Sexo e Obsessão
Manoel Philomeno
de Miranda
(Parte 29)
Damos sequência
ao estudo metódico
e sequencial do
livro Sexo e Obsessão,
obra de
autoria de
Manoel Philomeno
de Miranda,
psicografada por
Divaldo P.
Franco
e publicada originalmente em 2002.
Questões
preliminares
A. Quem foi, no
passado, Rosa
Keller?
Principal
personagem do
encontro
agendado com o
marquês de Sade,
Rosa Keller
conheceu o
marquês quando
era ainda muito
jovem. Segundo o
mentor Anacleto,
ela foi, em
verdade, vítima
dos abusos
praticados pelo
marquês, o que a
levou a um
estado de quase
morte, tais as
escabrosidades e
vilezas que dele
sofreu. A partir
de então, a
jovem passou de
mão em mão,
desrespeitada
por todos que
souberam do seu
envolvimento com
o marquês de
Sade,
continuando seus
suplícios mesmo
depois de sua
desencarnação.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
B. Qual a visão
que marquês de
Sade tinha sobre
o sexo?
Mesmo estando
desencarnado há
tanto tempo, sua
visão acerca do
sexo continuava
deplorável. Na
concepção do
marquês, o sexo
é o objetivo
único da
existência
execrável que a
Vida nos
concede. Fruí-lo
até à destruição
de si mesmo é a
única finalidade
de que dispõe o
ser humano.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
C. Qual a
finalidade do
encontro entre o
marquês de Sade
e Rosa Keller?
O encontro fazia
parte de um
plano cujo
objetivo era
libertar Rosa
Keller e Madame
X da insidiosa
enfermidade que
as afetava,
beneficiando
igualmente o
próprio marquês.
Para isso, os
três personagens
principais ali
se encontravam.
Aliás, quando
viu padre Mauro
assumir a forma
feminina de
Madame X, o
marquês de Sade
não sopitou sua
surpresa, porque
não havia sido
previamente
informado de que
Madame X também
ali estaria.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
Texto para
leitura
141. O
caso Rosa Keller
– O irmão
Anacleto, sem
mais delongas,
explicou ao
marquês de Sade
que ali se
encontrava
alguém que se
lhe vinculava
desde há muito
tempo, e que
necessitava de
apoio para
libertar-se da
desdita em que
mergulhara,
fazia mais de
dois séculos.
Tratava-se da
rapariga Rosa
Keller, que ele
conhecera em
plena juventude.
De imediato, a
paciente foi
trazida e
colocada sobre
uma cama que se
encontrava no
centro do
semicírculo.
Ressonando,
estertorava com
seguidas
convulsões que a
desnaturavam,
apresentando um
aspecto
deplorável. O
marquês
contemplou-a,
algo surpreso, e
desabafou: “Essa
infeliz foi
responsável por
muitos
dissabores que
me acometeram
após haver-me
relacionado com
ela. Por sua
causa fui levado
ao cárcere e
nunca a perdoei.
Com ela começou
o meu período de
humilhações, que
soube superar,
mantendo-me
inatingido pelos
meus inimigos e
perseguidores”.
O Mentor lhe
respondeu: “Sem
dúvida, com a
pobre Rosa, o
senhor marquês
exteriorizou os
tormentos que o
afligiam e o
celebrizaram nos
seus espetáculos
de perturbação
sexual. Mas não
foi a pobre
vítima quem se
fez responsável
pelas
consequências da
crueldade
praticada para
com ela, quando
abusou da sua
inocência e a
levou a um
estado de quase
morte, tais as
escabrosidades e
vilezas
praticadas. Foi
o estado
lamentável em
que o senhor
marquês a
deixou, que
despertou o
interesse da
polícia para
punir esse
comportamento
hediondo, o que
redundou no seu
primeiro
encarceramento...”
Ele quis
protestar, porém
sentiu-se
inibido pela
primeira vez. O
clima psíquico
reinante no
ambiente
diminuía-lhe a
capacidade de
comunicação,
especialmente à
que se
encontrava
acostumado na
furna em que
reinava.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
142.
Madame X no
recinto
– Segundo o
Mentor, a partir
daquele momento,
desprezada e
perseguida por
todos, Rosa
passou de mão em
mão, cada uma
caracterizada
por maior
hediondez, até
que tombou
desvairada na
mais áspera
degradação
humana, em um
hospício, sendo
seviciada por
outros doentes
que lhe
compartiam a
desventura. E
desde quando
desencarnou, vem
sendo arrastada
por Espíritos
cruéis para
sítios de horror
onde tem
permanecido,
evocando aquele
que a
infelicitou e
desejando
desforçar-se.
Passaram-se dois
séculos de dor e
de sombra, de
falta de
esperança e de
alegria, até
que, mais
recentemente,
luziu-lhe
bendita
oportunidade,
que agora estava
sendo convertida
em recuperação.
Para que
houvesse, porém,
o reequilíbrio,
era necessário
percorrer um
longo caminho,
que naquele
momento se
iniciava.
Anacleto fez uma
pausa, e logo
deu
prosseguimento:
“Não nos
referimos apenas
a Rosa Keller,
mas a todos
quantos foram
vítimas dos
desvarios do
senhor marquês,
cuja memória na
Terra está
associada às
páginas de
Justine, de
Juliette e de
outras
personagens
moralmente
enfermas, e que
hoje se alastram
pelo mundo como
espetáculos de
primitivismo, de
barbarismo.
Gostaria de
apresentar ao
nosso convidado
uma sua antiga
amiga, Madame
X”. Dito isso,
padre Mauro,
adormecido, foi
conduzido
igualmente por
padioleiros
vigilantes e
colocado em
outro leito ao
lado de Rosa
Keller. O
marquês olhou-o,
e revidou,
surpreso,
interrogando:
“Sei que minha
querida amiga se
encontra nessa
estranha forma
de sacerdote
explorador da
infância, mas
que tenho eu com
o problema?”
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
143. Uma
visão equivocada
sobre a vida
– Anacleto,
respondendo ao
marquês, disse
que ele tinha,
sim, muito a ver
com as atitudes
atuais de Madame
X (hoje padre
Mauro), porque
ela tem sido sua
hóspede durante
muitas bacanais
na cidade
perversa, onde
cada vez mais se
nutre de miasmas
doentios e
escravizadores.
E informou:
“Nesta
conjuntura,
porém, a sua
existência
deverá redefinir
rumos para o
futuro,
porquanto está a
um passo da
loucura ou do
suicídio, tais
os desmandos que
se tem permitido
sob sua
inspiração.
Convenhamos que
o império da
sensualidade e
da morbidez, por
mais longo se
manifeste, é
sempre de
duração efêmera,
não podendo
prolongar-se
indefinidamente
sem consumir
aqueles que o
vitalizam”. O
marquês ripostou,
alterado: “Não
tenho nada a ver
com isso.
Houvesse
previsto que,
afinal, não
existe nada
contra mim, que
não seja o
repetir dos
mesmos
argumentos
insossos com que
sempre sou
acusado, e não
teria perdido o
meu tempo em
aceitar esta
entrevista-farsa.
Não ignoro, é
claro, os
artifícios de
que se utilizam
os puritanos e
frustrados do
sexo, para
desmantelarem a
nossa
Organização, o
que sempre vem
redundando em
inutilidade, já
que somos
poderosos e
contamos com o
apoio dos homens
reencarnados na
Terra e outros
que se encontram
fora do corpo. O
sexo é o
objetivo único
da existência
execrável que a
Vida nos
concede. Fruí-lo
até à destruição
de si mesmo é a
única finalidade
de que dispõe o
ser humano. Sei,
por experiência
pessoal, que a
vida não passa
de uma neblina
que a nossa
mente vitaliza
ou desorganiza.
Tudo quanto
operamos pelo
pensamento
torna-se
realidade,
merecendo,
portanto,
somente existir
o que nos agrada
e nos compensa
emocionalmente.
Sei que um dia
me extinguirei,
como o fumo que
desaparece tão
logo termina a
fonte de
combustão. Por
isso, reinarei
nos meus
domínios,
propiciando a
todos quantos
pensam e gozam
como eu, o
prazer infinito
e variado que a
imaginação pode
conceber...”
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
144. O ser
humano aspira a
ideais mais
elevados
– Ao ouvir tais
ideias, que
chamou de
“lamentável
quimera”, o
Mentor elucidou:
“Os longos anos
de exorbitância
e de despudor
laceraram-lhe a
alma, cujos
tecidos sutis
estão pejados de
energias
tóxicas, que se
vão
transformando em
tédio com
irrupção de
violência cada
vez mais
selvagem, sem
atender o
insaciável
desejo de mais
gozo. Tudo chega
a um ponto de
saturação, até o
mal que cada
qual se faz a si
mesmo e ao seu
próximo,
transformando-se
em flagelo
íntimo, que não
mais proporciona
o prazer mórbido
por ocasionar
danos e
sofrimentos nos
demais. É o que
vem ocorrendo
com o senhor
marquês...
Soa-lhe, também,
a hora da
exaustão. A sua
imaginação não
mais pode
conceber nada
que não haja
sido
experienciado. A
decantada
liberação sexual
entre os seres
humanos, sob a
sua e outras
odientas
inspirações, que
chegou à Terra
por inúmeros
ex-residentes da
cidade perversa,
após o impacto
novidadeiro vem
perdendo
adoradores,
enquanto alguns
ambiciosos,
incapazes de
progredir
mediante
processos de
honradez e de
valor, apelam
para as
cavilosas
manifestações da
promiscuidade e
das aberrações,
fazendo que logo
mais esteja
totalmente
ultrapassada. O
ser humano
aspira, queira-o
ou não, a ideais
mais elevados e
a patamares
diferentes de
experiências
emocionais, nos
quais as
sensações são
transformadas em
emoções em torno
do bom, do belo,
do libertador.
Toda canga pesa
demasiado até
tornar-se um
fardo
insuportável...
É o que vem
sucedendo com o
senhor marquês.
Podemos
identificar a
sua necessidade
de renovação,
captamos as suas
aspirações pela
liberdade e os
anelos íntimos
por novas
experiências...”
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
145.
Objetivo do
aguardado
encontro
– O Benfeitor
calou-se, por um
pouco, e logo
deu
prosseguimento:
“Enquanto alguns
iniciantes
encontram-se
deslumbrados
pelos prazeres
exóticos e pelas
aberrações da
loucura,
desejando
vivê-los até a
exaustão, na
viagem sem
sentido do
corpo, que
pretendem
prolongar fora
das vísceras
orgânicas,
aqueles que se
têm entregado à
luxúria e ao
despautério
encontram-se
lassos e já
desinteressados
do jogo ilusório
dos sentidos,
experimentando a
falta do
sentimento do
amor. Sem o
amor, a vida não
tem qualquer
objetivo, nenhum
significado,
porque toda
sensação
desaparece após
ser atendida,
enquanto que as
aspirações do
afeto, do
sentimento da
beleza, do
conhecimento
profundo, da
autorrealização,
da plenitude,
cada vez mais
motivam, porque
têm caráter e
sabor de
infinito. Não
pense, porém, o
senhor marquês,
que estamos
desejando
violentar-lhe a
forma de viver,
pela qual optou
espontaneamente
e a que se vem
entregando desde
há expressivo
tempo... O nosso
é o interesse de
libertar Rosa
Keller e Madame
X, bem como
algumas das
vítimas da
insidiosa
enfermidade que
as afeta e que,
certamente, com
o seu auxílio,
será erradicada,
beneficiando-o
também”. O
marquês estrugiu
ruidosa
gargalhada,
esfogueando o
semblante
deformado, num
aspecto mais de
máscara que de
face, com
anomalias
decorrentes das
construções
mentais, que o
apresentava com
características
de algum fauno
mitológico
estranho e
aberrante. Nesse
momento, a um
sinal quase
imperceptível do
irmão Anacleto,
Dilermando
aproximou-se de
padre Mauro e
começou a
aplicar-lhe
passes
dispersivos, a
princípio sobre
os chacras
coronário e
cerebral, como
se estivesse
dissolvendo
energias
condensadas
naquelas áreas,
para logo
prolongar os
movimentos na
direção
longitudinal do
corpo
adormecido.
Lentamente o
perispírito do
sacerdote
assumiu a forma
feminina, e
Madame despertou
recuperando a
lucidez com
relativa
facilidade. Logo
após, percorreu
os olhos pelo
ambiente e
identificou o
marquês de Sade,
que não sopitou
a surpresa do
reencontro,
sorrindo
jovialmente e
algo estimulado,
provocando na
Entidade
inesperado
constrangimento,
quase um receio
que não se
esforçou por
ocultar.
(Sexo e
Obsessão,
capítulo 16: O
reencontro.)
(Continua no
próximo número.)