Foi buscar para
si o que tinha
de sobra para
dar
Há um histórico
que podemos
considerar como
maravilhoso e
muito especial,
registrado ao
longo do tempo e
envolvendo
personagens que
se conscientizam
com os
sentimentos de
responsabilidade
que os envolvem
e cumprem de
maneira exemplar
o afloramento de
dons que vão se
manifestando e
exigindo mudança
radical de
comportamento.
Muitos procuram
os Centros
Espíritas
alegando que
estão ouvindo
vozes e vendo
vultos ou mesmo
pessoas, que
somente eles
enxergam. Nesses
casos, nunca se
pode excluir as
possibilidades
que existem no
campo dessa
alteração
psíquica. Tanto
pode ser o
despontamento de
mediunidade
quanto a
ocorrência de
distúrbios cuja
terapia está
adstrita a
outras áreas,
que não o
Espiritismo.
Levando em
consideração que
a encarnação do
Espírito não
está ligada ao
acaso, é
fundamental
compreender que
outros fatores
determinantes
estão presentes
e vão ser os
responsáveis, no
curso da vida,
pelo surgimento
das ocorrências
que vão marcar
sua passagem
pela Terra. As
missões, os
fardos, os
sofrimentos, as
dificuldades e
as
responsabilidades,
especiais ou
não, surgirão ao
longo do tempo
na vida de cada
um e no seu
devido momento.
Quanto a esses
compromissos,
cuja
problemática
deverá ser
vencida pelo
próprio
encarnado,
entenderemos
como resultantes
da aplicação da
Grande Lei de
Causa e Efeito
e, no que diz
respeito ao
desenvolvimento
de benefícios
junto à
sociedade,
entenda-se aqui
os dons, também
entenderemos
como deveres,
sendo que de
todas as
situações a que
estaremos
expostos, não
temos como
fugir, sem que
se agrave o
compromisso
rejeitado.
Cada qual traz
consigo
caminhos,
bagagens e
compromissos
pessoais
intransferíveis,
mesmo que sejam
somente para si
próprio. "Pela
natureza dos
sofrimentos e
das vicissitudes
que experimentam
na vida
corporal,
pode-se julgar
da natureza das
faltas cometidas
em uma
precedente
existência e das
imperfeições que
lhe são
causa"(1).
Acerca do que
será exposto
doravante
teremos a
oportunidade de
conhecer uma
história real e
paradoxal,
recheada de
sofrimentos e
virtudes onde o
personagem,
acreditando que
as portas lhe
haviam sido
fechadas
definitivamente
pelo Senhor da
Vida e dos
Mundos,
vislumbrou um
novo e promissor
horizonte, que
trouxe o
conforto e a
segurança de que
tanto
necessitava,
possibilitando-lhe
oferecer, a
outros milhares
de corações
desesperados, o
alento, o
equilíbrio na
saúde e a mesma
paz que
procurava.
Este é um dos
mais belos
registros que se
tem conhecimento
envolvendo uma
pessoa com
graves
problemas, não
só os
relacionados com
a sua saúde, que
rompeu as
barreiras
erguidas por
conta de
preconceitos
religiosos,
vencendo os
empecilhos de
todos os
tamanhos,
tornando-se
baluarte de si
próprio e de um
número
incontável de
pessoas de toda
parte que
afluíam em seu
socorro.
Falamos de
Porfírio Duarte
Bezerra Júnior
(1882-1946), que
nasceu e
desencarnou na
cidade de Rio de
Janeiro.
Começou sua vida
profissional
como
linotipista(2)
da Imprensa
Nacional(3),
onde trabalhou
durante vários
anos. Em
acidente de
trabalho foi
atingido por
curto-circuito e
seus nervos
óticos ficaram
destruídos,
encerrando a
carreira como
"oficial de 3ª
classe da
fundição de
tipos da
Imprensa
Nacional".
Apesar de ter
recorrido aos
melhores médicos
oculistas,
perdeu
completamente a
visão. Não
havendo nessa
época uma lei
que o amparasse,
ficou em estado
desesperador,
sem poder manter
a família
composta de dez
pessoas: ele, a
esposa, duas
cunhadas e seus
filhos. Chegou a
pensar em
suicídio, tal a
difícil situação
que lhe pesava.
Sua esposa e
cunhadas
passaram a
costurar,
ajudando, na
medida do
possível, para
manutenção do
lar.
Uma vizinha
sugeriu que
procurasse o
Espiritismo e
indicou um
médium em
Niterói-RJ. Mas,
como a família
era católica, e
por preconceito,
não aceitou a
sugestão. A
amiga insistiu,
contando-lhe
inúmeros casos
de curas
realizadas por
aquele médium.
Porfírio, sem
outra
alternativa,
resolveu
procurá-lo.
O Guia
Espiritual
prometeu-lhe um
tratamento,
porém, antes,
teria que ouvir
a leitura de
O Livro dos
Espíritos e
de O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
de Kardec.
No regresso para
casa adquiriu os
livros
indicados, e sua
filha mais
velha, todos os
dias, lia
trechos para
ele. Pouco tempo
depois, Porfírio
começou a ouvir
vozes e a ver
Espíritos, que
lhe instruíam
diretamente,
desabrochando-lhe,
assim, várias
faculdades
mediúnicas.
Por conselho
espiritual, no
início ano de
1918, passou a
frequentar o
Centro Espírita
“Cristófilos”
(4), no bairro
do Catete, na
cidade do Rio de
Janeiro-RJ.
Porfírio estava,
então, com 35
anos de idade e
desde os 28
afastado do
serviço,
motivado pela
perda da
visão.
Reunindo os
irmãos em
Assembleia Geral
Ordinária a 1º
de maio desse
mesmo ano para a
eleição de nova
diretoria, e
havendo
dificuldade para
o preenchimento
do cargo de
Presidente, em
razão de todos
haverem se
declarado
incapacitados
para exercê-lo,
e, diante das
recusas
apresentadas
pelos presentes,
o Mentor e Guia
espiritual da
Casa, Antônio de
Oliveira,
manifestou-se
através de um
médium e indicou
Porfírio para a
Presidência.
Receoso por
haver chegado ao
Centro naquele
mesmo ano e já
assumir elevado
encargo, relutou
mas acabou
aceitando essa
responsabilidade
pelo
encorajamento
que lhe deu o
Mentor através
do mesmo médium,
dizendo-lhe que
estaria ao seu
lado, assim como
todos os Guias
da Casa,
assistindo-o e
impulsionando
seu trabalho,
além do
surgimento de
dons mediúnicos
que muito o
surpreenderiam.
Diante da
responsabilidade
e com o amparo
manifestado,
Porfírio aceitou
o encargo,
emocionado,
desenvolvendo um
trabalho
apostolar, tanto
no campo
mediúnico como
no doutrinário,
ficando
conhecido como
“O Ceguinho do
Catete”. Sua
fama atravessou
fronteiras,
sendo procurado
por verdadeira
multidão de
sofredores. No
trabalho com
Jesus readquiriu
a fé e a
serenidade,
realizando
tarefas
extraordinárias.
Possuía o dom da
vidência,
audiência,
psicofonia; da
cura com a
imposição das
mãos, e
diagnóstico do
local exato das
doenças, vendo
os órgãos
internos e
distinguindo as
lesões ou os
processos
obsessivos e
sabendo quando
era o caso de
passe ou
tratamento.
"Com
surpresa
verificou que
passou a ser o
médium de Dr.
Bezerra, que,
por seu
intermédio,
receitava para
pobres e até
ricos que o
procuravam.
Muitas curas
foram feitas
neste Centro por
intermédio de
Porfírio.
Assim como Chico
Xavier,
conversava com
Emmanuel.
Porfírio
conversava
também com
Bezerra e outros
diretores
espirituais
desta casa. Suas
doutrinações
eram
maravilhosas;
prendiam o
auditório, e
muitas vezes
lágrimas
arrancava dos
próprios
Espíritos, como
também dos
assistentes."(5)
Na presidência
do Centro
Espírita
Cristófilos,
Porfírio
permaneceu de
1918 a 1946,
perfazendo um
total de 28
anos, 5 meses e
7 dias.
Pregador emérito
do Evangelho e
doutrinador
seguro, foi ele
responsável pelo
desenvolvimento
de grandes
médiuns e pela
conversão ao
Espiritismo de
muitos nomes que
ficaram famosos
no campo
doutrinário e
assistencial, na
linha de frente
da propaganda
doutrinária.
No jornal A
Manhã, do
Rio de Janeiro,
edição de
20-8-1942, na
seção Mundo
Social, eis
a íntegra da
nota referente
ao aniversário
do médium:
"Porfírio Duarte
Bezerra Junior —
Fez anos ontem o
nosso colega de
imprensa,
Porfírio Duarte
Bezerra Junior,
diretor de O
Christóphilo
e presidente do
Centro Espírita
Christóphilos.
Espírito culto e
coração
boníssimo, o
aniversariante,
cuja vida é um
constante
apostolado pela
caridade e maior
compreensão
entre as
criaturas,
recebeu efusivas
demonstrações de
sincera amizade,
por parte de
seus inúmeros
confrades,
amigos e
admiradores. Ao
caro colega,
enviamos também
os nossos
cumprimentos".
O médium não
consentiu que o
seu trabalho
fosse suspenso.
Em seu leito de
dor cumpria
fielmente os
seus deveres de
médium
receitista,
procurando
amenizar o
sofrimento
alheio,
esquecendo-se de
seu próprio. Os
pedidos de
receita eram
levados à sua
residência e
todos eram
providenciados
por
Porfírio.
Foi buscar para
si o que tinha
de sobra para
dar, mas não
sabia.
Com Porfírio
cumpria-se mais
uma das
afirmativas do
Divino Mestre:
“Em verdade vos
digo que aquele
que crê em mim
fará também as
obras que eu
faço, e outras
maiores” - João,
14: 12.
Referências:
Nota do
autor:
Agradecimentos à
Sra. Ondina
Magalhães, atual
presidente do C.
E. "Cristófilos"
- Niterói-Rio de
Janeiro-RJ.