ROGÉRIO MIGUEZ
rogmig55@gmail.com
São José dos Campos, SP
(Brasil)
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Algumas notas sobre
a
salvação
Dentro do contexto
religioso sempre houve
acentuada preocupação
sobre a tão desejada
salvação. Há inúmeras
citações na Bíblia sobre
o tema, contudo, assim
acreditamos, bem poucos
sabem: como de fato
salvar-se ou mesmo por
que salvar-se?
O tema é de vivaz
interesse entre os
religiosos, obviamente,
afinal, quem não almeja
ser salvo para sentar-se
à direita do Pai?
Há aqueles preconizando
salvação pelo sangue de
Jesus, contudo, se assim
fosse, todos os cristãos
já estariam salvos, em
razão do sangue do Justo
já ter sido derramado há
bom tempo. O sacrifício
do Mestre foi
inigualável, contudo,
apenas o sangue Dele não
poderá nos conduzir à
salvação.
Se a salvação for certa
e inquestionável, após a
vida atual, religiosos e
mesmo os materialistas
serão salvos, mesmo se
não o desejarem,
portanto, perde-se tempo
lidando com a matéria,
seria uma questão de
lógica: como todos se
salvarão, por qual razão
se preocupar
precocemente com o
assunto?
Por outro lado, se a
salvação é incerta,
precisamos descobrir
como a conquistaremos,
considerando
evidentemente nosso
desejo em sermos salvos.
E mais, se existe a
possibilidade de não nos
salvarmos, é possível
imaginar alguns sendo
salvos enquanto outros
não, desta forma, haverá
integrantes dentre as
famílias separados
definitivamente pela
eternidade afora,
proposta pouco
alentadora. Além disso,
se almejamos ser salvos,
como faremos para
alcançar a salvação o
mais rápido possível?
Como se nota, são muitas
as interrogações.
Talvez a questão
primeira a nos
debruçarmos seja ajuizar
se há salvação, pois
desta decorrem outras:
como, do que, para que
salvar-se?
A interpretação espírita
da salvação existe, e é
voltada a orientar o
Espírito a bem se
conduzir na vida, do
ponto de vista ético e
moral, garantindo assim
um futuro melhor nas
muitas existências
vindouras. Não obtendo
sucesso nesta
empreitada, o Espírito
colherá os frutos
amargos de suas
escolhas, passando por
sofrimentos e apreensões
intermináveis, do seu
ponto de vista, sendo
estas, contudo,
totalmente dispensáveis,
pois só surgem pelo mal
proceder.
Entretanto, este
conceito espírita não se
baseia no entendimento
do inferno ou do céu
como aceitam algumas
tradições religiosas,
porquanto, segundo a
ótica espírita, o
inferno e o céu podem
realmente existir,
porém, dentro de cada um
de nós, em função de
como vivemos, não
contemplando a
existência de um local
no Universo onde todos
os não salvos seriam
enviados, sem direito a
de lá sair, e, por
oposição, outra
localidade no Universo
onde todos os salvos
permaneceriam,
convivendo com Deus pela
eternidade afora.
A salvação espírita
ocorre quando o Espírito
observa os preceitos
morais contidos nas leis
divinas, assim agindo,
não haverá temor no
pós-morte, tampouco
haverá vergonha,
inquietação, nem ranger
de dentes. Por outro
lado, mesmo se o
Espírito não seguir na
totalidade os
mandamentos morais, ele
não será
irremediavelmente
condenado, sofrerá as
temporárias
consequências, voltará e
prosseguirá a sua
jornada até alcançar a
perfeição.
A propósito, na nossa
faixa evolutiva, não há
qualquer Espírito em
condições de observar
rigorosamente todos os
preceitos morais de
forma continuada, só
Espíritos de
elevadíssima evolução
podem fazê-lo, como
estamos muito distantes
desta condição, todos
nós ainda oscilaremos
entre o cumprimento e o
descumprimento dos
deveres morais, uns
mais, outros menos.
Ainda dentro da visão
espírita, como dito
anteriormente, ninguém
se perderá
definitivamente, todos
alcançarão uma relativa
perfeição, contudo, este
trilhar será diverso,
uns chegando à meta
primeiro, outros mais
tarde, mesmo
considerando dois
Espíritos criados ao
mesmo tempo, pois cada
qual agirá por si mesmo,
acertando e errando em
momentos diversos de
suas caminhadas. Estes
sucessos e insucessos da
jornada determinarão o
tempo necessário para se
conquistar o galardão
definitivo de Espírito
puro, contudo, é certo,
mais cedo ou mais tarde,
todos alcançarão esta
meta. Conclui-se ser
esta proposta
eminentemente
consoladora,
possibilitando a
qualquer Espírito
terminar a sua jornada
evolutiva com
aproveitamento e, ao
final, “sentarem-se”
todos à direita do Pai.
Desta forma, a salvação
espírita é uma
realidade, mas enquanto
não alcançamos a
condição de pureza,
representa uma salvação
provisória. Para um
determinado período na
longa existência, é
necessário sempre agir
no bem para sempre se
“salvar”, a cada nova
existência, não é uma
salvação definitiva,
esta só ocorrerá ao
final da jornada.
Enfatizamos uma vez
mais, mesmo trilhando o
caminho do mal, não há
destinação perpétua de
sofrimento, de fato, no
próprio texto sagrado, a
Bíblia, há pelo menos
duas passagens opondo-se
por completo à base de
sustentação do conceito
de inferno eterno, e foi
o nosso Maior Mestre
quem as formulou:
1. Eu te digo, não
sairás de lá antes de
pagares o último
centavo.(1)
Esta passagem confirma
sermos nós mesmos a
quitar as nossas
próprias dívidas, e
também ser perfeita a
justiça divina,
permitindo ao devedor
pagar integralmente o
seu débito. Observa-se
ainda nessa afirmação do
Nazareno a certeza de
que, ao quitarmos o
último centavo, nós
estaremos livres das
obrigações a pagar, não
nos restando mais nada a
saldar, derrubando por
completo a tese das
penas eternas, e quanto
mais rápido pagarmos,
mais rápido sairemos da
“prisão”, pode-se também
inferir do texto;
2. Que vos parece? Se um
homem possui cem ovelhas
e uma delas se extravia,
não deixa ele as noventa
e nove nos montes e vai
à procura da extraviada?
Se consegue achá-la, em
verdade vos digo, terá
maior alegria com ela do
que com as noventa e
nove que não se
extraviaram. Assim,
também, não é da vontade
de vosso Pai, que está
nos céus, que um destes
pequeninos se perca.
(2) Ora, se
nenhuma ovelha se
desencaminhará para a
perdição eterna, pode-se
entender “extraviar-se”
desta forma, não há
também como imaginar um
local ou região de
sofrimentos perpétuos,
abrigando todos os
faltosos que não
quitaram as suas
respectivas dívidas.
Ressalta também deste
ensino não haver falta
irremissível, ou seja,
não existem pecados
capitais.
Esclarece ainda a
Doutrina sobre a
existência de um
mecanismo sábio e justo
viabilizando a caminhada
para a salvação plena: a
reencarnação. Segundo
esta lei, viveremos em
mundos materiais até não
existir mais nenhum
resgate, após estas
muitas vidas encarnados,
só reencarnaremos em
missões significativas
em prol do progresso da
Humanidade. Esta lei dá
plena sustentação na
afirmação de Jesus:
todas as ovelhas serão
salvas, sem exceção.
Por outro lado, a
salvação espírita não
nos conduzirá a um céu
de contemplação, onde
passaremos a eternidade
escutando melodiosas
harpas e saboreando
frutas frescas ao lado
do Criador; esta
concepção é infantil e
irreal, nos salvaremos
para trabalhar mais
junto a Deus, cumprindo
as Suas deliberações
que, nesta fase das
nossas existências,
serão perfeitamente
entendidas, aceitas e
desejadas.
Há muitos outros
aspectos a considerar,
contudo, terminamos
estas ligeiras
observações fazendo
menção a uma passagem do
Dr. Bezerra de Menezes:(3)
O
espírita cristão é
chamado aos problemas do
mundo, a fim de
ajudar-lhes a solução;
contudo, para atender em
semelhante mister, há
que silenciar discórdia
e censura e alongar
entendimento e serviço.
É por essa razão que,
interpretando o conceito
“salvar” por “livrar da
ruína” ou “preservar do
perigo”, colocou Allan
Kardec, no luminoso
portal da Doutrina
Espírita, a sua legenda
inesquecível:
─
“Fora da caridade não há
salvação”.
Sim,
fazemos coro com o
Médico dos Pobres, a
caridade bem observada e
principalmente praticada
equivale a viver ética e
moralmente conforme as
leis de Deus.
Cremos ter respondido
satisfatoriamente quatro
questões fundamentais
sobre o assunto:
1. Há salvação? – Sim,
não há dúvida.
2. Como promovo a
salvação? – Vivendo
continuadamente conforme
as leis de Deus.
3. Do que desejo me
salvar? – Da ruína
moral, preservando-me do
perigo.
4. Por que quero me
salvar? – Para trabalhar
ativamente na grandiosa
obra divina!
Referências:
1 BÍBLIA DE JERUSALÉM.
Trad. Gilberto da Silva
Gorgulho et al. [8. imp.]
São Paulo: Paulus
Editora, 2012. Mateus
12: 59.
2 _____,_____. Mateus
18: 12-14.
3 XAVIER, Francisco C.,
VIEIRA, Waldo. O
Espírito da Verdade.
Autores diversos. 4. ed.
Rio de Janeiro: FEB
Editora, 1982. cap. 3 -
Legenda espírita.