A recomendação
detestada
Irmão X
Em plena sessão
de assistência
fraterna, uma
senhora mirrada
e pálida
dirigiu-se ao
Espírito de
Irmão Calimério,
incorporado à
médium do grupo,
e expôs o seu
caso,
comovedoramente:
– Meu benfeitor,
venho
suplicar-lhe
proteção!...
Salve-me, por
piedade!...
– Diga, irmã, em
que lhe posso
ser útil –
respondeu,
afável, o
interpelado –;
reconheço a
minha
deficiência, mas
estou pronto a
cooperar com
você nas
orações.
A sofredora
criatura, como
se tocada no imo
das próprias
chagas,
prorrompeu em
pranto e
acentuou:
– Tenho meu lar
em extrema luta.
Meu esposo e eu
debalde
procuramos
trabalho. Tenho
quase certeza de
que pesada
falange de
Espíritos
malignos e
conturbados nos
segue de
perto... Certo
vidente já me
afiançou que
retenho forças
mediúnicas, em
franco
desabrochar.
Além disso,
comumente me
vejo em sonhos
que são
verdadeiros
avisos. Ouço
vozes noturnas,
ao deitar-me,
chamando-me em
surdina ou
implorando
socorro que não
sei como
dispensar. De
outras vezes,
não somente
durante a noite,
mas também no
curso do dia,
vejo-me na
posição de peça
vibrátil,
alimentada por
pilhas
elétricas, tais
os incessantes
choques de que
sou vítima, qual
se vivesse
rodeada por
diversas pessoas
invisíveis a
zombarem de
minha
fragilidade...
Tenho procurado
o patrocínio de
médicos
especializados,
sem a mínima
vantagem.
Respiro entre
injeções e
comprimidos,
castigada por
regimes cruéis.
Acredito que a
intervenção
espiritual me
colocaria a
salvo de
semelhantes
inquietações...
E elevando o tom
de voz,
acrescentava:
– Por quem é,
meu amigo,
estenda-me
braços
protetores!
Diga-me! Como
devo proceder
para sanar os
óbices que me
impedem o acesso
às fontes da
paz? Como
livrar-me das
determinações
dos psiquiatras
que me
receitaram o
internamento com
aplicações de
insulina?
Ante as lágrimas
a inundarem o
rosto da
consulente, o
respeitável
mensageiro
considerou:
– Noto a
extensão de seus
obstáculos. Não
chore, porém.
Reanime-se e
viva. Há
milhares de
pessoas na mesma
situação. O seu
caso,
efetivamente,
resume-se em
desarmonia
vibratória no
campo mental.
Entidades
desencarnadas,
sedentas de
emoção
terrestre, se
lhe aproximam da
organização
psíquica
provocando
pesadelos e
outras
complicações. Os
médicos do mundo
encontrarão
sempre reais
dificuldades
para
solucionar-lhe o
enigma, porque
os sedativos
amolecem os
nervos, mas não
trazem a equação
desejável. Você
agora defronta
com os
imperativos da
transposição de
plano e de
renovação da
vida. É
imprescindível,
assim, o seu
preparo interno,
habilitando-se à
sintonia com os
mensageiros da
esfera superior.
E creia que a
porta de acesso
à posição devida
é o trabalho
infatigável no
bem. Nossa casa
é um templo de
consolação e
serviço. Venha,
pois, minha
amiga, e inicie
o seu ministério
de amor cristão.
No estudo das
realidades
eternas e no
serviço aos
irmãos
necessitados,
acenderá a sua
lâmpada para o
caminho. À
medida que seu
esforço se faça
mais dilatado,
nas aquisições
de sabedoria e
de amor, maior
brilho adquirirá
sua luz. Não
convém,
entretanto, a
sua vinda, até
nós, entre
hesitação e o
cansaço prévio.
Apareça,
metodicamente,
com o espírito
de perseverança
e fé vigorosa,
convencida
quanto às
montanhas de
imperfeições que
nos cabe
remover, no país
de nossa alma,
para que a
bênção do Senhor
resplandeça em
nós mesmos. Não
pense que nós,
os
desencarnados,
estejamos livres
da cadeia
benéfica do
dever. Não somos
emissários
infalíveis e,
sim,
trabalhadores do
bem, com o vivo
desejo de
acertar. Venha e
auxiliemos,
juntos, aqueles
que se encontram
mais
necessitados que
nós mesmos...
A visitante,
menos
entusiasta,
indagou, com
desapontamento:
– Então, quer
dizer que aqui
não me podem
curar de vez?
– Sim –
esclareceu
Calimério, com
segurança –,
podemos ajudá-la
a restaurar-se.
Cada Espírito é
médico de si
mesmo, sob a
orientação de
Jesus. Ninguém
pode antepor-se
à Lei. A árvore
não cresce num
minuto, o sábio
não se forma num
dia e não
podemos criar um
anjo à maneira
dum pinto na
chocadeira. Quem
pretender
melhoria e
perfeição,
trabalhará sem
desânimo. Assim,
pois, minha
amiga, sigamos
servindo com o
mestre, para
frente.
A senhora
enferma e
necessitada nada
mais respondeu
e, por ter
ouvido a
recomendação de
serviço, ao
invés de frases
veludosas que a
embalassem no
colchão de
ociosidade
espiritual,
enxugou os
olhos, sob
escura revolta,
e foi a primeira
a varar a saída,
empertigada e
solene, sem
olhar para trás.
Do livro
Relatos da Vida,
obra mediúnica
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.