O leitor Sergio Henrique
Ribas de Oliveira, de
Joinville (SC), em mensagem
publicada na seção de Cartas
desta mesma edição,
pergunta-nos como é o clima
no além-túmulo e se é
possível desfrutarmos ali as
benesses de um banho de sol.
Inicialmente, é preciso
reconhecer que o assunto não
é tratado nas obras
fundamentais da doutrina
espírita, mas somente, e de
forma indireta, em alguns
textos e livros de natureza
mediúnica, como podemos
encontrar, por exemplo, no
livro O
mundo em que eu vivo, do
Espírito de Silveira
Sampaio, psicografado por
Zíbia M. Gasparetto, e no
conhecidíssimo Nosso
Lar, de André Luiz,
psicografado por Chico
Xavier.
Em ambos há referência ao
chamado repouso e às opções
de lazer que existem nas
chamadas cidades espirituais
mais próximas da crosta
terrestre. Quanto às
localidades em que vivem
entidades desencarnadas mais
evoluídas, nada ou muito
pouco, pelo que sabemos,
existe na literatura
espírita.
Excursões ao Bosque das
Águas, as harmonias do Campo
da Música, as palestras ao
ar livre, a notícia
pertinente aos Campos de
Repouso – eis referências
que as pessoas que leram Nosso
Lar conhecem
perfeitamente.
Eis, na sequência, algumas
informações extraídas da
obra de André Luiz que nos
parecem suficientes para
dirimir a dúvida formulada
pelo leitor:
Clarêncio, que se apoiava
num cajado de substância
luminosa, deteve-se à frente
de grande porta encravada em
altos muros, cobertos de
trepadeiras floridas e
graciosas. Tateando um ponto
da muralha, fez-se longa
abertura, através da qual
penetramos, silenciosos.
Branda claridade inundava
ali todas as coisas. Ao
longe, gracioso foco de luz
dava a ideia de um pôr do
sol em tardes primaveris. À
medida que avançávamos,
conseguia identificar
preciosas construções,
situadas em extensos
jardins. (Nosso
Lar, cap. 3.)
Envolvendo os dois
enfermeiros na vibração do
meu reconhecimento,
esforcei-me por lhes dirigir
a palavra, conseguindo dizer
por fim:
– Amigos, por quem sois,
explicai-me em que novo
mundo me encontro... De que
estrela me vem, agora, esta
luz confortadora e
brilhante?
Um deles afagou-me a fronte,
como se fora conhecido
pessoal de longo tempo e
acentuou:
– Estamos nas esferas
espirituais vizinhas da
Terra, e o Sol que nos
ilumina, neste momento, é o
mesmo que nos vivificava o
corpo físico. Aqui,
entretanto, nossa percepção
visual é muito mais rica. A
estrela que o Senhor acendeu
para os nossos trabalhos
terrestres é mais preciosa e
bela do que a supomos quando
no círculo carnal. Nosso Sol
é a divina matriz da vida, e
a claridade que irradia
provém do Autor da Criação. (Nosso
Lar, cap. 3.)
No dia imediato, após
reparador e profundo
repouso, experimentei a
bênção radiosa do Sol amigo,
qual suave mensagem ao
coração. Claridade
reconfortante atravessava
ampla janela, inundando o
recinto de cariciosa luz.
Sentia-me outro. Energias
novas tocavam-me o íntimo.
Tinha a impressão de sorver
a alegria da vida, a longos
haustos. Na alma, apenas um
ponto sombrio – a saudade do
lar, o apego à família que
ficara distante. Numerosas
interrogações pairavam-me na
mente, mas tão grande era a
sensação de alívio que eu
sossegava o espírito, longe
de qualquer interpelação. (Nosso
Lar, cap. 4.)
Aqui, em verdade, a lei do
descanso é rigorosamente
observada, para que
determinados servidores não
fiquem mais sobrecarregados
que outros; mas a lei do
trabalho é também
rigorosamente cumprida. No
que concerne ao repouso, a
única exceção é o próprio
Governador, que nunca
aproveita o que lhe toca,
nesse terreno.(Nosso Lar,
cap. 11.)
Deslumbrou-me o panorama de
belezas sublimes. O bosque,
em floração maravilhosa,
embalsamava o vento fresco
de inebriante perfume. Tudo
em prodígio de cores e luzes
cariciosas. Entre margens
bordadas de grama viçosa,
toda esmaltada de azulíneas
flores, deslizava um rio de
grandes proporções. A
corrente rolava tranquila,
mas tão cristalina que
parecia tonalizada em matiz
celeste, em vista dos
reflexos do firmamento.
Estradas largas cortavam a
verdura da paisagem.
Plantadas a espaços
regulares, árvores frondosas
ofereciam sombra amiga, à
maneira de pousos
deliciosos, na claridade do
Sol confortador. Bancos de
caprichosos formatos
convidavam ao descanso.
Notando o meu
deslumbramento, Lísias
explicou:
– Estamos no Bosque das
Águas. Temos aqui uma das
mais belas regiões de "Nosso
Lar". Trata-se de um dos
locais prediletos para as
excursões dos amantes, que
aqui vêm tecer as mais
lindas promessas de amor e
fidelidade, para as
experiências da Terra.(Nosso
Lar, cap. 10.)
Nos círculos religiosos do
planeta, ensinam que o
Senhor criou as águas. Ora,
é lógico que todo serviço
criado precisa de energias e
braços para ser
convenientemente mantido.
Nesta cidade espiritual,
aprendemos a agradecer ao
Pai e aos seus divinos
colaboradores semelhante
dádiva. Conhecendo-a mais
intimamente, sabemos que a
água é veículo dos mais
poderosos para os fluidos de
qualquer natureza. Aqui, ela
é empregada sobretudo como
alimento e remédio. Há
repartições no Ministério do
Auxílio absolutamente
consagradas à manipulação de
água pura, com certos
princípios suscetíveis de
serem captados na luz do Sol
e no magnetismo espiritual.
Na maioria das regiões da
extensa colônia, o sistema
de alimentação tem aí suas
bases. (Nosso
Lar, cap. 10 – explicações
dadas por Lísias.)
Sorriu a senhora Laura,
parecendo mais encorajada, e
asseverou:
– Tenho solicitado o socorro
espiritual de todos os
companheiros, a fim de
manter-me vigilante nas
lições aqui recebidas. Bem
sei que a Terra está cheia
da grandeza divina. Basta
recordar que o nosso Sol é o
mesmo que alimenta os
homens; no entanto, meu caro
Ministro, tenho receio
daquele olvido temporário em
que nos precipitamos.
Sinto-me qual enferma que se
curou de numerosas
feridas... Em verdade, as
úlceras não mais me
apoquentam, mas conservo as
cicatrizes. Bastaria um leve
arranhão, para voltar a
enfermidade. (Nosso
Lar, cap. 47.)
Em face de tantas e tão
expressivas informações,
cremos que o próprio leitor
tem em mãos a resposta à
pergunta que nos foi
apresentada.
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