JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília,
DF
(Brasil)
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Comportamento do
espírita
no
velório
Recentemente,
fomos a um
velório e nos
vimos
constrangidos a
ouvir um
"pastor",
pregando a
insustentável
tese da
unicidade das
existências.
Aliás, assunto
inoportuno para
a ocasião. O
religioso,
sempre com a
bíblia de folhas
desgastadas
debaixo do
braço, umedecido
de suor,
certamente, foi
convidado a
falar sobre o
tema por
solicitação da
família do
desencarnante.
Detalhe: tais
parentes
"crentes", do
"morto", sabiam
que espíritas
estariam
presentes no
local. Ao revés,
poderiam ter
aproveitado a
oportunidade do
sepultamento
para orar ou
discorrer,
sem afetação,
sobre a
imortalidade da
alma (como
ensinou Jesus) e
sobre o valor da
existência
humana. Porém,
infelizmente,
para esses
cristãos,
narcotizados
pela ideia
de "salvação" e
que pensam poder
comprar a
"felicidade
eterna" através
dos dez por
cento "doados"
para a igreja,
"a morte ainda
exprime
realidade quase
totalmente
incompreendida
na Terra". (1)
Em outra
ocasião, fui
informado, por
uma grande
amiga, líder
espírita no DF,
de que um irmão,
também espírita
conhecido na
cidade,
solicitara-lhe
um espaço no
salão de
palestras, para
velar um corpo
(o desencarnado
era
endinheirado).
Velório (2), no
centro espírita?
Rimos, eu e ela,
muito embora,
lamentando o
triste episódio.
É óbvio que a
solicitação do
imaturo confrade
lhe fora negado.
Velórios! Eis o
nosso tema. Essa
celebração se
desviou, e
muito, do
sentido
religioso, pois,
acima das
emoções
justificáveis,
por parte dos
parentes e
amigos,
ostenta-se um
funeral por
despesas
excessivas com
flores,
santinhos,
escapulários,
velas [o uso de
velas não tem
valia para o
espírita, pois
só imprime um
aspecto mais
lúgubre à morte]
etc., etc. A
eventual
preocupação com
a conservação
dos túmulos,
que,
normalmente, só
são lembrados no
dia consagrado
aos mortos, no
mês de novembro,
responde por um
protocolo
social, também,
extravagante.
Não devemos
converter as
necrópoles
vazias em "salas
de visita do
além", qual
recorda o
escritor Richard
Simonetti, (3)
até porque há
locais mais
indicados para
expressarmos o
nosso sentimento
aos que já
desencarnaram.
Não aprovamos,
nem reprovamos,
intransigentemente,
as homenagens
fúnebres, em
memória de
alguém, pois,
"são justas e de
bom exemplo".
(4) Todavia, a
Doutrina
Espírita revela
que o desejo de
perpetuar a
lembrança que as
pessoas deixam
de si, nos
imponentes
mausoléus, vem
do derradeiro
ato de orgulho.
"A suntuosidade
dos monumentos
fúnebres,
determinada por
parentes que
desejam honrar a
memória do
falecido, e não
por este, ainda
faz parte do
orgulho dos
parentes, que
querem honrar-se
a si mesmos. Nem
sempre é pelo
morto que se
fazem todas
essas
demonstrações,
mas por
amor-próprio,
por consideração
ao mundo e para
exibição de
riqueza."(5)
Devemos sempre
dispensar, nos
funerais, as
honrarias
materiais
exageradas e as
encenações,
pois,
considerando que
"nem todo
Espírito se
desliga
prontamente do
corpo" (6), urge
que lhe enviemos
cargas mentais
favoráveis de
bênçãos e de
paz, através da
oração sincera,
principalmente,
nos últimos
momentos que
antecedem ao
enterramento ou
à cremação.
Oferenda de
coroas e flores
deve
transformar-se
"em donativos às
instituições
assistenciais,
sem espírito
sectário". (7)
Pasmem! Já, até,
inventaram o
velório virtual
(visualização a
distância) das
cerimônias
fúnebres de
entes queridos e
o encaminhamento
de condolências
via e-mail.
Salas de velório
foram equipadas
com câmeras que
permitem, em
tempo real, uma
visão geral do
público e da
pessoa que está
sendo velada.
Nesses casos,
parentes e
amigos podem
enviar as
mensagens de
condolências
para a família
por meio de um
link por site
que oferece
técnicas de
preparação de
corpos como a
tanatopraxia (8)
e a
necromaquiagem,
além de produtos
como, urnas,
mantos,
vestuário etc.
Sobre isso,
sabemos que,
quando
comparecemos a
um velório,
cumprimos
sagrado dever de
solidariedade,
oferecendo
conforto à
família.
"Infelizmente,
tendemos a
fazê-lo pela
metade, com a
presença física,
ignorando o que
poderíamos
definir por
compostura
espiritual, a
exprimir-se no
respeito pelo
ambiente e no
empenho de
ajudar o morto."
(9)
Analisemos o
fato recente de
desencarnação do
cantor e ator,
Michael Jackson.
Mais de meio
milhão de
admiradores, de
todo o mundo,
solicitaram
entradas para o
serviço fúnebre
de seu corpo,
agendado para os
próximos dias. O
nosso irmão,
"rei do pop",
certamente, está
na mais atroz
penúria na
dimensão
póstuma, devido
à tresloucada
emanação de
energias mentais
desfavoráveis
dos "fãs". Em
razão disso,
admitimos que,
nesse caso,
felizes são os
obscuros
indigentes,
porque são
velados nas
câmeras dos
institutos
médico-legais,
posto que o
velório e o
sepultamento
são, quase
sempre, mais um
motivo de
sofrimento para
o desencarnante.
É óbvio que as
preces, pelos
Espíritos que
acabam de deixar
a Terra, têm por
fim, não apenas,
proporcionar-lhes
uma prova de
simpatia, mas,
sobretudo,
ajudá-los a se
libertarem das
ligações
terrenas,
abreviando a
perturbação que,
normalmente,
ocorre após a
separação do
corpo, e
tornando mais
tranquilo o seu
despertar. (10)
No caso em tela,
os idólatras
transmitem
emoções
angustiantes em
face da saudade,
razão pela qual
suas súplicas
desconexas têm
alcance
limitado.
Imaginemos a
situação
desconfortante
do Espírito,
ainda ligado ao
corpo,
mergulhado num
oceano de
vibrações
heterogêneas
emitidas por
pessoas, em nome
da admiração,
mas agem como
indisciplinados
espectadores a
dificultar a
tarefa de
diligente equipe
de socorro, no
esforço por
retirar um
ferido dos
escombros de uma
casa que
desabou.
"Contribuição"
lamentável,
essa! "Preso à
residência
temporária,
transformada em
ruína pela
morte, o
desencarnante,
em estado de
inconsciência,
recebe o impacto
dessas vibrações
desajustantes
que o atingem
penosamente,
particularmente
as de caráter
pessoal. Como se
vivesse terrível
pesadelo, ele
quer despertar,
luta por
readquirir o
domínio do
corpo,
quedando-se
angustiado e
aflito." (11)
São muitos os
que, a título de
se despedirem do
"defunto", fazem
do cemitério uma
extensão a mais
do barzinho da
esquina,
discutindo
assuntos
triviais como
política,
negócios e
futebol –
quando, não,
coisas piores.
Isso,
obviamente,
tornará mais
penosa a
travessia entre
os dois mundos.
Mais do que
nunca, o
desencarnado
precisa de
vibrações de
harmonia, que só
se formam
através da prece
sincera e de
ondas mentais
positivas. Em o
livro Conduta
Espírita, o
Espírito André
Luiz adverte:
"proceder
corretamente nos
velórios,
calando
anedotário e
galhofa em torno
da pessoa
desencarnada,
tanto quanto
cochichos
impróprios ao pé
do corpo inerte.
O companheiro
recém-desencarnado
pede, sem
palavras, a
caridade da
prece ou do
silêncio que o
ajudem a
refazer-se".
(12) É
importante
expulsar de nós
"quaisquer
conversações
ociosas, tratos
comerciais ou
comentários
impróprios nos
enterros a que
comparecermos".
(13) Até porque
a "solenidade
mortuária é ato
de respeito e
dignidade
humana". (14)
Lamentavelmente,
"poucos se dão
ao trabalho
sequer de
reduzir o volume
da voz, numa
zoeira incrível,
principalmente
ao aproximar-se
o horário do
sepultamento,
quando o recinto
acolhe maior
número de
pessoas". (15)
Temos motivos de
sobra para o
comedimento. Por
isso, cultivemos
o silêncio,
conversando, se
necessário, em
voz baixa, de
forma
edificante.
Falemos no morto
com discrição,
evitando
pressioná-lo com
lembranças e
emoções
passíveis de
perturbá-lo,
principalmente,
se forem
trágicas as
circunstâncias
do seu
falecimento.
Oremos muito em
seu benefício,
porque morre-se
como se vive. Se
não conseguirmos
manter
semelhante
comportamento,
melhor será que
nos retiremos do
ambiente,
evitando
engrossar o
barulhento coro
de vozes e
vibrações
desrespeitosas,
que tanto
atormentam o
desencarnado,
quanto aos que
lá comparecem
com objetivos
nobres de captar
energias dos
planos
superiores, do
foco causal, em
favor do próximo
que parte para
outra dimensão.
É oportuno
também explicar
ao amigo leitor
que a
perturbação que
se segue à morte
nada tem de,
insuportavelmente,
dolorosa para o
justo, aquele
que esteve na
Terra,
sintonizado com
o bem. Todavia,
para os que
viveram presos
ao egoísmo,
escravos dos
vícios e
ambições
mundanas, a
morte é uma
noite, cheia de
horrores,
ansiedades e
angústias,
apesar de essa
perturbação ser
considerada o
estado normal no
instante da
morte e perdurar
por tempo
indeterminado,
variando de
algumas horas a
alguns anos. Em
algumas pessoas,
ela é de
curtíssima
duração, quase
imperceptível, e
nada tem de
dolorosa -
poderia ser
comparada como
um leve
despertar. No
entanto, para
outras, o estado
de perturbação
pode durar
muitos anos, até
séculos, e pode
configurar um
quadro de
sofrimento
severo, com
angústia e
temores acerbos.
Alguns Espíritos
mergulham em
sono profundo e,
nesse estado,
ficam durante um
tempo muito
variável. "O
conhecimento que
nos tiver sido
possível
adquirir das
condições da
vida futura
exerce grande
influência em
nossos últimos
momentos; dá-nos
mais segurança;
abrevia a
separação da
alma." (16)
O equilíbrio
mental dos
familiares, ante
o desencarne,
será de
fundamental
importância na
recuperação do
Espírito.
Pensamentos de
revolta e
desespero o
atingem como
dardos mentais
de dor e
angústia,
dificultando a
sua recuperação.
A atitude
inconformista da
família pode
criar "teias de
retenção",
prendendo o
Espírito ao seu
corpo. É natural
que muitos
chorem na hora
da morte, porém,
contendo o
desespero. É
mister que nos
resignemos
diante desse
fenômeno natural
da vida, ainda
que, por vezes,
inesperado,
vendo, nisso, a
manifestação da
Sábia Vontade
que nos comanda
os destinos. Em
verdade, as
lágrimas podem,
até, aliviar-nos
o coração,
entretanto, a
atitude do
espírita deve
ser de
compreensão e
oração. O dia
que tivermos
certeza de que o
que enterramos
não é este ou
aquele ser, mas
um corpo que
serviu para a
valorização
existencial de
alguém que
amamos, e que
esse alguém
estará sempre
presente em
nossa memória,
pois que,
experimentamos,
apenas, um
intervalo
momentâneo, se
comparado à
eternidade,
nosso
comportamento
será outro,
muito mais
harmonioso com
esse fenômeno
biológico, a que
denominamos
"morte".
Referências
bibliográficas:
(1) VIEIRA,
Waldo.
Conduta Espírita,
RJ: Ed. FEB,
1999.
(2) Segundo
Aulete: "Vigília
a defunto". Ato
de velar com
outros um morto;
de passar a
noite em claro
onde se encontra
exposto um
morto.
(3). Disponível
em http://comunidadeespirita.com.br/Imortalidade/quemtemmedo/estranho%20culto.htm
(4) KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Espíritos,
Rio de Janeiro:
Ed. FEB, 2001,
Perg. 824.)
(5) idem, Pergs.
823 e 823a.
(6) Vieira,
Waldo.
Conduta Espírita,
RJ: Ed. FEB,
1999.
(7) idem.
(8) Nos dias de
hoje essa
denominação
representa a
prática de uma
técnica, já
desenvolvida há
muitos anos em
outros países,
utilizando meios
modernos para a
preparação de
corpos humanos,
vitimados das
mais variadas
formas de
óbitos.
Corresponde à
aplicação
correta de
produtos
químicos em
corpos
falecidos,
visando à
desinfecção e o
retardamento do
processo
biológico de
decomposição,
permitindo a
apresentação dos
mesmos em
condições
surpreendentemente
melhores para o
velório.
(9) SIMONETTI
Richard. Quem
tem medo da
morte?, 22ª
edição, São
Paulo: Gráfica
São João, 1995.
(10) ESE – cap.
XXVIII, it 59.
(11)______Richard.
Quem tem medo
da morte?,
22ª edição, São
Paulo: Gráfica
São João,1995.
(12) Vieira,
Waldo.
Conduta
Espírita,
RJ: Ed FEB,
1999.
(13) idem.
(14) idem.
(15)______
Richard. Quem
tem medo da
morte?, 22ª
edição, São
Paulo: Gráfica
São João, 1995.
(16) DENIS, Léon.
O Problema do
Ser, do
Destino e da
Dor, RJ: Ed.
FEB, 1993.