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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda

Ano 10 - N° 508 - 19 de Março de 2017

THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)
 

 

Sexo e Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda

(Parte 29)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro Sexo e Obsessão, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada originalmente em 2002.

Questões preliminares 

A. Quem foi, no passado, Rosa Keller?

Principal personagem do encontro agendado com o marquês de Sade, Rosa Keller conheceu o marquês quando era ainda muito jovem. Segundo o mentor Anacleto, ela foi, em verdade, vítima dos abusos praticados pelo marquês, o que a levou a um estado de quase morte, tais as escabrosidades e vilezas que dele sofreu. A partir de então, a jovem passou de mão em mão, desrespeitada por todos que souberam do seu envolvimento com o marquês de Sade, continuando seus suplícios mesmo depois de sua desencarnação. (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.)

B. Qual a visão que marquês de Sade tinha sobre o sexo?

Mesmo estando desencarnado há tanto tempo, sua visão acerca do sexo continuava deplorável. Na concepção do marquês, o sexo é o objetivo único da existência execrável que a Vida nos concede. Fruí-lo até à destruição de si mesmo é a única finalidade de que dispõe o ser humano. (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.)

C. Qual a finalidade do encontro entre o marquês de Sade e Rosa Keller?

O encontro fazia parte de um plano cujo objetivo era libertar Rosa Keller e Madame X da insidiosa enfermidade que as afetava, beneficiando igualmente o próprio marquês. Para isso, os três personagens principais ali se encontravam. Aliás, quando viu padre Mauro assumir a forma feminina de Madame X, o marquês de Sade não sopitou sua surpresa, porque não havia sido previamente informado de que Madame X também ali estaria. (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.)

Texto para leitura 

141. O caso Rosa Keller – O irmão Anacleto, sem mais delongas, explicou ao marquês de Sade que ali se encontrava alguém que se lhe vinculava desde há muito tempo, e que necessitava de apoio para libertar-se da desdita em que mergulhara, fazia mais de dois séculos. Tratava-se da rapariga Rosa Keller, que ele conhecera em plena juventude. De imediato, a paciente foi trazida e colocada sobre uma cama que se encontrava no centro do semicírculo. Ressonando, estertorava com seguidas convulsões que a desnaturavam, apresentando um aspecto deplorável. O marquês contemplou-a, algo surpreso, e desabafou: “Essa infeliz foi responsável por muitos dissabores que me acometeram após haver-me relacionado com ela. Por sua causa fui levado ao cárcere e nunca a perdoei. Com ela começou o meu período de humilhações, que soube superar, mantendo-me inatingido pelos meus inimigos e perseguidores”. O Mentor lhe respondeu: “Sem dúvida, com a pobre Rosa, o senhor marquês exteriorizou os tormentos que o afligiam e o celebrizaram nos seus espetáculos de perturbação sexual. Mas não foi a pobre vítima quem se fez responsável pelas consequências da crueldade praticada para com ela, quando abusou da sua inocência e a levou a um estado de quase morte, tais as escabrosidades e vilezas praticadas. Foi o estado lamentável em que o senhor marquês a deixou, que despertou o interesse da polícia para punir esse comportamento hediondo, o que redundou no seu primeiro encarceramento...” Ele quis protestar, porém sentiu-se inibido pela primeira vez. O clima psíquico reinante no ambiente diminuía-lhe a capacidade de comunicação, especialmente à que se encontrava acostumado na furna em que reinava. (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.) 

142. Madame X no recinto – Segundo o Mentor, a partir daquele momento, desprezada e perseguida por todos, Rosa passou de mão em mão, cada uma caracterizada por maior hediondez, até que tombou desvairada na mais áspera degradação humana, em um hospício, sendo seviciada por outros doentes que lhe compartiam a desventura. E desde quando desencarnou, vem sendo arrastada por Espíritos cruéis para sítios de horror onde tem permanecido, evocando aquele que a infelicitou e desejando desforçar-se. Passaram-se dois séculos de dor e de sombra, de falta de esperança e de alegria, até que, mais recentemente, luziu-lhe bendita oportunidade, que agora estava sendo convertida em recuperação. Para que houvesse, porém, o reequilíbrio, era necessário percorrer um longo caminho, que naquele momento se iniciava. Anacleto fez uma pausa, e logo deu prosseguimento: “Não nos referimos apenas a Rosa Keller, mas a todos quantos foram vítimas dos desvarios do senhor marquês, cuja memória na Terra está associada às páginas de Justine, de Juliette e de outras personagens moralmente enfermas, e que hoje se alastram pelo mundo como espetáculos de primitivismo, de barbarismo. Gostaria de apresentar ao nosso convidado uma sua antiga amiga, Madame X”. Dito isso, padre Mauro, adormecido, foi conduzido igualmente por padioleiros vigilantes e colocado em outro leito ao lado de Rosa Keller. O marquês olhou-o, e revidou, surpreso, interrogando: “Sei que minha querida amiga se encontra nessa estranha forma de sacerdote explorador da infância, mas que tenho eu com o problema?” (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.) 

143. Uma visão equivocada sobre a vida – Anacleto, respondendo ao marquês, disse que ele tinha, sim, muito a ver com as atitudes atuais de Madame X (hoje padre Mauro), porque ela tem sido sua hóspede durante muitas bacanais na cidade perversa, onde cada vez mais se nutre de miasmas doentios e escravizadores. E informou: “Nesta conjuntura, porém, a sua existência deverá redefinir rumos para o futuro, porquanto está a um passo da loucura ou do suicídio, tais os desmandos que se tem permitido sob sua inspiração. Convenhamos que o império da sensualidade e da morbidez, por mais longo se manifeste, é sempre de duração efêmera, não podendo prolongar-se indefinidamente sem consumir aqueles que o vitalizam”. O marquês ripostou, alterado: “Não tenho nada a ver com isso. Houvesse previsto que, afinal, não existe nada contra mim, que não seja o repetir dos mesmos argumentos insossos com que sempre sou acusado, e não teria perdido o meu tempo em aceitar esta entrevista-farsa. Não ignoro, é claro, os artifícios de que se utilizam os puritanos e frustrados do sexo, para desmantelarem a nossa Organização, o que sempre vem redundando em inutilidade, já que somos poderosos e contamos com o apoio dos homens reencarnados na Terra e outros que se encontram fora do corpo. O sexo é o objetivo único da existência execrável que a Vida nos concede. Fruí-lo até à destruição de si mesmo é a única finalidade de que dispõe o ser humano. Sei, por experiência pessoal, que a vida não passa de uma neblina que a nossa mente vitaliza ou desorganiza. Tudo quanto operamos pelo pensamento torna-se realidade, merecendo, portanto, somente existir o que nos agrada e nos compensa emocionalmente. Sei que um dia me extinguirei, como o fumo que desaparece tão logo termina a fonte de combustão. Por isso, reinarei nos meus domínios, propiciando a todos quantos pensam e gozam como eu, o prazer infinito e variado que a imaginação pode conceber...” (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.) 

144. O ser humano aspira a ideais mais elevados – Ao ouvir tais ideias, que chamou de “lamentável quimera”, o Mentor elucidou: “Os longos anos de exorbitância e de despudor laceraram-lhe a alma, cujos tecidos sutis estão pejados de energias tóxicas, que se vão transformando em tédio com irrupção de violência cada vez mais selvagem, sem atender o insaciável desejo de mais gozo. Tudo chega a um ponto de saturação, até o mal que cada qual se faz a si mesmo e ao seu próximo, transformando-se em flagelo íntimo, que não mais proporciona o prazer mórbido por ocasionar danos e sofrimentos nos demais. É o que vem ocorrendo com o senhor marquês... Soa-lhe, também, a hora da exaustão. A sua imaginação não mais pode conceber nada que não haja sido experienciado. A decantada liberação sexual entre os seres humanos, sob a sua e outras odientas inspirações, que chegou à Terra por inúmeros ex-residentes da cidade perversa, após o impacto novidadeiro vem perdendo adoradores, enquanto alguns ambiciosos, incapazes de progredir mediante processos de honradez e de valor, apelam para as cavilosas manifestações da promiscuidade e das aberrações, fazendo que logo mais esteja totalmente ultrapassada. O ser humano aspira, queira-o ou não, a ideais mais elevados e a patamares diferentes de experiências emocionais, nos quais as sensações são transformadas em emoções em torno do bom, do belo, do libertador. Toda canga pesa demasiado até tornar-se um fardo insuportável... É o que vem sucedendo com o senhor marquês. Podemos identificar a sua necessidade de renovação, captamos as suas aspirações pela liberdade e os anelos íntimos por novas experiências...” (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.) 

145. Objetivo do aguardado encontro – O Benfeitor calou-se, por um pouco, e logo deu prosseguimento: “Enquanto alguns iniciantes encontram-se deslumbrados pelos prazeres exóticos e pelas aberrações da loucura, desejando vivê-los até a exaustão, na viagem sem sentido do corpo, que pretendem prolongar fora das vísceras orgânicas, aqueles que se têm entregado à luxúria e ao despautério encontram-se lassos e já desinteressados do jogo ilusório dos sentidos, experimentando a falta do sentimento do amor. Sem o amor, a vida não tem qualquer objetivo, nenhum significado, porque toda sensação desaparece após ser atendida, enquanto que as aspirações do afeto, do sentimento da beleza, do conhecimento profundo, da autorrealização, da plenitude, cada vez mais motivam, porque têm caráter e sabor de infinito. Não pense, porém, o senhor marquês, que estamos desejando violentar-lhe a forma de viver, pela qual optou espontaneamente e a que se vem entregando desde há expressivo tempo... O nosso é o interesse de libertar Rosa Keller e Madame X, bem como algumas das vítimas da insidiosa enfermidade que as afeta e que, certamente, com o seu auxílio, será erradicada, beneficiando-o também”. O marquês estrugiu ruidosa gargalhada, esfogueando o semblante deformado, num aspecto mais de máscara que de face, com anomalias decorrentes das construções mentais, que o apresentava com características de algum fauno mitológico estranho e aberrante. Nesse momento, a um sinal quase imperceptível do irmão Anacleto, Dilermando aproximou-se de padre Mauro e começou a aplicar-lhe passes dispersivos, a princípio sobre os chacras coronário e cerebral, como se estivesse dissolvendo energias condensadas naquelas áreas, para logo prolongar os movimentos na direção longitudinal do corpo adormecido. Lentamente o perispírito do sacerdote assumiu a forma feminina, e Madame despertou recuperando a lucidez com relativa facilidade. Logo após, percorreu os olhos pelo ambiente e identificou o marquês de Sade, que não sopitou a surpresa do reencontro, sorrindo jovialmente e algo estimulado, provocando na Entidade inesperado constrangimento, quase um receio que não se esforçou por ocultar. (Sexo e Obsessão, capítulo 16: O reencontro.) (Continua no próximo número.)



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita