Desejo e prazer
Joanna
de Ângelis
O desejo, que
leva ao prazer,
pode originar-se
no instinto, em
forma de
necessidade
violenta e
insopitável,
tornando-se um
impulso que se
sobrepõe à
razão,
predominando em
a natureza
humana, quando
ainda primitiva
na sua forma de
expressão. Nesse
caso, torna-se
imperioso,
devorador e
incessante. Sem
o controle da
razão,
desarticula os
equipamentos
delicados da
emoção e conduz
ao desajuste
comportamental.
Como sede
implacável, não
se sacia, porque
é devoradora,
mantendo-se a
nível de
sensação
periférica na
área dos
sentimentos que
se não deixam de
todo dominar É
voraz e
tormentoso,
especialmente na
área genésica,
expressando-se
como erotismo,
busca sexual
para o gozo.
Em esfera mais
elevada,
torna-se
sentimento,
graças à
conquista de
algum ideal,
alguma
aspiração,
anseio por
alcançar metas
agradáveis e
desafiadoras,
propensão à
realização
enobrecedora.
Dir-se-á que as
duas formas
confundem-se em
uma única, o
que, para nós,
tem sentido
diferente,
quando
examinamos a
função sexual e
o desejo do
belo, do nobre,
do harmonioso,
em comparação
àquele de
natureza
orgânica,
erótica, de
compensação
imediata até
nova e
tormentosa
busca.
O desejo
impõe-se como
fenômeno
biológico, ético
e estético,
necessitando ser
bem administrado
em um como
noutro caso, a
fim de se tornar
motivação para o
crescimento
psicológico e
espiritual do
ser humano.
É natural,
portanto, a
busca do prazer,
esse desejo
interior de
conseguir o
gozo, o
bem-estar, que
se expressa após
a conquista da
meta em pauta.
Por sua vez, o
prazer é
incontrolável,
assim como não
administrável
pela criatura
humana.
Goethe afirmava
que ele
constituía uma
verdadeira
dádiva de Deus
para todos
quantos se
identificam com
a vida e que se
alegram com o
esplendor e a
beleza que ela
revela. A vida,
em consequência,
retribui-o
através do amor
e da graça.
O prazer se
apresenta sob
vários aspectos:
orgânico,
emocional,
intelectual,
espiritual,
sendo, ora
físico,
material, e
noutros momentos
de natureza
abstrata,
estético,
efêmero ou
duradouro, mas
que deve ser
registrado
fortemente no
psiquismo, para
que a existência
humana expresse
o seu
significado.
O prazer
depende, não
raro, de como
seja
considerado.
Aquilo que é
bom,
genericamente dá
prazer, abrindo
espaço para o
medo da perda,
das faltas, ou
para as
situações em que
pode gerar
danos,
auxiliando na
queda do
indivíduo em
calabouços de
aflição.
Muitas pessoas
consideram o
prazer apenas
como sendo
expressão da
lascívia, e se
olvidam daquele
que decorre dos
ideais
conquistados, da
beleza que se
expande em toda
parte e pode ser
contemplada, das
inefáveis
alegrias do
sentimento
afetuoso, sem
posse, sem
exigência, sem o
condicionamento
carnal.
Por uma herança
atávica, grande
número de
pessoas tem medo
do prazer, da
felicidade, por
associá-lo ao
pecado, à falta
de mérito, que
se tornaria uma
dívida a
resgatar,
ensejando à
desgraça vir-lhe
empós, ou,
talvez, como
sendo uma
tentação
diabólica para
retirar a alma
do caminho do
bem.
Tal castração
punitiva, que se
prolongou por
muitos séculos,
ao ser vencida
deixou uma certa
consciência de
culpa que,
liberada, vem
conduzindo uma
verdadeira
legião de
gozadores ao
desequilíbrio,
ao abuso, ao
extremo das
aberrações.
Como efeito
secundário,
ainda existem
muitas pessoas
que temem o
prazer ou que
procuram
dissimulá-lo,
envolvendo-o em
roupagens
variadas de
desculpismos,
para acalmar
seus conflitos
subjacentes.
Acentuamos,
porém, que o
prazer é uma
força criadora,
predominante em
tudo e em todos,
responsável pela
personalidade,
mesmo pela
esperança.
Muitas vezes, é
confundido com o
desejo de tudo
possuir, a fim
de desfrutar,
mais tarde, da
cornucópia
carregada de
todos os gozos,
preferentemente
o de natureza
sexual.
Wilhelm Reich, o
eminente autor
da
Bioenergética,
centrou, no
prazer, todas as
buscas e
aspirações
humanas,
considerando que
a pessoa é
somente o seu
corpo, e que
este é
constituído por
um sistema
energético, que
deve ser
trabalhado,
sempre que a
couraça bloqueie
a emoção,
propondo como
terapia a Teoria
dos Anéis, a fim
de, através da
sua aplicação
nas couraças
correspondentes,
poder liberar a
emoção
encarcerada.
Tendo no corpo
somente a razão
de ser da vida,
Reich tornou-se
apologista do
prazer carnal,
sensual, capaz
de levar ao
estado de
felicidade
psicológica,
emocional.
A natureza
espiritual do
ser humano, no
entanto, não
mereceu qualquer
referencial de
Reich, assim
como de outros
estudiosos do
comportamento e
da criatura em
si mesma, na sua
complexidade,
ficando em plano
secundário.
Desse modo, o
desejo e o
prazer se
transformam em
alavancas que
promovem o
indivíduo ou
abismos que o
devoram.
A essência da
vida corporal,
no entanto, é a
conquista de si
mesmo, a luta
bem direcionada
para que se
consiga a
vitória do Self,
a sua harmonia,
e não apenas o
gozo breve, que
se transfere de
um estágio para
outro, sempre
mais ansioso e
perturbador.
Do livro
Amor, imbatível
amor, de
Joanna de
Ângelis, obra
mediúnica
psicografada
pelo médium
Divaldo Franco.