MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Humanices
Pedro mudara de casa
espírita novamente.
Chegara agora com sua
família ao Centro
Espírita Hilário Silva,
casa de vários trabalhos
e palpitantes palestras.
Ao chegar, como
trabalhador que era,
Pedro logo se engaja nas
atividades doutrinárias,
contribuindo com afinco
na seara espírita.
Passados um, dois, três
meses, e as relações de
Pedro com o pessoal da
casa começam a “azedar”.
Começa o disse-me-disse,
os ciuminhos, as
invejinhas, as intrigas
e fofocas. De
burocratismos a
mal-entendidos, o
trabalho começa a ficar
pesaroso, desgastante
para Pedro, que pensa em
desistir. Ir à casa
espírita torna-se um
fardo.
À noite, em suas preces,
ele pede fervorosamente
orientação e, quando
dorme, tem um sonho
daqueles nos quais nos
comunicamos com o Plano
espiritual. Nele um
Espírito com semblante
sereno e experiente lhe
diz: “- Filho, tenha
paciência... A casa
espírita é uma
organização humana, e,
como tal, é cheia de
humanices...”
Pedro acorda
sobressaltado, mas capta
o recado. Muda sua forma
de ver as coisas e as
pessoas, e foca no
trabalho. Relevando
daqui, compreendendo de
lá, adentra com mais
força no trabalho na
seara do Senhor.
Assim como o
protagonista da breve
história que abre esse
artigo, todos nós
cometemos o equívoco de
atribuir à casa
espírita, por ser um
templo religioso, uma
aura de local
santificado, para além
das fraquezas humanas.
Buscamos lá encontrar
santos purificados e nos
enchemos de expectativas
sobre as pessoas e suas
relações. Mas a
realidade vem,
implacável, e nos
decepcionamos...
Como disse o Espírito no
sonho de Pedro, a casa
espírita é uma
organização humana, um
instrumento para nosso
processo evolutivo, mas
humano. Humano como é o
hospital, a escola, o
clube, cada qual com a
sua finalidade no nosso
contexto social.
Sendo a organização
humana que trabalha a
nossa espiritualidade,
ainda que esperemos que
cada um mostre o seu
melhor, cada um
apresenta o possível
naquele momento, e
terminamos, às vezes,
por nos decepcionar,
dada a grande
expectativa em confronto
às humanices que
encontramos, em
especial, a inveja, o
ciúme, a ganância e a
maledicência.
Já conhecemos essa
abordagem de ver nos
templos religiosos
santos, fora do mundo
real. Os túmulos caiados
ao qual se referia
Jesus. Sabemos que não
dá certo... Temos que
enxergar na casa
espírita o irmão nosso
de cada dia, que ali
tenta se melhorar nos
papéis que surgem, como
evangelizador, como
palestrante, como
trabalhador, dirigente,
ou mesmo um atento
frequentador.
Mais do que um local de
santos, a casa espírita
é um local de trabalho e
estudo, ferramentas que
nos farão melhores na
mágica do cotidiano.
Fugir do local pela
decepção é esquecer que
em outras casas
encontraremos as mesmas
humanices, humanices
essas que também
trazemos em alguma
medida e que somente
serão trabalhadas no
convívio com o outro,
aprendendo a amar.