O valor das pausas entre
as conversas
Vivemos num mundo de
impaciência pela demora
das respostas. Para
tudo, sobretudo, talvez,
em relação a filhos.
As gerações mais antigas
até se saem bem com a
sobrevivência sem
respostas imediatas às
mensagens de e-mails ou
nas redes sociais. Mas
que se experimente
emitir um zap
para um filho que saiu
da escola há algum
tempo, sem obter
resposta rápida. Poucos
não se deixam tomar pela
preocupação, ou mesmo
por uma ansiedade
obsessiva. E não me
refiro apenas aos
outros, como se eu mesma
fosse isenta do mal do
século. Falo por
experiência própria.
O problema em relação a
isso se agrava, para o
médium, se começamos a
refletir esse padrão
indesejável na
convivência com a
Espiritualidade. Porque,
para tudo, a vida,
nessas outras dimensões
melhores, obedece a um
ritmo diferente das
nossas realidades
provisórias de
reencarnados. Acontece,
portanto, completamente
liberta deste gênero de
neurastenia.
Noutro dia, com o
carisma amoroso do
costume, o meu mentor
desencarnado, Caio, me
passava compassiva
descompostura.
Pela enésima vez, é
possível, eu repetia
para ele, durante um dos
nossos intercâmbios, a
sabatina a que,
provavelmente, ele já me
respondera também um
sem-número de vezes:
- Caio, às vezes me
sinto desamparada! Por
que você não me
responde?! Justo
naqueles momentos em que
mais preciso de
orientação?!
Ora...
– Ele deve ter pensado
lá consigo próprio, de
dentro da santa
paciência de que todo
benfeitor espiritual é
dotado – E eu lá
tenho culpa se ela tira
a tomada do soquete e
quer que eu faça a tv
funcionar?
Mesmo assim, se revestiu
de fôlego para me
explicar mais uma vez.
- “Nunca deixo de lhe
responder. Mas você
baqueia, voluntária ou
involuntariamente a sua
condição vibratória, e
fica difícil estabelecer
sintonia. Além do mais,
tem dificuldades de se
recordar do que já lhe
expliquei. Observe se
durante a aplicação de
uma prova qualquer
professor se põe a falar
sem parar com os
estudantes,
desviando-lhes a atenção
do que leem,
interrompendo-os com
orientações mal
colocadas, em momento
impróprio. Assim, há
casos vários, enquanto
nos demoramos na
matéria, meu amor, em
que, por mais que
estejamos ao lado,
acompanhando, sabemos
que não é hora de
interferir! Porque vocês
estão capacitados para
mostrar mérito na
resolução das situações!
Em elevado número de
vezes se saem bem, sem
que precisem de ajuda,
embora o amor, o
irradiemos
ininterruptamente, via
empatia! Eu nunca me
ausento, portanto, do
seu lado; mas há
momentos em que, ou você
é barulhenta demais e
não nos ouve, ou corta a
nossa sintonia por
vibrar num padrão
inadequado, ou
simplesmente prescinde,
sem que note, da minha
ajuda!”
Suspirei, constrangida.
Retomei o senso,
dirigindo-lhe o devido
pedido de desculpas pelo
mau humor sem cabimento
e, como não poderia
deixar de ser, entrei em
reflexão útil.
Queremos, de maneira
despótica por vezes, a
assistência, a sugestão,
a resposta de nossos
benfeitores do invisível
como crianças birrentas
diante da lição valiosa
da escola que nos
importuna; mas a
convivência com eles não
pode ser como a que
diariamente realizamos
via redes sociais. Estas
nos servem para o lazer,
para a troca de
informações cotidianas
de menor ou maior
importância, mas, mesmo
assim, não deveríamos
nos escravizar a elas a
ponto de não respeitar
as necessárias pausas
entre as conversas.
Afinal, nossos amigos
têm múltiplas ocupações.
No lar ou na rua, podem
estar ocupados com uma
infinidade de coisas que
lhes desviam a atenção
da maquininha tirana,
que hoje em dia todos
carregamos em nossas
bolsas e carros como
esquisita extensão
mecânica de nós mesmos.
Com a Espiritualidade
amiga, no entanto, essa
verdade fala mais alto.
A comunicação entre
dimensões acontece de
forma instantânea,
obediente a leis
universais que superam,
de longe, a idolatrada
eficiência virtual da
tecnologia terrena -
todavia, também eles, os
nossos mentores e amigos
do mundo invisível, têm
multiplicidade de
atividades. Afinal,
habitam uma esfera da
vida muito mais rica, e
de horizontes muito mais
amplos do que nos
permitem, aqui, as
limitações da
materialidade. Não
podem, portanto, nos
pajear a cada segundo no
estágio de aprendizado
do qual devemos dar
conta de mérito próprio,
enquanto nos demorarmos
por aqui.
Mas isso não quer dizer
que, especialmente o
mentor, que nos
acompanha desde antes do
nosso reencarne,
devotado à sublime
missão de amparo, se
desligue de nós, ou do
que nos acontece, por um
momento que seja, pelas
vias instantâneas da
linguagem do coração.
É que, para eles, fica
muito mais claro o que
as pausas entre as
conversas representam,
sendo na vida material
muito mais preciosas do
que as palavras, porque
é na sua duração que se
vivencia, se
exemplifica, e se dá
mostras de valor, em
nome de tudo que
justifica a nossa e a
sua presença amorosa ao
nosso lado enquanto nos
demoramos na missão de
aprendizado e
aperfeiçoamento fraterno
deste mundo.