No dia 21 de junho de 1927,
Chico já ajudava na fundação
do primeiro centro espírita
da cidade, num barracão onde
morava o irmão dele, José
Xavier. O dono da casa
assumiu a presidência, Chico
ficou como secretário e seu
patrão, José Felizardo,
virou tesoureiro. Faltava o
nome do centro. Todos
pensaram, pensaram e
decidiram: Luiz Gonzaga. Uma
homenagem ao aviador Charles
Lindbergh, que tinha
atravessado o oceano
Atlântico, sem escalas, a
bordo de seu avião, o Spirit
of St. Louis.
Ninguém ali sabia, mas o
piloto quis homenagear, com
o nome da aeronave, o rei da
França e não São Luiz
Gonzaga. De qualquer forma,
o batismo do centro não foi
tão despropositado assim. O
monarca francês tinha
protegido Allan Kardec, o
codificador da doutrina
espírita, no século passado
e, portanto, merecia algum
respeito.
Em julho, menos de três
meses após a primeira sessão
de rezas e passes, a irmã de
Chico voltou para casa sã e
salva. Na noite do dia 8 de
julho, todos se reuniram
para agradecer a cura.
Carmem Perácio, que
acompanhou Maria Xavier até
Pedro Leopoldo, participou
da sessão e ouviu uma voz
aconselhando Chico a tomar o
lápis.
Ele obedeceu e, de repente,
se sentiu fora de seu corpo.
As paredes desapareceram, o
telhado se desfez e, no
lugar do teto, ele viu
estrelas. Olhando em volta,
notou uma assembleia de
"entidades" que o fitavam.
Para ele, eram os habitantes
do arco-íris. Naquela noite,
Chico preencheu dezessete
páginas. Sem rasuras, sem
borracha, em velocidade.
Quem assinou foi um "amigo
espiritual". Quando o rapaz
pôs o ponto final tinha as
pernas trêmulas e o coração
acelerado.
Dois dias depois, Carmem e o
marido convidaram Chico a
passar uns dias na fazenda.
Eles rezavam quando Carmem,
mais uma vez, ouviu uma voz
suave. Era um tal de
Emmanuel, "amigo espiritual"
de Chico. Depois do som,
veio a imagem. Um jovem
imponente, com vestes
sacerdotais e aura
brilhante.
- Irmã, fale ao Chico para
ele tomar papel e lápis.
Chico Xavier não viu nem
ouviu nada. Buscaram o
material, ele segurou o
lápis e as frases começaram
a se espalhar pelas páginas.
No texto, referências ao
tratamento da irmã, detalhes
sobre a vida dos irmãos e um
recado pessoal: "Eis que nos
achamos juntos novamente. Os
livros à nossa frente [O
Evangelho segundo o
Espiritismo e O
Livro dos Espíritos] são
dois tesouros de luz.
Estude-os, cumpra seus
deveres e, em breve, a
bondade divina nos permitirá
mostrar a você seus novos
caminhos". A assinatura não
era de Emmanuel, mas de
Maria João de Deus. Após
sete anos de ausência, ela
dava novos sinais.
Do livro As
Vidas de Chico Xavier,
de Marcel Souto Maior.
|