RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
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Os cristãos dos domingos
“O campo é o mundo.” –
Jesus (Mateus, 13:38)
Tenho a impressão que
aos domingos Deus tem um
tempinho de visitar o
nosso pequenino planeta
inserido na imensidão
cósmica.
Digo isso porque desde a
minha infância eu ouvia
dizer que era preciso ir
à Igreja cumprir a nossa
obrigação para com Deus.
Será que só nesse dia
Ele podia visitar um
pouco a humanidade
terrestre? E fiquei a
observar e a meditar!
Aos domingos vejo casais
de braços dados, que
durante a semana inteira
não têm tempo de um
simples abraço,
caminharem lado a lado,
felizes, em direção ao
templo da sua fé. Lá
permanecem respeitosos
durante as cerimônias.
Contudo, ao saírem do
recinto, levam a
sensação de que já
cumpriram a obrigação
para com o Criador.
Antes de prosseguir, uma
pergunta: não seria
nossa obrigação para com
o semelhante?
Será, realmente, tão
simples assim cumprir
com essa obrigação?
Obviamente que não. A
afirmativa de Jesus
citada por Mateus é
bastante clara. “O campo
é o mundo”, ou seja, em
todo e qualquer local
onde exista um
necessitado, aí está o
convite ao trabalho para
os chamados que souberem
se fazer escolhidos.
Pelo menos os que se
intitulam de cristãos.
Não vou comentar sobre
as outras religiões
porque o objetivo dessas
linhas não é promover
ataques à fé religiosa
de ninguém. Mas os
espíritas que me
desculpem. De nós eu vou
me atrever a falar. Que
me perdoem os que não
estejam enquadrados nos
exemplos que se seguem.
Vejo espíritas
comparecerem a palestras
onde o orador de boa
vontade deixa sua
família, enfrenta os
riscos de uma rodovia
para trazer a sua
mensagem cristã sob o
enfoque espírita.
Parece-me que muitos que
comparecem para ouvir o
visitante, se dirigem
para o Centro sem o
mesmo entusiasmo com que
se locomoveriam para uma
festa entre amigos.
Quando convidados a
participar de uma tarefa
na Casa espírita, o que
mais desejam é
desenvolver mediunidade,
sentando-se por uma
existência inteira à
mesa onde se reúnem os
pretendentes a dar
oportunidade aos
Espíritos desencarnados.
Lembro-me, então, de que
Chico Xavier dizia que
mediunidade também se
desenvolve varrendo o
Centro e limpando os
banheiros que se
destinam ao público. Mas
é óbvio que esse serviço
não atende aos objetivos
dos candidatos a
mediunidade.
Depois me lembro de dona
Yvonne Pereira, fabulosa
médium, quando ensinava
que mediunidade não se
desenvolve, se educa. Ou
seja, quando se é
realmente portador de
mediunidade, ela precisa
ser educada, e não
desenvolvida. E aí surge
outro problema: como
educar mediunidade sem
estudar O Livro Dos
Médiuns? Sim, porque
a fila para sentar-se à
mesa à espera de alguma
comunicação escrita ou
falada é muito grande,
mas a fila para os
estudos das obras
básicas é bastante
pequena.
E depois de todas essas
considerações, a
lembrança de que a
mediunidade continua a
ser educada também fora
do Centro Espírita no
nosso dia a dia, porque
não se pode ser médium
espírita apenas dentro
da Casa e voltar a ser
um cidadão sem
compromissos com os
ensinamentos morais do
Espiritismo fora dela.
São os cristãos dos
domingos. Quando saem do
seu templo de oração,
deixam os compromissos
espirituais na porta e
mergulham na correria da
vida como cidadãos
descompromissados para
com os seus deveres
espirituais.
O convite para
participar da equipe que
trabalha na confecção de
enxovais para crianças
pobres, participar do
grupo de visita a
enfermos nos hospitais,
participar com aqueles
que visitam os velhos
nos asilos e as crianças
nos orfanatos, muitas
vezes recebe como
resposta que irão
consultar os
compromissos que já
possuem e verificar
sobre a possibilidade da
participação nessas
oportunidades de
trabalho em favor dos
mais esquecidos pela
sorte.
São os cristãos dos
domingos. Encerrada a
programação desse dia da
semana, repousam com a
consciência tranquila de
haver cumprido sua
obrigação para com Deus.
“O campo é o mundo”,
afirmou Jesus conforme
registro de Mateus. E
podemos acrescentar: a
hora é agora! O amanhã
não sabemos se teremos.
O ontem não retorna mais
pela roda do tempo. Se
deixamos passar em
branco os convites à
prática do bem, não há
como refazer as
oportunidades perdidas.
Afirma Emmanuel no livro
Vinha de Luz,
capítulo 68: Jesus,
todavia, não descansa e
prossegue aguardando
companheiros para as
realizações infinitas,
em favor do Reino
Celeste na Terra.
Reflete nessa verdade e
enriquece as tuas
qualidades de
colaboração,
aperfeiçoando-as e
intensificando-as nas
obras do bem
indiscriminado e
ininterrupto...
É certo que não se
improvisa um cooperador
para Jesus, entretanto,
não te esqueças de
trabalhar, dia a dia, na
direção do glorioso
fim...
Desse modo, podemos
entender que o cristão
dos domingos não terá o
tempo devido para
participar como
trabalhador no campo do
Senhor.
Afinal, o campo é o
mundo!...