazer da
educação um meio
e não um fim.
Meio de ganhar a
vida,
desprezando
todos os valores
que não sejam
utilitários.
Educar, segundo
essa concepção,
consiste apenas
em preparar o
homem para
vencer, ser
autossuficiente,
mas tudo isso em
função da vida
presente. Isto
significa, sem
sombra de
dúvida,
desprezar os
valores ideais e
fixar-se
exclusivamente
nos valores
imediatos e
materiais. É um
tipo de educação
unilateral e de
efeito apenas
transitório.
Outra tendência,
que é marcante
nos regimes onde
se dá a
hipertrofia do
Estado, procura
cada vez mais
bitolar a
educação,
tentando
enquadrar o
espírito dentro
dos sistemas que
mais convenham a
esses. O
conceito de
educação aí é
muito diferente
do nosso
conceito, pois
os regimes
absorventes
entendem que a
educação é
formar o homem
para determinado
tipo de
necessidade,
segundo os
planos estatais.
Há realmente um
finalismo. Mas
que finalismo é
esse? Usar a
educação para um
fim único, que é
atender às
conveniências do
momento.
O conceito
espírita de
educação
pressupõe três
elementos
convergentes:
1) - a
instrução, que é
um elemento
instrumental;
2) - o meio
social, que é um
agente
provocador das
reações e das
necessidades, e
3) - a
liberdade, que é
a condição
básica das
opções. Sem
liberdade para
escolher o
caminho, sem o
direito de optar
pela direção
espiritual que
lhes seja mais
afeiçoada, as
vocações ficarão
estagnadas ou
recalcadas. E
como aproveitar
as aptidões sem
oferecer
condições de
preferência? E
como educar sem
respeitar as
inclinações mais
íntimas? Então,
será o caso da
Fábula de
Saturno: a
educação, que
deveria ser
criadora,
terminaria
sacrificando ou
matando as
vocações.
Em linhas
gerais,
apontamos apenas
aspectos
políticos da
educação. Mas
não podemos, de
forma alguma,
pôr de lado o
aspecto
filosófico,
dentro do
conceito
espírita de
educação. E,
afinal, que é
educação segundo
a Doutrina
Espírita? Não é
apenas instruir,
não é
simplesmente
incutir hábitos
externos, é
transformar o
homem dando-lhe
uma concepção de
vida
fundamentada na
supremacia do
espírito e dos
valores morais.
A educação,
segundo a
filosofia do
Espiritismo,
deve atender às
necessidades
materiais, às
exigências do
meio, às leis da
Natureza, às
repercussões da
cultura, mas deve,
além de tudo
isso,
interessar-se
pelo lado
espiritual da
vida.
Além do mais,
não podemos
perder de vista,
no aspecto
filosófico da
educação, um
fator muitíssimo
importante e às
vezes decisivo: a
reencarnação! O
Espírito precisa
encontrar
condições
favoráveis à
missão ou à
prova. A
educação, embora
planejada pelas
técnicas e pelos
sistemas
pedagógicos,
cujo valor não
se pode negar,
não pode deixar,
todavia, de
proporcionar
liberdade ao
Espírito, a fim
de escolher o
seu campo de
ação. Há
compromissos e
escolhas que vêm
do passado. Há
Espíritos que
reencarnam com
sua tarefa ou
missão já
prevista, ou
também sua prova
na Terra. A
educação deve
orientar bem,
mas não deve
violentar os
compromissos do
Espírito,
indicando-lhe um
rumo que não
esteja de acordo
com sua missão
ou seus
compromissos.
Segundo a
Doutrina
Espírita, a
educação é
finalista,
porque visa a um
fim. E se não
fosse assim,
naturalmente não
teria sentido
prático e cairia
no formalismo.
Mas o fim da
educação, em
termos
espíritas, não é
simplesmente
imediato ou
profissional. O
fim, neste caso,
é abranger o
homem real em
sua totalidade,
isto é, corpo e
Espírito, tendo
em vista a vida
atual e a vida
futura. Já se
vê, portanto,
que é um
finalismo
superior. E esse
finalismo parte
de uma base — a
concepção do
homem como ser
imortal.
Consequentemente,
a educação deve
cuidar, em tudo
por tudo da
essência
espiritual do
homem,
harmonizando a
inteligência e o
sentimento, a
cultura e a
moral.
À luz dos
contextos
espirituais,
finalmente,
podemos colocar
a questão nos
seguintes termos
conclusivos: se
a educação não
conseguir
melhorar o homem
de dentro para
fora, teria
apenas efeitos
superficiais e,
por isso mesmo,
não modificará a
sociedade; e o
maior ideal da
educação é
modificar para
melhor,
começando pelo
homem.
-
KARDEC,
Allan. O
Livro
dos
Espíritos. 88.
ed. Rio
[de
Janeiro]:
FEB,
2006, q.
258.
-
Idem,
ibidem,
questões
192 e
791.