Esquecimento de
vidas passadas
“Como posso
pagar por alguma
coisa de que nem
me lembro que
fiz?”
"Não acho justo
voltar para
viver
consequências de
vidas das quais
não me lembro.
Nem mesmo tenho
provas de que as
vivi.”
"Por qual razão
não nos
recordamos de
nossas vidas
passadas?”
Desde o advento
da Doutrina dos
Espíritos não é
exagero dizer
que estas mesmas
perguntas já
foram feitas um
número
incontável de
vezes, com
respostas
certamente
bastante
parecidas para
esclarecê-las,
oferecidas por
palestrantes das
tribunas das
casas espíritas,
em conversas
informais sobre
o tema, ou em
tantas outras
situações.
De fato, temos
em O
Livro dos
Espíritos,
cap. VIII, 393,
o comentário
elucidativo de
Allan Kardec:
“A
lembrança de
nossas
individualidades
anteriores teria
gravíssimos
inconvenientes.
Poderia, em
certos casos, humilhar-nos
extraordinariamente;
em outros, exaltar
o nosso orgulho e
por isso mesmo
entravar o nosso
livre-arbítrio.
Deus nos deu
para nos
melhorarmos
justamente o que
nos é necessário
e suficiente: a
voz da
consciência e
nossas
tendências
instintivas,
tirando-nos
aquilo que
poderia
prejudicar-nos.
Acrescentemos
ainda que, se
tivéssemos a
lembrança de
nossos atos
pessoais
anteriores,
teríamos a dos
atos alheios, e
esse
conhecimento
poderia ter os
mais
desagradáveis efeitos
sobre as
relações
sociais. Não
havendo sempre
motivo para nos
orgulharmos do
nosso passado, é
quase sempre uma
felicidade que
um véu seja
lançado sobre
ele. Isso
concorda
perfeitamente
com a doutrina
dos Espíritos
sobre os mundos
superiores aos
nossos. Nesses
mundos, onde não
reina senão o
bem, a lembrança
do passado nada
tem de penosa; é
por isso que
neles se recorda
com frequência a
existência precedente
como nos
lembramos do que
fizemos na
véspera. Quanto
à passagem que
se possa ter
tido por mundos
inferiores, a
sua lembrança
nada mais é,
como dissemos,
que um sonho
mau”.
A explicação,
por si, já diz
bastante sobre o
funcionamento
sábio das leis
divinas neste
sentido, e o que
pretendo neste
texto, em lugar
de repisar o que
já é
exaustivamente
comentado em
outras fontes
competentes, é
oferecer um
testemunho
pessoal, baseado
em vivências
recentes, e que
considerei
autêntico
presente
proporcionado
pelos
característicos
do perfil
mediúnico, para
exemplificar,
com fatos, as
excelentes
razões pelas
quais é, mais do
que conveniente,
espiritualmente
saudável voltar
a cada vida com
as lembranças do
passado
embotadas, a fim
de que
consigamos nos
concentrar nas
urgências da
hora,
importantes para
o capítulo atual
do nosso
aprendizado
evolutivo.
Refiro-me ao jet
lag, efeito
psicológico
comum a muitos
que se ausentam
e voltam de
período de
viagem
prolongada,
durante o qual
se situam fora
do
condicionamento
dos hábitos e do
ambiente do seu
lugar de origem.
O retorno se
caracteriza por
uma difícil fase
depressiva, de
deslocamento de
identidade, e de
recondicionamento
gradual e
necessário ao
que é familiar,
depois de um
período em que
nos vimos
afastados do
nosso habitat
para uma
realidade
necessariamente
diversa daquela
com a qual
convivemos todos
os dias.
Em outras
oportunidades,
contei sobre
alguns
acontecimentos
importantes de
ordem mediúnica,
indicativos das
muitas vidas
anteriores que
vivi na Itália.
Dentre muitas
particularidades
subjetivas, dois
se destacaram: a
convivência com
o meu mentor
desencarnado e
autor de meus
livros
psicografados, e
a visita ao
Teatro di
Marcello em
estado de
desprendimento
espiritual, há
muitos anos
atrás – na
época, sem ter a
menor ideia do
que fosse, e de
onde ficava o
prédio com dois
mil anos de
história, no
coração da Roma
antiga.
Assim, em agosto
de 2016 obtive o
enlevo da
confirmação da
viagem astral,
ao deparar, em
todo o seu porte
majestoso, o
edifício
milenar. Podendo
constatar,
pessoalmente, a
realidade dos
pequenos e
grandes detalhes
visitados
anteriormente,
durante aquele
estado projetivo
impressionante –
desde os
aspectos
pitorescos da
arquitetura até
o cenário
circundante, com
os arvoredos à
direita e os
restos
imponentes do
templo de Apolo,
no largo
dianteiro ao
Teatro.
Mas, após essa
breve digressão,
o que nos
interessa para o
que comentamos
neste artigo
foram as
sensações
conflitantes
que, durante e
após a viagem,
se confirmaram
como provas
incontestes da
conveniência de
serem encobertas
as lembranças
desnecessárias,
na duração de
cada
reencarnação em
que nos
demoramos
comprometidos
com aprendizados
de ordem diversa
das jornadas
anteriores.
Sim. Refiro-me
até mesmo às
lembranças boas!
Porque mesmo
essas podem ser,
até certo ponto,
de difícil
assimilação.
Lembro-me de
mim, ano
passado,
mergulhada num
deslumbramento
difícil de se
descrever,
enquanto me
deliciava
andando, com
três amigas, nas
ruas de Roma.
Sentia-me em
casa! Reconhecia
o ar que
respirava. Os
prédios
históricos. Os
temperamentos. A
sensação
indiscutível de
adivinhar os
caminhos
entrincheirados
para dentro das
muralhas e
portas milenares
da cidade dos
Césares.
Quando dentro do
Coliseu, em
pleno verão
escaldante, no
meio daquelas
centenas de
pessoas
espalhadas em
grupos de
turismo pelas
aleias
calcinadas do
anfiteatro
gigantesco,
nossa guia
romana, em meio
a explicações
várias,
perguntou: - A
arena do Coliseu
era sempre
coberta de
areia. Alguém
sabe explicar a
razão?
- Para absorver
o sangue... –
Respondi, num
ímpeto,
realmente sem a
contribuição do
raciocínio e do
pensamento. A
resposta
simplesmente
subiu das
entranhas da
memória
espiritual de
séculos, diante
da moça entre
surpresa e
curiosa, em
vívida,
autêntica
manifestação do
tão comentado déjà
vu.
Foram, assim,
cerca de dezoito
dias em imersão
completa num
passado
espiritual que
reconheci em
cada vírgula e
til. Havia um
único fio
condutor, preso
aqui, no Rio de
Janeiro, como o
cordão de prata
que liga a alma
ao corpo: a
família, e os
filhos, e as
amizades
queridas. Todo o
resto de mim,
todavia, se via
preso lá, como
se o meu
presente fosse
atirado para
dentro do
passado, que
então o dominou
por inteiro.
Eu não estava
mais reencarnada
no Brasil, e sim
de volta à
Itália. De corpo
e espírito.
Reconhecendo
tudo em volta
como algo
querido e
extremamente
familiar - desde
o clima, aos
perfumes dos
ares, idioma,
paladar, os
lugares e os
temperamentos.
Experiência
difícil de se
descrever, no
entanto,
assombrosa,
iniludível.
Quando, afinal,
entrei no avião
para voltar ao
Rio de Janeiro,
não conseguia
conter os
soluços e as
lágrimas rolando
pelo rosto,
enquanto mais e
mais as luzes
noturnas de Roma
iam ficando para
trás,
desaparecendo
conforme
ganhávamos
altura. Mas é
justo sobre esse
sentimento que
vale a pena se
falar, para
ilustrar com
fatos o tema que
discutimos. O
sentimento
experimentado,
que muitos
julgariam
absurdo, do
redespertamento
de um orgulho
desmedido por um
país onde
atualmente não
nasci. Em
contrapartida,
uma angústia
dolorosa, embora
aparentemente
despropositada,
de ser obrigada
a ir embora e
deixar um lar
que sentia em
cada fibra da
alma e do corpo
como sendo meu.
Alguns poderiam
argumentar que
isso se trata da
depressão comum
a todo turista
que durante
algum tempo se
condiciona a uma
realidade
agradável, livre
de preocupações,
em muitos
aspectos melhor
do que aquela
que enfrentamos
cotidianamente
nas lutas
diárias, no
entanto, não se
tratou disso.
Considero-me
realista o
suficiente,
porque viajei
sabendo de
antemão que,
como aqui,
nenhum lugar é
totalmente
maravilhoso.
A Itália também
tem seus
desacertos.
Atualmente, lida
com o gravíssimo
problema da
imigração maciça
acolhida no
país, em busca
de oportunidades
dignas que não
são fáceis de se
oferecer, ao
menos num
primeiro
momento. País
que enfrenta os
receios bastante
palpáveis do
terrorismo,
visíveis de
forma ostensiva
em cada ponto
turístico onde o
exército,
fortemente
armado, revista
minuciosamente
quem entra em
suas basílicas e
monumentos
históricos. Vi
em Roma indícios
de pobreza,
embora não tão
expressivos
quanto no
Brasil. Riscos
de pequenos
furtos,
alertados pelos
guias turísticos
àqueles de nosso
grupo porventura
mais distraídos.
Bons e maus
humores, lá,
como aqui,
comuns aos seres
humanos de todas
as latitudes
geográficas.
O que se passou
comigo, porém,
diz respeito a
algo a que nem
tantos prestam a
devida atenção;
mas que avulta
em quem lida de
maneira
rotineira com os
fatos
mediúnicos.
Houve um
redespertamento
ainda mais
intenso de um
repertório
evolutivo
anterior, que
mesmo aqui já
aflorava
espontaneamente
à tona de minhas
reminiscências
espirituais,
antes da viagem
- o que, aliás,
hoje compreendo,
foi o grande
fator
determinante do
planejamento de
toda uma vida
para esta volta
aos lugares das
minhas vivências
do passado. Ir a
Roma e a Itália,
desta forma,
aconteceu, para
mim de maneira
particular, como
um impactante
episódio de
imersão no
pretérito,
iniciado de
forma
maravilhosa, mas
que, durante o
seu
desenvolvimento,
e especialmente
no seu término,
realçou como
prova
contundente da
razão pela qual
é conveniente
que nem de tudo
nos recordemos,
a cada volta ao
corpo carnal em
lugar diferente
do anterior,
dentre tantos
onde já
reencarnamos.
A constatação é
a de que, mesmo
em casos assim,
de retorno a um
local a quem
devotamos amor
extremo em
função de um
passado vasto de
vivências com
pessoas
queridas, uma
vez situados em
nova experiência
na matéria
devemos
priorizar os
compromissos do
presente, e
esperar o
momento certo
para se
recordar. Porque
dói, quase
fisicamente,
acordar as
lembranças
distantes de um
lugar onde não
estão mais
aquelas pessoas
que
inconscientemente
devo ter buscado
durante a minha
curta estadia em
Roma no ano
passado,
experimentando,
em decorrência
disso, um vazio
emocional
sofrido de ordem
inexplicável.
Fere, a sensação
de se amar
profundamente um
lugar onde não
mais podemos
permanecer,
porque não
nascemos lá mais
recentemente.
Confunde, a
sensação de se
ver dividido
espiritual e
afetivamente em
dois locais
diferentes de um
mesmo mundo: o
de seu
nascimento na
atual vida
corpórea, no
qual estão todos
os seres mais
queridos da
presente
jornada, e o
anterior, onde
ainda residem
latentes nas
lembranças
atávicas os
rostos
nebulosos, dos
quais não
conseguimos nos
recordar com
clareza no
momento, mas que
habitam agora
outros lugares,
envolvidos nos
seus respectivos
compromissos,
nesta, ou em
outras dimensões
da vida eterna.
“Em
verdade, em
verdade te
digo: quem não nascer
de novo não
poderá ver
o Reino de
Deus.”
– João, 3.