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Clássicos do Espiritismo
Ano 10 - N° 510 - 2 de Abril de 2017
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Comunicações mediúnicas entre vivos

 Ernesto Bozzano

 (Parte 20) 

Continuamos o estudo do livro Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires. 

Questões preliminares

A. Bozzano reproduz nesta obra interessante relato feito pelo Cel. Collet em que fica patente a participação de uma entidade espiritual na comunicação entre vivos. Por que Bozzano defende essa ideia?  

Na comunicação feita entre dois grupos de experimentadores, tendo como intermediário o mensageiro “Rupont”, este disse que não foi possível transmitir determinada mensagem porque o casal M. N., destinatária da comunicação, havia terminado a sessão. Ora, uma mensagem telepática, pura e simples, segue fatalmente o caminho que, física ou psiquicamente, deve seguir, e nunca pode voltar atrás para dizer: “Aviso-os de que não encontrei a pessoa à qual devia transmitir o vosso pensamento”. Um ato assim não pode ser realizado senão por uma autêntica personalidade espiritual. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

B. No seu relato, o Cel. Collet reporta também um caso de predição que depois se confirmou. Como a entidade espiritual “Rupont”, que fez a predição, explicou o fenômeno? 

O casal M. N. havia pedido a “Rupont” que informasse em que dia o casal Collet estaria de regresso a Nancy. Ele respondeu: “Em 10 de outubro, que cai numa quinta-feira”. A viagem ocorreria alguns dias depois, mas a predição se confirmou, pois o casal Collet regressou realmente no dia 10. Na sessão seguinte, perguntaram a “Rupont”: – Conhece, então, o futuro? Ele respondeu: – Só Deus o conhece. Não fiz outra coisa senão sugerir à Sra. Collet a ideia de regressar a Nancy a 10 de outubro e isso a fim de que se realizasse a minha predição. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

C. Há nesta obra um longo relato da experiência conhecida pelo nome de “correspondência cruzada”. Em que consiste esse fenômeno? 

Correspondência cruzada (cross-correspondence) se diz da mensagem supranormal obtida por diferentes médiuns, cada um dos quais obtém dela uma parte que por si só não forma sentido e precisa da outra parte para se tornar inteligível. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

Texto para leitura 

294. Passando a tratar de episódios do segundo grupo das manifestações em exame, devo fazer notar que se pelas aparências exteriores tais episódios pertençam ainda à categoria das comunicações mediúnicas entre vivos, na realidade não se mostram tais, porquanto nelas já não se trata de duas ou mais personalidades vivas que conversam entre si, quer telepaticamente, quer por intervenção da personalidade espiritual de um deles, mas que se trata de duas pessoas ou de dois grupos de pessoas que se comunicam mediunicamente a distância, por meio de uma entidade espiritual que se faz de mensageiro entre ditos grupos ou pessoas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

295. Assim sendo, claro é que os fenômenos de tal natureza possam ainda ser considerados como pertencentes à categoria das comunicações mediúnicas entre vivos quando não se demonstrou realmente a sua gênese espírita, pois se a isto se chegasse um dia, então deveriam classificar-se entre as manifestações de mortos, faltando nelas a característica essencial nas comunicações entre vivos, que é a comunicação direta entre duas personalidades espirituais encarnadas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

296. Caso 30 – Aparece na Revue Scientifique et Morale du Spiritisme, 1909, págs. 6/11 e 39/47. O Coronel Collet refere uma longa série de interessantes experiências mediúnicas, obtidas em seu seio familiar por intermédio da tiptologia, entre as quais se encontram algumas da natureza aqui considerada. Escreve ele:

A fim de conferir caráter científico a nossas experiências, registramo-las escrupulosamente, anotando-lhes os resultados, tanto positivos como negativos. Durante certa viagem, tentamos algumas experiências de “telegrafia sem fio”, prestando-se a ela “Rupont”, nosso “guia espiritual”, com resultados medíocres.

Sexta-feira, 6 de setembro de 1907, eu e a minha esposa nos encontrávamos em Constança. Pela noite, no hotel, recordamos que, naquele dia e hora, em Nancy, nossos amigos, o casal C. F., faziam a sua sessão semanal, pelo que resolvemos enviar-lhes uma mensagem tiptológica. Na falta de um tripé, servimo-nos de uma cadeira. Não tardou a manifestar-se “Rupont”, que nos informou que na casa do casal C. F. se achavam cinco pessoas reunidas e que a sessão já havia começado. O número de cinco nos surpreendeu, porque, com a nossa partida, o número de componentes do grupo se havia reduzido a quatro. Devido à incomodidade do nosso aparelho tiptológico, não pedimos explicações e nos limitamos a pedir a “Rupont” que transmitisse àqueles amigos uma saudação firmada com o meu nome: Collet.

Quando, nos princípios de outubro, voltamos para Nancy, o casal C. F. nos disse: “Durante vossa ausência recebemos uma mensagem curiosa assim concebida: “Pensamos sempre em vós. Saudações afetuosas a cada um. Collet em Bon...” Esta última palavra não foi terminada, porém não podia significar “Bondy”, aonde pretendia ir, pois os julgávamos na Suíça. O agente misterioso não se deu a conhecer”.

Pois bem, tais palavras eram a expressão exata, mas concisa, da nossa mensagem enviada de Constança e, comparando as notas tomadas de uma e outra parte, verificou-se a perfeita concordância do dia e hora, como a presença de cinco pessoas, e não de quatro, na sessão. Quanto à palavra inacabada – Bon... – certamente que representava o começo da palavra Constança, em que a letra B foi registrada erradamente em lugar da letra C, sua vizinha.

Não indica tudo isto a ação inteligente, voluntária e livre de um ser consciente, que só poderia ser um “espírito”? (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)

 

297. Prossegue o Coronel Collet:

 

Tivemos, porém, ainda outra surpresa. Regressados a Nancy, de Paris, última etapa da nossa viagem, encontramos na rua o Sr. R., o qual se mostrou surpreso ao ver-nos, e perguntou:

– Já de volta? Vosso genro não os esperava antes de domingo!

– Chegamos ontem à noite, 10 de outubro. Voltamos uns dias antes do combinado.

– Pois isto é extraordinário. Há um mês, minha filha assistiu a uma sessão em casa da Sra. M. N., durante a qual se perguntou a “Rupont” em que dia regressariam a Nancy e ele respondeu: “Quinta-feira, 10 de outubro”, e a predição se realizou.

Fui à casa da Sra. M. N., que me fez ler a ata da sessão de 7 de setembro, na qual o incidente em questão se achava narrado nos seguintes termos: “Pedimos a “Rupont” para dizer em que dia o casal Collet estaria de regresso a Nancy, ao que respondeu: “Em 10 de outubro, que cai numa quinta-feira”.

Na próxima sessão em casa da Sra. M. N., perguntei a “Rupont”:

– Conhece, então, o futuro?

– Só Deus o conhece. Não fiz outra coisa senão sugerir à Sra. Collet a ideia de regressar a Nancy a 10 de outubro e isso a fim de que se realizasse a minha predição.

– Quando e onde a sugestionaste em tal sentido?

– Achava-se ela na casa do Comandante F. na rua Lécluse, na noite de 9 de outubro.

Pois bem, verdade é que nos encontrávamos na casa do referido militar, que, cumprimentando-nos, perguntou a minha esposa:

– Quando voltaremos a ver-nos?

– Somos esperados em Nancy no próximo domingo, porém, neste momento, estou pensando que será melhor partirmos amanhã mesmo, pois o bom tempo já não deve durar muito, de modo que nos despedimos.

Tão imprevista decisão de minha esposa não deixou de surpreender-me, porém, pensando bem, me pareceu razoável.

Tal incidente absolutamente certo, unido a outros análogos, por nós obtidos, não indica a existência de uma influência extrínseca, inteligente e voluntária, capaz de sugestionar nossa mente para o bem ou para o mal? Os pensadores de todos os tempos se referem com frequência a tal possibilidade e observo que, com a mesma, poderia explicar-se a gênese de certas induções misteriosas, de certos impulsos súbitos, como de tantas inspirações geniais que a psicofisiologia materialista não chegará a elucidar nunca, por esforçar-se em sustentar hipóteses gratuitas e inverossímeis.

A 30 de março de 1908 eu me encontrava em Nice, com minha esposa, e na hora aproximada àquela em que se realizava a sessão em Nancy, na casa do casal M. N., sentamo-nos ao redor de uma mesinha encontrada no hotel e logo “Rupont” nos ditou o seguinte comunicado:

“Pensamos em vós. Quando voltareis?” (firmado M. N. e C. N.).

Pedimos a “Rupont” que transmitisse a seguinte resposta:

“Voltaremos na quarta-feira.”

Poucos minutos depois, “Rupont” se manifestou de novo, ditando as seguintes palavras: “Não pude transmitir a resposta, porque o casal M. N. já havia terminado a sessão.”

Em nossa volta a Nancy pudemos verificar que a mensagem do casal M. N. havia sido corretamente transmitida a nós, mas que a nossa resposta não chegara ao seu destino, pois que os meus amigos haviam suspendido a sessão logo após haverem encarregado “Rupont” de transmitir a mensagem. A experiência, pois, foi magnífica.

Antes de deixar Walchwil para ir a Lugano, havíamos encarregado “Rupont” de transmitir ao casal C.F. algumas palavras em latim (com o fim de enviar um comunicado imprevisível para eles), porém ignorando o êxito da experiência.

No dia 11 de setembro, na hora em que o referido casal devia realizar a sua sessão em Nancy, “Rupont” se manifestou e ditou-lhes, pelo “cartão alfabético”, as seguintes palavras: “Amanhã recebereis a prova escrita de que eu transmiti a vossa mensagem, mas eles não entenderam nada e não me deixaram terminar”.

Com efeito, a 14 de setembro recebíamos um cartão postal da Sra. C. F., no qual informava-nos de que “Rupont” lhes havia transmitido, a nosso pedido, umas palavras incompreensíveis.

Outra noite, na casa do casal M. N., nos transmitiu esse princípio de frase: “Os usos e costumes de antigamente serão um dia...”. Nesse ponto, parou e disse: “A continuação, quinta-feira. Boa noite”. E assim terminou a sessão, antes da hora habitual.

Na quinta-feira seguinte, na sessão em casa da Sra. M. T., com grande surpresa dos assistentes, que nada sabiam a respeito, uma personalidade mediúnica se manifestou para ditar estas palavras, que aparentemente não tinham sentido algum... “a verdade da nova religião por vós preconizada”. Era a continuação da frase de “Rupont”, começada em outro local e entre outros assistentes. Eu então juntei as duas partes da frase, fazendo notar seu sentido e o assombro de todos se converteu em grande admiração.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)

 

298. Tal é o interessante relato do Cel. Collet. Se se consideram em conjunto os vários episódios que nele se contêm, parece-me difícil evitar a conclusão de que a melhor explicação dos ditos episódios é a de reconhecer sua origem genuinamente espírita, pois neles se notam circunstâncias de fatos inexplicáveis com a comunicação mediúnica entre diversos grupos de experimentadores. Assim é, por exemplo, quando o espírito mensageiro “Rupont”, encarregado de transmitir a Nancy uma dada resposta, volta dizendo que não havia podido transmitir a resposta, porque o casal M. N. havia terminado a sessão. Como explicá-lo pela comunicação mediúnica entre vivos? Uma mensagem telepática, pura e simples, segue fatalmente o caminho que, física ou psiquicamente deve seguir, e nunca pode voltar atrás para dizer: “Aviso-os de que não encontrei a pessoa à qual devia transmitir o vosso pensamento”. Um ato assim não pode ser realizado senão por uma autêntica personalidade espiritual. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

299. De tal ponto de vista, mostra-se igualmente interessante a transmissão fragmentária de uma frase a dois círculos diversos e a um tempo diferente, indício da presença, nas sessões, de uma vontade extrínseca, que pensa sempre em novos métodos experimentais, a fim de melhor convencer os assistentes acerca de sua própria existência independente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

300. É também interessante a predição do dia do regresso dos Collet a Nancy, realizada por sugestão de “Rupont”, que exorbita dos limites assinalados nas comunicações mediúnicas entre vivos, tendendo a confirmar ulteriormente a hipótese da presença real, nas sessões, de uma entidade espiritual independente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

301. Caso 31 – Tiro-o dos Annales des Sciences Psychiques (1914, págs. 1/11), que é relatado pelo Dr. Gustave Geley, ex-diretor do Instituto Metapsíquico Internacional, com sede em Paris. Trata-se de um longo e interessantíssimo relato, de um gênero de experiências conhecidas pelo nome de “correspondência cruzada” (1). Ocupa ele 22 colunas da referida revista, portanto terei de limitar-me a narrar alguns episódios, fazendo-os seguir dos comentários do Dr. Geley, que assim escreve:

Devo o conhecimento dos fatos que vou narrar a uma pessoa muito conhecida no campo das pesquisas psíquicas: a Sra. De W.; tais fatos se deram sem ser provocados, de modo absolutamente espontâneo e inesperado. A principal protagonista deles é a Sra. De W., que é uma espírita convicta, conquanto as suas convicções não tenham a mínima influência sobre o seu espírito crítico. Sua atual contribuição ao estudo da “correspondência cruzada” merece a gratidão de todos os investigadores das pesquisas psíquicas, qualquer que possa ser a opinião deles a respeito da gênese desse fenômeno.

A Sra. De W. não possui faculdades mediúnicas e vale-se de duas sensitivas, cujos nomes não são citados por motivo de uma consideração especial e somente são designadas pelas iniciais, de Sra. T. e Srta. R.

Na ocasião das experiências em causa, a Sra. T. achava-se em Paris, onde reside também a Sra. De W., ao passo que a Srta. R. estava em férias à beira-mar, em Wimereux. Ambas são médiuns escreventes e a Sra. T. é também vidente, de modo que a ouviremos descrever, com exatidão, cenas que, no momento, vê se desenvolverem a distância.

Durante as sessões, percebe ela as personalidades mediúnicas sob a forma de “núcleos luminosos”. Participam das sessões apenas três entidades: a principal, que inicia e dirige os trabalhos, chama-se “Rodolfo” e diz que é ajudado por um outro espírito chamado “Carlos”, que desenvolve uma ação muda, e finalmente outra personalidade espiritual que só se manifestou uma vez e que se chama “Emília”. É a Sra. De W. quem redige os relatos dos fatos, no fim de cada sessão, e o faz de modo preciso e completo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)  (Continua no próximo número.)
 

 

(1) Correspondência cruzada (cross-correspondence): mensagem supranormal obtida por diferentes médiuns, cada um dos quais obtém dela uma parte que por si só não forma sentido e precisa da outra parte para se tornar inteligível.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita