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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 510 - 2 de Abril de 2017

RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)

 


Os cristãos dos domingos

“O campo é o mundo.” – Jesus (Mateus, 13:38)
 

Tenho a impressão que aos domingos Deus tem um tempinho de visitar o nosso pequenino planeta inserido na imensidão cósmica.

Digo isso porque desde a minha infância eu ouvia dizer que era preciso ir à Igreja cumprir a nossa obrigação para com Deus. Será que só nesse dia Ele podia visitar um pouco a humanidade terrestre? E fiquei a observar e a meditar!

Aos domingos vejo casais de braços dados, que durante a semana inteira não têm tempo de um simples abraço, caminharem lado a lado, felizes, em direção ao templo da sua fé. Lá permanecem respeitosos durante as cerimônias. Contudo, ao saírem do recinto, levam a sensação de que já cumpriram a obrigação para com o Criador. Antes de prosseguir, uma pergunta: não seria nossa obrigação para com o semelhante?

Será, realmente, tão simples assim cumprir com essa obrigação? Obviamente que não. A afirmativa de Jesus citada por Mateus é bastante clara. “O campo é o mundo”, ou seja, em todo e qualquer local onde exista um necessitado, aí está o convite ao trabalho para os chamados que souberem se fazer escolhidos. Pelo menos os que se intitulam de cristãos.

Não vou comentar sobre as outras religiões porque o objetivo dessas linhas não é promover ataques à fé religiosa de ninguém. Mas os espíritas que me desculpem. De nós eu vou me atrever a falar. Que me perdoem os que não estejam enquadrados nos exemplos que se seguem.

Vejo espíritas comparecerem a palestras onde o orador de boa vontade deixa sua família, enfrenta os riscos de uma rodovia para trazer a sua mensagem cristã sob o enfoque espírita. Parece-me que muitos que comparecem para ouvir o visitante, se dirigem para o Centro sem o mesmo entusiasmo com que se locomoveriam para uma festa entre amigos.

Quando convidados a participar de uma tarefa na Casa espírita, o que mais desejam é desenvolver mediunidade, sentando-se por uma existência inteira à mesa onde se reúnem os pretendentes a dar oportunidade aos Espíritos desencarnados. Lembro-me, então, de que Chico Xavier dizia que mediunidade também se desenvolve varrendo o Centro e limpando os banheiros que se destinam ao público. Mas é óbvio que esse serviço não atende aos objetivos dos candidatos a mediunidade.

Depois me lembro de dona Yvonne Pereira, fabulosa médium, quando ensinava que mediunidade não se desenvolve, se educa. Ou seja, quando se é realmente portador de mediunidade, ela precisa ser educada, e não desenvolvida. E aí surge outro problema: como educar mediunidade sem estudar O Livro Dos Médiuns? Sim, porque a fila para sentar-se à mesa à espera de alguma comunicação escrita ou falada é muito grande, mas a fila para os estudos das obras básicas é bastante pequena.

E depois de todas essas considerações, a lembrança de que a mediunidade continua a ser educada também fora do Centro Espírita no nosso dia a dia, porque não se pode ser médium espírita apenas dentro da Casa e voltar a ser um cidadão sem compromissos com os ensinamentos morais do Espiritismo fora dela. São os cristãos dos domingos. Quando saem do seu templo de oração, deixam os compromissos espirituais na porta e mergulham na correria da vida como cidadãos descompromissados para com os seus deveres espirituais.

O convite para participar da equipe que trabalha na confecção de enxovais para crianças pobres, participar do grupo de visita a enfermos nos hospitais, participar com aqueles que visitam os velhos nos asilos e as crianças nos orfanatos, muitas vezes recebe como resposta que irão consultar os compromissos que já possuem e verificar sobre a possibilidade da participação nessas oportunidades de trabalho em favor dos mais esquecidos pela sorte.

São os cristãos dos domingos. Encerrada a programação desse dia da semana, repousam com a consciência tranquila de haver cumprido sua obrigação para com Deus.

“O campo é o mundo”, afirmou Jesus conforme registro de Mateus. E podemos acrescentar: a hora é agora! O amanhã não sabemos se teremos. O ontem não retorna mais pela roda do tempo. Se deixamos passar em branco os convites à prática do bem, não há como refazer as oportunidades perdidas.

Afirma Emmanuel no livro Vinha de Luz, capítulo 68: Jesus, todavia, não descansa e prossegue aguardando companheiros para as realizações infinitas, em favor do Reino Celeste na Terra. Reflete nessa verdade e enriquece as tuas qualidades de colaboração, aperfeiçoando-as e intensificando-as nas obras do bem indiscriminado e ininterrupto...

É certo que não se improvisa um cooperador para Jesus, entretanto, não te esqueças de trabalhar, dia a dia, na direção do glorioso fim...

Desse modo, podemos entender que o cristão dos domingos não terá o tempo devido para participar como trabalhador no campo do Senhor.

Afinal, o campo é o mundo!...




 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita