ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Quando o olho
cresce
Em situações
típicas de
recessão como a
que ora
enfrentamos no
Brasil, afloram
mais
acentuadamente
certas
características
e comportamentos
obscuros
oriundos de não
poucos agentes
econômicos que
tornam a vida,
em geral, mais
difícil. Em
outras palavras,
as provações
coletivas
tornam-se muito
mais penosas. As
crises, é
verdade, são
cíclicas e,
desse modo, de
tempos em tempos
somos
chacoalhados por
uma onda de
acontecimentos
profundamente
desestabilizadores
que nos levam
como uma
enxurrada.
Diante deles
quase nada
podemos fazer,
tal o impacto
que geram. A
depressão
econômica –
fenômeno ao qual
estão sujeitas
praticamente
todas as nações
do planeta – é
sempre
devastadora para
o bem-estar dos
indivíduos e das
famílias. Ainda
não conseguimos
criar sistemas
imunes contra
esse mal.
De um momento
para o outro, o
cidadão perde o
seu emprego e,
com ele,
benefícios
essenciais à sua
existência.
Aposentados
enfrentam uma
significativa
redução do valor
real (isto é,
descontada a
inflação) das
suas já
minguadas
aposentadorias.
Os pequenos
empreendedores
têm igualmente
de lidar com a
amarga redução
dos seus
negócios. De
modo geral, a
maioria sente,
de uma forma ou
de outra, os
efeitos
desarticuladores
das crises
quando elas
assomam nas
sociedades
modernas. Eles
trazem
basicamente
penúria e
miséria em quase
toda parte.
No entanto, há
aqueles que
buscam
avidamente
lucrar em meio à
desgraça ou
infortúnio
alheio. Afinal
de contas, quem
nesse mundo já
não passou pelo
dissabor de ser
achacado por
algum, por
exemplo,
prestador de
serviço numa
hora de
dificuldade?
Quem já não
percebeu que os
aumentos de
preços na feira
nunca sofrem um
movimento
inverso, mesmo
quando a safra
ou a crise se
esvai?
De maneira
similar, quando
a Petrobrás
anuncia redução
de preços na
refinaria, o
suposto
benefício nunca
alcança as
bombas dos
postos de
combustíveis e,
por extensão, os
consumidores.
Quem já não se
sentiu lesado de
alguma maneira
na atualidade?
Veio à tona
muito
recentemente a
descoberta –
embora, ainda
não saibamos a
extensão exata
do delito – de
que nós
brasileiros
temos consumido
“carne podre”
(em alguns
casos,
contaminadas
pela bactéria
salmonela) sob a
complacência de
fiscais
corruptos. Fico
sempre me
perguntando se
em outras nações
desenvolvidas o
valor do seguro
de um automóvel
também aumenta,
mesmo quando o
veículo
envelhece e o
seu valor de
mercado se
deprecia como
ocorre aqui.
Enfim, foi com
muito acerto que
um recente
editorial dessa
revista
observou: “O
sentimento de
tirar vantagem
das situações,
de cobiça, de
subordinar o
interesse alheio
ao próprio
interesse, é
prática comum
entre nós. Por
incrível que
pareça, é visto
como virtude por
muitas pessoas”.
Infelizmente, os
lobos do mundo
são ovacionados
em muitas
instâncias. Em
muitas ocasiões,
os donos do
capital e dos
grandes
empreendimentos
empresariais são
exaltados mesmo
quando acumulam
suas fortunas de
forma nada
elogiosa, para
dizer o mínimo.
Com efeito, não
faz muito tempo
que um
determinado
empresário
brasileiro –
considerado um
verdadeiro Midas
em certo momento
– figurou como
um dos homens
mais ricos do
mundo na revista Forbes. Lembro-me
bem que o
ufanismo
nacional foi às
alturas. O
referido cidadão
era tratado como
uma celebridade
nacional. Muitas
pessoas faziam
questão de fazer selfies com
ele e assim por
diante.
Ele chegou a
escrever um
livro com
altíssima
tiragem e deu
palestras a
multidões de
pessoas ávidas
por riqueza.
Hoje se sabe que
esse personagem
não foi capaz de
entregar o que
prometia aos
seus
investidores e a
sua “estrela”
apagou. Pior
ainda,
descobriu-se que
ele estava
envolvido com
políticos
venais. Está
agora confinado
numa cela no
estado do Rio de
Janeiro com medo
de ser morto.
Não sai dela nem
para tomar Sol.
A triste
história desse
indivíduo fez-me
recordar a
advertência de
Jesus: “Pois,
que aproveitaria
ao homem ganhar
todo o mundo e
perder a sua
alma? (Marcos
8: 34-36)”.
Já se
identificou
também que a
outrora poderosa
Construtora
Odebrecht pagou,
no período de
2006 a 2014,
mais de 3,4
bilhões de
dólares em
propinas no
Brasil e no
exterior. Aliás,
como estava
certo o Mestre
quando
pronunciou: “[...]
Quão
dificilmente
entrarão no
reino de Deus os
que têm
riquezas!
Porque é mais
fácil entrar um
camelo pelo
fundo de uma
agulha do que
entrar um rico
no reino de Deus
(Lucas
18: 24-25)”.
Políticos
poderosos foram
comprados aqui e
lá fora, porque
os seus “olhos
cresceram”
diante das
oportunidades de
riqueza fácil.
Vale frisar
ainda o
famigerado
“jabá” que
permeia todos os
degraus da
sociedade
brasileira. Esse
traço cultural
abjeto –
eminentemente
imoral e
dificílimo de
dissipar – do
caráter humano
tem produzido
esse mar de
corrupção que
aqui viceja. Em
termos simples,
o corrupto não
aceita viver
apenas com
aquilo que Deus
lhe reservou
para a evolução
do seu Espírito.
O seu olhar
ganancioso
deseja mais e,
ao satisfazer os
caprichos
espúrios que lhe
brotam da alma
desequilibrada,
mais se afunda
em torpezas.
Nesse sentido,
pondera o
Espírito
Emmanuel na obra Caminho,
Verdade e Vida(psicografia
de Francisco
Cândido Xavier)
que “Aqueles que
exclusivamente
acumulam
vantagens
transitórias,
fora de sua
alma, plenamente
esquecidos da
esfera interior,
são dignos de
piedade.
Deixarão tudo,
quase sempre, ao
sabor da
irresponsabilidade”.
Por tudo isso, o
momento presente
incita-nos a
profundas
reflexões em
torno dos bens
materiais e de
como os obtemos.
Com efeito, há
uma
inquestionável
necessidade de
nos acautelarmos
contra os males
da avareza, já
que “a vida de
um homem não
consiste na
quantidade dos
seus bens (Lucas
12: 15)".
A transição
planetária em
andamento requer
coragem e
determinação de
nossa parte para
ajuntarmos, sim,
“tesouros
no céu, onde nem
a traça nem a
ferrugem
consomem, e onde
os ladrões não
minam nem
roubam” (Mateus
6: 20).
Ao optar por
viver da
exploração dos
semelhantes, em
obter ganhos
injustos pelo
trabalho ou
chafurdar nas
riquezas
passageiras
conquistadas por
meio de crimes
ou ilicitudes,
são criados
fortes embaraços
à real
felicidade do
indivíduo
infrator.